Por Carlos Holanda
Joaquim da Silva, nordestino das brenhas do Piauí, é um
homem forte, alto, de pele queimada pelo sol e mãos calejadas da labuta no cabo
da enxada; caboclo de palavra, trabalhador, de personalidade forte, desses que
só anda com a peixeira na cintura e é capaz de lavar a alma com sangue caso
seja ofendido, pois não leva desaforo para casa. Mesmo que não esteja aboiando,
carrega sempre o chapéu de couro no quengo, mas quando vai campear o gado usa o
gibão e as calças de couro como se fosse uma farda para proteção contra
espinhos e galhos.
Joaquim da
Silva casou-se muito cedo de papel passado no cartório e na igreja com Maria
dos Anjos, e desse matrimônio nasceram sete filhos, seis homens e a penúltima é
uma menina. Os dois filhos homens, os mais velhos, também se casaram com
mulheres das redondezas e um amancebou-se com uma moça de vida livre; os três
casais moram mais distantes. Os outros quatro, mais moços, residem sob o mesmo
teto dos pais.
A família não pode dizer que
tem uma fazenda, mas a propriedade é um sítio bem cuidado, com muitos hectares
de terras, onde cultivam o plantio de milho, feijão, mandioca e árvores
frutíferas. Um poço cavado há muitos anos abastece o lugar e até dá para
compartilhar com vizinhos que trazem jumentos com ancoretas para abastecer; duas
cisternas foram construídas com sacrifício e algumas economias para prevenir o
período de seca.
No interior, cada um cuida
da sua vida na labuta diária, seja alimentando os porcos, as galinhas ou
cuidando dos apriscos e do gado; capinando mato, colhendo os grãos de época ou
simplesmente debulhando feijão e milho à noite, no claro de lamparinas e lampiões
de querosene. E claro, no intervalo, saboreiam o cuscuz de milho ralado com
manteiga da terra e café torrado e moído na hora; quando não é assim, é carne
assada e desfiada, feita uma paçoca com farinha branca temperada com sal,
cheiro verde, cebolinha verde, coentro e pimenta de cheiro. A rapadura cortada
miúda nunca falta. Faz parte da mesa nordestina. Isso não implica dizer que
todas as famílias vivam bem, outras, sem recursos, passam fome.
O respeito e a moral são
praticados diuturnamente até quando os filhos vão dormir e tomam a bênção ao
pai e a mãe.
Distante de tudo e de todos,
sem sinal de internet não há conexão com o mundo exterior. Assim é o sertão das
capembas rachadas. Livra-se aqui e ali a casa que tem o rádio a pilha ou onde
mais próximo da cidade tem energia elétrica e dá para ver a televisão em poucas
casas, comprada nas lojas em até doze parcelas pagas no carnê, isso quando
alguns, bem poucos, sacrificam-se para adquirir o bem.
(...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário