domingo, 26 de abril de 2020

Cangaceiros 5


Em todo lugar sempre tem os do contra, os negativos e os reclamões, que acham que tudo é difícil ou impossível. Não fazem nada e nem querem deixar que os outros façam.

–– Arilson, rapaz, tu tá querendo é se promover. Se amostrar. Tu não és candidato a vereador não, é? – pergunta um velho lá no canto.
–– Sou nada. Quero promover é a comunidade. Assunta bem! Com a realização desse arrasta pé, com as lutas e as parcerias, vai dar um bom movimento.
–– Tu sabes que esse teu plano pode gerar conflitos mais tarde. Avalie. Esses homens não gostam de humilhação e não sabem perder, vão tudo ficar virado a peste – insiste o velho.
–– Macho véi, quem tem medo de cagar, não come. É só espalhar a notícia como eu expliquei. Sem armas e sem rancor. É só um campeonato arretado.
–– Sei não, viu? Mas arrocha aí – finaliza o velho.
–– Pois libera a cachaça aí, Arilson, bicho parece que é alesado – diz um dos cachaceiros que está com a goela seca.
–– Vou liberar e já vou avisando, amanhã não abrirei a bodega, para que vocês comecem a divulgar o negócio. Ah, outra coisa, quem quiser botar as banquinhas de café com bolo, de tapioca, milho verde, garapa, pirão, caldo de peixe e o escambau, pode, viu?
–– E de comida? – indaga uma velhinha que também gasta parte do dinheiro da aposentadoria no jogo e vive aboletada ali fumando mais que o caipora.
–– Pode também. Espetinhos, buchada, panelada, sarapatel, galinhada e mão de vaca são muito bons. Só não pode bebida. Aí é comigo.
–– Arilson, tem que ter uns foguetes para animar o negócio – sugere um mais moço.
–– Aí não. Meus cachorros ficam doidinhos com o barulho – afirma um dos homens no recinto.
–– Pois nos dias tu leva eles para longe.
–– Levar para onde filho duma ronca e fuça? Só se for para tua casa. Ora mais.
–– Tu me respeita, seu merda. Vai dar esse teu anel de couro. Minha peixeira faz tempo que não vê sangue. Fresque, viu?
–– Ei vamos parar com isso no meu recinto, senão nenhum dos dois fica mais aqui. Se for para brigar e bater boca, vão lá para fora. Vamos focar na coisa, que todo mundo ganha.
–– Aí dento! Foi ele quem começou.
–– Tá bom, tá bom! Ôxe! Vão atentar o cão com reza noutro lugar! – finaliza Arilson.
–– Não me apoquente não, visse?
–– Já disse para parar. Ora porra!
(...)

Leia AQUI Cangaceiros 6

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