quinta-feira, 14 de maio de 2020
Cangaceiros 34
–– Senhoras, Senhores, meus amigos e porque não dizer meus eleitores. Primeiramente quero agradecer a presença de todos e em especial ao grande guerreiro Arilson, um soldado do povo que, com muita garra, coragem, competência e determinação conseguiu junto com essa valorosa comunidade, realizar este tão importante evento que movimenta a economia, promove o bem estar social e diverte o povo. Quero aqui registrar um fato lamentável que é o desaparecimento do nosso presidente da Câmara, o Doutor Marcelo Santos, que tem feito um trabalho extraordinário e dizer que estamos empenhados em trazê-lo de volta para nosso convívio. Não pouparemos esforços nesse sentido e com certeza iremos punir os responsáveis na forma da lei. Mesmo com as dificuldades e as intrigas da oposição, se Deus quiser seremos mais uma vez vitoriosos nessa campanha. E é por isso que estou aqui, para pedir mais uma vez o seu voto de confiança. Todos sabem que sou um político que cumpre o que promete. Tenho palavra e caráter e é isso o mais importantes que um candidato pode ter. Quero contar com o apoio de vocês. O governador também não está do nosso lado, é verdade, mas David venceu Golias. Somos um povo forte, lutador, trabalhador e venceremos mais uma vez. Prometi construir escolas, um mercado nesse povoado, postos de saúde e quero gerar empregos. Mas para que isso aconteça de fato, é preciso que tenhamos coragem de querer o melhor. Sei que meu opositor mesmo não tendo votos age de forma mesquinha e covarde, na base da ameaça e da compra de votos. Isso tem que mudar. Estamos em campanha sim, mas legalmente sou o prefeito eleito de Olho D’Água e a prefeitura sob meu comando está com vagas abertas e precisa de 100 homens e mulheres para dar início as obras de construção de uma barragem, para essa obra já estão garantidos recursos federais. Vendo que o povoado de Jatobá está em pleno desenvolvimento e por estar bem localizado e próximo da cidade, prometo construir uma escola para 80 alunos e um posto de saúde para exames mais simples. Prometo também de imediato, construir cisternas para acumular água da chuva nos períodos de estiagem, além de chafariz, e, para finalizar, quero que os pequenos produtores dirijam-se à prefeitura para se cadastrarem e receberem sementes de milho e feijão. A distribuição é gratuita. Finalmente construirei o mercado do produtor e de pequenos animais onde desde já nomeio o Arilson, que é conhecido, honesto e será o gerente. Dito isso, quero mais uma vez agradecer a todos por estarem aqui, prestigiando essa grande festa. Que Deus nos abençoe. Vamos à vitória. Obrigado!
Em meio aos aplausos o prefeito é ovacionado e o povo satisfeito grita: já ganhou! Já ganhou! – o homem retira-se do palco com um largo sorriso ciente de que deu sua mensagem e foi claramente entendido. Despede-se de uns e outros e caminha no meio da multidão para acompanhar algumas atividades e vai até a bodega do Arilson abraça-lo, pagar umas cachaças para os caboclos e depois passa de banca em banca, de barraca em barraca cumprimentando o povo arrodeado de gente que não para de pedir uma ajuda, um adjutório.
Arilson pensou em tudo e até mandou construir os banheiros de palha de carnaúba, com quatro paredes, deixando a porta, não são muito altos, apenas um metro e meio de altura, muito comum no interior.
–– Vamos ali dar uma mijada? – convida os comparsas Zé Pezão.
–– Estou com vontade não! – responde um.
–– Nem eu – responde o outro.
–– Bando de abestado, eu quero falar uma coisa para vocês. Aqui tem muita gente.
–– Ah, entendi! Pois vamos!
–– Olha, é o seguinte, tem gente demais aqui. Não vai dar para pegar o Arilson hoje.
–– E o que vamos fazer?
–– Vamos beber umas cachaças, dar uma volta lá pelo cabaré e pernoitar por aí.
–– Oxente! O Coronel não vai gostar disso não.
–– Rapaz acho melhor fazermos o serviço que o homem mandou, nem que seja de madrugada.
–– Abestado, tu não estás vendo que ele está arrodeado de capangas? De noite é que deve ser reforçado.
–– Cadê?
–– Tu é cego? Dá uma olhada na bodega. Tá vendo aqueles dois homens com as carabinas?
–– Estou!
–– Pois é. São irmãos. Um é o Benedito e o outro é o Xavier. Os dois são filhos do Joaquim da Silva. São bons de pontaria e perigosos. E tem dois com revólver na cintura que pra onde o Arilson vai eles vão atrás. Fora os que estão intocados por aí que ninguém vê.
–– É. Esse Arilson não é besta nem um pingo.
–– E tem mais, o prefeito está arrodeado de seguranças, até a polícia anda com eles. Então, sosseguem o facho e vamos nos divertir. Essa festa vai durar três dias no máximo. Aí a gente pega ele desprevenido no final.
(...)
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