terça-feira, 12 de maio de 2020

Cangaceiros 30


Em um dia pode acontecer muitos eventos. Gerônimo, Cancão e Calango chegaram por volta das nove horas à igreja. Os dois cangaceiros ficam do lado de fora vigiando, enquanto Gerônimo entra. Júlia, a linda filha do Coronel Messias passa por ele e é cumprimentada de forma cavalheiresca com um toque de dedos na aba do chapéu de couro e um olhar nos olhos. Padre Lauro acompanhava a moça e o recebe no meio do corredor do templo.

–– Aqueles são os cangaceiros que nos atacaram na bodega do Arilson e o que cortou tua orelha foi aquele que entrou.
–– É. São eles mesmos, mas a Júlia está conosco agora. Não é um bom momento para pegarmos ele, além do mais, tem jagunço espalhado por toda parte. Logo, logo darão conta dele.
–– É. Realmente é precipitado um tiroteio agora.
–– Vamos embora. Já falei com o Padre – diz Júlia ao irmão e ao capanga do pai.
–– Padre Lauro! Como vai o Senhor? – indaga Gerônimo.
–– Estou bem, filho! E lá, como estão todos no acampamento?
–– Estamos bem, mas aconteceram umas coisas que te contarei lá dentro.
–– Antes que a rural com Júlia, o irmão e motorista saiam do lugar, o bando de Gerônimo chega à porta da igreja: 15 homens armados até os dentes.
–– Está vendo Inácio? Se a gente tivesse agido, agora estaríamos lascados!
–– Vamos embora!
–– De que vocês estão falando? – indaga Júlia.
–– Nada não, Júlia! Vamos! Vamos!
–– Gerônimo, tu sabes quem é aquela moça que passou por ti? – indaga o Padre.
–– Sei não!
–– É filha do Coronel Messias. É uma ovelha desgarrada do bando. Ela veio aqui me contar muitas coisas. Coisas muito sérias. Ela corre o risco de morrer se o pai ao menos desconfiar do que ela falou.
–– Vixe! Maria Santíssima! É mesmo Padre? E o que ela te contou?
–– O Padre Lauro em rápidas palavras faz uma explanação de tudo que a moça falou e do perigo que corre a cidade sujeita a um banho de sangue.
–– Padre, precisamos tomar cuidado para não sermos pegos de surpresa.
–– E agora que tua cabeça está a prêmio, o caldo vai engrossar.
–– E é porque ele não sabe o que está acontecendo nesse momento.
–– E o que é?
–– Primeiro salvamos o presidente da Câmara que estava em um cativeiro, lá na caatinga, num barraco.
–– E onde ele está agora?
–– No acampamento. Conversamos bastante e então ele disse que tem afinidades com o Senhor. Decidi vir aqui por dois motivos: um é o batismo de meu filho, conforme combinamos. O outro é para saber tua opinião sobre o que fazer com ele.
–– Bem, é aí que a coisa se agrava. Ele deve estar jurado de morte. Foi o homem que mais votos teve depois do prefeito e é o presidente da Câmara. É sobretudo, um homem bom, digno e merece ser livre.
–– Não o mantenho preso. É só por enquanto.
–– Então quando chegarmos lá, tu o libertas e deixas que ele cuide da campanha.
–– Se ele não tiver segurança, será um homem morto.
–– Ele é inteligente e corajoso. Deve contratar homens para andar com ele.
–– Tudo bem! Eu disse para a Lúcia que iria pernoitar hoje, mas mudei de ideia depois do que tu falaste. Vamos embora agora e amanhã, depois do batismo, o Senhor já estará de volta.
–– Calma Gerônimo! Temos compromissos aqui. Quermesses, missa, e hoje tem a abertura do evento do Arilson.
–– Padre, o Senhor não está entendendo a gravidade das coisas. Estou com um prisioneiro altamente perigoso no acampamento.
–– Quem é?
–– Padre, pelo que o vereador falou, é o braço direito do Coronel.
–– O Lucas? Jesus Cristo! Pelo amor de Deus!
–– Esse negócio vai feder a cão sapecado! Opa! Desculpe! Porque ele é o assassino do filho do Manoel Espicha Couro.
–– E o Manoel já sabe que ele está lá?
–– Mandei um recado. Acredito que a essa altura ele já deve ter esfolado o infeliz vivo.
–– Então vou me arrumar. Espera só um instante!
–– Temos também um presente para o Senhor!
–– Pelo menos isso! Uma coisa boa!
–– O carro que o Lucas andava está intocado lá nas brenhas. Será seu. A Paróquia precisa de um veículo.
–– Não posso aceitar não. Isso é crime. É contra os princípios de Deus.
–– É nada Padre! Esse Coronel não precisa de tanto carro assim, além do mais, o Senhor anda a pé pra riba e pra baixo.
–– Vamos conversar quando eu chegar lá. Preciso me apressar.
Pouco tempo depois o Padre volta com os instrumentos do batismo.
–– Já pensou no nome que dará ao seu filho?
–– Sim Padre! Chamar-se-á Gerônimo!
–– Muito bem! Com G ou com J?
–– Do mesmo jeitinho do meu. Não importa.
–– Jesus é com J! E tem a mesma pronúncia.
–– Padre, será Gerônimo com G. Já disse!
–– Tudo bem tu és o pai. A decisão é tua.
–– Vamos embora!
–– Vamos!

Na viagem de volta ao acampamento o bando encontra vaqueiros que conduzem uma boiada de vinte e cinco cabeças de gado. A princípio o chefe, o Capitão do bando deixa passar, mas ele vira-se e pergunta de quem é o gado e quando o vaqueiro diz que é do Coronel Messias, Gerônimo rende os homens.
(...)

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