–– Ah, Coronel, não foi tão difícil assim.
Conversei abertamente com o Delegado, menti sobre uma ocorrência em outro
povoado e fiz com que ele saísse em diligência juntamente com os policiais
deixando só o escrivão, e aí foi fácil. Batemos nele e levamos os presos para
fora da cidade conforme suas ordens.
–– Deram fim neles?
–– Sim, claro! E os enterramos num lugar que
ninguém achará a ossada.
–– Muito bem! Caso encerrado. Agora vá cuidar do
presidente da Câmara.
–– Estamos esquecendo do mais forte aliado do
prefeito. Aquele que poderia inclusive ser o candidato dele.
–– Quem?
–– O Padre Lauro. Homem carismático. Querido
pelo povo, pelos fiéis e com influência política nessa administração.
–– Realmente ele é muito forte politicamente,
mas não é candidato a nada e não tem substituto.
–– Não. Não tem, mas pode atrapalhar na eleição.
–– Vamos manter as coisas como estão. O alvo
agora é o presidente da Câmara. Depois pensamos o que fazer com o padreco,
aliás, tenho planos para ele.
Lucas põe o plano em ação:
O prefeito depois de prestar
suas condolências às famílias da moça e do rapaz assassinados, decide ir até a
delegacia conversar com Jaime e é então que descobre que eles sumiram e cobra
respostas ao delegado. Após essa visita,
vai à igreja ter um diálogo com o Padre e pede a missa de Domingo em nome das
famílias e o padre faz o sermão em homenagem a filha de Maroca e ao filho de
Espicha Couro.
Nessa tarde, Joaquim da
Silva reúne os filhos em casa para conversar e fazer os preparativos da festa
anual de seu aniversário.
–– Xavier venha cá, meu filho. Sente-se aqui.
Júnior, venha aqui perto de mim também.
–– Sim meu pai.
–– É o seguinte: Xavier você irá à casa de
Benedito, dizer-lhe para vir uma semana antes com a esposa. Converse com ele e
depois vá à casa de Francisco e diga a mesma coisa.
–– E eu pai, o que devo fazer? – indaga Júnior.
–– Você irá à casa de João que é mais perto.
Quero todos aqui no mesmo dia para tratar dessa eleição também.
–– Porque que tem que ser todos no mesmo dia
pai? – pergunta Fátima.
–– Porque quero matar um bode para a gente comer,
afinal, faz mais de ano que não os vejo.
–– Pai, ainda falta dois meses para seu
aniversário. E eles sabem que o Senhor faz essa festa todo ano – lembra Xavier.
–– Sim, eu sei, mas quero tratar desses assuntos
o quanto antes.
–– Tá certo. O Senhor é quem sabe.
–– Vou passar um café para nós, pai.
–– Vai filha.
–– Joaquim, esse ano terá alguma coisa
diferente?
–– Sim, tem. Quero convidar todos os mendigos,
cegos e aleijados da cidade para virem comer aqui. Quero um banquete para
todos. Foi uma promessa que fiz.
–– Está certo meu véio.
–– E olhe que não é por interesse político não.
É promessa viu? Quero um almoço com fartura. E que ninguém fique de fora.
–– O prefeito vem?
–– Não sei. Vou convidar, se ele vier, ótimo.
–– E o Padre?
–– Também será convidado.
–– Pai e os políticos do lado do prefeito, vem.
–– Olhe, não vou convidar esses não. Sei que
podem até vir. Somos amigos, mas não se trata de reunião política. É o meu
aniversário.
–– Você sabe que eles não perdem uma boquinha
dessas – diz a mulher.
–– Pois deixem que venham, mas não vamos ter
discursos e nem irei aceitar que peçam votos.
–– Aí sim. Fica melhor assim – confirma a
esposa.
–– Convidem em meu nome os padrinhos, tias e
tios de vocês, não sei se terei tempo para isso. Ah, os convidados estão
dispensados de trazer presentes esse ano.
–– Oxe! Porque pai – pergunta a menina.
–– Esse povo já vive com sacrifícios e para me
agradar são capaz de trazer até o melhor animal que poderiam comer mais tarde.
Então não precisa. Aqui nós temos tudo e devemos agradecer a Deus.
–– O pai tá certo, viu? – afirma Júnior.
–– Vocês três bem que poderiam ir à missa de
domingo e lá convidar o Padre em meu nome.
–– Pois pronto! Nós iremos. Faz mais de mês que
não vamos a uma missa – conclui Fátima – ah, o café já está na mesa. Fiz até o
cuscuz.
–– Pois vamos tomar esse café. Estamos
acertados? Vocês entenderam tudo?
–– Sim, pai.
–– Claro pai!
–– Xavier, você e Júnior sairão amanhã cedo,
viu?
–– Viu!
Ao cair da tarde, por volta
das cinco horas, quatro cavaleiros armados até os dentes, dispostos a enfrentar
quaisquer desafios desmontam dos animais bem tratados, amarram-nos próximos da
igreja, e um deles fica ali de plantão enquanto os outros entram. E pelo
corredor, entre os bancos de madeira polida, ajoelham-se diante da cruz de
Cristo no altar, benzem-se e fazem orações. O sacristão corre assustado para
chamar o Padre Lauro que logo chega.
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