quinta-feira, 26 de março de 2020

A Conquista do Reino 16




A Conquista do Reino 16

Os soldados do reino de Astride sentam-se ao redor de grandes mesas de madeira servidas com jarras de vinho, pratos diversificados de iguarias como pato, faisão e porco, porém, eles foram orientados anteriormente pelo General a não beber e somente comer. E assim fazem.

O General Osório senta-se em frente ao rei em outra mesa, onde também está Zafir, o feiticeiro e conselheiro do rei Gabriel de Alcântara. O General não o conhece como feiticeiro, mas encara o homem que usa tuba, bigode fino e cavanhaque. Os olhos são sombreados de preto e uma capa azul escura lhe cai sobre os ombros escondendo uma adaga na cintura.
–– Alteza! Quero lhe fazer uma pergunta!
–– Sou todo ouvido!
–– Porque um comandante seu com uma legião de soldados atacou uma aldeia de camponês?
–– Como você sabe que era um comandante meu?
–– Porque ele tinha uma espada com um símbolo do seu reino!
–– Tinha? Você o matou?
–– Nós nos defendemos do exército que ele comandava!
–– E onde está essa espada com meu símbolo?
–– Aqui está! – O General Osório desembrulha a espada enrolada em um pano e põe sobre a mesa.
–– Interessante! Mas isso não prova nada! Ele pode ser um desertor, ou tomado essa espada de um de meus soldados! – diz o rei com voz firme, como se não soubesse de nada.
–– É claro! Não posso discordar de sua Alteza! – pondera o General.
–– Então, já que o matou, presumo que saiba onde está o corpo!
–– Sim, Alteza! Eu o trouxe comigo para esclarecer outra dúvida! – O General estala os dedos para seu subordinado, o capitão, e o corpo do comandante é trazido para o salão.
–– Você é um homem precavido, General. Zafir guarde esta espada para investigação mais tarde.
–– Sim Alteza!
–– Agora, diga-me Majestade, porque esse comandante era o único humano à frente de homens de pedra e areia?
–– Não sei! E desconheço essa ofensa!
–– Não é uma ofensa! Perdoe-me! É uma observação! Estou curioso para descobrir isso!
–– Nesse caso, somos dois que vamos descobrir isso. Até porque poderá ser uma ameaça para todos os reinos.
–– É claro Majestade! Bem, já que isso não tem muito a ver com seu reino, vamos comer e descansar!
–– Muito a ver? Não temos nada com esse ataque! E diga ao rei Manoel II que o rei Saul e a rainha foram mortos em combate. O resto é boato!
–– Vossa Majestade não acha que boato é como fumaça?
–– O que você quer dizer General?
–– Que onde há fumaça há fogo!
–– General, o senhor é muito audacioso! E em outras palavras está chamando o rei de mentiroso. Não vamos colocar os reinos em confronto. Ou você quer testar o meu poderio?
–– Só quero a verdade! Sua palavra me basta!
–– Então, diga ao rei Manoel que manteremos a paz, desde que não haja mais ofensas.
–– Sim Majestade, eu direi!
–– Divirtam-se! Comam e bebam! Vou me retirar para meus aposentos! Amanhã, continuaremos com essa conversa!
–– Certamente, Majestade!

O General sentiu que afetou os brios do rei e conclui que ele sabe mais do que disse, e quando fica a sós com seu capitão comenta:
–– Vamos fingir que acreditamos Capitão. Eu olhei em seus olhos e sei quando um homem mente!
–– Vou retirar os homens para dormir e esperar o que vai ser amanhã!
–– Faça isso Capitão! E fique de olhos abertos! Não gostei desse tal de Zafir!
–– Nem eu General!
(...)

terça-feira, 17 de março de 2020

A Conquista do Reino 15



A Conquista do Reino 15

O capitão e seus homens chegam à boquinha da noite ao reino de Astride com a pólvora e o mercador que trás consigo também alguns cortes da mais fina seda.

