Quando eu era um menino assim duns treze anos e morava em
minha terra natal Pedro II, fui passar um final de semana na aroeira, interior
onde moravam meus tios. Lá chegando, como ainda era cedo, tomei café com leite
mugido e tapioca. Com a pança cheia, pedi ao meu tio a espingarda para caçar
ali por perto. Os caroços de chumbo eram guardados em um chifre de boi,
daqueles bem lixados. Era uma obra de arte que a gente carregava a tiracolo. A
espingarda era uma bate bucha, bem conservada e ele tinha ciúmes dela, mesmo
assim, me entregou e disse:
- Tenha cuidado com as cobras!
- Certo tio! Volto ao meio dia. Ele acenou com a cabeça e eu
fui. Me embrenhei no mato. A folhagem seca não me deixava ser tão silencioso.
Depois de muito andar, avistei um jacu. Parei, me apoiei no tronco duma árvore
e me aprumei pra mirar. Parecia um caçador de verdade. O silêncio reinou entre
nós naquele momento e, não mais que de repente, como dizia o poeta, ouvi um
farfalhar no chão. Olhei pro Jacu e ele estava lá, imóvel. E o barulhinho
aumentava e se aproximava de mim. Adivinha o que era? Uma aranha gigante, uma
tarântula, sei lá. Amarelei. Fiquei com o cu que não cabia um cabelo, e aí não
deu outra, foi sebo nas canelas. Cheguei em casa da cor duma flor de algodão,
suado, com o coração já pra sair pela boca. Meu tio foi logo indagando:
- O que houve rapaz, não tá nem com uma hora que você saiu?
Pra quem disse que só viria ao meio dia. Que diabo tu viu, foi alma? Cadê a
espingarda?
- Tio, uma aranha do tamanho dum prato avançou em mim. (Olha
o tamanho da mentira). A espingarda ficou por lá. Mas o chifre tá aqui.
- Ô cabra frouxo. Armado e com medo de inseto. Nunca será um
caçador de verdade.
Pois não é que ele foi buscar a espingarda e ainda trouxe uma
penca de nambus e preás para o almoço.
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