quarta-feira, 13 de maio de 2020

Cangaceiros 31


–– Esse gado é para ele vender?
–– Não sei Senhor!
–– É para o abate?
–– Não sei Senhor!
–– Vocês não sabem de nada mesmo, não é?
–– Não Senhor.
–– Pois eu sei. Essas cabeças de gado são para pagar a recompensa que ele oferece pela minha cabeça.
–– Não Senhor. É para alimentar o povo da fazenda.
–– Ora mais rapaz! Agorinha vocês não sabiam de nada.
–– É o que a gente acha! Somos só vaqueiros contratados para levar o gado para a fazenda.
–– E essas armas?
–– É para nossa segurança no caso de roubo.
–– Pois vocês vão ter que ir embora sem o gado.
–– Moço, não faça isso! Eles vão nos matar se chegarmos sem as cabeças de gado!
–– Vocês são cinco e para não chegar com as mãos abanando, vão levar cinco bois. Contem a história para o Coronel que Gerônimo confiscou o que ele oferece como recompensa por mim.
–– Mas Senhor...
–– Vão agora ou vocês ficarão sem o mel e sem cabaça. Ninguém faz as coisas sem saber de nada.
–– Por que o Capitão não fica logo com tudo e a gente sangra eles e deixa aí para os urubus? – indaga Cancão.
–– Cancão, se é comida para alimentar o bando de jagunços ele terá que dar outro jeito. Se for para pagar a recompensa, está dado o recado que ele não está mexendo com cabra frouxo.
–– Deus me perdoe, mas suprimento para o inimigo só o fortalecerá. Gerônimo está certo – diz o Padre.
–– Agora vão que minha paciência está ficando bem pouquinha – afirma Gerônimo apontando com a velha parabela já engatilhada.
–– Vamos! Vamos! – ordena o vaqueiro chefe.
–– Padre, quero fazer um pedido.
–– Fale homem de Deus!
–– Padre é o seguinte: se vamos ter um enfrentamento com esse Coronel que é tão poderoso, vamos precisar de armas. O Senhor pode solicitar ao prefeito o apoio do governador.
–– Gerônimo, o prefeito não tem recursos para isso. O governador não manda soldados e armas porque o prefeito é de outro partido. E é mais fácil ele mandar para o Coronel que é da oposição.
–– Então temos que dar outro jeito.
–– É uma batalha desigual e pelo ritmo da carruagem a do Coronel está na frente.
–– Então temos que pensar um passo na frente dele.
–– Como podemos fazer isso?
–– Padre eu sou amigo do chefe de uma tribo indígena além das montanhas do acampamento. Acredito que eles podem nos dar uma força.
–– O que índios com lanças, arcos e flechas podem fazer diante do poder de fogo do Coronel?
–– Eu estou matutando aqui no quengo umas ideias mirabolantes.
–– Sabe Padre, o Cacique é meu amigo, me deve favores. Há muitos anos, salvei o filho dele da morte. Bandidos o pegaram e iam mata-lo, e, foi aí que eu e meus amigos os impedimos. Não deixamos nenhum vivo e devolvemos o indiozinho para a tribo.
–– E o que tu pretendes fazer?
–– Eles poderão ser muito úteis se seguirem meu plano. Vou mandar uma mensagem para o chefe da aldeia. Vamos atacar o bem mais precioso do Coronel. Acabar com a fonte de recursos dele.
–– Como tu vais fazer isso?
–– Não se preocupe. E de quebra, ainda vamos salvar os escravos que, livres no meio da confusão serão nossos aliados.
–– Só um milagre para fazer dar certo!
–– Padre o Senhor tem fé em Deus?
–– Filho eu rezo, mas quem faz o milagre é Deus!
–– Então confie em mim e pode rezar que dará certo. Essa cidade irá pegar fogo, ou parte dela.
(...)

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