domingo, 26 de abril de 2020

Cangaceiros 3


Distante de tudo e de todos, sem sinal de internet não há conexão com o mundo exterior. Assim é o sertão das capembas rachadas. Livra-se aqui e ali a casa que tem o rádio a pilha ou onde mais próximo da cidade tem energia elétrica e dá para ver a televisão em poucas casas, comprada nas lojas em até doze parcelas pagas no carnê, isso quando alguns, bem poucos, sacrificam-se para adquirir o bem.

Benedito, o filho mais velho de Joaquim Silva é o que mora mais distante da família. Tem uma casa de taipa bem feita, coberta de telhas, com portas e janelas de madeira onde vive com a mulher que está grávida com o bucho por acolá. Todo dia vai para a roça logo de manhã cedo no lombo do burro de cargas e na volta, no final do dia, sempre passa na venda do Arilson, uma espécie de bodega e bar que tem de um tudo, até chocalho para corno. Lá tem sinuca, dama e jogos de baralho, por outro lado, alguns chamam o local de um antro de perdição. Os visitantes ou os homens que não tem o que fazer quando não apostam ficam peruando e dando pitaco no jogo dos outros, entre um gole e outro de cachaça serrana. Os caboclos estão sempre armados de faca ou facões, bebendo pinga e contando anedotas depois do trabalho.

O bar da beira do caminho, coberto de telha, com um grande alpendre e peitoril fica situado num entroncamento de estradas de chão onde mais passam carroças, cavalos e jumentos do que automóveis. Quando há moagem nas redondezas, passam os carros de bois carregados com cana de açúcar tangidos por homens com chiqueiradores de couro tirados do gado. Uma vez ou outra, a rural aparece por ali, carro de fazendeiro. Mas isso é uma raridade. Só vai por aquelas bandas quem tem negócios, principalmente em período de campanha eleitoral. Esse início de ano promete na política, daqui a pouco começam a aparecer os cabos eleitorais de meia tigela pedindo votos para prefeito, vereadores e os candidatos a deputados da capital.

Já à boquinha da noite, Benedito chega, desce do burro preto, tira a sela, a esteira, os arreios e bota-os dentro de casa. Depois solta o animal no pequeno curral que fica atrás da residência. Pendura o chapéu de couro num prego da parede com a mão esquerda e exibe um cambo de peixes com a mão direita.
(...)


Veja aqui Cangaceiros 4

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