domingo, 31 de maio de 2020

Cangaceiros 52


Uma hora e meia antes...
O vereador dirige a rural, seguido pelos cinco homens de Gerônimo em suas montarias rumo à residência até parar na porta. O cachorro late e abana o rabo, reconhece o presidente da Câmara assim que ele desce do carro. Em seguida a empregada abre a porta e grita:
–– Patroa! O patrão está de volta!
–– Eu não acredito! – a esposa vem abraça-lo antes que ele entre – meu amor! Eu pensei que jamais te veria!
–– Estou aqui! Eu também te amo! Onde está nosso filho?
–– Aqui papai! – o menino enlaça com os braços as pernas do pai e falta não largar mais.
A família se abraça e entra na maior alegria do mundo.
–– Conta-me o que aconteceu! Tu estás bem?
–– Estou! Estou! É uma história comprida! Trouxe esses homens comigo! São meus seguranças, enquanto arranjo outros permanentes. Onde está o Gonzaga?
–– Estou aqui patrão!
–– Gonzaga! Pegue a chave da outra casa, leve esses homens e acomode-os lá!
–– Certo patrão!

O vereador ordena a Maria de Jesus, sua empregada, que prepare comida para cinco homens e se preciso for, mate uma leitoa gorda com a ajuda de Gonzaga.

–– Façam isso rápido! – vira para a esposa - Temos muito para conversar, meu amor! – diz o vereador à esposa.
–– Sim! É claro! Eu registrei um boletim na delegacia, mas eles não moveram uma palha até agora.
–– Deixe isso comigo! Muita coisa aconteceu nesses dias! Depois do almoço a gente conversa mais. Preciso banhar agora.
–– Sim meu amor!
–– Papai! O Senhor trouxe um presente da viagem para mim? – indaga o garoto sem entender direito o que se passa.
–– Não filho. Mas, amanhã comprarei um bem bonito para ti.
–– Está bem papai!
–– Agora me dê um instante só!
–– Sim papai!
–– Tem uma toalha e sabonete na gaveta!
–– Obrigado querida! Preciso preparar um discurso para apresentar na Câmara amanhã!
–– Faremos isso juntos! Mais tarde! Depois que tu descansares!
–– O que tu estás insinuando?
–– Ah, nada! – risos.
–– Está bem!

Gerônimo e seus homens avistam a casa de propriedade do Coronel Messias conforme foi descrito pelo Padre, onde estariam os tratadores e os cavalos.

A casa coberta de telhas com paredes de tijolos grossos e alvenaria - daquelas do tempo em que se criava cachorro com linguiça – rebocadas e aparentemente é uma construção antiga, sem reformas recentes, notadamente pelas rajadas de cores opacas e cinzas escorridas das últimas chuvas; tem um grande alpendre com peitoril e grossas colunas, típico da época. As portas e janelas de madeira antiga sem pintura denotam que não há preocupação com a segurança do local e o proprietário rico confia mais em seus homens armados e a mantém para outros fins que não é uma moradia residencial.

Quarenta cavalos estão mais distantes pastando. Há uma pocilga do lado direito e um aprisco mais acima e essa criação não é comercial, é a fonte de alimentação dos cinco homens que se revezam na vigilância dos animais de grande porte. Galinhas, galos e outras aves ciscam pelo quintal. Há uma cerca de madeira ao redor, feita com paus de sabiá entrançados e carnaúba para dar sustentação. As árvores frutíferas como mangueiras, cajueiros e laranjais que dão sombra ao lugar se espalham também e fazem parte do cenário cinematográfico do interior. Um poço cavado há muitos anos abastece a propriedade. Ao lado de uma das paredes está uma canoa quebrada, furada e roída por cupins e outros insetos e sobre ela um remo mais resistente às intempéries do tempo em que um riacho passava por dentro da propriedade e hoje com a escassez de chuvas, secou.

Os jagunços despreocupados sentindo-se seguros nem dão as caras lá fora. Fazem o que podem para manterem-se entretidos, confiantes no mandachuva Messias e em suas armas e por isso passam o tempo jogando baralho, bebendo e comendo a comida feita por uma mulher que é tida quase como refém e muitas vezes é maltratada quando algo os desagrada.

–– Gerônimo como tu sabes que essa é a casa?
–– O Padre disse que tem uma carcaça com cabeça de boi enfiada numa estaca na frente. E a descrição é essa! Olha ali. Lá está!
–– Sim! Estou vendo! – afirma Calango.
–– Como não tem ninguém do lado de fora. Dois ficam aqui e os outros cercam a casa. Eu vou pela frente. Em silêncio como a cobra, viu? Vamos surpreendê-los!
–– Certo Capitão!
(...)

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