Um caboclo mais frio,
arrasta duas ou três canas da carroça, desfolha-as, põe em cima do peitoril, e
pega uma a uma e vai descascando, corta em cruz alguns gomos pequenos e mastiga
– eita porra! Essa é das boas! Doce que só o mel!
Outro mais aproveitador,
pega alguns fechos e leva-os para seus animais devorarem enquanto estão
amarrados no pé da cerca e assim, seguindo o exemplo, outros fazem o mesmo,
pegam os fechos para alimentar suas montarias, afinal, alguns jogadores
viciados em baralho, sinuca e dama vem de longe montados em cavalos, burros e
jumentos, todos arreados com boas selas, alguns mais pobres, usam cangalhas nas
montarias. A concepção é de que a carga está perdida mesmo e o que importa
naquele momento são os corpos, então, deixa os bichos comerem as canas.
Os bois estão babando de
calor com o sol a pino, mas ninguém vê isso. Bem, quase ninguém. Benedito
sugere tirar a canga da parelha de bois e decide dar uma parte das canas e água
para os animais à sombra do grande pé de jatobá e enquanto isso acontece,
pessoas da região aglomeram-se. O boato boca a boca se espalha rapidamente. Não
há melhor publicidade do que fofoca no interior. Até parece que todos moram
perto um do outro. Não se sabe por que as coisas ruins ganham mais repercussão
do que as coisas boas.
Gaguinho chega à delegacia,
amarra o cavalo num pé de oiti e adentra apressado.
–– O-olá! C-ca-cadê o
De-dele-delegado? – pergunta ele a um recruta no balcão.
–– Está na sala dele.
Aguarde aí. Ele tem uma visita importante. Vixe! Tá avexado assim por quê?
–– M-mas é, é um ca-caso de
vi-vida ou mor-morte!
–– Tenha calma, gaguinho!
Aguarde sua vez! Ôxe!!
A visita importante como o
recruta falou, trata-se de um homem que certamente é o braço direito do Coronel
Messias que veio trazer propina.
–– Pois muito bem Senhor
Lucas. Quanto ele mandou dessa vez?
–– Está tudo aí nesse
envelope, conforme o Senhor pediu. Agora ele disse que é para o Senhor fechar
oszói, caso alguma coisa ruim venha a acontecer ou dar errado – diz o capanga
de Coronel Messias.
–– Hum!! Ô cabra arretado de
palavra!
–– Delegado, com sua
licença, tem um gaguinho aperreado querendo falar com o Senhor. Ele tá
realmente agoniado.
–– Terminamos aqui, Lucas,
mas pode ficar enquanto atendo essa ocorrência. Mande-o entrar, cabo.
Gaguinho já está para botar
os bofes pela boca, e nesse interim, chega Chico Preto ainda mais nervoso que o
outro.
–– Quero falar com o
Delegado. Ele está aí?
–– O que houve?
–– Tenho que avisar a ele do
furdunço que aconteceu no bar do Arilson.
–– É o mesmo assunto do
gaguinho?
–– É. Mas sei explicar
melhor para a autoridade não perder tempo.
–– Pois emburaca, já que ele
está lá dentro!
–– De-de-de...
–– Delegado! - Completa o
policial.
–– N-não! De-de-defunto!
–– Defunto, onde?
–– O diabo quando não vem,
manda o secretário.
–– Cala a boca Lucas –
repreende o Delegado.
–– No, no car-carro de bó,
boi.
–– Que carro gaguinho?
–– No bar.
–– Entendi. Defunto no carro
de boi, no bar. Onde fica o bar?
(...)
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