–– Continue vereador - diz a mulher.
–– Bem, a palavra "Cangaceiro" era uma expressão pejorativa, ou seja, uma pessoa que não podia adaptar-se ao estilo de vida costeira. A essa altura naquela região, havia dois principais grupos de bandidos armados e organizados: os jagunços , mercenários que trabalhavam para quem pagasse o seu preço, geralmente proprietários de terras que queriam proteger ou expandir seus limites territoriais e também lidar com os trabalhadores rurais.
–– Pois taí, esses são enquadrados no bando do Coronel Messias que querem o poder na marra.
–– É por aí, mas tinha os cangaceiros, "bandidos sociais", que tinham algum nível de apoio da população mais pobre: os bandidos sustentando alguns comportamentos benéficos, como atos de caridade, a compra de bens por preços mais altos e dando às partes livres "Bailes", e a população fornecia abrigo e as informações que os ajudava a escapar das forças policiais, conhecidos como volantes , enviados pelo governo para detê-los.
–– Estou achando que essa história se repete atualmente. Somos conhecidos por muitos como cangaceiros, mesmo que estejamos distantes dessa realidade.
–– É. Mas pelo visto, pelo que entendo, travaremos uma batalha. Só não sei é quando. Esse Coronel não irá deixar barato não.
–– Vereador, se tivermos armas boas. Nós os enfrentaremos em campo.
–– Acredito que não iremos ter como evitar isso. O Cangaço pode ser dividido em três subgrupos: os que prestavam serviços caracterizados para os latifundiários; os "satisfatórios", expressão de poder dos grandes fazendeiros; e os cangaceiros independentes, com características de banditismo. Os cangaceiros conheciam bem a Caatinga, e por isso, era tão fácil fugir das autoridades. Estavam sempre preparados para enfrentar todo o tipo de situação. Conheciam as plantas medicinais, as fontes de água, locais com alimento, rotas de fuga e lugares de difícil acesso.
–– Tudo isso aí que tu disseste a gente sabe – concorda Gerônimo. E tu sabes essas datas tudo de cabeça. Não é fácil não, viu?
–– Eu já contei essa história em várias escolas e até na câmara. Pois bem, o primeiro bando de cangaceiros que se tem conhecimento foi o de Jesuíno Alves de Melo Calado, "Jesuíno Brilhante", que agiu por volta de 1870 nas proximidades da cidade de Patu e entre a divisa dos estados do Rio Grande do Norte e a Paraíba, embora alguns historiadores atribuam a Lucas Evangelista o feito de ser o primeiro a agregar um grupo característico de cangaço, nos arredores de Feira de Santana em 1828, sendo ele preso junto com a sua quadrilha em Janeiro de 1848 por provocar durante vinte anos assaltos contra a população de Feira. O último grupo cangaceiro famoso, porém, foi o de "Corisco" (Cristino Gomes da Silva Cleto), que foi assassinado em 25 de maio de 1940.
A essa altura já estava formado um círculo de homens e mulheres para ouvir a história do presidente da Câmara de Olho D’Água, alguns sentados em banquetes, outros de cócoras e a grande maioria em pé, porém atentos às palavras do homem que mais parecia um sacerdote e com isso ganhava a confiança de cada um pela simpatia.
A palavra, o conhecimento e a arte da retórica são as armas mais eficientes que a humanidade pode ter.
–– Só uma pergunta: Posso continuar? Se vocês não estiverem gostando dessa conversa eu paro.
–– Eu tô achando é bom por demais da conta. Ah, tome uma caneca de vinho para molhar a garganta, presidente – atiça Gerônimo.
–– Não gosto de misturar não. Mas me dê.
–– Tome – Calango que se faz de garçom entrega a caneca com o vinho.
–– Continuando. O cangaceiro mais famoso foi Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, que também era denominado o "Senhor do Sertão" e "O Rei do Cangaço". Atuou durante as décadas de 20 e 30 em praticamente todos os estados do nordeste. Por parte das autoridades, Lampião simbolizava a brutalidade, o mal, uma doença que precisava ser cortada. Para uma parte da população do sertão, ele encarnou valores como a bravura, o heroísmo e o senso da honra. O cangaço teve seu fim a partir da decisão do então Presidente da República, Getúlio Vargas, de eliminar todo e qualquer foco de desordem sobre o território nacional. O regime denominado Estado Novo incluiu Lampião e seus cangaceiros na categoria de extremistas. A sentença passou a ser matar todos os cangaceiros que não se rendessem. No dia 28 de julho de 1938, na localidade de Angico, no estado de Sergipe, Lampião finalmente foi apanhado em uma emboscada das autoridades, onde foi morto junto com sua companheira, Maria Bonita, e mais nove cangaceiros.
