–– Seu Manoel, vou trazer
uma rede para o Senhor também levar seu filho para casa – o homem apenas
balança a cabeça confirmando, sem dar uma palavra.
Diante da tristeza, da dor
da perda, da morte, as pessoas têm reações diferentes. Algumas choram muito,
gritam, silenciam e até sorriem, porém, o sentimento é o mesmo: amor. É como se
perdesse um pedaço de si, quando alguém parte para outro plano.
O Jeep e uma rural abrem
caminho em meio a multidão ao entardecer. O delegado, o cabo e um soldado
descem das viaturas oficiais para apurar o caso.
–– Boa tarde, Senhores e
Senhoras! O que realmente aconteceu aqui? – Pergunta o Delegado.
–– Aqueles dois homens
amarrados ali são os responsáveis pelo carro de boi – afirma Arilson.
–– Cabo, prenda-os e
algeme-os, coloque-os no Jeep e leve-os para delegacia, para interrogatório.
Vai e volta para me pegar que vou ter uma conversa de pé de orelha por aqui.
–– Sim, Senhor!
–– E quanto aos corpos? -
Indaga Arilson.
–– Vou disponibilizar a
rural para leva-los para suas casas. Como não temos necrotério, cada família se
responsabilizará para fazer o funeral.
–– E agora o que você vai
fazer? – pergunta outra pessoa.
–– Que pergunta mais idiota!
Acabei de explicar. Aqui não tem mais o que fazer. Vou prender os homens,
interroga-los e mandar os corpos para casa.
–– E quanto ao carro de bois?
– indaga Arilson.
–– Bem. Não há como consertar
agora. Tirem-no dali e coloquem no pé da cerca que depois mando buscar.
–– Quando?
–– Amanhã. Estamos
entendidos?
–– Éguati! Esse foi o
processo mais ligeiro que já vi. Ô delegadin véi ligeiro da porra, siô! – diz
um dos caboclos para o outro, em voz baixa
com a mão na boca para disfarçar.
–– Óia, tu deixa de muganga,
porque se o homem ouvir isso quem vai preso é tu.
–– Delegado, o Arilson deu
duas redes para levar os corpos – acentua Benedito.
–– Pois ajudem a colocar nas
redes e na rural que vamos tudo duma vez quando o cabo vier. E na delegacia
esses cabras vão falar tudo, tim, tim por tim, tim, nem que seja na base da
pêa.
Enquanto o Delegado Jaime
interroga os transeuntes e caboclos sobre o acontecido, Lucas estaciona o Jeep
na propriedade de Coronel Messias, desce do carro apressado e corre para avisar
o chefe sobre o incidente lá nas bandas de “Jatobá”, povoado desenvolvido mais
próximo da cidade de Olho d’água.
–– Coronel! Coronel! Preciso
falar com o Senhor urgente!
O Coronel que estava numa
mesa farta a tomar café com bolo, queijo e outras iguarias no final da tarde,
levanta-se e o convida para irem ao escritório.
–– Vamos ali para a sala de
escritório. Tu tá amarelo que só flor de algodão. Fala homem.
–– Coronel, o tiro saiu pela
culatra. A moça e o rapaz que o senhor mandou enterrar lá no sítio do Zé Pezão
foram descobertos.
–– Como? Quem descobriu?
–– Não foi ninguém não.
Segundo os relatos do povo que foi dar queixa lá na delegacia, quando eu estava
lá, exatamente na hora do pagamento, disseram que a roda do carro de boi
quebrou, caiu e os defuntos apareceram.
–– E quem viu isso
acontecer?
–– Todo mundo que estava no
bar do Arilson.
–– Tinha que ser na porta
desse merda! Que diabo homem! Bem agora que estamos preparando a campanha de
nosso candidato.
(...)
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