quarta-feira, 13 de maio de 2020

Cangaceiros 32


–– Mas como tu vais fazer isso?
–– Deixe comigo. Serei o chefe dessa guerra se é isso que o Coronel quer. Além do mais temos agora uma moeda de troca também.
–– Qual?

–– O gado. Quando os índios vierem, dar-lhe-ei quinze cabeças de gado para saciarem a fome de seus guerreiros. As outras a gente come.
–– Pois muito bem. Serás promovido de capitão a general.
–– O general é mais que capitão?
–– Claro Gerônimo! Claro!
–– Então assim será! Está decidido! Ah, General é com G ou com J?
–– Com G, assim como seu nome.
–– Aboiem o gado homens. Não deixem que eles ganhem o mato. Vamos embora – ordena Gerônimo.

Na fazenda a mãe de Júlia pede que ela se arrume para a viagem à capital.

–– Seu irmão já está de mala pronta lá fora só esperando.
–– Eu sei mãe. Eu sei.
–– Então se aprece. Vou me assear enquanto você se arruma. É já que eu volto.

Júlia vê a carta sobre a escrivaninha endereçada ao governador que a mãe levará e decide abrir e Lê, faz uma cópia num pedaço de papel e guarda. Rapidamente fecha, lacra e deixa no mesmo lugar.
–– Está pronta?
–– Estou!
–– Então vamos! É uma viagem longa.
–– Mãe! Tenho que passar na igreja novamente.
–– Mas filha, você veio de lá agora a pouco.
–– Sim, mas prometi dar uma pequena quantia ao Padre Lauro. Tem uma freira lá na Casa Paroquial que está muito doente. Fiquei penalizada com isso e quero ajudar antes de partir.
–– Está bem! A gente faz uma parada rápida e você entrega sua doação.
–– Sim. Obrigado mãe!

O carro sai da fazenda conduzindo a família e ao chegar na porta da Igreja para e Júlia desce. Apressada, ela entra, mas já não encontra o Padre que saiu mais cedo na companhia de Gerônimo, então ela entrega o bilhete ao Sacristão e recomenda que ele o entregue assim que ele voltar e na saída, tropeça na barra do vestido e cai.

–– Posso ajuda-la senhorita? – indaga Júnior, o filho mais novo de Joaquim da Silva, que por acaso estava passando e fita-a nos olhos por um instante.
–– Claro! Cai de mau jeito. Acho que torci o tornozelo.
–– E porque a pressa?
–– Minha mãe está esperando ali, naquele carro!
–– Apoia-te em mim. Levo-te até lá!
–– Por favor! Obrigada!
–– Não há de que!
–– Que mal te pergunte, vais viajar para onde?
–– Para a capital.
–– E quando voltarás?
–– Depois da eleição!
–– Tanto tempo assim? Posso te ver depois?
–– Não sei.
–– Como não sabes?
–– Vamos logo, minha mãe e meu irmão estão olhando.
–– Está bem. Meu nome é Júnior. Júnior, filho de Joaquim da Silva. Todo mundo conhece meu pai nessa cidade.

–– Meu nome é Júlia. Foi um prazer! Obrigada viu?
–– Disponha Senhorita!
(...)

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