Academicismo – Arte acadêmica
O modo de pintura e escultura aprovado pelas academias oficiais de artes plásticas, nomeadamente a Academia Francesa e da Royal Academy.
Na arte, o termo “Arte acadêmica” (às vezes também “academicismo” ou “ecletismo”) é tradicionalmente usado para descrever o estilo de verdadeiro para a vida, mas de alta pintura realista espírito e escultura defendido pelas academias européias de arte, nomeadamente a Academia Francesa de Belas Artes.
Este ou do estilo “oficial” “aprovado” da arte, que mais tarde veio a ser intimamente associada à pintura neoclássico e, em menor medida, o movimento Simbolismo, foi incorporado em uma série de convenções pictóricas e escultóricas a ser seguido por todos os artistas.
Em particular, houve uma forte ênfase no elemento intelectual, combinado com um conjunto fixo de estética. Acima de tudo, pinturas devem conter uma mensagem de espírito suficientemente elevado.
Artistas cujas obras têm vindo a tipificam os ideais da arte acadêmica incluem Peter-Paul Rubens (1577-1640), Nicolas Poussin (1594-1665), Jacques-Louis David (1748-1825), Jean-Antoine Gros (1771-1835) , JAD Ingres (1780-1867) Paul Delaroche (1797-1856), Ernest Meissonier (1815-1891), Jean-Leon Gerome (1824-1904), Alexandre Cabanel (1823-1889), Pierre Puvis de Chavannes (1824-1898), Thomas Couture (1815-1879) e William-Adolphe Bouguereau (1825-1905).
Origens
A partir do século XVI em diante, um número de escolas de arte especializadas brotaram em toda a Europa, a partir de Itália.
Estas escolas – conhecidos como “academias” – foram originalmente patrocinada por um patrono das artes (normalmente o papa, um rei ou um príncipe), e comprometeu-se a educar os jovens artistas de acordo com as teorias clássicas da arte renascentista.
O desenvolvimento destas academias artísticas foi o culminar do esforço (iniciado por Leonardo Da Vinci e Michelangelo) para atualizar o status de artistas praticantes, para distingui-los dos meros artesãos envolvidos em trabalho manual, e para emancipar-los do poder das corporações .
O academicismo posto em xeque
Desde as últimas décadas do Século 19, a História da Arte assistia a profundas modificações e rupturas. Os modelos que vinham sendo valorizados desde a época do Renascimento Italiano pelas academias começavam a ser realmente questionados.
Os artistas, acompanhando as mudanças sociais, econômicas, políticas e filosóficas do mundo, passavam a desejar novas expressões artísticas.
O desenvolvimento das vanguardas européias do Século 20 está intimamente relacionado com os artistas da geração anterior, que abriram caminho para as gerações seguintes.
Os Impressionistas, os Pós-Impressionistas e até mesmo os Realistas foram os verdadeiros pioneiros das transformações artísticas que marcariam a arte moderna.
Os primeiros sinais de contestação
Artistas do final do século, independentemente de pertencerem a qualquer escola, também tiveram influência espantosa sobre a arte moderna.
Destaca-se, em particular, Paul Cézanne e sua obsessão em imprimir objetividade à forma de encarar o mundo. Pode ser considerado o verdadeiro exemplo para a arte moderna, exercendo alguma influência em todos os movimentos e artistas de projeção do século XX.
Georges Seraut (1859 -1891), apesar de ter morrido prematuramente, também é considerado um dos grandes precursores da arte moderna, dando expressão artística à mentalidade científica de sua época, incorporando, por exemplo, estudos de ótica e cor às suas concepções artísticas e adicionando a eles suas refinadas descobertas estéticas.
SEURAT (Georges) pintor francês (Paris, 1859 – id., 1891), iniciador e mestre do pontilhismo.
Muito além do Impressionismo
Van Gogh pode ser considerado uma terceira influência decisiva sobre a arte do século XX. Além deles (mas talvez não em tão profunda escala) podem ser colocados Gauguin, Pissaro e Signac.
