Reino Continental
–– Olha que coisa mais
linda! O rei Saul de cabelo cortado e barba feita! – diz o rei Gabriel em tom
de ironia – viu como a gente trata bem nossos convidados para uma refeição
digna? – e continua dirigindo-se à rainha – Vossa Majestade está deslumbrante!
Sentem-se, por favor!
O rei Saul e a rainha
Catarina sentam-se á mesa sem falar nada. Sentem-se constrangidos e humilhados
por aquele que não tem bondade no coração.
–– Tragam-nos os faisões, os
patos e os porcos assados! Vossas Majestades não podem esperar tanto assim!
Tragam também o melhor vinho e pães! Não é Saul? Nesse banquete Vossa Majestade
me contará um de seus segredos, não é?
–– Eu já não tenho segredos!
–– Ah, tem sim senhor!
–– Tragam-me uma tesoura
amolada!
Os pratos são colocados na
mesa. Cada um mais bonito que o outro. A
cozinha do castelo tem excelentes cozinheiros. A gastronomia é impecável. Um
dos servos vai colocando vinho nas taças folheadas a ouro, enquanto um dos
súditos bota uma toalha branca na mesa ao lado de Gabriel e sobre ela uma
tesoura virgem.
–– Tragam-me um bode vivo!
Mas, vamos comer primeiro! Saúde! Saúde! Vamos Saul e Catarina, levantem suas
taças!
–– Não temos a que brindar!
– diz Saul indignado sem saber o que os aguarda.
–– Temos sim, meu rei! Vamos
ver se dessa vez Vossa Majestade vai ser tão forte quanto parece! Vamos comer!
Você não está sem fome, está?
Gabriel faz uma pausa,
começa a comer pães de alho, saboreia uma uva e entra no prato principal.
–– Coma meu rei. Na masmorra
não terá essas opções!
Saul e Catarina comem, não
por prazer ou pela companhia, mas por uma questão de sobrevivência.
–– Muito bem! Muito bem!
Estamos provando o melhor da culinária desse reino. Feito pelos melhores
profissionais de toda a região. E vocês sabem que um país que não tem boa
comida não pode ter uma referência positiva!
Catarina e Saul comem como
se a comida inchasse na boca.
–– Ah, aí está o bode! Vocês
sabem que esse é um animal usado em muitos rituais, inclusive na maçonaria, em
rituais de magia, mas hoje será só para eu ver como vocês reagem ao sangue,
apesar de saber que já participaram de muitas guerras.
–– O que um animal tem a ver
com outro? – indaga a rainha Catarina.
–– Eu vou sangrá-lo aqui,
nessa mesa. E já que Vossa Majestade perguntou, a pena se aplicaria a ele, mas
agora será a você.
O rei Gabriel sobe na mesa,
acena com a mão para que coloquem o animal sobre a mesma mesa e o sangra. Apara
o sangue com uma tigela de cerâmica e banha a cabeça do rei Saul e da rainha
Catarina, humilhando-os. Depois, desce, e pergunta: –– Majestade, onde está seu filho? Ele hoje deve
ser um jovem adulto e carrega outros segredos que pretendo saber. Onde está?
–– Eu não sei! – responde
Saul com voz firme.
–– Onde está seu filho?
–– Eu já disse, não sei!
–– Tudo bem! – diz o rei
Gabriel enquanto desce da mesa e pega a tesoura.
–– Agora vamos ver quanto
amor Vossa Majestade tem pela sua rainha! – o rei caminha para o outro lado da
mesa e pega a mão da rainha, posiciona a tesoura no dedo mindinho e pergunta
novamente:
–– Onde está seu filho?
A rainha é forte, não reluta
e deixa que seja feita a sua vontade. Ela também não sabe e mesmo que soubesse,
não diria. O amor de mãe é sempre mais forte que tudo.
–– Majestade! Cortarei o
dedo de sua rainha se não me disser onde está seu filho.
–– Eu não sei. Ela não sabe!
Não cometa esse erro!
E numa questão de segundos,
o rei Gabriel corta o dedo da rainha que range os dentes e fica calada mesmo
sentindo dor.
–– Levem-nos daqui. Por hoje
é só! Chame o médico para fazer um curativo no dedo da rainha! Levem o rei para
seus aposentos: o calabouço! E a rainha, para o quarto enquanto melhora dessa
dor horrível!
(...)
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