Os cangaceiros foram degolados e suas cabeças colocadas em aguardente e cal, para conservá-las. Foram expostas por todo o Nordeste e por onde eram levadas atraiam multidões.
Este acontecimento veio marcar o final do cangaço, pois, a partir da repercussão da morte de Virgulino, os chefes dos outros bandos existentes no Nordeste vieram a se entregar às autoridades policiais para não serem mortos.
Lampião, o único que é frequentemente associado com toda a história do cangaço, ele podia disparar tão rapidamente que era possível iluminar o lugar. Ele começou sua vida criminosa ainda jovem, alegando uma vingança que nunca aconteceu.
Vagando Santa Brígida, no estado da Bahia , ele conheceu Maria Alia da Silva, também conhecida como Maria de Déia, esposa do sapateiro Zé de Nenê. Mais tarde, ela seria mais conhecida como Maria Bonita.
Lampião foi morto pela polícia em 1938, em uma região entre os limites do estado de Sergipe e Alagoas, quando o informante, Pedro de Cândida, deu a sua localização à polícia. A ofensiva maciça levou ao derramamento de sangue no qual onze dos integrantes do bando foram mortos: Lampião, Maria Bonita, Luís Pedro, Mergulhão, Enedina, Elétrico, Quinta-Feira, Moeda, Alecrim, Colchete e Macela. Pronto vou finalizar por aqui e deixar vocês falarem alguma coisa. Já falei demais e o vinho misturado com as primeiras doses já estão me dando sono. Estou ficando zonzo.
–– Tudo bem! Foi uma baita duma história. Arme uma rede para o vereador na sala – Gerônimo fala para um de seus comandados.
–– Desculpem-me, é que não sou muito de beber.
–– Mas se tu comeres mais um pedaço de carne e beber água, mau não faz.
–– Não, obrigado. Só quero um caneco de água. Agora quero perguntar só uma coisa: vocês entenderam o que eu quis dizer depois dessa história e a proposta que fiz, de transformar todos em cidadãos perante a lei?
–– É deu para entender.
–– Quero mais uma vez agradecer por tudo e desejar uma boa noite a todos.
–– Boa noite vereador! – retribui Gerônimo.
(...)
–– Bem, a palavra "Cangaceiro" era uma expressão pejorativa, ou seja, uma pessoa que não podia adaptar-se ao estilo de vida costeira. A essa altura naquela região, havia dois principais grupos de bandidos armados e organizados: os jagunços , mercenários que trabalhavam para quem pagasse o seu preço, geralmente proprietários de terras que queriam proteger ou expandir seus limites territoriais e também lidar com os trabalhadores rurais.
–– Pois taí, esses são enquadrados no bando do Coronel Messias que querem o poder na marra.
–– É por aí, mas tinha os cangaceiros, "bandidos sociais", que tinham algum nível de apoio da população mais pobre: os bandidos sustentando alguns comportamentos benéficos, como atos de caridade, a compra de bens por preços mais altos e dando às partes livres "Bailes", e a população fornecia abrigo e as informações que os ajudava a escapar das forças policiais, conhecidos como volantes , enviados pelo governo para detê-los.
–– Estou achando que essa história se repete atualmente. Somos conhecidos por muitos como cangaceiros, mesmo que estejamos distantes dessa realidade.
–– É. Mas pelo visto, pelo que entendo, travaremos uma batalha. Só não sei é quando. Esse Coronel não irá deixar barato não.
–– Vereador, se tivermos armas boas. Nós os enfrentaremos em campo.
–– Acredito que não iremos ter como evitar isso. O Cangaço pode ser dividido em três subgrupos: os que prestavam serviços caracterizados para os latifundiários; os "satisfatórios", expressão de poder dos grandes fazendeiros; e os cangaceiros independentes, com características de banditismo. Os cangaceiros conheciam bem a Caatinga, e por isso, era tão fácil fugir das autoridades. Estavam sempre preparados para enfrentar todo o tipo de situação. Conheciam as plantas medicinais, as fontes de água, locais com alimento, rotas de fuga e lugares de difícil acesso.
–– Tudo isso aí que tu disseste a gente sabe – concorda Gerônimo. E tu sabes essas datas tudo de cabeça. Não é fácil não, viu?
