sexta-feira, 14 de junho de 2019

CANGACEIROS 7




–– Na, na bó, bó, bodega do-do Ari-arilson.
–– Senhor Delegado o caso é sério! – confirma a história Chico Preto – um homem e uma mulher foram encontrados mortos dentro do carro de bois, em frente à bodega do Arilson.
–– Agora entendi tudinho. Quem matou quem?
–– Ai que está o problema, Senhor delegado.
–– A ro-roda, a roda...
–– Gaguinho deixa só o Chico Preto falar.
–– T-tá bom.
–– Delegado o Gaguinho estava lá na hora do acidente.
–– Do crime?
–– Não. Ele viu quando a roda quebrou e caiu. Aí os corpos apareceram. Estavam escondidos entre as canas.
–– Esperem lá fora ou podem ir embora se quiserem. Vou tomar as providências.
–– Certo! Senhor. Vamos voltar, mas o Senhor precisa ir lá ligeiro bala.
–– Agora vão. Lucas, diga-me uma coisa, foi por isso que recebi esse dinheiro hoje?
–– Não era para ser assim. Coisa ruim acontece, mas o que você vai fazer agora?
–– É complicado! Pelo visto, muita gente já sabe disso.
–– Dê seus pulos, Delegado. Resolva o caso.
–– Olha como fala comigo, Lucas. Ah, e diga ao Coronel que qualquer coisa, estamos às ordens.
–– Pois resolva. Estou de saída. E é melhor que seja rápido. O patrão não vai gostar se algo der errado, principalmente que esse ano tem eleição.
–– É. Eu sei. Não precisa me lembrar. Quer dar uma passada por lá?
–– Quero nada. Até mais ver!
–– Até!

Depois de algumas horas, Dona Maroca chega ao local, na garupa do cavalo de um amigo. A mulher já vem se desmanchando em prantos. O marido também se encontrava em casa e agora chega montado em riba dum jumento cardão com jeito de burro; no lombo a cangalha de madeira e palha de carnaúba forrada com uma esteira confeccionada artesanalmente com o mesmo material do coqueiro.

–– Minha filha! Oh meu Deus! O que fizeram com você? O que esses malditos fizeram com você? Me ajudem! Me ajudem a tirar minha filha desse sofrimento, pelo amor de Deus! – chora e grita dona Maroca abraçada com o corpo da filha.
–– Se acalme Dona Maroca! Deus é maior! – Diz uma Senhora tentando consolar a mulher.
–– Mulher, como eu posso ter calma num momento desses? Oh, meu Deus! Meu Cristo! Ela não merecia uma morte dessas! O que eu vou fazer sem você? Deve ter sido apanhada, surrada. É muito sofrimento para uma pessoa só.
–– Dona Maroca, trouxe uma rede tapuerana para a Senhora levar o corpo de sua filha para casa. Os homens vão ajuda-la – decide Arilson sensibilizado.
–– Tá bom, meu filho. Depois eu pago, quando puder.
–– A Senhora não precisa me pagar essa rede. Esse é o meu adjuntório.
–– Oh, meu Jesus! Deus te pague em dobro, filho!
–– Ei, não tira os corpos agora, não! Deixa a polícia chegar – fala Benedito.

E nesse momento o Manoel Espicha Couro, pai do rapaz que também está na carroça chega ao local com lágrimas nos olhos e uma tristeza profunda. Em silêncio desce da montaria e dirige-se ao encontro do filho. Abraça-o como se fosse o último dia de sua vida, demonstra seu amor e calado, olha nos olhos dos dois homens amarrados. Parece querer fulmina-los com o olhar carrancudo que penetra a alma, mas se contém como homem que é e permanece calado ao lado corpo.
(...)

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