quinta-feira, 30 de abril de 2020
Cangaceiros 11
Arilson chegou cedo na bodega, abriu as portas, varreu tudo com uma vassoura de piaçava, colocou as mesas no lugar, passou espanador de penas na sinuca, ajeitou as garrafas de cachaça serrana na prateleira, acendeu um cigarro pau-ronca feito das cordas de fumo arapiraca que ele vende no rolo ou cortado em retalhos, sentou-se num tamborete de couro de bode curtido e pôs os pés em cima do outro e ficou com as costas encostadas na parede.
–– Bom dia Arilson! – cumprimenta a mulher raquítica que o ajuda na bodega e faz a comida.
–– Bom dia Maricota! Acenda o fogareiro que o dia hoje promete.
–– Como é que o Senhor sabe disso?
–– Minha filha, depois daquele furdunço de ontem, aqui vai chover de gente para fofocar. Se prepare!
–– E o que boto no fogo para cozinhar?
–– Faz panelada, buchada, feijão tropeiro, arroz, macaxeira assada, jerimum e farofa.
–– O Senhor tá bem otimista!
–– Estou!
–– Bom dia! – cumprimenta um caboclo enquanto amarra o burro.
–– Bom dia!
Pouco tempo depois Benedito decide parar na bodega.
–– Bom dia!
–– Bom dia Benedito!
–– Hoje ficarei por aqui até mais tarde. Jogar umas partidas de sinuca.
–– Pois seja bem vindo, amigo!
E assim, em pouco mais de uma hora o local está apinhado de gente como previu Arilson.
–– Que foi que eu disse Maricota?
–– É. O Senhor tem experiência e um tino comercial de nascença.
–– É um dom, minha filha, um dom!
–– Seu Arilson, e os bois? Os donos deles não veem buscar?
–– Sei não, o delegado disse que viria pegar hoje e até agora necas de pitibiricas.
–– E a carroça?
–– Pois é, sei também não.
–– Arilson me dê aí o baralho, para a gente começar os serviços. E bote aí um quarteirão de pinga.
–– Rapaz, vocês tem que consumir alguma coisa. Ou então vou cobrar uma taxa de serviço. Oramarrapaiz!
–– Se apoquente não, moço! Bote aí logo uma branquinha para molhar a goela.
–– Assim é que eu gosto. E hoje não tem fiado. Não vendi quase nada ontem por conta daquele furdunço.
–– É no dinheiro, Seu Arilson.
–– Olhe, avise aos seus pariceiros para não quebrar os cantos das cartas. Baralho novo é caro e é longe para comprar.
–– Deixe comigo.
–– Você vai ficar responsável. Esse aí ainda tá na caixa, visse?
–– Eita diacho! Tá novinho véi!
–– Arilson, cadê a chave da gaveta da sinuca?
–– Está aqui, olha! Já avisei. Hoje nada de fiado.
–– Tá certo meu patrão!
–– Ei, tem caldo de que aí?
–– Rapaz, só se for de feijão! Serve?
–– Não. Tem buchada de bode?
–– Tá quase no ponto – diz a mulher.
–– Deixa o meu aí. Tô com uma fome da mulesta!
–– Assim que terminar aviso.
–– Tá bom!
–– Arilson bota uma dose de água que passarinho não bebe para mim.
–– Mais é agora, avexado!
–– Ei, me diz uma coisa. Como que está o nosso candidato? Qual é a cotação aí na boca do povo? – pergunta outro.
–– Rapaz, ele não perde nem a pau pro Elesbão, candidato do Coronel.
–– Tu acha mesmo?
–– Perde é porra. Se depender de mim e dos meus amigos, a gente vai botar para eleger de novo. Oh, homem bom, visse?
–– Rapaz, eu soube que o Coronel tá gastando meio mundo de dinheiro.
–– É. Eu sei disso. Ali nem se acaba nem fica pouco. O homem é podre de rico, mas o candidato dele é fraco. Não tem simpatia. Nunca botou os pés aqui – afirma Arilson.
–– Ah, mas quando tiver mais próximo da eleição ele vem que é um doce prometendo mundos e fundos.
–– Pode até vir, mas meu voto é do prefeito.
–– Se ele vier, a gente pega o dinheiro dele e vota no prefeito.
–– Crie vergonha na cara, homem. Vote por acreditar num homem que promete e faz. Saiba dizer não a esses miseráveis que só querem tirar proveito da política e das fraquezas do povo.
(...)
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