Herança Maldita - Parte III
Por Carlos Holanda
Por Carlos Holanda
– Bom dia. Entrei na ponta dos pés para não
lhe acordar. Não matei nada. Atirei no que vi e matei o que não vi.
– Não entendi. Como assim?
– É só a maneira de falar. Vou ter que ir à
cidade. Prometi uma visita ao meu amigo delegado.
– Gerônimo, a gente precisa duma pessoa aqui
para ajudar nos afazeres.
– É. Eu sei vou ver se arrumo uma pessoa
também para ajudar no campo. Você quer alguma coisa do mercado?
– Carnes. Ah, passa na padaria e trás uns
pães, manteiga, presunto e queijo. Você gosta de sanduiche.
– Está bem. Até mais tarde. Não me espere
para o almoço. Vou comer por lá mesmo.
– Certo.
Celular
O primeiro lugar que Gerônimo vai quando
chega na cidade é a uma loja de celulares para comprar uma bateria compatível
com o aparelho encontrado na floresta e um cabo USB, depois passa no banco e vai
à delegacia visitar o amigo de longos anos.
– Bom
dia, Mauro. Como vai as investigações?
– Estamos de vento em poupa. O perito do
estado já chegou e está no hotel. A tarde ele virá aqui para nos reunirmos
fazer as primeiras diligências.
– Muito bem. Espero que dê tudo certo.
– Claro que irá dar certo. Não tem ninguém
mais interessado do que eu em resolver essas questões.
– Tem sim meu amigo, eu.
– Sim, eu sei. Mas a pressão recai sobre meus
ombros todos os dias. As famílias querem que eu dê conta dos assassinos a
qualquer custo.
Enquanto eles conversam o telefone toca.
– Só um momento, Gerônimo. Alô. Olá Senhor
Diego. O que você manda? Certo entendi. Vou providenciar agora.
– Quem é Diego?
– É o perito. Ele não perde tempo. Quer uma
ordem judicial do promotor ou do juiz autorizando desenterrar os corpos para
ele analisar.
– Mas vocês já não haviam feito isso?
– Já. Mas ele quer começar do início. Disse
que vai ao local do crime amanhã também.
– É justo. Bem, vou lhe deixar trabalhar.
Depois a gente se fala.
– Eu ia até te convidar para almoçar, mas,
estou até o pescoço de trabalho.
– Deixa para o final de semana. Aparece lá em
casa no domingo.
– Fechado. Posso levar minha mulher?
– Claro. Então até domingo.
– Até mais, amigo.
Gerônimo passa no mercado e na padaria como
combinou com sua irmã, e logo arranja dois homens para trabalhar em sua
propriedade. Tudo acertado. Partem para o interior.
Gerônimo ao chegar, percebe uma moto
estacionada na porta. Vira para os homens e ordena que vão para a cabana que
fica a vinte metros dali e que mais
tarde lhes dirá por onde devem começar o trabalho.
– Olá.
– Olá Senhor Gerônimo.
– E quem é você?
– Gerônimo, esse é o Xavier, meu namorado.
Ontem liguei para ele vir aqui.
– Ah, então você tem um namorado e não
me falou nada.
– Bem, sabe aquela coisa que eu tinha para te
contar? Achei melhor que o Xavier estivesse presente.
– E o que é tão importante agora que você
disse ontem que não era.
– Posso falar Senhor?
– Acho melhor não. Prefiro que a Júlia diga o
que está acontecendo aqui.
– Pois eu vou direto ao ponto. Eu estou
grávida de quatro meses.
– Como é que é?
– Mas eu assumo a criança - diz Xavier, meio
trêmulo.
– Ah, então você assume a criança. É isso?
Você tem emprego rapaz? Tem estudo? Já fez faculdade?
– Calma Gerônimo. O mundo não vai desabar por
isso. A gente já havia feito planos.
– Planos? Que planos vocês fizeram? Plano de
saúde? Plano econômico? Plano de casar? O que vocês planejaram? Digam-me.
– Bem, nós vamos nos casar – diz Xavier, o
jovem de vinte e sete anos.
– Gerônimo, o Xavier é de boa família. Os
pais dele são de boa índole e são comerciantes na cidade.
– Ok. Ok. Mas eles sabem desse casamento que
vocês planejam?
– Olha, Senhor Gerônimo, a minha mãe sabe do
nosso namoro. Meu pai ainda não tomou conhecimento, mas ele me conhece muito
bem e sabe que tenho boas intenções.
– Amigo, de boas intenções o inferno está
cheio. Quero te pedir que vá para casa e comunique o fato ao seu pai, e eu
também irei conversar com ele em breve. Agora quero falar com minha irmã em
particular.
– Está bem. Tchau amor – beija a namorada e
sai. Até mais Senhor Gerônimo.
– Eu desconfio que na noite em que nossos
pais foram assassinados você não estava comprando nada e nem estava chovendo
para passar a noite fora. Você estava era com esse motoqueiro.
– Não. Não, Gerônimo, eu juro. Eu não
mentiria para você.
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