quinta-feira, 14 de maio de 2020
Cangaceiros 35
–– Está certo. Então vamos encher a cara e brincar com as primas.
–– Vamos! Podemos até jogar umas partidas de baralho!
–– Não! Não! Vamos só beber e observar as coisas. Certo? Em todo jogo de azar dá confusão.
–– Certo!
Perto dos banheiros, um traficante oferece maconha aos jovens, mas o delegado Jaime, macaco velho no pedaço, atento a tudo que acontece, desconfia daquela reunião de meninos desconfiados que vão e vem, então ele pega um dos garotos pelo braço e o interroga, o menino tenta disfarçar, esperneia em vão, e o policial astuto e conhecedor da bandidagem faz com que o garoto puxe do bolso o baseado enrolado no papel do tipo papelina e o obriga a fazer outra compra para pegar o meliante em flagrante. E dá certo o plano, então o delegado o prende e quer saber de onde vem a droga. O pequeno traficante estava com uma quantidade razoável de cigarros e é levado para detrás das grades. Mas essa história não acaba assim. Haverá mais tarde um interrogatório com mais rigor na delegacia.
Desgraça pouca é lucro. Coronel Messias recebeu os vaqueiros com os cinco bois. A princípio irritou-se, mas frio como é, decide que os animais servirão como churrasco para seus eleitores e marca para o dia seguinte uma festa com comida e bebida de graça e dá aos jagunços e vaqueiros a missão de trazer gente para apresentar Elesbão, seu candidato a prefeito, pois ali é seu curral eleitora. A raiva aumenta com relação a Gerônimo, mas o momento exige reflexão para dar os próximos passos e diante de tal situação, cruel como só ele é, decide castigar um dos vaqueiros para dar uma lição aos outros.
–– Um de vocês irá pagar pelas minhas vinte cabeças de gado. Somente um. Por quê? Por que os outros irão executar outras tarefas para mim. Agora quero saber quem vai assumir a culpa.
Os homens entreolham-se assustados e duvidosos do que poderá vir a seguir.
–– Bem, é o seguinte: não é justo que homens armados como vocês tenham deixado um bando de vagabundos tomarem vinte bois sem que nenhum tenha dado um tiro sequer. Ou é?
–– Eles estavam em maior número Coronel! Todos armados.
–– É Coronel Eram mais de quinze e tinha até um Padre com eles!
–– Não interessa! Só um pagará! E pagará com a própria vida! Vocês tem ideia de quanto paguei por esse gado?
–– Não Senhor.
–– Então, como vamos escolher um de vocês de forma justa?
–– Coronel a gente faz o que o Senhor quiser, mas poupe nossas vidas. Não carece disso não.
–– Aqui todos nós temos mulheres e filhos.
–– Eu sei! Eu sei! Mas alguém tem que pagar. E olha que estou escolhendo só um. Poderia matar os cinco por isso.
–– Vamos fazer assim, vou mandar trazer o escravo mais forte da fazenda para termos um pouco de diversão. Ele lutará com os cinco de uma só vez e, aqueles que sobreviverem durante o embate serão liberados para trabalhar, mas, o primeiro que morrer já encerra essa pendenga. O que tu achas Chicote?
–– Por mim tudo bem, patrão. É justo!
–– Eu ainda vou dar uma chance para vocês, se conseguirem matar o escravo, todos ficarão livres para voltarem para suas famílias. Estamos entendidos?
Os homens dão calados como resposta.
–– Chicote traga o escravo. Vocês tem que bater nele com força. A vida de vocês depende dessa luta. Os outros façam um círculo para a gente ver isso!
–– Pai! Quero falar uma coisa com o Senhor! – diz o segundo filho do Coronel Messias.
–– Não me interrompa Miguel dos Reis!
–– Pai o Senhor não precisa fazer isso! Poupe esses homens e o escravo. Vamos precisar deles.
–– Ah, agora tu decidiu me dizer o que fazer filho?
–– Pai! Perdemos o Lucas de forma cruel, meu irmão está por aí com a orelha cortada, aqueles corpos foram descobertos e ganhamos um inimigo mais forte e sanguinário, além de ser inteligente. E a campanha como fica? Estamos perdendo tempo com joguinhos. O Elesbão não está dando um prego numa barra de sabão, só esperando pelo Senhor.
–– Chega! Cale a boca e vá para a primeira casa da fazenda! Vou terminar o que comecei.
(...)
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