Herança Maldita – Parte I
Por Carlos Holanda
Seis jovens decidem acampar na região de
terras indígenas e são assassinados misteriosamente. A polícia investiga os
casos isoladamente e constata que dois foram mortos por envenenamento, dois por
asfixia e os outros foram amarrados pelos pés, arrastados para longe e
enforcados com cipós.
Nunca foi solucionado o mistério por não
haver digitais, armas, testemunha ocular ou pistas que levassem ao assassino.
Pensam até que pode ter sido uma briga entre eles, mas os investigadores sabem
que existe um sétimo elemento nesse quebra-cabeça e tudo leva a crer que seja
coisa de um serial killer. É isso que está em aberto.
O local ficou conhecido como o bosque mal
assombrado, não por ter visagens ou assombrações, mas pela forma como as pessoas
foram mortas brutalmente.
A crendice do povo do interior espalha na
cidade que o lugar é amaldiçoado e chegam a não compreender porque ainda
existem pessoas morando por lá, referindo-se aos idosos.
Alguns anos depois a polícia arquiva o caso e
as famílias consternadas das vítimas convivem com as perdas.
Placas de advertência foram colocadas nas
imediações da única casa existente na região.
O casal de idosos e a filha vivem ali há
muitos anos e também foram interrogados por diversas vezes, mas dizem não saber
de nada e não há nenhuma evidência de que eles saibam mesmo.
Um ano mais tarde, de madrugada, o pai e a
mãe da jovem são encontrados mortos no quintal da casa, enforcados com cipós
num oitizeiro. Não foram pendurados e sim amarrados ao tronco da árvore e as
cabeças de ambos foram puxadas dos corpos até apartarem-se.
O fato curioso dessa história é que não
existe nenhuma planta ou árvore da região que crie cipós tão grossos e
resistentes ao longo dos anos a ponto de só se compararem aos da Amazônia ou de
regiões inóspitas.
Júlia, a garota foi indiciada como suspeita,
mesmo sem nenhuma prova que a levassem para a cadeia. Pouco tempo depois do
interrogatório policial ela foi liberada.
Gerônimo, o irmão de Júlia estava há dez anos
morando no sul do país, e decide voltar para casa, para rever a família e
amigos. Chega num momento em que toda a cidade o olha atravessado, como se o
culpassem pelo desenrolar dos fatos. Não liga e ignora os gestos que apontam
para ele. Gerônimo não tem conhecimento do ocorrido com os jovens e tampouco
com seus pais. Após tomar um café na loja de conveniência, pega uma garrafa de
água mineral, paga, sai, entra na camionete e ruma para a propriedade que fica
distante alguns quilômetros da cidade.
Gerônimo entra por uma estradinha
de chão que vai dar na casa de sua família. Vê as placas com dizeres de
“Perigo”, “Afaste-se” e “Não ultrapasse”. Por um momento ficam algumas
indagações sem respostas em sua cabeça. Avista a casa e buzina umas três vezes.
Para na porta, sai do carro e grita com um largo sorriso – mãe, pai, Júlia.
Cheguei! Estou de volta.
Júlia abre a porta e corre para abraça-lo.
– Meu irmão. Há quanto tempo! Seja bem vindo.
– Estava morrendo de saudades de vocês.
– Nós também.
– Onde está o pai e a mãe?
– Venha. Vamos sentar e conversar. Preciso te
contar uma coisa.
– Quero saber cadê o pai e a mãe.
– É sobre eles que estou tentando falar.
– Então conta.
– Eles estão mortos.
– Como aconteceu? Há quanto tempo?
– Já faz um ano.
– Porque você não me disse antes?
– Você vive mudando de endereço.
– Não justifica. Você tem meu celular. Porque
não me ligou?
– Está bem. Eu falhei em não te contar.
– Como aconteceu? Onde eles estão enterrados?
– Venha comigo, vou te mostrar.