–– Alojarei você e seus homens no QG do exército. Amanhã falarei com o rei e os apresentarei a ele! – diz o Capitão.
–– Tudo bem! Dá para nos trazer comida e vinho? – indaga o homem comerciante.
–– Sim. Mandarei servir carne e vinho. Sentem-se e aguardem!
–– Claro! Foi uma longa viagem e estamos com a poeira ainda na garganta.
–– Não sejam exigentes! Isso são negócios e não um passeio. É só enquanto o General volta!
–– Está bem!

Lá do outro lado desse mundo, General Osório comanda o pequeno exército e já avista as torres do castelo imponente do reino continental.

Temos um mercado pela frente. Mas não passaremos por lá! – observa o General.
–– Sim senhor! – concorda o capitão da tropa.
–– Sei que os cavalos estão cansados tanto quanto nós. Vamos em frente! – ordena o General.

Muitas tochas estão acesas no alto das torres e isso significa que há muitos sentinelas armados. A abordagem em uma noite escura tem que ser feita com cuidado para não haver enganos.

–– Toquem o chifre da paz. Eles conhecem o toque! – ordena o General.

Os portões pesados de madeira são abertos e o exército entra. O rei Gabriel é avisado sobre a chegada dos soldados do reino de Astride.

–– Majestade está dentro de nossas muralhas um pequeno exército do reino de Manoel II – comunica o Capitão da guarda real interna.

–– Deixe que o comandante entre juntamente com seu capitão. Os soldados ficam no pátio.
–– Certo! Majestade!

O General Osório e seu Capitão são conduzidos até o salão do trono onde está o rei.

–– Majestade! Preferiríamos ter chegado de dia. Mas houve alguns imprevistos pelo caminho! – confessa o General fazendo uma deferência de cintura ao rei.
–– Ainda é cedo General! E em noites frias é bom tomar um vinho de boa safra! Sejam bem vindos! – corteja o rei com delicadeza e malícia.
–– Não viemos aqui para beber!
–– E o que o trás ao meu território General? Espero que seja importante!
–– Quero comprar a liberdade de um prisioneiro!
–– Você não veio de tão longe para isso!
–– Não! Vim por um motivo mais importante!
–– E qual é? Posso saber?
–– O que vossa majestade quer? Criar pontes ou destruir muros?
–– Hum! Você virou filósofo agora?
–– Majestade o rei Manoel tem interesse em um prisioneiro seu!
–– Tenho muitos prisioneiros de guerra. Todos são importantes e não pretendo libertar nenhum!
–– Há um homem em suas masmorras que é um assassino e eu preciso leva-lo para ser enforcado em Astride!
–– E quem é General?
–– O irmão de Leandro, do clã de mercenários.
–– E porque eu o entregaria a vocês?
–– Porque sei o quanto vossa majestade gosta de moedas de ouro. E ele matou um religioso do reino. Isso o rei não perdoa.
–– E quanto o General pretende pagar por esse prisioneiro?
–– Duzentas moedas!
–– O que é isso General? Isso é uma ofensa. Já paguei até trezentas moedas por um escravo no mercado negro e você vem com essa proposta? Você realmente sabe quem ele é?
–– Sei que tem dois mil homens acampados por aí. Mas eu o quero vivo para ser enforcado!
–– Eu estava pensando em duas mil moedas! O que você acha?
–– Majestade, se você me permitir, eu o enforcarei pessoalmente em seu reino sem pagar nada! O que vossa Majestade acha?
–– Não acho nada! Detesto esse negócio de achismo! Mas posso lhe entregar o prisioneiro por mil moedas! Isso é a metade do preço que eu cobrei à tribo dele.
–– Pago quinhentos e cinquenta moedas! É o que tenho para essa negociação! Fechado?
–– Tragam o prisioneiro e entreguem-no ao General.
–– Ficarei muito grato pela sua compreensão. O rei Manoel II quer que todos vejam como é tratado um traidor.
–– Isso é importante! Onde está o pagamento?
–– Capitão! Traga as moedas!
–– General nós dois sabemos que um homem como você não atravessaria por todo nosso continente para negociar um criminoso comum. O que você realmente quer?
–– Quero notícias do rei Saul e da rainha Catarina.
–– Mas isso aconteceu há quase quinze anos! Porque só agora vocês querem notícias de uma guerra em que fui vitorioso?
–– Com todo respeito Majestade, o boca a boca corre frouxo. São boatos de que o rei Saul e a rainha Catarina estão aqui! Vivos!
–– Boatos são boatos! Vamos nos sentar no salão imperial, comer e beber! Amanhã conversaremos sobre isso! Vocês devem estar famintos. E eu sou um rei justo. Vou preparar um banquete para você e seus homens.
–– Eu agradeço a vossa atenção. Mas são os peixes que morrem pela boca!
–– Tenho uma surpresa nesse almoço de amanhã, e creio que você não tenha nada a ver com isso!
–– Com isso o que?
–– Não se preocupe! Vamos nos divertir hoje. Soldados gostam de mulheres e de vinho. Venha! Vamos para o salão de festas!
(...)

