quinta-feira, 13 de junho de 2019

CANGACEIROS 3




–– Você sabe que é meu xodó. Vem cá, vem, deixa eu dar um xeiro no teu cangote, te fazer um cafuné.
–– Eita! Quando você fala assim, fico toda derretida que nem manteiga no cuscuz quente.
–– Pois vem meu cuscuz que quero te comer!
–– Essa é a melhor caridade que um homem faz a uma mulher. Ô bicho bom é amor.
–– Pois vou fazer bem devagarinho para o nosso filho nascer com paciência, compreensão e coragem para enfrentar esse mundão de meu Deus.
–– Deixa de falar! Só faz...
O amor é uma coisa assim inexplicável, acontece em qualquer lugar, quando menos se espera e não é por impulso.

Depois da boa noite de sono, no dia seguinte muito cedo, Benedito acorda primeiro, e como marido exemplar, põe a chaleira no fogão a lenha para passar o café e vai tirar o leite mugido da vaquinha leiteira que ele mantém no quintal, faz duas tapiocas, uma para ele e outra para a mulher e leva no quarto. Acorda a esposa carinhosamente, beija-a nas faces e sai para a roça montado em seu burro preto. Benedito não é lá esse homem de grandes posses, mas tem o cavalo que só é arreado para ocasiões especiais. Uma vez ou outra ele bota o animal para correr no prado, com apostas em dinheiro. O animal bem tratado nunca perdeu uma corrida.

Nessa manhã ensolarada, Arilson, o dono da bodega, começa a divulgar um plano para ele ganhar dinheiro fácil e promete um prêmio ao vencedor. Como ele é cabo eleitoral do atual prefeito, tem a promessa de um bom prêmio em dinheiro para o campeão nesse evento, desde que seja realizado dentro de um mês. O plano consiste em realizar luta livre sem armas e por eliminação àquele que primeiro fizer sangue no adversário ou nocautear. Há também o torneio da queda de braços com prêmios menores. Arilson já até articulou a vinda de autoridades na grande final.

–– Quero pedir a atenção de vocês por um instante – os jogadores de baralho, de sinuca e dama fazem ouvido de mercador – Vocês não me ouviram? Seus filhos da puta! – Arilson tira um litro vazio debaixo do balcão e pipoca na parede, estilhaçando cacos para todos os lados – agora tenho a atenção de vocês? Que maravilha! É o seguinte: Vou realizar um evento diferente de tudo que já viram por essas bandas. Vamos fazer um torneio de lutas e queda de braços daqui a um mês. E para fechar a noite do última dia do evento, teremos um forró pé de serra. Então, quem quiser participar tem que fazer a inscrição aqui, comigo, na minha caderneta.
–– E como funciona isso? – pergunta um.
–– É. E qual o valor do prêmio para o vencedor? – indaga outro.
–– Bem, teremos três lutas! E cada luta, um vencedor para o segundo dia, então, no terceiro dia os três vencedores lutarão e irão lutar entre si até sobrar um campeão. Isso valerá para as regras da queda de braços.
–– E o prêmio, quanto vai ser?
–– O prefeito já garantiu que virá com sua comitiva na final e dará o prêmio de R$ 1.000,00 ao lutador e R$ 500,00 para o da queda de braços.
–– E quem garante isso? Tu sabes que político não honra a palavra, só promete! – pergunta um dos homens mais afoito.
–– Eu garanto! – diz Arilson.
–– E quais as armas que vamos lutar? – pergunta um grandalhão.
–– Sem armas. A luta será dentro de um espaço limitado com cordas onde os lutadores usarão só as mãos e os pés. Aquele que fizer sangue primeiro no adversário, ou derruba-lo e deixa-lo fora dos sentidos, já será considerado vencedor.
–– E quem vai julgar esse negócio? – pergunta outro homem.
–– Não se preocupem com isso. Quero que espalhem a notícia nas redondezas e na feira da cidade. Quanto mais gente vier, melhor.
–– E o que vamos ganhar com isso?
–– A bebida e a comida para o dia do evento será por minha conta. Vou mandar matar um boi e uns bodes. Agora preciso que me ajudem a divulgar isso, afinal, essa é uma forma de termos as autoridades aqui. Como sou generoso, a cachaça de hoje é por minha conta também.

Em todo lugar sempre tem os do contra, os negativos e os reclamões, que acham que tudo é difícil ou impossível. Não fazem nada e nem querem deixar que os outros façam.

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