– Sim, mas como eles vieram a óbito?
– Bem, prefiro te contar com calma. É uma
história triste. Confusa. Nem eu sei explicar direito.
– Eu não entendo. O que há de difícil em
dizer como os próprios pais morreram. Você estava aqui, não estava?
– Sim. Quero dizer não. Eu não estava aqui
especificamente.
– Onde você estava então?
– Bem, eu havia ido à cidade no lombo de um
burro, comprar alguns mantimentos e então começou a chover. Choveu tanto que
entrou pela noite. O dono da mercearia e sua esposa me ofereceram dormida. E eu
fiquei lá. De manhã cedo eu vim embora.
– Cedo que horas?
– Assim que amanheceu o dia.
– E como os encontrou? Estavam vivos?
– Não. Não estavam.
– Desenrola Júlia. Como eles morreram? Foi
morte natural? Ataque cardíaco, ou o que?
- Gerônimo, fique calmo e me ouça.
Os dois irmãos sentam no tronco de uma árvore
próximo ao túmulo dos pais e Júlia conta sua versão.
– Mas como pode ter acontecido isso? Quem
poderia ser capaz de tamanha crueldade? Apartar as cabeças com cipós! Que coisa
mais macabra. Eu desconheço inimigos de nossos pais. Diga-me uma coisa, e os
culpados foram punidos?
– Não. Não foram.
– E onde estava a polícia que não investigou?
– Até eu fui interrogada. Mas eu não mataria
meus pais e você sabe disso.
– Claro que sei. Espera aqui. Deixe-me pegar
umas flores do campo pra colocar nos túmulos.
– Está bem.
Pouco tempo depois
– Terminei. Vamos embora.
No dia seguinte uma viatura da polícia
estaciona muito cedo em frente da casa de Pedro e Constança, os pais falecidos
dos jovens. O delegado bate na porta e logo é atendido.
– Bom dia, Gerônimo. Como vai?
– Não tão bem quanto você, Mauro. Você agora
está delegado é?
– Pois é. São muitos anos de bons serviços
prestados a essa comunidade.
– Seja bem vindo amigo. Vamos entrar. A
propósito, está investigando a morte de meus pais ainda?
– Para falar a verdade. Já fizemos de tudo
para descobrir esse e os outros casos.
– Que outros casos?
– Você ainda não sabe? A Júlia não te contou?
– Ainda não deu tempo, delegado. Meu irmão
chegou ontem. Contei a história do pai e da mãe. Fomos ao túmulo deles. E
depois de tanto tempo tínhamos mais o que conversar, afinal, passamos dez anos
sem nos vermos.
– Gerônimo, há uma coisa que nos intriga e
muito nesses crimes.
– E quantas pessoas morreram?
– Com seus pais são oito. Todos muito
parecidos e violentos.
– Oito? Oito pessoas morreram na cidade e
nada foi descoberto?
– Não foi na cidade. Foram todos nessas
imediações.
– Como assim, nessas imediações?
– Deixe-me lhes dizer. Primeiros seis jovens
saíram da cidade e vieram para essas bandas para acampar, sei lá, passar a
noite em barracas e fumar maconha longe de tudo. Quatro dias depois, as
famílias não tiveram notícias dos filhos, nem por celular, já que eles
prometeram que era só por dois dias e então, entramos no caso. Encontramos os
corpos já em estado avançado de decomposição. Mesmo assim, chamamos os peritos
para averiguar, uma vez que não havia perfuração de balas e nem de objetos
cortantes. A cidade toda ficou em alvoroço.
– E eles morreram de que mesmo?
– É aí que está o mistério. Parece coisa
sobrenatural. Eu como policial não deveria falar assim, mas...
– E não há nenhum suspeito?
– Parece ser algo relacionado com um serial
killer.
– E o que a polícia pretende fazer?
– Venham tomar o café. Está na mesa – diz
Júlia.
Continua
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