domingo, 31 de maio de 2020
Cangaceiros 50
–– Tenho uma casa ao lado da minha que está desocupada. Eles poderão ficar lá por uns tempos ou enquanto tu quiseres.
–– Calango! Orienta aí quem vai com meu compadre e diz para ficarem atentos e sem bebedeira ou arruaça.
–– Sim! Capitão! É para já!
Gerônimo cumprimenta o vereador com um aperto de mão, despede-se e entra na Igreja com o Padre, que agradece a carona e acena com a mão direita na despedida.
–– Padre é o seguinte: de lá para cá estive pensando e decidi que irei contigo para a capital comprar essas armas e trocar o ouro por dinheiro.
–– Sábia decisão, porém, terás que te aperfilar como homem da cidade. Vestir outras roupas, aparar a barba e usar uma loção. Como somos quase da mesma altura, tenho roupas que te servem.
–– Só não deixo o revólver e a faca.
–– Poderás levar, mas tens que ser discreto. Deixar escondido para não chamar a atenção do povo.
–– Certo! Então quero dizer mais, que Lúcia não pode ir porque ainda está de resguardo e amamentando e não posso deixar que ela se arrisque tanto numa tarefa tão perigosa.
–– Tens razão! É melhor que ela fique com a criança. Ah, vamos tomar a água e um café.
–– Vamos!
–– Quando a Júlia passou por aqui, antes de viajar, ela deixou uma carta. Está lembrado que falamos sobre isso?
–– Sim! Não é aquela que quase peita em mim no corredor dessa Igreja?
–– Sim! Sim! A filha do Coronel.
–– O que tem ela?
–– Ela me disse que o pai tem uma propriedade há poucos quilômetros daqui e lá estão uns quarenta cavalos.
–– E daí?
–– Daí que tem também cinco homens que os tratam e vigiam. Eles cuidam dos animais para mais tarde, na eleição, o Coronel ameaçar o povo com os jagunços armados forçando-os a votar no candidato dele.
–– Padre, o que tu queres dizer com isso?
–– Que tu fez um pacto com os índios e se tu levar esses animais para o acampamento e der a metade para o grande chefe ele ficará muito agradecido. Além do mais, já tiraste uma parte de suprimento quando confiscou o gado, por assim dizer. Agora é hora de tirar uma parte das montarias.
–– Isso é roubo Padre, mas, o deixaria mais pensativo, além da recompensa.
–– Sim! É claro! Outra coisa! Vais tu mesmo lá na bodega do Arilson e oferece essa recompensa pessoalmente! Tem coragem para isso?
–– Padre eu só tenho medo dos castigos de Deus. Por outro lado confio em mim e em duas coisas que carrego comigo até dormindo – com essa frase Gerônimo saca o revólver com uma mão e acaricia a peixeira com a outra.
–– Pois a decisão é tua!
–– Tem onde a gente pernoitar por aqui hoje?
–– Quartos para onze homens não tem. Nem lugar para os cavalos. Mas cabem todos na Igreja.
–– A gente nem precisa dormir direito, se ajeita no pé da parede. Hoje tu ficarás bem vigiado. Ficaremos revezando.
–– Então fiquem à vontade! Vou mandar preparar a comida e reservar um pouco de vinho de caju. Se quiseres fazer uma oração, estás no lugar certo.
–– Obrigado Padre! Reze por mim! Só falo com Deus em pensamentos. Ah, podemos pegar água para os cavalos?
–– Muitas vezes precisamos dobrar os joelhos e orar. Faz bem ao coração. A leveza da alma e do espirito está na fé de cada um. E sim, é claro! O poço é lá no final da casa Paroquial. O Sacristão te ajudará com isso.
–– Padre! Quer saber? Mudei de ideia! Só ficaremos aqui se realmente tu quiseres. Ainda não é nem meio dia, então o que tu achas de pegarmos esses cavalos para adiantar as coisas?
–– Eu acho ótimo! Não precisas te preocupar comigo. Deus me enviará seus anjos com um manto de proteção.
Assim que os animais terminam de beber Gerônimo e o pequeno bando atiçam as esporas nos vazios dos cavalos e partem rumo a propriedade de Messias.
–– Então tenha um bom dia Padre! Homens! Vamos embora!
(...)
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