segunda-feira, 16 de março de 2020

A Conquista do reino 14




Nessa tarde de treinamento cansativo, Joshua pendura uma peneira grossa de palha como se fosse um pêndulo e a coloca em movimento de vai e vem. Cada um irá lançar cinco vezes, mas dessa vez o perdedor terá que ir buscar dois baldes de água no poço e andar com eles num cambo, arrodeando a casa vinte vezes.

–– Elias! Michel! Vocês são ótimos! Empataram com as lanças. Peguem os baldes e façam o que combinamos.

Os dois jovens andam em círculos com os cambos de água sem reclamar e terminam exaustos, suados.

–– Agora, mais uma vez, vamos atirar facas. Não importa quem vença. É só treino mesmo.

E mais uma vez eles terminam de atirar facas acertando os alvos. O sol já está se pondo e eles pensam que agora irão descansar, mas, Joshua é exigente.

–– Jesus! Traga as cordas e venha aqui! – ordena Joshua.
–– Certo pai!
–– Amarre primeiro o Elias bem amarrado naquele tronco! Depois amarre o Michel no outro tronco. Eu irei banhar e esperarei para jantar com vocês. Soltem-se no menor espaço de tempo. Estou com fome. Por hoje é só!

Madalena e a filha observam o treinamento sem interferir. Depois entram na casa, acendem as velas e vão preparar o jantar, pois já está escurecendo.

–– Helena, é impressão minha ou estou vendo seus olhos brilhar quando olha para o Elias? – pergunta Madalena desconfiada,  no pé do fogão a lenha.
–– Mãe! Ele é um homem bonito! Está mais forte a cada dia que passa! Eu o admiro!
–– Mas isso é só admiração mesmo?
–– Claro que é! Eu o considero como um irmão!
–– Você sabe que ele não é seu irmão, filha!
–– Sim, mãe, eu sei!
–– E ele não percebeu ainda como você olha para ele?
–– Claro que não. Eu não deixo transparecer o que sinto!
–– Helena! Tenha respeito! Somos uma família!
–– Do que vocês estão falando, posso saber? – pergunta Joshua interrompendo a conversa quando se dirige à cozinha.
–– Nada não! Estamos comentando sobre seu treinamento com os rapazes – diz a esposa.
–– Sei. Já estamos terminando. Amanhã quero terminar isso. Eles já estão prontos para enfrentar o mundo! Afinal são dez anos de treino! – conclui Joshua.
–– Pai, o Michel já se soltou das cordas – afirma Jesus.
–– Que bom! – responde o pai.
–– Mas nesse escuro vejo que o Elias sumiu. Ele não está mais amarrado no tronco! – diz Jesus.
–– E porque ele não veio ainda? – indaga Helena.
–– Vamos nos sentar à mesa. Preparei uma canja de galinha. Helena traga os pães e o vinho – ordena Madalena.
–– Sim, mãe! É pra já!
–– Vou só me jogar água na beira do poço e já volto para comer – antecipa Michel.
–– Pois eu já me lavei e estou faminto! – diz Elias.
–– Sente-se Elias! Vamos comer! Amanhã será um novo dia. E eu tenho uma surpresa para você!
–– É mesmo, pai Joshua?
–– É! Tenho um presente especial. Mas ainda não acabou o treinamento. Teremos mais uma coisinha para fazer.
–– E o que é?
–– Calma! Vamos comer, dormir e amanhã eu direi!
–– O pai é cheio de surpresas! – rebate Michel que já está de volta.
–– Quero contar uma história. Hoje estou cansado. Mas contarei amanhã!
–– Está bem. Não temos pressa! – responde Elias.
(...)

