sábado, 30 de maio de 2020
Cangaceiros 47
–– Bem, nesse caso ele terá que fazer isso no meio do povo. O prefeito só anda arrodeado de gente.
–– Pois é. Dê-lhe uma boa quantia em dinheiro e os outros não precisam saber. E aí mando dois homens para dar cobertura e trazê-lo de volta. Ele saberá como agir na multidão e se não souber fazer o serviço, ou se nos comprometer, dê um fim nele.
–– Mas mande dois homens que ninguém conheça por lá. Para não ligar o crime ao Senhor.
–– Justamente! Vamos por o plano em ação. Chame-o aqui e escolha os homens.
–– Certo pai.
–– Resolva isso. Preciso ter uma conversa com teu irmão.
–– O Inácio está fora.
–– Não é com ele, é com Jeremias, nosso contador.
–– Ah, ele passa tanto tempo enfurnado nesse escritório que até esqueço que é meu irmão.
–– Ele assume um lugar importante nessa família, filho.
–– Eu sei pai! Eu sei.
–– Pois cuida desse negócio com cautela. Agora vai.
Os dois jagunços entregam Cancão ao homem conhecido por Chicote, o chefe da segunda casa.
–– Tragam-no para a sala de interrogatório – ordena Chicote.
–– Sim, Senhor!
–– Senta-te aí – ordena Chicote, apontando para uma cadeira de madeira com tampo de couro.
–– Podemos ir?
–– Não! Amarrem as mãos dele para trás, no encosto da cadeira.
–– Oxe! Se tu vai me perguntar alguma coisa eu falo é com a boca!
–– Ai e tu és desaforado assim, é de nascença?
–– Pronto chefe tá amarrado! – diz o jagunço enquanto o outro aponta a arma.
–– Todos que trabalham aqui passaram por isso. Eu pergunto e tu respondes. Entendeu?
–– Sim. Entendi.
–– Então vamos nos dar bem. Diga-me, quem te mandou aqui?
––Ninguém!
Chicote cerra o punho e desfecha um golpe no queixo de Cancão, que o sangue escorre pelo canto da boca.
–– Quem te mandou aqui?
–– Ninguém!
Outro golpe com força atinge a boca de Cancão.
–– Vamos mudar a pergunta. Porque tu estás aqui?
–– Preciso de emprego!
–– Mais uma vez Chicote acerta o rosto de Cancão.
–– Porque tu estás aqui?
–– Eu preciso de emprego, porra! Tu és burro ou tens as oiças entupidas?
Dessa vez Chicote sentiu-se ofendido. Outros que passaram por essa tortura logo diziam tudo. Então o homem bate com as duas mãos nos ouvidos de Cancão, o chamado golpe telefone.
–– Desamarra minhas mãos que te digo com carinho quem sou, de onde venho e o que posso fazer contigo.
–– Parem com isso! – ordena o Coronel que entra na sala querendo dar uma de bonzinho, mesmo sabendo que todos passam por essa sabatina.
–– Coronel esse homem não disse nada ainda.
–– Se não disse é porque não tem o que dizer. Tenho uma missão para ele amanhã cedo no evento do Arilson. Vocês dois irão com ele e se tu falhar Cancão, eles te apagarão. Tu sabes voar Cancão?
–– Não senhor, Coronel.
–– Então faça o serviço. Ah, o Miguel vai te dar uma quantia em dinheiro adiantado. O valor que ele te der é o que tu ganharás por mês. Quem ia decidir o valor era o Chicote, mas, eu valorizo homem corajoso. Daqui para a frente, tu vais se reportar a mim. Estamos entendidos?
–– Sim, Senhor!
–– Entrega o dinheiro para ele Miguel. Chicote pega maneiro com ele.
–– Sim pai!
–– Chicote mostra onde ele ficará. E não quero rixa aqui dentro por conta disso. Cancão, quando terminar aí, venha ao meu escritório para eu te passar os detalhes.
Chicote estende a mão, mas Cancão faz de conta que não vê, ignora, lança um olhar fulminante bem dentro dos de Chicote e sai.
(...)
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