–– Eu já contei essa história em várias escolas e até na câmara. Pois bem, o primeiro bando de cangaceiros que se tem conhecimento foi o de Jesuíno Alves de Melo Calado, "Jesuíno Brilhante", que agiu por volta de 1870 nas proximidades da cidade de Patu e entre a divisa dos estados do Rio Grande do Norte e a Paraíba, embora alguns historiadores atribuam a Lucas Evangelista o feito de ser o primeiro a agregar um grupo característico de cangaço, nos arredores de Feira de Santana em 1828, sendo ele preso junto com a sua quadrilha em Janeiro de 1848 por provocar durante vinte anos assaltos contra a população de Feira. O último grupo cangaceiro famoso, porém, foi o de "Corisco" (Cristino Gomes da Silva Cleto), que foi assassinado em 25 de maio de 1940.
A essa altura já estava formado um círculo de homens e mulheres para ouvir a história do presidente da Câmara de Olho D’Água, alguns sentados em banquetes, outros de cócoras e a grande maioria em pé, porém atentos às palavras do homem que mais parecia um sacerdote e com isso ganhava a confiança de cada um pela simpatia.
A palavra, o conhecimento e a arte da retórica são as armas mais eficientes que a humanidade pode ter.
–– Só uma pergunta: Posso continuar? Se vocês não estiverem gostando dessa conversa eu paro.
–– Eu tô achando é bom por demais da conta. Ah, tome uma caneca de vinho para molhar a garganta, presidente – atiça Gerônimo.
–– Não gosto de misturar não. Mas me dê.
–– Tome – Calango que se faz de garçom entrega a caneca com o vinho.
–– Continuando. O cangaceiro mais famoso foi Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, que também era denominado o "Senhor do Sertão" e "O Rei do Cangaço". Atuou durante as décadas de 20 e 30 em praticamente todos os estados do nordeste. Por parte das autoridades, Lampião simbolizava a brutalidade, o mal, uma doença que precisava ser cortada. Para uma parte da população do sertão, ele encarnou valores como a bravura, o heroísmo e o senso da honra. O cangaço teve seu fim a partir da decisão do então Presidente da República, Getúlio Vargas, de eliminar todo e qualquer foco de desordem sobre o território nacional. O regime denominado Estado Novo incluiu Lampião e seus cangaceiros na categoria de extremistas. A sentença passou a ser matar todos os cangaceiros que não se rendessem. No dia 28 de julho de 1938, na localidade de Angico, no estado de Sergipe, Lampião finalmente foi apanhado em uma emboscada das autoridades, onde foi morto junto com sua companheira, Maria Bonita, e mais nove cangaceiros.
Os cangaceiros foram degolados e suas cabeças colocadas em aguardente e cal, para conservá-las. Foram expostas por todo o Nordeste e por onde eram levadas atraiam multidões.
Este acontecimento veio marcar o final do cangaço, pois, a partir da repercussão da morte de Virgulino, os chefes dos outros bandos existentes no Nordeste vieram a se entregar às autoridades policiais para não serem mortos.
Lampião, o único que é frequentemente associado com toda a história do cangaço, ele podia disparar tão rapidamente que era possível iluminar o lugar. Ele começou sua vida criminosa ainda jovem, alegando uma vingança que nunca aconteceu.
Vagando Santa Brígida, no estado da Bahia , ele conheceu Maria Alia da Silva, também conhecida como Maria de Déia, esposa do sapateiro Zé de Nenê. Mais tarde, ela seria mais conhecida como Maria Bonita.
Lampião foi morto pela polícia em 1938, em uma região entre os limites do estado de Sergipe e Alagoas, quando o informante, Pedro de Cândida, deu a sua localização à polícia. A ofensiva maciça levou ao derramamento de sangue no qual onze dos integrantes do bando foram mortos: Lampião, Maria Bonita, Luís Pedro, Mergulhão, Enedina, Elétrico, Quinta-Feira, Moeda, Alecrim, Colchete e Macela. Pronto vou finalizar por aqui e deixar vocês falarem alguma coisa. Já falei demais e o vinho misturado com as primeiras doses já estão me dando sono. Estou ficando zonzo.
–– Tudo bem! Foi uma baita duma história. Arme uma rede para o vereador na sala – Gerônimo fala para um de seus comandados.
–– Desculpem-me, é que não sou muito de beber.
–– Mas se tu comeres mais um pedaço de carne e beber água, mau não faz.
–– Não, obrigado. Só quero um caneco de água. Agora quero perguntar só uma coisa: vocês entenderam o que eu quis dizer depois dessa história e a proposta que fiz, de transformar todos em cidadãos perante a lei?
–– É deu para entender.
–– Quero mais uma vez agradecer por tudo e desejar uma boa noite a todos.
–– Boa noite vereador! – retribui Gerônimo.
(...)
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