PISSARRO (Camille) pintor francês de origem judaica sefaradita (Saint-Thomas, Antilhas, 1830 – Paris, 1903). Um dos mestres do impressionismo, pintou principalmente paisagens, animadas freqüentemente por personagens e cenas rústicas.SIGNAC (Paul) pintor francês (Paris, l863 – id., 1935). Praticou o divisionismo, do qual foi o teórico.
É importante pontuar que essa influências, às vezes, manifestaram-se pela negação de algum aspecto do trabalho do artista ou mesmo pela compreensão limitada ou desvirtuada de sua obra.
O Século 20, sem dúvida, foi uma época de profundas transformações em todas as esferas da experiência humana e os artistas não podiam manter-se alheios a essas mudanças, o que em parte justifica a profusão de movimentos e ideais artísticos que nele surgiram.
Entretanto, resta a dúvida: todas as mudanças na arte foram realmente típicas desse conturbado período da História ou apenas tivemos mais acesso a cada mínima manifestação artística devido ao desenvolvimento dos meios de comunicação?
De qualquer forma, tratam-se de contribuições à História da Arte extremamente marcantes e, apesar do artista e sua criação serem considerados únicos e autônomos, não se pode alienar sua produção do momento histórico e das mudanças de mentalidade que assistimos nesse século.
A Europa na vanguarda
Um dado curioso exemplificando essas tendências maiores que movem uma geração, pode ser o encontro em Paris de praticamente todas as importantes figuras que marcariam as vanguardas, vindos de todas as partes do mundo.
Além de Paris, e em menor escala, apesar da importância, Munique foi outro importante centro vanguardista europeu.
Os Fauves (as Feras), liderados pela figura de Henri Matisse (1869-1954) começaram com uma reação ao divisionismo metódico (ver Neo-Impressionismo) e assumiram características expressionistas.
O Fauvismo pode ser classificado entre os primeiros grupos de vanguarda, pois, apesar da curta duração (1905 a 1908) e da incoerência associada a ele, agrupou e influenciou figuras importantes da arte moderna, como André Durain (1880-1954), Georges Braque e exerceu influência, por exemplo, sobre Picasso.
Movimentos rebeldes se multiplicam
Os expressionistas alemães, agrupados no Die Brücke, Dresdem e Der Blaue Reiter, Munique foram outras importantes influências para a Arte Moderna.
Desse mesmo período é o Cubismo, o Futurismo e posteriormente o Dadaismo e o Surrealismo, os movimentos da vanguarda européia mais conhecidos e que exerceram influência sobre toda a arte do século XX. O Construtivismo, o Suprematismo e o Neoplasticismo, originados principalmente do Cubismo, também foram movimentos importantes do início do século.
SUPREMATISMO s.m. Teoria e prática do pintor russo Malevitch (a partir de 1913) e seus epígonos, tais como Lissitzky, Ivan Klioune, Olga Rozanova. (Foi o primeiro movimento de pura abstração geométrica da pintura.)
A filosofia é o princípio de tudo
Um dado curioso dos movimentos vanguardistas do Século 20 é o fato de normalmente terem origem em idéias filosóficas.
Estas idéias podem receber, a princípio, expressão na literatura e poesia, para posteriormente passar às artes plásticas, como é o caso mais específico do Surrealismo e do Futurismo.
Além disso, a popularidade entre os artistas das teorias, que justificavam a arte, também foi grande, como as obras extremamente lidas e comentadas entre os círculos vanguardistas da época: “Do espiritual na Arte”, de Kandinsky (1912) e “Abstração e Sentimento” (1908) de Wilhelm Worringer.
Em muito ajudou a formação de grupos que, normalmente. estava relacionada à necessidade de sobrevivência material e a facilidade de transmissão de idéias, uma vez que, apesar de aparentemente expressarem os mesmo ideais, eram constituídos por personalidades e estilos pessoais bastante fortes e distintos.
