–– Na, na bó, bó, bodega
do-do Ari-arilson.
–– Senhor Delegado o caso é
sério! – confirma a história Chico Preto – um homem e uma mulher foram
encontrados mortos dentro do carro de bois, em frente à bodega do Arilson.
–– Agora entendi tudinho.
Quem matou quem?
–– Ai que está o problema,
Senhor delegado.
–– A ro-roda, a roda...
–– Gaguinho deixa só o Chico
Preto falar.
–– T-tá bom.
–– Delegado o Gaguinho estava
lá na hora do acidente.
–– Do crime?
–– Não. Ele viu quando a
roda quebrou e caiu. Aí os corpos apareceram. Estavam escondidos entre as canas.
–– Esperem lá fora ou podem
ir embora se quiserem. Vou tomar as providências.
–– Certo! Senhor. Vamos
voltar, mas o Senhor precisa ir lá ligeiro bala.
–– Agora vão. Lucas, diga-me
uma coisa, foi por isso que recebi esse dinheiro hoje?
–– Não era para ser assim.
Coisa ruim acontece, mas o que você vai fazer agora?
–– É complicado! Pelo visto,
muita gente já sabe disso.
–– Dê seus pulos, Delegado.
Resolva o caso.
–– Olha como fala comigo,
Lucas. Ah, e diga ao Coronel que qualquer coisa, estamos às ordens.
–– Pois resolva. Estou de
saída. E é melhor que seja rápido. O patrão não vai gostar se algo der errado,
principalmente que esse ano tem eleição.
–– É. Eu sei. Não precisa me
lembrar. Quer dar uma passada por lá?
–– Quero nada. Até mais ver!
–– Até!
Depois de algumas horas,
Dona Maroca chega ao local, na garupa do cavalo de um amigo. A mulher já vem se
desmanchando em prantos. O marido também se encontrava em casa e agora chega
montado em riba dum jumento cardão com jeito de burro; no lombo a cangalha de
madeira e palha de carnaúba forrada com uma esteira confeccionada
artesanalmente com o mesmo material do coqueiro.
–– Minha filha! Oh meu Deus!
O que fizeram com você? O que esses malditos fizeram com você? Me ajudem! Me
ajudem a tirar minha filha desse sofrimento, pelo amor de Deus! – chora e grita
dona Maroca abraçada com o corpo da filha.
–– Se acalme Dona Maroca! Deus
é maior! – Diz uma Senhora tentando consolar a mulher.
–– Mulher, como eu posso ter
calma num momento desses? Oh, meu Deus! Meu Cristo! Ela não merecia uma morte
dessas! O que eu vou fazer sem você? Deve ter sido apanhada, surrada. É muito
sofrimento para uma pessoa só.
–– Dona Maroca, trouxe uma
rede tapuerana para a Senhora levar o corpo de sua filha para casa. Os homens
vão ajuda-la – decide Arilson sensibilizado.
–– Tá bom, meu filho. Depois
eu pago, quando puder.
–– A Senhora não precisa me
pagar essa rede. Esse é o meu adjuntório.
–– Oh, meu Jesus! Deus te
pague em dobro, filho!
–– Ei, não tira os corpos
agora, não! Deixa a polícia chegar – fala Benedito.
E nesse momento o Manoel
Espicha Couro, pai do rapaz que também está na carroça chega ao local com
lágrimas nos olhos e uma tristeza profunda. Em silêncio desce da montaria e
dirige-se ao encontro do filho. Abraça-o como se fosse o último dia de sua
vida, demonstra seu amor e calado, olha nos olhos dos dois homens amarrados. Parece
querer fulmina-los com o olhar carrancudo que penetra a alma, mas se contém
como homem que é e permanece calado ao lado corpo.
(...)
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