sexta-feira, 13 de março de 2020

A Conquista do Reino 13




–– General o que é aquilo?
–– É um ataque contra uma aldeia de camponeses!
–– Não temos nada a ver com esse ataque! Vamos em frente!
–– Temos tudo a ver contra toda e qualquer injustiça! Vamos defender esse povo humilde! Atacar! – ordena o General.
–– Mas eles podem ser soldados do rei Gabriel!
–– Isso não importa! E não me questione mais!
–– Sim, senhor!
–– É um número pequeno! Talvez trinta ou quarenta soldados! Arqueiros à frente! Avante! Espadas, comigo! Vamos!

O General Osório lidera essa batalha e mostra sua garra e coragem em lutar e defender os camponeses. Os soldados sem bandeiras específicas são alvejados, trespassados por lanças e atingidos por espadas, mas, eles não sangram. E para surpresa do exército do reino de Astride, as criaturas ao serem atingidas, derretem-se como se fossem feitos de lama, areia e pedras.

–– Capturem o líder! – ordena o General.

O exército fecha o cerco, vence a batalha e coloca o líder sob custódia, com uma lâmina na garganta e, antes que o General desmonte para interroga-lo, uma flecha corta o espaço e atinge o peito do refém, tirando-lhe a vida.

–– O que você fez? Matou o homem que poderia nos dar respostas sobre essas criaturas – repreende o General sobre a ação do chefe da aldeia.
–– Ele matou minha filha caçula e feriu meu povo! O que o senhor esperava que eu fizesse?
–– Eu precisava dele com vida. Agora é tarde! De onde eles vieram e porque atacaram vocês?
–– Somos praticamente indefesos! Essa não é a primeira vez que eles atentam contra nossas vidas.
–– Então está na hora de partirem daqui e recomeçar a vida em outro lugar.
–– Não temos para onde ir. Tudo que temos está aqui. Nossos ancestrais foram enterrados nessas terras.
–– Bem, é melhor deixar esse sentimento de lado se quiserem escapar com vida. Eles voltarão em maior número. O que eles querem?
–– Querem sobre tudo, que desistamos da nossa fé e adore um deus maligno que eles cultuam!
–– Que deus é esse?
–– Ainda não sabemos ao certo!
–– E em que ou quem vocês acreditam?
–– Acreditamos em nosso Senhor Jesus Cristo!
–– Então, sejam bem vindos ao reino de Astride. O rei Manoel acolhe a todos que acreditam em Deus!
–– E o que devemos fazer?
–– Sigam para o reino de Astride. Quando eu voltar, falarei com o rei e ele com certeza, doará terras para o cultivo e construção de uma nova aldeia.
–– Então, como prova da minha gratidão alimentarei seus homens com porcos e cabritos. Isso também aliviará a nossa carga nessa partida!
–– Ficaremos gratos por isso senhor...
–– Malaquias! Meu nome é Malaquias!
–– Muito bem! Soldados! Descansar! Fiquem alerta. E ajudem a assar a carne! – diz o General, ordenando seus homens - partiremos assim que terminarmos.
–– General, enquanto o senhor e os soldados comem, ajudarei a cuidar dos feridos e depois cavarei a cova para enterrar minha filha.
–– Sim! Sim! É claro! Fique à vontade senhor Malaquias. Ah, mandarei um dos meus para falar em meu nome sobre vocês!
–– General! Não sou um homem que sente medo! O senhor sabe disso. Mas por Deus, o que são essas criaturas? – confessa o Capitão.
–– Eu não sei. Temos que descobrir de que inferno elas saíram. Tenho certeza de uma coisa. São destrutíveis!
–– Sim, são! Assim também como são mortais! Viu como lutam? Parece que foram treinadas com espadas e lanças!
–– O que me intriga é elas serem lideradas por um humano!
–– Isso é um mistério! De onde vieram deve ter mais!
–– Com certeza Capitão! Com certeza! Mas nesse momento vamos focar na missão! É isso que importa agora!
–– Sim senhor. Já estamos mais perto do que longe!
–– Chegaremos ao reino Continental ao anoitecer!
–– O senhor pretende falar sobre isso com o rei Gabriel?
–– Não! Vou insinuar ou deixar que ele se pronuncie! Mas, primeiro as coisas primeiras. Temos que saber o paradeiro do rei Saul e da rainha Catarina. Mesmo depois de tantos anos.
–– É isso mesmo!
–– Então, assim que terminarmos, envie um de nossos homens para conduzir essas famílias ao reino. Tenho certeza que essa seria a vontade do rei. Ampará-los!
–– Sim senhor, General!
–– Partiremos o mais rápido possível. Assim que os soldados terminarem de comer!
–– Sim, General!
(...)

