domingo, 16 de junho de 2019

CANGACEIROS 9




–– Pois é. O que vamos fazer?
–– O Jaime prendeu os homens?
–– Prendeu.
–– Pois vamos ter que dar cabo deles antes que deem com a língua nos dentes.
–– E as famílias deles?
–– Depois a gente vê isso. Primeiro temos que apagar essas provas e você vai resolver pessoalmente. É o menos suspeito.
–– Como?
–– Você vai convencer o Delegado Jaime a deixar os presos  saírem e faça parecer que eles fugiram com a ajuda de alguém. Arrebente as grades, sei lá. Depois atirem neles mais longe e levem os corpos para a beira do rio. Vão pensar que foi vingança. Mas tem que ser de hoje para amanhã. Ah, leve esse dinheiro para ele e diga-lhe para ficar de boca fechada – ordena o Coronel.
–– Certo.
–– O prefeito já sabe?
–– Acho que não. Ainda é muito cedo para dizer.
–– O diabo desse prefeito é querido pelo povo e está bem cotado para reeleição. Temos que virar esse jogo. Amanhã vou à câmara tentar uma conversa com os vereadores.
–– Posso falar?
–– Pode!
–– Não é melhor o Senhor chama-los aqui na fazenda, dar um jantar?
–– Não. Isso chama a atenção do povo.
–– Então mande um recado e convide de dois em dois para uma conversa aqui ou na casa de cada um, afinal são só nove vereadores.
–– É. Mas tem três que são fidelíssimos ao prefeito e mais dois que o apoiam em tudo.
–– Pois comece a conversar com os dois mais insatisfeitos da oposição. Eles podem atiçar a ambição dos outros.
–– Por isso que gosto de lhe ouvir, Lucas. Em uma semana quero todos na palma da minha mão. Tenho recursos para isso.
–– Pois vá por aí que é o certo.
–– Conversarei com o Elesbão, nosso candidato sobre isso. Agora vá.
–– Sim chefe! Ah, tem mais uma coisa. O Arilson tá planejando um grande evento de lutas, arrasta-pé, comes e bebes e o diabo a quatro.
–– E quando vai ser isso?
–– Tão dizendo que é daqui a um mês a abertura.
–– Tá preparando terreno para a porra do candidato dele. Ele sempre apoiou o prefeito.
–– É. O Senhor sabe que nessas coisas o povo comparece em peso.
–– Pois vamos nos preparar para dar o troco. A gente fala disso mais tarde. Primeiro resolva essa porcaria que está aí.
–– Certo chefe!
Antes que Lucas saia da sala, outro capanga entra com notícia não muito agradável.
–– Coronel! Temos mais dois corpos!
–– Puta que pariu! Hoje é o dia dos mortos, é? Foram os dois que estavam no tronco?
–– Não Senhor. Esses estão vivos. Foi lá no canavial. Os dois já são de idade mais avançada.
––Pois não quero nem ver. Enterra lá para as bandas de riba do canavial. Fora da plantação, bem distante. Cuide disso.
–– Está bem, Coronel.
–– Ah, solta os dois que estão no tronco, manda alguém cuidar deles para ver se dá para trabalharem amanhã.
–– Coronel...
–– Faça o que estou mandando, cabra!
–– Sim, Senhor!
–– Tá vendo Lucas? Quatro a menos! Onde é que vamos parar? Vai, vai tua viagem.
–– Sim Senhor, Coronel!
Lucas abre a porta do escritório, cumprimenta Júlia apenas com um gesto pegando na aba do chapéu e se apressa para cumprir a missão enquanto ela entra.
–– Pai, com sua licença!
–– Claro, filha!
–– Quero lhe pedir para ir à missa de Domingo!
–– Sim! Permissão concedida! Se você quiser, eu a levo!
–– Não precisa! O Senhor de certo estará muito ocupado. Basta autorizar o Jeep ou a rural e o Damião irá comigo.
–– Seu irmão quer ir para a missa também?
–– Não sei, mas falo com ele para a gente ir. Está bem para o Senhor?
–– Sim, claro! E sua mãe?
–– Não sei ainda. Então está bem, pai! Muito agradecida, viu? – Júlia aproxima-se do pai e o beija na face.
–– Diga para seu irmão vir aqui, querida!
–– Sim, Senhor.
(...)

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