quinta-feira, 28 de maio de 2020
Cangaceiros 44
–– Bom dia Arilson! Como estão as coisas por aqui?
–– Estão bem! Senhor Manoel Espicha Couro!
–– Vejo que a festa está animada!
––É. Está!
–– Arilson! Vou direto ao ponto. Tu sabes que esse Coronel não vale nada, não é?
–– O Coronel Messias?
–– É.
–– Sei!
–– Então! Foi ele quem mandou matar meu filho! E o Zé Pezão ia enterra-lo.
–– Sim!
–– Vou te confessar uma coisa que eu há anos não disse para ninguém.
–– Estou ouvindo.
–– Eu sou do bando do Gerônimo.
–– Gerônimo que tu dizes é aquele que o Coronel oferece uma recompensa pela cabeça dele? Um cangaceiro?
–– Sim. É. Mas, ele não tem culpa dessas porras que aconteceram aqui em Jatobá ou em Olho D’Água.
–– Ele já esteve aqui. Mas, onde tu queres chegar?
–– É uma longa história. Mas, eu vou esmiuçar. O presidente da Câmara foi sequestrado e ele, o Gerônimo, o encontrou e o libertou.
–– E quem foi que o sequestrou?
–– O Lucas, braço direito do Coronel e alguns jagunços.
–– E onde o vereador está agora?
–– Já foi trazido hoje para a cidade. O Padre foi no acampamento batizar o filho recém-nascido de Gerônimo e afirmou que o presidente da Câmara é um homem de bem. Tornou-se até compadre do Capitão.
–– E ele é bom mesmo. Eu sou o primeiro suplente de vereador na chapa dele. Foi o mais votado depois do prefeito e por isso virou o presidente da Câmara.
–– Pois bem. O Padre disse para eu falar em nome dele e quer que tu espalhes a notícia de que o Gerônimo está oferecendo dez mil contos pela cabeça do Coronel. Mas não é para falar em nome do Padre e sim de Gerônimo.
–– Manoel diga-me uma coisa, ele tem realmente esse dinheiro para pagar? Porque se vou informar isso preciso saber da verdade.
–– Arilson o homem vive nas brenhas e descobriu foi uma mina de ouro. Isso o povo não precisa saber. Entendeu?
–– Bem, como já estou de saco cheio dessa oposição fajuta, vou espalhar esse boato mais é ligeiro.
–– Não é boato. É verdade. Confia em mim. Não sou homem de mentiras.
–– Pois deixa comigo que faço isso é avexado! E por falar em Coronel, dá uma forcinha aqui, dá uma de segurança por hoje e amanhã.
–– Sim! Uma mão lava a outra e as duas lavam o rosto. Espalha de forma que chegue aos ouvidos do Coronel.
–– Entendi.
–– Agora bota aí uma cachaça, copo cheio para eu beber que vou acolá resolver outro problema, mas volto daqui a pouco. Ah, faz também uma buchada de bode. Tu sabes que saco seco não se põe de pé. E isso já é por conta do nosso trato.
–– Boto sim. Maria! Faz uma buchada para o Manoel Espicha Couro no grau.
–– Faço na hora. É só esperar um pouquinho.
–– Gaguinho, Chico Preto, venham cá!
–– Sim Patrão! O que é?
–– Estão oferecendo dez mil contos em dinheiro pela cabeça do Coronel Messias.
–– Quem está oferecendo esse prêmio, Arilson? – Indaga Chico Preto.
–– Rapaz! É o cangaceiro Gerônimo.
–– E ele é rico assim?
–– Sei não, mas passa a informação para a frente. Quanto mais gente souber, melhor. De preferência para quem anda armado. Entenderam?
–– Entendemos!
–– Diz para o Benedito ali e para o irmão dele também.
Nesse momento, entra no recinto Zé Pezão e os dois Jagunços, meio desconfiados, principalmente o Zé, que de cara percebe que Manoel Espicha Couro está escorado no meio do balcão, com os dois cotovelos apoiados, bem de frente mesmo, deixando salientar as armas que tem na cintura e o rifle apoiado na perna, só escutando a zuada da mutuca. Eles pedem umas doses de cachaça e são abordados por Manoel.
–– Zé Pezão? O que tu faz por essas bandas? Eu te dei uma missão simples e era para ficar por lá, mas, tu não entendeste a gravidade dos fatos.
–– E tu quem és com essa arrogância toda? – indaga um dos jagunços amigo de Zé?
–– Não queira nem saber quem sou. Tu não irás gostar de me conhecer.
–– Ai e é? – pergunta o jagunço acendendo um cigarro.
(...)
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