quarta-feira, 11 de março de 2020

A Conquista do Reino 12



–– Marchem! – ordena o General.
–– Estamos quase sem água. Temos que encher os cantis em algum lugar – o capitão lembra ao General.
–– É. Eu sei. Entre nós e o reino Continental, há um Monastério. Vamos nos apressar e chegaremos lá ao meio dia.
–– Certo! Acelerar a marcha! – ordena em voz alta o capitão.

E como previsto, com sol a pino, ao meio dia, a tropa chega ao Monastério. Os soldados esperam do lado de fora dos portões, enquanto o General Osório e o Capitão desmontam e acenam para entrar.
–– Quem vem lá? – pergunta um guarda.
–– Somos do reino de Astride – enfatiza o General – só queremos um pouco de água para nós e os cavalos.
–– Esperem um instante!

É dada a autorização por Elisabeth, a Madre Superiora, para abrirem os portões.

–– Madre! Estamos com sede! Nossos cavalos também! Pode nos ajudar? – indaga Osório.
–– Sim é claro! Sejam bem vindos!
–– Podemos pagar por um pouco de comida!
–– Vejo que são muitos homens! Nossa comida é racionada! Provavelmente não dê para todos, porém, temos pão e queijo em abundância.
–– É só o que precisamos para chegarmos ao castelo.
–– Então entrem todos. Mandarei fazer as porções de queijo e pães.
–– Ficaremos muito gratos, Madre!

Os oficiais são conduzidos para sentarem-se ao redor de uma grande mesa de madeira, enquanto a Madre ordena às freiras que tragam o alimento e água para encherem os cantis. Outros servos do Monastério atendem aos soldados e dão água do poço aos cavalos.

Quando a Madre Superiora vira as costas e sai do grande alpendre, uma mulher com um capuz aproxima-se do General e fala sussurrando apressadamente com medo de ser pega em flagrante:
–– Socorro! Tire-me daqui. Sou prisioneira! Por favor, me ajude!
–– Quem é você? – indaga o General em voz baixa.
–– Isso não importa nesse momento. Preciso falar com o rei Manoel II. Tenho muito para lhe contar. Por favor, ajudem-me!
–– Capitão leve- a para fora em segurança! E conduza-a ao reino. Leve dez homens com você!
–– Isso desfalca a nossa tropa para chegar ao reino Continental!
–– Faça o que ordeno!
–– Sim, senhor!
–– A Madre superiora não pode nos ver! – diz a mulher encapuzada.
–– Ela não ficará sabendo. Leve-a daqui Capitão!
–– Sim, senhor! Vamos! Venha comigo!

