No dia seguinte, antes que os galos cantem e o sol nasça, os cangaceiros tomam café com cuscuz à beira de uma fogueira e partem para fazer a emboscada por ordem de Gerônimo. São seis homens armados que não temem a morte. Eles chegam e se entocam como fantasmas, camuflam-se ao redor da cabana estrategicamente e esperam. O tempo passa. Uma vez ou outra já perto do meio dia, o sol a pino, um deles pega a cabaça de água e passa de mão em mão. Um dos homens que está no ponto mais alto avista o rastro de poeira na estrada de chão lá longe e faz o sinal com um pano branco amarrado na ponta do cano da espingarda.
–– Ele chegou – diz o outro.
–– Quando ele se aproximar da porta da cabana a gente o cerca. Só atirem nas pernas. Isto é, se for necessário. O Capitão mandou levar o homem vivo.
–– Certo.
E assim é feito.
–– Não se bula, cabra! Bote as mãos pra riba!
–– O que?
–– Tu estás cercado. Não toques um dedo nas armas.
Vendo que não havia chance de combate ou de revidar à cilada o homem se entrega.
–– Eu me rendo. Não atirem.
–– Gavião, pega as armas dele. Bota as mãos pra trás. Avexado.
–– Tudo bem, mas quem são vocês? Não somos inimigos. O que vocês querem? É dinheiro?
–– Cala a porra dessa boca. Só obedece que vai ficar tudo bem.
–– Está bom! Está bom!
–– Vamos leva-lo.
–– Vamos!
–– Tinha um homem na cabana. Onde ele está?
–– Tu vais já saber. Caminha. Ligeiro.
–– Cadê o homem?
–– Cala essa maldita boca infeliz! Se o capitão não quisesse te ouvir juro que cortava tua língua.
–– Que capitão?
–– Espera ai – diz o cangaceiro chefe desse pequeno bando enquanto quebra um graveto, põe na boca de Lucas e amarra as duas pontas com um pedaço de pano – pronto! Agora tu sabes o que significa alguém dizer “cala a boca”. Os outros caem na gargalhada.
E depois de muito andar, subindo e descendo barrancos, caminhar por trilhas cheias de garranchos, xique-xique e mandacarus que só eles sabem onde vai dar, chegam ao acampamento.
–– Aqui está o homem Capitão. Não deu um pingo de trabalho. Só é valentão no grupo deles.
–– Então tu és o Lucas! Cabra sem vergonha! Minha mão tá coçando para fazer uma besteira contigo. Esse punhal já cortou muitas gargantas, mas hoje, hoje vou me conter em cortar tua orelha. Qual tu preferes a direita ou a esquerda?
–– Não faça isso senhor, pelo amor de Deus.
–– O filho do Manoel Espicha Couro era meu afilhado e o que tu fizeste? Matou o rapaz e queria esconder o corpo. Covarde. Depois sequestrou o presidente da Câmara para extorquir. Tu és um encosto ruim.
–– Eu fui obrigado a fazer isso.
–– Quem te obrigou?
–– O Coronel Messias dos Reis.
–– O teu patrão?
–– Sim Senhor.
–– Ô cabra frouxo. Vocês estão vendo o que é um homem frouxo? Eu ainda nem encostei a mão nele. Todo homem que faz o que não presta quando anda só e é acuado é covarde. Quando se sente protegido é valentão, não é Lucas?
–– Desamarrem-no. Não gosto de bater num homem amarrado. E ninguém vai interferir.
Assim que o cangaceiro o desamarra, Gerônimo desfere um soco na boca do estômago de Lucas e quando este se curva com o golpe outro murro de punho rígido o atinge no rosto deixando o sangue no canto da boca e no nariz. Os homens vibram.
–– Tem uma coisa que eu não gosto Lucas, é de traição. Tu ias enganar teu patrão por dinheiro. Ele não te pagava tão bem? Tu não eras o braço direito dele? Canalha! Não gosto também de chutar cachorro morto não. Mas isso é só o começo.
Gerônimo chuta as costelas de Lucas e se escancha sobre seu corpo, põe a mão com força no pescoço de Lucas e com o punhal na mão direita aparta a orelha esquerda dele.
