domingo, 26 de abril de 2020

Cangaceiros 4


Depois da boa noite de sono, no dia seguinte muito cedo, Benedito acorda primeiro, e como marido exemplar, põe a chaleira no fogão a lenha para passar o café, e depois, vai tirar o leite mugido da vaquinha leiteira que ele mantém no quintal, faz duas tapiocas, uma para ele e outra para a mulher e leva no quarto. Acorda a esposa carinhosamente, beija-a nas faces e sai para a roça montado em seu burro preto. Benedito não é lá esse homem de grandes posses, mas tem o cavalo que só é arreado para ocasiões especiais. Uma vez ou outra ele bota o animal para correr no prado, com apostas em dinheiro. O animal bem tratado nunca perdeu uma corrida.

Nessa manhã ensolarada, Arilson, o dono da bodega, começa a divulgar um plano para ele ganhar dinheiro fácil e promete um prêmio ao vencedor. Como ele é cabo eleitoral do atual prefeito, tem a promessa de um bom prêmio em dinheiro para o campeão nesse evento, desde que seja realizado dentro de um mês. O plano consiste em realizar luta livre sem armas e por eliminação àquele que primeiro fizer sangue no adversário ou nocautear. Há também o torneio da queda de braços com prêmios menores. Arilson já até articulou a vinda de autoridades na grande final.

–– Quero pedir a atenção de vocês por um instante – os jogadores de baralho, de sinuca e dama fazem ouvido de mercador – Vocês não me ouviram? Seus filhos da puta! – Arilson tira um litro vazio debaixo do balcão e pipoca na parede, estilhaçando cacos para todos os lados – agora tenho a atenção de vocês? Que maravilha! É o seguinte: Vou realizar um evento diferente de tudo que já viram por essas bandas. Vamos fazer um torneio de lutas e queda de braços daqui a um mês. E para fechar a noite do última dia do evento, teremos um forró pé de serra. Então, quem quiser participar tem que fazer a inscrição aqui, comigo, na minha caderneta.
–– E como funciona isso? – pergunta um.
–– É. E qual o valor do prêmio para o vencedor? – indaga outro.
–– Bem, teremos três lutas! E cada luta, um vencedor para o segundo dia, então, no terceiro dia os três vencedores lutarão e irão lutar entre si até sobrar um campeão. Isso valerá para as regras da queda de braços.
–– E o prêmio, quanto vai ser?
–– O prefeito já garantiu que virá com sua comitiva na final e dará o prêmio de R$ 1.000,00 ao lutador e R$ 500,00 para o da queda de braços.
–– E quem garante isso? Tu sabes que político não honra a palavra, só promete! – pergunta um dos homens mais afoito.
–– Eu garanto! – diz Arilson.
–– E quais as armas que vamos lutar? – pergunta um grandalhão.
–– Sem armas. A luta será dentro de um espaço limitado com cordas onde os lutadores usarão só as mãos e os pés. Aquele que fizer sangue primeiro no adversário, ou derruba-lo e deixa-lo fora dos sentidos, já será considerado vencedor.
–– E quem vai julgar esse negócio? – pergunta outro homem.
–– Não se preocupem com isso. Quero que espalhem a notícia nas redondezas e na feira da cidade. Quanto mais gente vier, melhor.
–– E o que vamos ganhar com isso?
–– A bebida e a comida no dia do evento será por minha conta. Vou mandar matar um boi e uns bodes. Agora preciso que me ajudem a divulgar isso, afinal, essa é uma forma de termos as autoridades aqui. Como sou generoso, a cachaça de hoje é por minha conta também.
(...)


Veja aqui Cangaceiros 5

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