E em meio a tanto movimento com tantos soldados, o Capitão consegue sair do Monastério sem ser percebido pela Madre e seus servos e freiras. Agora eles galopam de volta para o reino de Astride com a mulher.

Não foi uma feição das melhores e tampouco um banquete, mas, aliviou a sede e a fome. Agora eles já podem partir. Há pressa em chegar ao reino Continental.

–– Está tudo bem General? – indaga a Madre Superiora muito prestativa em servir o exército do rei Manoel.
–– Sim! Claro! Estamos muito gratos. Agora temos que ir! Obrigado! – afirma e agradece o General Osório que ao se levantar, coloca sobre a mesa um pequeno saco de moedas de ouro.
–– General, isso não será necessário.
–– Aceite Madre! Faço questão! Servirá para comprar mais trigo, queijo e vinho para outros que precisarem!
–– Está bem! Admiro sua honestidade, apesar de ser um homem de guerra!
–– Nosso trabalho é evitar a guerra e manter a paz! Só entramos em batalhas quando não há outra saída!
–– Entendo! Eu não quis ofender! Às vezes as palavras saem mais rápidas que o pensamento!
–– É claro Madre Elisabeth, muito obrigado por tudo! Temos que ir agora!
–– Vão com Deus! Quando voltarem, se quiserem, passem por aqui.
–– Certamente, Madre! Adeus!
–– Adeus!
(...)

terça-feira, 10 de março de 2020

A Conquista do Reino 11


O General e Xavier desmontam dos cavalos enquanto um homem pega pelas rédeas dos animais e os leva para outro lugar. Os dois soldados acompanham o chefe.

Leandro, esse é o General Osório, do reino de Astride – apresenta ao irmão, o comandante do pequeno exército.
–– General! – cumprimenta Leandro, que se põe em pé.
–– Estamos em missão de paz! – diz o General.
–– E o que o trás a essas bandas tão distantes de seu reino?
–– Vamos seguir para o reino Continental!
–– E o que é tão importante para conversar ou negociar com esse crápula do rei Gabriel?
–– Por que tu estás tão revoltado, Leandro?
–– Não estou revoltado! Estou é com raiva mesmo!
–– E qual o motivo de tua ira?
–– Nós temos dois mil homens armados até os dentes e mesmo assim, não podemos enfrentar esse miserável!
–– Com todo respeito, posso saber o motivo?
–– General, ele mantém o meu irmão como refém há muitos anos! E cobra um preço alto para libertá-lo! Meu irmão é o nosso líder maior!
–– E como posso ajuda-lo?
–– O senhor tem passe livre para entrar no palácio do rei Gabriel. Nós não! Ele ordena que fiquemos à distância e esse acampamento é o mais perto que podemos nos aproximar, apesar de não estar nas terras dele. Ele tem um dos maiores exércitos do mundo. Dizem até que ele pauta com o diabo.
–– Porque ele mantém seu irmão refém?
–– É uma longa história!
–– Tenho tempo. Resume!
–– Bem, nós lutamos em uma guerra há muitos anos ao lado do rei Saul para defender seu castelo.  Gabriel venceu. Tomou conta de mais da metade do reino e fez refém meu irmão, o rei e a rainha.
–– O rei Saul e a Rainha Catarina estão vivos?
–– Isso nós não sabemos! É um segredo guardado a sete chaves!
–– E como sabem do seu irmão?
–– É que ele manda uma vez ou outra, um mensageiro até onde estamos!
–– E o que ele quer em troca?
–– Ele quer duas mil moedas de ouro. Só temos, juntando tudo, quinhentas e cinquenta. Ou em segundo caso, encontrar o filho do rei e entrega-lo a ele.
–– O que vocês sabem sobre o filho do rei e quantos anos ele tem agora?
–– Não temos descrição física. Sabemos que durante a batalha, um dos fiéis escudeiros que lutava muito bem, o levou com ele.
–– E quantos anos o menino tinha à época?
–– Provavelmente uns dez anos. Hoje deve estar com vinte e poucos anos! Talvez vinte e cinco anos!
–– E o que eu ganho com isso, negociando com vocês?
–– Ah, General! São tempos difíceis! Mas, se conseguires a façanha de libertar meu irmão, ganhará essa tropa como aliados do seu rei!
–– E se seu irmão não concordar?
–– Fora dos muros do reino Continental eu assino com um fio do meu bigode a soltura de meu irmão! Minha palavra é lei aqui fora depois dele.
–– Vamos fazer esse trato. Eu assumo o montante das duas mil moedas para soltá-lo, levarei a parte que tu tens e ganharei o comando e a lealdade da tua tropa.
–– Então, aqui está o dinheiro que temos. Leve-o e assim será!
–– Partiremos agora mesmo. Não tenho mais tempo a perder!
–– Boa sorte General!
–– Não darei garantias. Mas negociarei na medida do possível!

