–– Pois é. O que vamos
fazer?
–– O Jaime prendeu os
homens?
–– Prendeu.
–– Pois vamos ter que dar
cabo deles antes que deem com a língua nos dentes.
–– E as famílias deles?
–– Depois a gente vê isso.
Primeiro temos que apagar essas provas e você vai resolver pessoalmente. É o
menos suspeito.
–– Como?
–– Você vai convencer o Delegado
Jaime a deixar os presos saírem e faça
parecer que eles fugiram com a ajuda de alguém. Arrebente as grades, sei lá.
Depois atirem neles mais longe e levem os corpos para a beira do rio. Vão
pensar que foi vingança. Mas tem que ser de hoje para amanhã. Ah, leve esse
dinheiro para ele e diga-lhe para ficar de boca fechada – ordena o Coronel.
–– Certo.
–– O prefeito já sabe?
–– Acho que não. Ainda é
muito cedo para dizer.
–– O diabo desse prefeito é
querido pelo povo e está bem cotado para reeleição. Temos que virar esse jogo.
Amanhã vou à câmara tentar uma conversa com os vereadores.
–– Posso falar?
–– Pode!
–– Não é melhor o Senhor
chama-los aqui na fazenda, dar um jantar?
–– Não. Isso chama a atenção
do povo.
–– Então mande um recado e
convide de dois em dois para uma conversa aqui ou na casa de cada um, afinal
são só nove vereadores.
–– É. Mas tem três que são
fidelíssimos ao prefeito e mais dois que o apoiam em tudo.
–– Pois comece a conversar
com os dois mais insatisfeitos da oposição. Eles podem atiçar a ambição dos outros.
–– Por isso que gosto de lhe
ouvir, Lucas. Em uma semana quero todos na palma da minha mão. Tenho recursos
para isso.
–– Pois vá por aí que é o
certo.
–– Conversarei com o
Elesbão, nosso candidato sobre isso. Agora vá.
–– Sim chefe! Ah, tem mais
uma coisa. O Arilson tá planejando um grande evento de lutas, arrasta-pé, comes
e bebes e o diabo a quatro.
–– E quando vai ser isso?
–– Tão dizendo que é daqui a
um mês a abertura.
–– Tá preparando terreno
para a porra do candidato dele. Ele sempre apoiou o prefeito.
–– É. O Senhor sabe que nessas
coisas o povo comparece em peso.
–– Pois vamos nos preparar
para dar o troco. A gente fala disso mais tarde. Primeiro resolva essa porcaria
que está aí.
–– Certo chefe!
Antes que Lucas saia da
sala, outro capanga entra com notícia não muito agradável.
–– Coronel! Temos mais dois
corpos!
–– Puta que pariu! Hoje é o
dia dos mortos, é? Foram os dois que estavam no tronco?
–– Não Senhor. Esses estão
vivos. Foi lá no canavial. Os dois já são de idade mais avançada.
––Pois não quero nem ver.
Enterra lá para as bandas de riba do canavial. Fora da plantação, bem distante.
Cuide disso.
–– Está bem, Coronel.
–– Ah, solta os dois que
estão no tronco, manda alguém cuidar deles para ver se dá para trabalharem
amanhã.
–– Coronel...
–– Faça o que estou
mandando, cabra!
–– Sim, Senhor!
–– Tá vendo Lucas? Quatro a
menos! Onde é que vamos parar? Vai, vai tua viagem.
–– Sim Senhor, Coronel!
Lucas abre a porta do
escritório, cumprimenta Júlia apenas com um gesto pegando na aba do chapéu e se
apressa para cumprir a missão enquanto ela entra.
–– Pai, com sua licença!
–– Claro, filha!
–– Quero lhe pedir para ir à
missa de Domingo!
–– Sim! Permissão concedida!
Se você quiser, eu a levo!
–– Não precisa! O Senhor de
certo estará muito ocupado. Basta autorizar o Jeep ou a rural e o Damião irá
comigo.
–– Seu irmão quer ir para a
missa também?
–– Não sei, mas falo com ele
para a gente ir. Está bem para o Senhor?
–– Sim, claro! E sua mãe?
–– Não sei ainda. Então está
bem, pai! Muito agradecida, viu? – Júlia aproxima-se do pai e o beija na face.
–– Diga para seu irmão vir
aqui, querida!
–– Sim, Senhor.
(...)
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