–– Você sabe que é meu xodó.
Vem cá, vem, deixa eu dar um xeiro no teu cangote, te fazer um cafuné.
–– Eita! Quando você fala
assim, fico toda derretida que nem manteiga no cuscuz quente.
–– Pois vem meu cuscuz que
quero te comer!
–– Essa é a melhor caridade
que um homem faz a uma mulher. Ô bicho bom é amor.
–– Pois vou fazer bem
devagarinho para o nosso filho nascer com paciência, compreensão e coragem para
enfrentar esse mundão de meu Deus.
–– Deixa de falar! Só faz...
O amor é uma coisa assim
inexplicável, acontece em qualquer lugar, quando menos se espera e não é por
impulso.
Depois da boa noite de sono,
no dia seguinte muito cedo, Benedito acorda primeiro, e como marido exemplar,
põe a chaleira no fogão a lenha para passar o café e vai tirar o leite mugido
da vaquinha leiteira que ele mantém no quintal, faz duas tapiocas, uma para ele
e outra para a mulher e leva no quarto. Acorda a esposa carinhosamente, beija-a
nas faces e sai para a roça montado em seu burro preto. Benedito não é lá esse
homem de grandes posses, mas tem o cavalo que só é arreado para ocasiões
especiais. Uma vez ou outra ele bota o animal para correr no prado, com apostas
em dinheiro. O animal bem tratado nunca perdeu uma corrida.
Nessa manhã ensolarada,
Arilson, o dono da bodega, começa a divulgar um plano para ele ganhar dinheiro
fácil e promete um prêmio ao vencedor. Como ele é cabo eleitoral do atual
prefeito, tem a promessa de um bom prêmio em dinheiro para o campeão nesse
evento, desde que seja realizado dentro de um mês. O plano consiste em realizar
luta livre sem armas e por eliminação àquele que primeiro fizer sangue no
adversário ou nocautear. Há também o torneio da queda de braços com prêmios
menores. Arilson já até articulou a vinda de autoridades na grande final.
–– Quero pedir a atenção de
vocês por um instante – os jogadores de baralho, de sinuca e dama fazem ouvido
de mercador – Vocês não me ouviram? Seus filhos da puta! – Arilson tira um
litro vazio debaixo do balcão e pipoca na parede, estilhaçando cacos para todos
os lados – agora tenho a atenção de vocês? Que maravilha! É o seguinte: Vou
realizar um evento diferente de tudo que já viram por essas bandas. Vamos fazer
um torneio de lutas e queda de braços daqui a um mês. E para fechar a noite do
última dia do evento, teremos um forró pé de serra. Então, quem quiser
participar tem que fazer a inscrição aqui, comigo, na minha caderneta.
–– E como funciona isso? –
pergunta um.
–– É. E qual o valor do
prêmio para o vencedor? – indaga outro.
–– Bem, teremos três lutas!
E cada luta, um vencedor para o segundo dia, então, no terceiro dia os três
vencedores lutarão e irão lutar entre si até sobrar um campeão. Isso valerá
para as regras da queda de braços.
–– E o prêmio, quanto vai
ser?
–– O prefeito já garantiu
que virá com sua comitiva na final e dará o prêmio de R$ 1.000,00 ao lutador e
R$ 500,00 para o da queda de braços.
–– E quem garante isso? Tu
sabes que político não honra a palavra, só promete! – pergunta um dos homens
mais afoito.
–– Eu garanto! – diz
Arilson.
–– E quais as armas que
vamos lutar? – pergunta um grandalhão.
–– Sem armas. A luta será
dentro de um espaço limitado com cordas onde os lutadores usarão só as mãos e
os pés. Aquele que fizer sangue primeiro no adversário, ou derruba-lo e
deixa-lo fora dos sentidos, já será considerado vencedor.
–– E quem vai julgar esse
negócio? – pergunta outro homem.
–– Não se preocupem com
isso. Quero que espalhem a notícia nas redondezas e na feira da cidade. Quanto
mais gente vier, melhor.
–– E o que vamos ganhar com
isso?
–– A bebida e a comida para o
dia do evento será por minha conta. Vou mandar matar um boi e uns bodes. Agora
preciso que me ajudem a divulgar isso, afinal, essa é uma forma de termos as
autoridades aqui. Como sou generoso, a cachaça de hoje é por minha conta também.
Em todo lugar sempre tem os
do contra, os negativos e os reclamões, que acham que tudo é difícil ou
impossível. Não fazem nada e nem querem deixar que os outros façam.
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