quinta-feira, 28 de maio de 2020
Cangaceiros 45
–– Arranjou amigos Zé?
–– Rapaz... eles são lá da fazenda. O Coronel queria ver o Arilson e mandou a gente aqui.
–– Se ele queria vê-lo, porque não veio pessoalmente, pau mandado? Ganha a estrada! E diz lá para o teu Coronel que estão oferecendo dez mil em dinheiro vivo pela cabeça dele numa bandeja – Manoel fala em voz alta para que todos ouçam – e não aparece mais aqui, senão tu vais ver o que é bom para tosse. Ah, explica para esses dois amigos teus o meu nome.
–– Sim. Está bem! Vamos tomar a cachaça e partiremos.
Nesse momento Benedito, o irmão e mais os dois homens armados de Arilson apontam as espingardas e carabinas para Zé Pezão e os comparsas.
–– Vão embora e não voltem. Vocês não são bem vindos aqui – diz Manoel Espicha Couro, homem temido por ter atos e ações violentas.
–– Vamos! Vamos embora! – diz Zé Pezão e saem em cima do rastro.
O plano fracassado de Zé Pezão e os dois comparsas para capturar Arilson falhou e provavelmente, com a notícia da recompensa em dinheiro que levará ao Coronel, não o deixará muito satisfeito. O fazendeiro Messias dos Reis, nessa jogada de Gerônimo, passará de caçador a caça e muitos nessa terra de ganância passarão a olhá-lo atravessado.
–– Bom dia! – cumprimenta Cancão que chega à fazenda, montado em um cavalo preto bem arreado, carregando uma espingarda bate bucha na garupa, um revólver e uma peixeira na cintura.
–– Quem vem lá? – indaga um dos jagunços, segurança e vigia da casa.
–– Meu nome é Cancão! Venho em paz!
–– E o que tu queres por essas bandas?
–– Quero trabalhar. Quero me arranchar e quero um pouco de comida e água para mim e meu cavalo.
–– Espera aí e não desmonta não.
O Jagunço entra e pede ao encarregado para ir lá fora.
–– Tem um homem ali pedindo emprego. Despacho ele ou mando desapear e entrar?
–– Manda entrar. O Coronel está bem aí na sala dele.
–– Está bem! – diz o funcionário que sai e manda Cancão entrar.
–– Bom dia!
–– Bom dia! Cabra! Tu estás procurando o que fazer?
–– Estou! Sabes como é não é? Um homem precisa comer.
–– E o que tu sabes fazer?
–– Sei atirar, mas se for preciso, trabalho em qualquer coisa.
–– Quem te indicou a fazenda do Coronel?
–– Todo mundo sabe que o Coronel é o homem mais rico da região. Além do mais, ele contrata homens que sabem atirar.
–– Eu perguntei quem indicou?
–– Não foi ninguém não Senhor. Não sabe? Eu já procurei trabalho em quase todo lugar. Só faltava vir aqui.
–– Bem, nesse caso...
–– Espera, espera! – diz o Coronel que ouviu a conversa – tu realmente sabes atirar?
–– Sei.
–– Vamos fazer um teste com ele lá fora! Trás a filha da escrava.
–– Pai! Tem um monte de coisas que podem servir como alvo.
–– Miguel meu filho, não se meta em meus negócios.
–– Pai!
–– Vamos lá para fora.
–– Vamos sim, Coronel!
–– É o seguinte, essa negrinha tem pouco mais de vinte anos. Ela irá ficar a dez metros. Quero que acerte a cabeça dela com um tiro só. Se acertar, estás contratado. Se errar, vai procurar emprego em outro lugar. Entendeu?
–– Oxe! Entendi Coronel!
–– Conta dez passos e põe ela lá. Quero ver.
–– Pelo amor de Deus não faça isso – grita a escrava com os olhos cheios d’água, arregalados de medo.
–– Amarrem a boca dela com um pano. Não quero ouvir chororô.
–– Pai, bote outro alvo. Poupe a escrava. Ela é nova e pode trabalhar. Bote um porco, um bode ou um carneiro em movimento.
–– Miguel dos Reis, tu salvaste essa escrava. Ela será tua propriedade agora. Traga um bode como ele disse. E solte-o aí no terreiro com a mesma distância.
Cancão acostumado a atirar na pestana para não ferir o caroço do olho, puxa o chifre da sela do cavalo, derrama a pólvora no cano da espingarda com cuidado, coloca a bucha, põe os caroços de chumbo grosso, engatilha a arma, se posiciona e mira.
–– Atira homem! – ordena o Coronel.
O tiro é certeiro na cabeça. O bode cai sem vida.
–– Tratem esse bode para o almoço. Está contratado homem. Mas foi só dessa vez que atirou em um bode. Da próxima vez vais atirar em gente. Dê uma arma de verdade para ele. Essa bate bucha é das antigas. Mostre onde ele ficará e apresentem-no ao Chicote.
–– O Coronel ainda não me disse quanto vou ganhar.
–– Essa questão de salário é com o Chicote. Eu aprovo a pessoa, mas quem diz quanto vai ganhar é ele.
(...)
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