Academicismo no Brasil
” Em 1823, cansado de esperar pela inauguração da Academia e Escola de Belas Artes, Jean Baptiste Debret alugou uma casa no centro do Rio de Janeiro e começou a lecionar pintura.Seus primeiros alunos tornaram-se professores da Academia, a segunda geração de alunos da Academia demonstrou o rigor acadêmico, com pouca influência do Romantismo ou Realismo, que já estava acontecendo na Europa.
Agostinho José de Mota foi o primeiro paisagista brasileiro a obter o prêmio de Viagem à Europa, concedido pela Academia (Na Academia Francesa) ganhou uma bolsa na capital italiana, onde poderia usufruir os modelos da antiguidade clássica, ao lado conferimos a obra do artista intitulada “Fábrica do Barão de Capanema.”
No século XIX aconteceu a ascensão da produção do café, foi um período de prosperidade econômica, Dom Pedro II governava o Brasil nessa época.
A guerra do Paraguai, serviu para os pintores acadêmicos brasileiros como tema, a partir do qual elaboravam cenas heróicas que glorificavam o império.
Pedro Américo de Figueiredo e Melo nasceu na Paraíba e com 9 anos seu talento de desenhista já teria vindo à tona.O artista acompanhou a missão científica de um naturalista francês, ingressou na academia, recebeu de D.Pedro II patrocinio para viajar para a Europa, quando retornou ao Brasil lecionou na Academia Imperial de Belas-Artes.
Abaixo podemos conferir uma montagem contendo duas obras do artista, a primeira é intitulada ” A noite acompanhada dos gênios do amor e do estudo” e a segunda temos o detalhe da obra ” D. Pedro II na abertura da Assembléia Geral”:
PEDRO AMÉRICO: A noite e os gênios do Estudo e do Amor – 1883
D. Pedro II na abertura da Assembléia Geral
Outro grande Artista desse período foi Victor Meirelles de Lima, o artista nasceu em 1832 na cidade de Desterro, hoje Florianópolis, e faleceu em 1903.
Foi para o Rio de Janeiro afim de estudar na Academia Imperial de Bellas Artes, onde foi aluno de Debret.
Em 1853 recebeu o prêmio de Viagem à Europa, lá tomou conhecimento dos movimentos que começavam a romper com a tradição pictórica, o Realismo e o Romantismo.De volta ao Brasil, se tornou professor da academia, a casa onde o artista viveu tem estilo colonial e pode ser visitada em Florianópolis.
Abaixo podemos conferir o detalhe de duas obras do artista, na primeira imagem temos detalhes da obra “Moema” e abaixo dela detalhes da Obra “D. Pedro II, o Magnânimo”.
Moema
D. Pedro II, o Magnânimo
Bella Época no Brasil
Período que se iniciou por volta de 1880 e se estendeu até a primeira guerra mundial, em 1914. Segundo o material didático do sistema energia ” a belle époque era um estado de espírito que, no Brasil, predominou entre 1889, data da proclamação da república, e 1922, ano da realização da semana de arte moderna.
A belle époque brasileira tem profundas ligações com cinco grandes exposições internacionais realizadas em Paris, que indicavam as tendências da época.
1855 – Consagração do Romantismo
867 – Consagração do Realismo, que havia sido rejeitado na exposição anterior, e dos pré-rafaelitas.
878 – Impressionistas se destacaram.
889 – Triunfo dos simbolistas.
900 – Art Nouveau foi consagrado.
Principais artistas
Rodolfo Amoedo
Nasceu no Rio de Janeiro, foi aluno de Vitor Meirelles, com 17 anos matriculou-se na Academia de Belas Artes.
Seu amor à técnica foi transmitido à seus alunos: Batista da Costa, Viscontti, Lucio de Alburquerque e Portinari. Seu tema predileto era a figura humana, mas também pintou paisagem, gênero, natureza morta e retrato.
Antônio Parreiras
Foi autor de 850 pinturas e 68 exposições individuais, ingressou na academia sendo aluno de Grimm e acompanhou seu professor quando ele se retirou da academia, passando a ter aulas ao ar livre. Pintou vários quadros históricos-documentais. Em 1925 foi eleito o mais popular pintor nacional, morreu bem sucedido e chegou a inaugurar seu próprio busto em 1927- Niterói.
Almeida Júnior
O realismo foi um estilo de pintura conservadora e um pouco superficial, que ignorou as grandes inovações do Impressionismo.
No Brasil, alguns artistas fugiram à essa regra. Entre eles podemos destacar José Ferraz de Almeida Júnior.
Mesmo tendo estudado na academia e ter ido à Europa, decidiu voltar para sua terra natal- Itu, lá retratou diversas cenas do interior, abaixo vemos a pintura intitulada “Picando Fumo”.
Caipira picando fumo, 1893
Eliseu Viscontti
Nas produções do artista podemos ver claramente influências do Impressionismo e Neo-Impressionismo ou Pontillhismo. Pintor de figuras, cenas de gênero, paisagens e decoração, seus desenhos não possuíam contornos definidos. Abaixo podemos conferir a obra intitulada ” Trigal”, obra que caracteriza como uma das melhores obras do artistas.
Academicismo – Brasil
No Brasil podemos considerar o ano de 1724 como o ano 1 do academicismo no Brasil, mesmo considerando possíveis outras academias ou atos acadêmicos é somente com a reunião dos acadêmicos esquecidos que o academicismo toma impulso no Brasil.
Devemos considerar, ainda, Academia não somente como a reunião periódica de um determinado grupo, com estatutos pré formulados, nem mesmo como reunião de alunos sob a batuta de um mestre, a Academia do século XVIII representa também a reunião de letrados por um dia, uma tarde, ou mesmo algumas horas, motivados por um fato isolado, como a chegada de uma princesa, ou a morte de uma marquesa.
A Academia Brasílica dos Esquecidos, fundada, na Bahia, em 1724 sob os auspícios do vice-rei do Brasil Vasco Fernandes César de Meneses, vem ao encontro de uma tradição européia iniciada no século XVI, ou seja a reunião de intelectuais sob o teto das academias.
A Academia dos Esquecidos foi fundada com o propósito de coligir informações sobre a Nova Lusitânia. Este material seria enviado para a Corte afim de ser anexado à monumental História de Portugal, que estava sendo redigida pela Academia Real de História Portuguesa.
A partir de uma Ordem Régia de 1722 e uma intensa troca de correspondências com a Corte, o Vice-rei concluiu que a melhor maneira de se reunir as informações necessárias seria com a fundação de uma academia brasílica.
Para tal, ele reúne 7 ilustres membros da sociedade baiana e funda em seu palácio a Academia Brasílica dos Esquecidos (seu título provavelmente provém do fato de que nenhum letrado colonial fora chamado para compor os quadros da Academia de história portuguesa, além disto era de praxe colocar títulos jocosos nas academias dos séculos XVI, XVII e início do XVIII.
Por exemplo Academia do Farelo, na Itália, Academia dos Singulares, em Portugal, Academia dos Felizes, no Rio de janeiro).
Dentro da tradição acadêmica européia, os esquecidos também se intitularam com nomes jocosos, como ocupado, infeliz, vago, venturoso, laborioso. É assim que assinam suas composições poéticas, quando muito, colocavam ao lado ou abaixo do vulgo, as inciais de seu nome.
A fundação da Academia demonstra per si a formação de uma elite intelectual, ou letrada, na Colônia, principalmente pelo fato de que a maioria dos 45 membros fixos da Academia era natural das Terras brasílicas.
Devemos considerar ainda, que após a fundação dos Esquecidos, o movimento acadêmico se desenvolveu rapidamente por todas as principais vilas brasileiras, demonstrando assim o caráter plural do movimento e a coesão de uma elite letrada no Brasil, ao contrário do que pode parecer para alguns, ou seja, uma meia dúzia de letrados discursando para eles mesmo.
Os esquecidos se reuniram por um ano, até fevereiro de 1725, o que representou 18 outeiros. Suas atividades foram suspensas no 18o outeiro, porém os esquecidos tinham o objetivo de retomá-las, no entanto por motivos até o momento desconhecidos, os acadêmicos jamais voltaram a se reunir. Alguns autores afirmam que a academia se findou devido ao afastamento do vice-rei, o que não é exato, pois, este somente sairia do governo no ano de 1735.
Somente em 1759, alguns esquecidos ( os ainda vivos ou que ainda residiam no Brasil) retomaram suas atividades acadêmicas.
Na primeira reunião, onde foram redigidos os estatutos, ficou homologado que os outeiros seriam divididos em dois momento distintos: primeiramente uma parte puramente literária onde após a Oração presidencial seriam compostas obras poéticas sobre dois temas previamente escolhidos, sendo que um tema lírico e outro heróico (as obras compostas seriam recitadas e se necessário corrigidas por José da Cunha Cardoso, secretário da academia).
A seguir seriam recitadas as dissertações históricas. Durante os outeiros havia também a participação de não membros da academia a convite do orador ou do vice-rei. A maior parte das obras era composta em português, havendo também muitas em latim e algumas poucas ainda em espanhol.
As dissertações de história brasílica foram divididas em 4 partes e cada parte foi dada a um lente, que tinha por obrigação recitar uma dissertação a cada 2 outeiros. Os temas eram História militar, política, natural e eclesiástica. Os manuscritos encontram-se dispersos, existindo algumas cópias na Biblioteca Nacional de Lisboa e na Sociedade Geográfica de Lisboa.
Em 1969, José Aderaldo Castello, em sua obra “O movimento academicista no Brasil”, editou de forma incompleta algumas dissertações, permanecendo muitas dissertações ainda inéditas.
Uma tradição iniciada pelo Cônego Fernandes Pinheiro, membro do IHGB, criou uma série de confusões a respeito das dissertações dos esquecidos. Em 1868, ao publicar na Revista do IHGB, um texto a respeito das composições poéticas dos esquecidos, que haviam sido recém adquiridas pelo Instituto, Pinheiro afirma que as dissertações ou não chegaram a ser produzidas, ou haviam se extraviado.
Dada a importância e a repercussão da Revista do IHGB, dezenas de autores acompanharam por muito tempo a opinião do Cônego. Somente com a obra de Castello o problema foi parcialmente resolvido, porém como é uma obra bastante rara poucos se remetem a ela, ficando ainda como referência à academia, a obra de Fernandes Pinheiro.
Ao contrário do que ocorria na França, onde a maioria dos acadêmicos eram burgueses, em Portugal, e por conseguinte no Brasil, os acadêmicos do século XVIII eram homens ligados ao estado, à administração pública ( civil e militar ), ou ligados à igreja ( secular ou conventual ). Juizes, ouvidores, padres, freis, jesuítas, capuchinhos, capitães, coronéis, vigários eram os homens que compunham a maioria das academias do século XVIII.
O lente da História Eclesiástica não diferia deste esquema. Gonçalo Soares da Franca nasceu provavelmente na Bahia em 1632, o que representa ter freqüentado a Academia dos Esquecidos e redigido as Dissertações eclesiásticas com mais de 90 anos.
O lente era padre e vestia o hábito de S. Pedro, produziu várias obras poéticas que continuam inéditas, inclusive um poema épico intitulado “Brazilia ou a descoberta do Brasil”, este poema possui 1800 oitavas e alguns trechos foram recitados na Academia.
Em seu Antelóquio, Soares da Franca anuncia a estrutura da sua história eclesiastica e declama os autores dos quais em suas próprias palavras ele poderia mendigar alguma luz.
As principais referências do Lente eclesiástico eram autores do século XVI e XVII e pela quantidade e a qualidade dos autores referidos podemos observar a cultura deste letrado esquecido. Os padres jesuítas Vasconcellos e Teles, o naturalista Guilherme Pison, As Décadas de João de Barros, Gaspar Barleu, Frei Manuel Calado e seu O valeroso Lucideno, estavam entre as principais referências do padre.
O plano traçado para sua História eclesiástica, ainda que dentro de seu tempo, nos permite observar uma certa preocupação com a sistematização científica e um certo senso crítico.
