terça-feira, 12 de maio de 2020
Cangaceiros 29
–– Que história é essa Zé Pesão? Mostre-me esse saco.
–– Pois é Coronel! O Manoel Espicha Couro apareceu lá em casa com a cabeça do Lucas. E ele sabe que os dois corpos que estavam na carroça que despencou lá no Arilson, um era do filho dele e o outro da filha de Maroca.
–– Desgraçado! Onde está o corpo do Lucas?
–– Eu não sei, mas ele disse que o amarrou numas estacas em forma de xis e tirou o couro das costas. Aí me mandou trazer a cabeça.
–– Ah, infeliz! Ele não sabe onde está se metendo.
–– Ah, e os dois homens que o Senhor mandou em missão para fazer não sei o que, voltaram comigo.
–– Zé, vou te contar uma coisa. Eles iam te matar, sabe como é, não é? Eu queria apagar as possíveis provas, mas, já que tu contaste essa história, passou-me pela cabeça que se tu e eles dois trouxerem o Arllson, tu ficarás vivo e trabalharás aqui comigo. Mas tem que ser agora, de hoje para amanhã.
–– Sim! Sim Coronel! Faremos isso. Fico muito agradecido pelo Senhor poupar minha vida.
–– Homens enterrem a cabeça como se estivessem com o corpo. Ele não mereceu essa desgraceira.
–– Coronel! Posso fazer uma pergunta?
–– Pergunta macho!
–– Por que o Arilson? Aquilo não ofende o bocado que come.
–– Ah, não? Ele é aliado do prefeito e tem um evento marcado que reunirá milhares de pessoas. Se o eliminarmos agora, fraquejará a campanha. Ele é um cabo eleitoral fortíssimo e se duvidar, é ele quem mais compra votos na região. Por que é que tu achas que a bodega dele vive lotada? E outra ele está ficando rico e todo homem rico sonha com mais poder. Isso é política Zé. Tá satisfeito?
–– É. Vendo por essa ótica, o Senhor tem razão.
–– Agora deixa de perder tempo com conversa fiada que tenho mais o que fazer. Vai, vai e não me volte aqui sem essa encomenda. E se não cumprir, os homens que estão lá fora e te acompanharão, trarão a tua cabeça e a do Arilson. Entendeu?
–– Sim Senhor, Coronel. Já estou indo.
–– Coronel! Coronel! Pegamos um escravo tentando fugir.
–– Levem-no para o tronco. As três primeiras chibatadas eu dou. Depois o “Chicote” que já está aqui mesmo, dará mais vinte para servir de exemplo. E tragam os outros para assistirem. Ah, e aumentem a carga horária em duas horas. Eles trabalharão durante uma semana com intervalo de uma hora só para a ração. Para a lição ficar bem dada, botem mais um escravo no tronco. Não precisa mata-los. Só bater. Recurso humano é precioso e caro.
Depois dessa ação violenta, o Coronel Messias dos Reis vai para o aconchego da família na residência, onde almoça com a mulher e os filhos como se nada tivesse acontecido. Frio e calculista, o homem dá prosseguimento ao plano de poder dominar a cidade, e então aconselha sua esposa a viajar para a capital com a filha Júlia e seu irmão mais novo, e que ela só volte depois da eleição. Entrega-lhe uma carta endereçada ao governador e diz que ela marque uma audiência para alcançar esse objetivo. O teor da missiva é a solicitação de armas, recursos para a campanha e contratação de homens, mas a mulher não sabe desse conteúdo, a carta está lacrada. E como já havia planejado, ordena que eles se aprecem e partam imediatamente. Na certeza de que será atendido, pois o governador é sua última carta na manga, e o mais forte aliado em oposição ao prefeito. Coronel Messias não quer perder tempo. A mulher o atende sem se opor e tampouco questiona a decisão do marido já que conhece perfeitamente o temperamento dele.
(...)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário