–– E de quanto é essa recompensa?
–– Chama o Zeca do chicote, pega teus homens e vai na cidade espalhar que estou prometendo vinte cabeças de gado para quem trouxer esse infeliz para mim. Se tudo der certo, a gente pega ele antes da eleição. Depois que dermos uma taca nele e jogar numa cova funda, o povo só irá lembrar disso mesmo. Vão até esquecer a tua orelha. Pega mais armas no depósito. Agora vai, avexado.
–– Estou indo!
Lucas e dois jagunços chegam à casa do vereador. A residência do político fica lá na ponta da rua, afastada e isolada das outras. O carro para e eles ficam dentro por um bom tempo fazendo campana a poucos metros da entrada. Logo depois da sessão da Câmara, por volta de onze horas dessa manhã o homem chega e é rendido no momento em que desce de seu veículo.
–– Vereador, quero que você me acompanhe! – pego de surpresa e sem reação o político vê que Lucas tem um punhal na cintura de um lado e o revólver cano longo do outro.
–– O que?
–– Não faça nenhum movimento brusco ou leva bala. Tem dois homens naquele carro com armas apontadas para sua cabeça. É melhor vir comigo. E não faça nenhuma muganga.
–– Tudo bem! Tudo bem! O que querem comigo? Na minha pasta tem dinheiro.
–– Nesse momento não se trata de dinheiro. Entre no carro. Amarrem-no e ponham a venda nos olhos.
–– Para onde vão me levar?
–– Se não calar a boca corto tua língua aqui mesmo.
–– Certo! Certo!
–– Vamos embora.
Depois de andar por mais de duas horas em estradas de areia e piçarra, subindo e descendo, param no meio do nada, na caatinga, caminham até uma cabana de madeira de um cômodo só, construída previamente para manter o homem nesse cativeiro. O grande pé de pequi faz sombra no local e é a única fonte de ventilação.
–– Vamos! Levem-no para a cabana.
No centro do salão, há um mastro de carnaúba que segura o teto.
–– Amarrem-no na carnaúba e esperem lá fora, preciso ter uma conversa com ele. Fiquem de vigia perto do carro – ordena Lucas.
–– Sim, Senhor – responde o jagunço.
–– Vereador, a conversa é o seguinte: recebi ordens para te matar. Te tirar do caminho nessa eleição, afinal, você é o mais bem votado depois do prefeito. Não interessa!
–– Sei que tu trabalhas para o Coronel. Todos te conhecem na cidade. Tu és o carrasco dele.
–– Bem, já que tu me conheces, sabe do que sou capaz. Tu és um homem letrado e sabes que posso aliviar para o teu lado.
–– Estou ouvindo. O que tu queres?
–– Bem, eu posso dizer que te matei, mas tu ficarás aqui até depois da eleição. Mas tem um preço.
–– Quanto? Quanto devo pagar?
–– Eu quero os teus bens móveis e imóveis. Todo o dinheiro que tiveres. E depois te liberto e tu vais embora de Olho d’Água.
–– E como vou viver aqui até esse dia de liberdade?
–– Eu virei sozinho trazer-te água e comida, Concordas?
–– Como não? Não tenho opções!
–– Certo! Vou dar dois tiros e irei embora. Os jagunços irão pensar que dei cabo de ti. Amanhã voltarei aqui para dizer-te como faremos acontecer as coisas. É bom não tentar fugir, porque aí tu vais pôr minha reputação em jogo e terei que te matar mesmo.
–– Como iria eu fugir?
–– É. Aqui é bem distante de tudo, e por fora tem cadeado na porta – e em segundos, Lucas dispara dois tiros no chão com intervalos curtos entre um e outro e vai para o carro.
–– Pronto! Está feito! – diz ele aos comparsas – vamos embora.
–– Vamos! O Coronel vai ficar aliviado em saber que esse verme não irá atrapalhar a eleição.
–– Claro que vai.
–– Vamos tomar umas cachaças no primeiro bar. Tô com a goela seca.
–– Não. Só depois que eu falar com o Coronel. Ele mesmo deve liberar a gente por hoje depois dessa.
–– É mesmo, chefe.
Mas nesse trecho da caatinga não há nada que os ouvidos não ouçam e os olhos de Gerônimo não vejam. E assim que o carro parte, seis cangaceiros do bando sai das tocas, dos arbustos e detrás das rochas e vão até a cabana verificar o que tem lá.
–– Arrebentem essa porta. Ôxe!
–– Quem és tu cabra?
–– Sou o presidente da Câmara de Olho d’Água! Salvem-me e eu pagarei vocês.
–– Vamos leva-lo para o acampamento. Lá o capitão decidirá.
–– Quem é o capitão?
–– Tu saberás quando chegar a hora.
(...)
–– Chama o Zeca do chicote, pega teus homens e vai na cidade espalhar que estou prometendo vinte cabeças de gado para quem trouxer esse infeliz para mim. Se tudo der certo, a gente pega ele antes da eleição. Depois que dermos uma taca nele e jogar numa cova funda, o povo só irá lembrar disso mesmo. Vão até esquecer a tua orelha. Pega mais armas no depósito. Agora vai, avexado.
–– Estou indo!
Lucas e dois jagunços chegam à casa do vereador. A residência do político fica lá na ponta da rua, afastada e isolada das outras. O carro para e eles ficam dentro por um bom tempo fazendo campana a poucos metros da entrada. Logo depois da sessão da Câmara, por volta de onze horas dessa manhã o homem chega e é rendido no momento em que desce de seu veículo.
–– Vereador, quero que você me acompanhe! – pego de surpresa e sem reação o político vê que Lucas tem um punhal na cintura de um lado e o revólver cano longo do outro.
–– O que?
–– Não faça nenhum movimento brusco ou leva bala. Tem dois homens naquele carro com armas apontadas para sua cabeça. É melhor vir comigo. E não faça nenhuma muganga.
–– Tudo bem! Tudo bem! O que querem comigo? Na minha pasta tem dinheiro.
–– Nesse momento não se trata de dinheiro. Entre no carro. Amarrem-no e ponham a venda nos olhos.
–– Para onde vão me levar?
–– Se não calar a boca corto tua língua aqui mesmo.
–– Certo! Certo!
–– Vamos embora.
Depois de andar por mais de duas horas em estradas de areia e piçarra, subindo e descendo, param no meio do nada, na caatinga, caminham até uma cabana de madeira de um cômodo só, construída previamente para manter o homem nesse cativeiro. O grande pé de pequi faz sombra no local e é a única fonte de ventilação.
–– Vamos! Levem-no para a cabana.
No centro do salão, há um mastro de carnaúba que segura o teto.
–– Amarrem-no na carnaúba e esperem lá fora, preciso ter uma conversa com ele. Fiquem de vigia perto do carro – ordena Lucas.
–– Sim, Senhor – responde o jagunço.
–– Vereador, a conversa é o seguinte: recebi ordens para te matar. Te tirar do caminho nessa eleição, afinal, você é o mais bem votado depois do prefeito. Não interessa!
–– Sei que tu trabalhas para o Coronel. Todos te conhecem na cidade. Tu és o carrasco dele.
–– Bem, já que tu me conheces, sabe do que sou capaz. Tu és um homem letrado e sabes que posso aliviar para o teu lado.
–– Estou ouvindo. O que tu queres?
–– Bem, eu posso dizer que te matei, mas tu ficarás aqui até depois da eleição. Mas tem um preço.
–– Quanto? Quanto devo pagar?
–– Eu quero os teus bens móveis e imóveis. Todo o dinheiro que tiveres. E depois te liberto e tu vais embora de Olho d’Água.
–– E como vou viver aqui até esse dia de liberdade?
–– Eu virei sozinho trazer-te água e comida, Concordas?
–– Como não? Não tenho opções!
–– Certo! Vou dar dois tiros e irei embora. Os jagunços irão pensar que dei cabo de ti. Amanhã voltarei aqui para dizer-te como faremos acontecer as coisas. É bom não tentar fugir, porque aí tu vais pôr minha reputação em jogo e terei que te matar mesmo.
–– Como iria eu fugir?
–– É. Aqui é bem distante de tudo, e por fora tem cadeado na porta – e em segundos, Lucas dispara dois tiros no chão com intervalos curtos entre um e outro e vai para o carro.
–– Pronto! Está feito! – diz ele aos comparsas – vamos embora.
–– Vamos! O Coronel vai ficar aliviado em saber que esse verme não irá atrapalhar a eleição.
–– Claro que vai.
–– Vamos tomar umas cachaças no primeiro bar. Tô com a goela seca.
–– Não. Só depois que eu falar com o Coronel. Ele mesmo deve liberar a gente por hoje depois dessa.
–– É mesmo, chefe.
Mas nesse trecho da caatinga não há nada que os ouvidos não ouçam e os olhos de Gerônimo não vejam. E assim que o carro parte, seis cangaceiros do bando sai das tocas, dos arbustos e detrás das rochas e vão até a cabana verificar o que tem lá.
–– Arrebentem essa porta. Ôxe!
–– Quem és tu cabra?
–– Sou o presidente da Câmara de Olho d’Água! Salvem-me e eu pagarei vocês.
–– Vamos leva-lo para o acampamento. Lá o capitão decidirá.
–– Quem é o capitão?
–– Tu saberás quando chegar a hora.
(...)
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