O General e o comandante dos homens acampados apertam as mãos selando um acordo que poderá lhes gerar muitos dividendos mais tarde. O General Osório, na menor das hipóteses, sabe que a melhor decisão é ter aliados para um futuro incerto entre dois reinos. Lanças e espadas para lutarem ao seu lado sempre serão bem vindas.
(...) 

A Conquista do Reino 10



O restante da tropa chega e se alinha agora aos soldados que vieram na frente. O General ordena que se aprecem para chegar mais cedo ao destino. Saindo desse terreno florestal a vista se abre em uma imensa planície e logo eles percebem que há um grande acampamento militar lá adiante, e cresce à proporção que eles se aproximam.

Uma coluna horizontal de pelo menos cem homens armados com lanças e espadas se forma à frente do pequeno exército impedindo a passagem. O líder maior acena para dois de seus oficiais e os convida para irem ver do que se trata, enquanto os sodados permanecem onde estão.

Do outro lado, três homens montados a cavalo galopam,  deixam a coluna e vem ao encontro do General.

–– Pelas bandeiras, vocês são do reino de Astride! – diz o líder dos prováveis mercenários.
–– Sim! Somos! – responde o militar -- Estamos indo para o reino Continental!
–– E vão como inimigos ou aliados! – indaga o líder.
–– Vamos decidir umas pendências! Vocês pretendem nos impedir?
–– Não! Já que vejo em suas fileiras um General, chefe maior, gostaríamos que viesse ao nosso acampamento para termos uma conversa!
–– E o que garante que seja seguro?
–– Eu garanto!
–– E quem é você?
–– É melhor conversarmos à sombra de uma tenda! Aqui está muito quente!
–– Ainda não sei seu nome e nem de onde são ou o que querem.
–– Sou Xavier e nosso líder provisório é o Leandro! Somos do reino da Terra Plana. É tudo que posso dizer, por enquanto!
–– Vocês tem notícia do rei Saul?
–– Fale com meu irmão! Ele tem uma proposta a lhe fazer!
–– Nesse caso, me interessou o assunto. Vamos!

A coluna vertical se abre e os seis cavaleiros passam direto para a tenda de Leandro.
(...)


A Conquista do Reino 9



No dia seguinte barracas e tendas são desmontadas e colocadas nas carroças. As fogueiras são apagadas muito cedo, antes mesmo do raiar do dia. O exército do General Osório se prepara para partir. Os três batedores voltam com informações valiosas.

