domingo, 17 de maio de 2020

Cangaceiros 39


Na aldeia de índios...
–– Grande Chefe Cinzento! Como vai?
–– Que bons ventos o trazem à nossa aldeia Calango?
–– Estou aqui a mando de Gerônimo! Ele quer te ver e ter uma conversa importante urgente.
–– Vem sentar comigo, aqui perto da fogueira! Podem vir vocês também! – diz o chefe dirigindo-se aos outros cangaceiros! Do que se trata?
–– Não sei não, Grande Chefe! Mas ele pede urgência! O quanto antes, melhor!
–– Fui eu quem trouxe o fogo para nossa tribo e desse dia em diante fiquei conhecido como o Grande Cinzento. Mas quem trouxe luz para minha vida foi Gerônimo quando salvou meu filho da morte. Estamos em débito com ele e atenderei seu pedido. Levarei um presente de grande valia para ele. Partiremos com os primeiros raios do sol.
–– Muito bem! Precisamos descansar um pouco. Foi uma longa cavalgada até aqui.
–– Querem comer alguma coisa antes?
–– É bom Grande Chefe!
–– Tragam carne para os homens! E enquanto vocês comem vou contar uma história. Essa é a lenda da índia Macyrajara da tribo dos Tremembés:

Macyrajara era uma linda jovem de olhos amendoados e cabelos longos. Seu pai era o chefe Botocó da tribo dos Tremembés, que habitavam as terras da margem direita do Igaraçu até o mar.
Macyrajara conheceu Ubitã, jovem guerreiro pertencente a uma tribo inimiga da sua, que habitava a planície litorânea. Os dois se apaixonaram e passaram a se encontrar às escondidas.
O pai de Macyrajara tomou conhecimento e, discordando daquele amor, mandou prendê-la numa oca vigiada por sete guerreiros.
Ubitã, louco de saudades, procurou em oração se aconselhar com o deus Tupã. E à noite, quando dormia, Tupã lhe disse que Macyrajara estava presa e que ele não fosse procurá-la porque podia morrer.
O destemido guerreiro, levado pela paixão, não ouviu os conselhos de Tupã. E, ao anoitecer, saiu à procura de seu grande amor. Ao chegar próximo à oca, foi atingido no peito por uma flecha inimiga, tendo morte imediata.
Macyrajara, ao tomar conhecimento da tragédia, saiu correndo e desapareceu na escuridão da noite. Três dias após vagar pelas matas, parou em um olho-d’água. Naquele momento, começou a chover, ela, então, cheia de dor e tristeza, começou a chorar. Ali suas lágrimas e a chuva se juntaram à aquelas águas que corriam.
Tupã, apiedando-se dela, transformou suas lágrimas no rio que separou as duas tribos.
–– É uma história bonita! Grande Chefe Cinzento! A comida está boa. Deu até para encher o bucho, mas...
–– Já sei! Vocês estão cansados. Vão dormir. Amanhã cedo partiremos.
–– É só um cochilo. Daqui a pouco vamos estar novinho em folha!
–– Vão logo. Eu entendo!
–– Ah, só uma pergunta, Grande Chefe Cinzento. O que essa conversa tem a ver com a gente?
–– Calango! Até um grande líder, às vezes, tem que contar uma história de amor para abrandar o coração dos homens.
–– É. Vou pensar nisso!

Os cangaceiros deitam-se cobertos pelo manto da noite, a claridade da lua e uma infinidade de estrelas.

–– Calango! Será que o Grande Chefe queria transmitir uma mensagem em código? – pergunta um dos homens.
–– E eu sei lá, cabra! Eu misturei foi tudo. Macyrajara com Ubitã e deus Tupã. O Cinzento trás uma história do tempo dos canecos de sola. Sei não. Dorme!
–– Está bem!
(...)

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