sábado, 30 de maio de 2020

Cangaceiros 46


–– Está certo! O Coronel é quem manda!
–– Agora vai. Acompanha o feitor!
–– Sim! Senhor!

Cancão é conduzido pelos jagunços do Coronel Messias para falar com o homem que se tornou o braço direito do homem mais poderoso e rico da região.

–– Miguel dos Reis, não tente mais fazer isso na frente de meus homens. Essa é a segunda vez que tu interferes onde não deves – diz o Coronel pondo a mão no ombro de Miguel.
–– Pai, eu sei e te respeito. Apenas sugeri aquilo porque a escrava é nova e pode produzir mais trabalhando no canavial. E o Senhor ia tirar a vida dela sem motivo algum.
–– Só quero que tu não te metas mais em minhas conversas. Estamos entendidos?
–– Pai, eu sou o teu melhor conselheiro. Sou o teu sangue e só quero teu bem.
–– Tu ainda não estás preparado para assumir meu lugar. Por mais que veja como ajo. Quando chegar a hora, te direi.
–– E tem mais pai. Não gostei desse tal de Cancão. Ele foi frio quando encarou a escrava.
–– E tu querias o que? Ele queria um emprego e eu dei. Tinha que mostrar pontaria. Não se conhece um homem a primeira vista. Temos que ver do que ele é capaz e se realmente merece confiança. Quando ele mostrar lealdade, veremos. Duas coisas são importantes em qualquer situação: Respeito e lealdade.
–– Eu sei pai. Mas ele é diferente dos outros. Ele perguntou na hora quanto ia ganhar. Os outros sempre deixaram a seu critério.
–– Miguel todos eles comem na minha mão. Ele ainda não sabe o que fazemos ou como agimos aqui dentro. Vamos dar um tempo a ele e algumas tarefas,
–– Sei não pai. O Senhor confia demais. Ele não tem nenhuma referência. Não sabemos sequer de onde ele veio ou quem o mandou para cá.
–– E os outros jagunços? Tem referências por acaso? São um bando de morto de fome que querem proteção e um dinheirinho. E é isso que a gente faz aqui, contrata homens que saibam fazer o que eu mando.
–– Não sou eu quem vai discutir suas regras, mas tenha cuidado. Esses homens matam sem pestanejar.
–– Não te preocupas! Tenho tudo sob controle. Cadê teu irmão Inácio?
–– Sei não pai. Ele só vive no meio do mundo dizendo que está fazendo campanha.
–– Fazendo arruaça e bebendo cachaça, isso sim.
–– Quando ele chegar quero que tu digas para ele que para onde ele for tem que ir com o Elesbão daqui em diante. Que diabo de candidato é esse que não anda e nem fala com o povo? Tem que gastar chinelo caminhando nos povoados e na cidade.
–– É mesmo. Estou achando ele muito acomodado.
–– Vamos conversar lá na minha sala.
–– Vamos pai.
–– Filho não há como ganharmos essa eleição no voto. Isso é fato. Mesmo gastando um rio de dinheiro, os caboclos recebem o nosso e votam no prefeito. Ele tem palavra e cumpriu o que prometeu na campanha anterior. Agora vai inaugurar meio mundo de obras e é disso que o povo gosta, além do mais, está gerando emprego e renda. Estamos num mato sem cachorro.
–– E em que o Senhor está pensando?
–– Não tem mais como ser sutil. Estou pensando seriamente em dar um fim nesse candidato dos infernos.
–– Matar o prefeito? Pai que absurdo!
–– Quem não pode com o pote não pega na rudia. Sabe? Existe uma diferença muito grande em ter dinheiro e ter poder. E dinheiro é o que tenho de sobra e o que não tenho é poder.
–– Pai dinheiro se ganha. Poder se conquista.
–– Miguel tem coisa que tem que vir por bem ou por mal. Às vezes a solução aparece de forma que você nem imagina.
–– Como assim?
–– Esse tal de Cancão apareceu aqui agora. É corajoso e atira bem.
–– E daí?
–– Daí que vou manda-lo fazer o serviço amanhã, no evento do Arilson. Vamos ver se ele sabe usar uma faca tão bem quanto é bom no gatilho.
(...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário