sexta-feira, 9 de agosto de 2019

A parábola dos sete pecados capitais


Certo dia, um casal ao chegar do trabalho encontrou algumas pessoas dentro de sua casa. Achando que eram ladrões, marido e mulher ficaram assustados, mas um homem forte e saudável, com corpo de halterofilista disse:
– Calma pessoal, nós somos velhos conhecidos e estamos em toda parte do mundo.
– Mas quem são vocês? – Pergunta a mulher.
– Eu sou a Preguiça – responde o homem másculo.
– Estamos aqui para que vocês escolham um de nós para sair definitivamente da vida de vocês.
– Como pode você ser a preguiça se tem um corpo de atleta que vive malhando e praticando esportes? – Indagou a mulher.
– A preguiça é forte como um touro e pesa toneladas nos ombros dos preguiçosos, com ela ninguém pode chegar a ser um vencedor.
Uma mulher velha curvada, com a pele muito enrugada, que mais parecia uma bruxa diz:
– Eu, meus filhos, sou a Luxúria.
– Não é possível! – Diz o homem – Você não pode atrair ninguém com essa feiura.
– Não há feiura para a luxúria, queridos. Sou velha porque existo há muito tempo entre os homens; sou capaz de destruir famílias inteiras, perverter crianças e trazer doenças para todos até a morte.
Sou astuta e posso me disfarçar na mais bela mulher.
E um malcheiroso homem, vestindo roupas maltrapilhas, que mais parecia um mendigo, diz:
– Eu sou a Cobiça, por mim muitos já mataram, por mim muitos abandonaram famílias e pátria; sou tão antigo quanto a Luxúria, mas eu não dependo dela para existir.
– E eu, sou a Gula – diz uma lindíssima mulher com um corpo escultural e cintura finíssima.
Seus contornos eram perfeitos e tudo no corpo dela tinha harmonia de forma e movimentos.
Assustam-se os donos da casa, e a mulher diz:
– Sempre imaginei que a gula seria gorda.
– Isso é o que vocês pensam! – Responde ela. – Sou bela e atraente, porque se assim não fosse seria muito fácil livrarem-se de mim.
Minha natureza é delicada, normalmente sou discreta, quem tem a mim não se apercebe, mostro-me sempre disposta a ajudar na busca da luxúria.
Sentado em uma cadeira num canto da casa, um senhor, também velho, mas com o semblante bastante sereno, com voz doce e movimentos suaves, diz:
– Eu sou a Ira.
Alguns me conhecem como cólera. Tenho muitos milênios também.
Não sou homem, nem mulher, assim como meus companheiros que estão aqui.
– Ira? Parece mais o vovô que todos gostariam de ter! – Diz a dona da casa.
– E a grande maioria me tem! – Responde o vovô.
– Matam com crueldade, provocam brigas horríveis e destroem cidades quando me aproximo.
Sou capaz de eliminar qualquer sentimento diferente de mim, posso estar em qualquer lugar e penetrar nas mais protegidas casas. Mostro-me calmo e sereno para mostrar-lhes que a Ira pode estar no aparentemente manso. Posso também ficar contido no íntimo das pessoas sem me manifestar, provocando úlceras, câncer e as mais temíveis doenças.
– Eu sou a Inveja.
Faço parte da história do homem desde a sua criação, diz uma jovem que ostentava uma coroa de ouro cravada de diamantes, usava braceletes de brilhantes e roupas de fino pano, assemelhando-se a uma princesa rica e poderosa.
– Como inveja, se é rica e bonita e parece ter tudo o que deseja?
– Diz a mulher da casa.
– Há os que são ricos, os que são poderosos, os que são famosos e os que não são nada disso, mas eu estou entre todos.
A inveja surge pelo que não se tem e o que não se tem é a felicidade. Felicidade depende de amor, e isso é o que de mais carece a humanidade… Onde eu estou, está também a Tristeza.
Enquanto os invasores se explicavam, um garoto, que aparentava cerca de cinco a seis anos, brincava pela casa.
Sorridente e de aparência inocente, característica das crianças, sua face de delicados traços mostravam a plenitude da jovialidade, olhos vívidos…
E você, garoto, o que faz junto a esses que parecem ser a personificação do mal?
O garoto responde com um sorriso largo e olhar profundo:
– Eu sou o Orgulho.
– Orgulho? Mas você é apenas uma criança?
Tão inocente como todas as outras. O semblante do garoto tomou um ar de seriedade que assustou o casal, e ele então diz:
– O orgulho é como uma criança mesmo, mostra-se inocente e inofensivo, mas não se enganem, sou tão destrutível quanto todos aqui, quer brincar comigo?
A Preguiça interrompe a conversa e diz:
– Vocês devem escolher quem de nós sairá definitivamente de suas vidas. Queremos uma resposta.
O homem da casa responde:
– Por favor, deem dez minutos para que possamos pensar.
O casal se dirige para seu quarto e lá fazem várias considerações.
Dez minutos depois retornam.
– E então? – Pergunta a Gula.
– Queremos que o Orgulho saia de nossas vidas.
O garoto olha com um olhar fulminante para o casal, pois queria continuar ali.
Porém, respeitando a decisão dirige-se para a saída.
Os outros, em silêncio, iam acompanhando o garoto quando o homem da casa pergunta:
– Ei! Vocês vão embora também?
O Menino, agora com ar severo e com a voz forte de um orador experiente, diz:
– Escolheram que o Orgulho saísse de suas vidas e fizeram a melhor escolha. Porque onde não há orgulho, não há Preguiça, pois, os preguiçosos são aqueles que se orgulham de nada fazer para viver … não percebendo que na verdade vegetam.
Onde não há orgulho não há luxúria, pois, os luxuriosos têm orgulho de seus corpos e julgam-se merecedores. Onde não há orgulho, não há cobiça, pois, os cobiçosos têm orgulho das migalhas que possuem, juntando tesouros na terra e invejando a felicidade alheia, não percebendo que na verdade são instrumentos do dinheiro.
Onde não há orgulho, não há gula, pois, os gulosos se orgulham de sua condição e jamais admitem que o são, arrumam desculpas para justificar a gula, não percebendo que na verdade são marionetes dos desejos.
Onde não há orgulho, não há ira, pois, os irosos com facilidade destroem aqueles que, segundo o próprio julgamento, não são perfeitos, não percebendo que na verdade sua ira é resultado de suas próprias imperfeições.
Onde não há orgulho, não há inveja, pois, os invejosos sentem o orgulho ferido ao verem o sucesso alheio seja ele qual for; precisam constantemente superar os demais nas conquistas, não percebendo que na verdade são ferramentas da insegurança.
Saíram todos sem olhar para trás, e, ao baterem a porta, um fulminante raio de luz invadiu o recinto. O casal desintegrou-se.
Dizem que viraram anjos!
Autor: Desconhecido

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