–– Essa orelha vai para o rosário dos meus desafetos e não são poucos. Agora, tirem as roupas dele, passem mel, joguem-no no buraco e joguem as formigas para se alimentarem enquanto o Manoel Chega.
–– Esperem. Quem mais está envolvido nessa trama política? – indaga o vereador.
–– Se eu falar eles me matam.
–– E se não falar quem te mata sou eu – diz Gerônimo.
(...)
–– Ele chegou – diz o outro.
–– Quando ele se aproximar da porta da cabana a gente o cerca. Só atirem nas pernas. Isto é, se for necessário. O Capitão mandou levar o homem vivo.
–– Certo.
E assim é feito.
–– Não se bula, cabra! Bote as mãos pra riba!
–– O que?
–– Tu estás cercado. Não toques um dedo nas armas.
Vendo que não havia chance de combate ou de revidar à cilada o homem se entrega.
–– Eu me rendo. Não atirem.
–– Gavião, pega as armas dele. Bota as mãos pra trás. Avexado.
–– Tudo bem, mas quem são vocês? Não somos inimigos. O que vocês querem? É dinheiro?
–– Cala a porra dessa boca. Só obedece que vai ficar tudo bem.
–– Está bom! Está bom!
–– Vamos leva-lo.
–– Vamos!
–– Tinha um homem na cabana. Onde ele está?
–– Tu vais já saber. Caminha. Ligeiro.
–– Cadê o homem?
–– Cala essa maldita boca infeliz! Se o capitão não quisesse te ouvir juro que cortava tua língua.
–– Que capitão?
–– Espera ai – diz o cangaceiro chefe desse pequeno bando enquanto quebra um graveto, põe na boca de Lucas e amarra as duas pontas com um pedaço de pano – pronto! Agora tu sabes o que significa alguém dizer “cala a boca”. Os outros caem na gargalhada.
E depois de muito andar, subindo e descendo barrancos, caminhar por trilhas cheias de garranchos, xique-xique e mandacarus que só eles sabem onde vai dar, chegam ao acampamento.
–– Aqui está o homem Capitão. Não deu um pingo de trabalho. Só é valentão no grupo deles.
–– Então tu és o Lucas! Cabra sem vergonha! Minha mão tá coçando para fazer uma besteira contigo. Esse punhal já cortou muitas gargantas, mas hoje, hoje vou me conter em cortar tua orelha. Qual tu preferes a direita ou a esquerda?
–– Não faça isso senhor, pelo amor de Deus.
–– O filho do Manoel Espicha Couro era meu afilhado e o que tu fizeste? Matou o rapaz e queria esconder o corpo. Covarde. Depois sequestrou o presidente da Câmara para extorquir. Tu és um encosto ruim.
–– Eu fui obrigado a fazer isso.
–– Quem te obrigou?
–– O Coronel Messias dos Reis.
–– O teu patrão?
–– Sim Senhor.
–– Ô cabra frouxo. Vocês estão vendo o que é um homem frouxo? Eu ainda nem encostei a mão nele. Todo homem que faz o que não presta quando anda só e é acuado é covarde. Quando se sente protegido é valentão, não é Lucas?
–– Desamarrem-no. Não gosto de bater num homem amarrado. E ninguém vai interferir.
Assim que o cangaceiro o desamarra, Gerônimo desfere um soco na boca do estômago de Lucas e quando este se curva com o golpe outro murro de punho rígido o atinge no rosto deixando o sangue no canto da boca e no nariz. Os homens vibram.
–– Tem uma coisa que eu não gosto Lucas, é de traição. Tu ias enganar teu patrão por dinheiro. Ele não te pagava tão bem? Tu não eras o braço direito dele? Canalha! Não gosto também de chutar cachorro morto não. Mas isso é só o começo.
Gerônimo chuta as costelas de Lucas e se escancha sobre seu corpo, põe a mão com força no pescoço de Lucas e com o punhal na mão direita aparta a orelha esquerda dele.
–– Essa orelha vai para o rosário dos meus desafetos e não são poucos. Agora, tirem as roupas dele, passem mel, joguem-no no buraco e joguem as formigas para se alimentarem enquanto o Manoel Chega.
–– Esperem. Quem mais está envolvido nessa trama política? – indaga o vereador.
–– Se eu falar eles me matam.
–– E se não falar quem te mata sou eu – diz Gerônimo.
(...)
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