–– General! Encontramos algo que poderá lhe interessar! – diz o primeiro batedor enquanto desmonta do cavalo.
–– Fale soldado!
–– Abordamos um comerciante com dez carroças indo para o reino Continental!
–– E o que tem de importante nisso? Comerciantes vão e vem o tempo todo!
–– Não é um homem que vende especiarias ou tecidos!
–– E o que ele vende, então?
–– Pólvora!
–– Pólvora? Ah, isso sim é interessante! Onde ele está?
–– A umas duas léguas daqui!
–– Você conversou com ele?
–– Sim! E disse que o senhor tem interesse em fazer uma proposta!
–– É claro! Quantos homens estão com ele?
–– Dez! Ele está esperando!
–– Capitão, vamos montar uma tropa de trinta homens, arqueiros e lanceiros para avançarmos mais rápido. Os outros seguem normalmente para não cansar os cavalos! – comanda o General.
–– Sim, General! Lanceiros e arqueiros venham!
–– Vamos em frente! Acelerado! – ordena o General.

Pouco tempo depois de cavalgar com os trinta soldados e o batedor, o General chega onde está o comerciante.

–– Senhor! Esse é o General Osório do reino de Astride! – diz o soldado que antes contatou o mercador.
–– General! – cumprimenta o homem pegando na aba do chapéu.
–– Meu soldado disse que você leva pólvora em suas carroças!
–– Sim! É verdade!
–– Quantos barris de pólvora, tem aí?
–– Cinquenta! General!  
–– Você é um homem corajoso!
–– Por quê?
–– Transitar com uma carga tão valiosa e poucos homens por essas bandas é perigoso!
–– É verdade! Mas não temos só a pólvora! Temos espadas e armas de fogo também!
–– Ah, é? E de onde vem essa mercadoria?
–– A pólvora vem da China, de navio. É lá no porto que a gente compra para revender! Um detalhe: tem que saber com quem fechar negócios. Alguns são espertalhões!
–– E as armas?
–– As armas são em menor quantidade! Trago da Europa!
–– Para quem você ia vender?
–– Bem, estou no caminho do rei Gabriel de Alcântara! Já fiz negócios com ele antes! Vendi perfumes e tecidos! Ele me disse para vir aqui quando tivesse algo muito valioso.
–– Cinquenta barris de pólvora dá para começar uma guerra. Mas não dá para terminar!
–– O que o senhor quer dizer?
–– Quanto custa cada barril?
–– Cinco moedas de ouro!
–– E se eu quiser mil, ao preço de três moedas, em quanto tempo me entregaria?
–– Bem, posso fazer um preço mais acima. Quatro moedas para essa quantidade!
–– Eu tenho poder para confiscar sua mercadoria e prendê-los!
–– Nós somos comerciantes e não soldados! Também não somos fora-da-lei. Nesse caso, meu lucro fica muito abaixo do mercado!
–– Tudo bem! Serei justo! Pagarei por essa mercadoria as quatro moedas por unidade, conforme você falou! E encomendo mil barris! Fechado?
–– Fechado! E para onde devo levar?
–– Para o reino de Astride! Mandarei vinte soldados para escolta-los com segurança.
–– E o pagamento como fica?
–– Pago esses quando chegar ao reino! Lá vocês entregam a mercadoria, ficam no quartel general do castelo. Comerão e beberão por minha conta.
–– E as armas?
–– Só poderei responder quando testar e tiver a aprovação do rei!
–– E quando o senhor volta dessa missão?
–– Em seis dias estarei de volta!
–– Então estamos acertados!
–– Sim! Estamos! Agora vão!
–– Ah, só mais uma pergunta!
–– Sim!
–– O senhor está viajando para o reino Continental?
–– Estou! E não falarei em seu nome, se é isso que o preocupa!
–– É claro, senhor! Vejo que o senhor é um General honrado!
–– Capitão!
–– Sim senhor, General!
–– Disponibilize a escolta! Fale com o rei o que se passou e como foi feito esse trato!
–– Sim, senhor!
–– Os outros venham comigo!
(...)