O plano dividia a obra em três partes: A primeira trata do Descobrimento do Brasil, a segunda dos primeiros cultores dessa vinha e a terceira e última, dos mártires e heróis da Igreja.
A primeira parte é composta por cinco dissertações e dela consta uma descrição geográfica do Brasil, a discussão sobre a existência ou não da fé e da lei dos índios, sobre a chegada da frota e o primeiro contato, sobre quem foram os primeiros povoadores e sobre uma provável visita de S. Tomé à América.
A segunda parte possui três dissertações, todas descrevendo a fundação de Igrejas, esta parte é bastante detalhada com um esboço histórico de cada Igreja do Recôncavo baiano, seus fundadores, seus párocos e até mesmo o número atual de almas que cada ermida guiava. A terceira e última parte ou se extraviou ou não chegou a ser composta.
Após 224 anos o Brasil ainda se ressentia da falta de uma História geral da Igreja no Brasil, o que houvera até 1724, foram algumas histórias especificas de determinadas ordens religiosas, como a do Padre Simão de Vasconcellos, ou obras descritivas ou de cunho militar, que an passant fazem alguma referência à vida eclesiástica da Colônia, Soares da Franca ao longo de seu Antelóquio protesta contra essa carência de fontes sobre a história eclesiástica do Brasil, o lente afirma: “sem mais luz que a de poucos livros impressos (
) e sem mais norte que o de sucintas memórias manuscritas”.
Domingos dos Santos, um dos poucos autores que fizeram um corte critico a respeito das dissertações dos esquecidos, afirma que as dissertações de História Eclesiástica representam o grupo mais importante da obra dos esquecidos, pois estas se destacam pela proposta.
Soares da Franca não pretendia fazer uma história fragmentada, sectária, como as existentes até o momento, o seu intento era redigir uma história monumental da Igreja no Brasil, o primeiro contato, o inicio da evangelização, as primeiras ermidas, o desenvolvimento das paroquias, o momento atual da igreja, enfim uma história geral.
Ao contrário, por exemplo, dos jesuítas que se ocupavam principalmente com as suas missões e seus colégios, Soares da Franca trabalhará a Igreja como um todo, um só corpo.
Sem dúvida a proposta historiográfica de Soares da Franca é assaz original, sua obra não se enquadra no modelo até então existente, o autor se ressentia da falta de uma verdadeira história da igreja e o seu intento era preencher esta lacuna.
Neste período a Igreja católica não era mais uma desbravadora, já era uma realidade, não mais uma conquistadora, era uma mantenedora do conquistado. Ou seja, narrar os feitos heróicos e os mártires da Igreja, faziase menos importante, do que descrever a obra consolidada, a obra pronta.
O movimento academicista no Brasil é um fenômeno mal apreciado por muitos autores, principalmente os ligados à área de Literatura, a partir da tradição iniciada por Fernandes Pinheiro, denominar o movimento acadêmico e mais particularmente a Academia dos Esquecidos com termos como: gongóricos (F. Pinheiro), versos deploráveis (W. Martins), vadiação verbal ( Josué Montello) é um fato comum.
Mas não querendo desvalorizar os mestres, aponto para o seguinte, ao contrário de se criticar a forma e o método de se compor ou escrever as obras, porque não observamos a importância e a relevância que representa a Academia dos Esquecidos? Não somente para a História da Literatura ou da intelectualidade, mas também para a compreensão do próprio Brasil Colonial.
Até porque devemos considerar que tal como nós, os esquecidos são filhos de seu tempo, e daqui a 272 anos quando alguém puser as mãos nos anais deste encontro, também terá que compreender a nossa forma de escrever e de nos expressarmos como representação de nosso tempo.
Para encerrar, como faço em toda exposição sobre a Academia Brasílica dos Esquecidos, retomo as palavras de Silvio Romero, que os esquecidos são nomes que é preciso lembrar para que não se creia que se lhes ignora a existência”.
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Fonte: www.visual-arts-cork.com/www.geocities.com/andreigalkowski.com.br
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