Por Carlos Holanda
– Meu nome é Diego Veras. Sou o perito do
estado e fui chamado aqui para esclarecer os fatos.
– Oi, Júlia. Como você está? – indaga Mauro.
– Estou bem. Tranquila.
– O Gerônimo não está em casa? Não vi a
camionete dele.
– Não. Ele foi comprar umas coisas na cidade.
Vamos entrar Senhores.
– Júlia, você está no olho dessa investigação.
Tudo aponta para você – diz o perito.
– Tudo o que especificamente Senhor Diego?
– Bem, vou direto ao ponto. O Mauro me contou
em detalhes tudo que aconteceu aqui. Todos os crimes. E nós, com autorização da
promotoria, desenterramos os corpos no cemitério e encontrei um artefato de
prata. Gostaria de saber se você reconhece essa medalhinha? - E a entrega nas
mãos da moça.
– Senhor, essa medalha estava sumida já faz
um bom tempo. Acho que havia perdido por aí.
– Entendo. Posso dar uma olhada nas suas
coisas por aqui?
– Claro que pode. Não tenho nada a esconder e
uma medalha como essa não serve como prova de nada.
– Essa foto aqui, do porta-retratos, é você
com seus pais?
– Sim. Não é uma foto recente. Mas somos nós,
antes de eles serem assassinados.
– Vou precisar dela para ampliar e ver esse
colarzinho que usa no pescoço. Parece-me
que confere com o que encontramos no cemitério. Ou seja, essa aí.
– Pode levar, desde que a traga de volta.
– Quero dar uma olhada em outros cômodos da
casa.
– Diga-me uma coisa, Senhor Diego, o Senhor
tem um mandado?
– Não. Eu não trouxe um, mas poderia desde já
prendê-la como suspeita.
– Baseado em que? Numa medalha que o Senhor
encontrou no cemitério? O Senhor já verificou se tem impressão digital minha
nela? Ou ela serve como arma do crime para me culpar?
– Júlia, eu sinto muito pelo que está
acontecendo aqui, mas o Diego só está fazendo o trabalho dele – diz o delegado.
– Ah, então o trabalho dele é incriminar
pessoas inocentes, Mauro? Digo delegado.
– Minha jovem, sou um profissional com mais
de trinta anos de carreira e não aceito essas ofensas. Quem está sendo
investigada aqui é você.
– Ah, então irei servir como bode expiatório
para livrar a pele da polícia? É, porque se eu for presa sem provas suficientes
que me condene, livrarei vocês perante a sociedade e tudo volta ao normal
enquanto o verdadeiro assassino continuará solto.
– Não é bem assim que funciona o sistema.
– Pois expliquem como funciona essa droga de
sistema.
– Nós já terminamos por hoje. Faltam os
outros corpos para serem vistos. Assim que terminar voltarei aqui – diz o
perito.
– Tudo bem. Estarei às ordens. Não esqueça de
trazer um mandado. Ah, da próxima vez como você diz, falará com meu advogado.
Cansei de dizer que sou inocente nessa história.
– Não saia desse município tão cedo enquanto
não terminarmos essa investigação. Ainda vamos ver os corpos de seus pais.
– Senhores eu moro aqui e não tenho nada a
temer. Acho um desrespeito com os mortos, ter que desenterra-los, mas, faz
parte do seu trabalho e tenho que concordar com isso.
– Passar bem senhorita Júlia - diz o perito.
– Até mais Júlia. Gostaria que seu irmão
estivesse aqui, mas...
– Não se preocupe Mauro. Sou bem crescida e
dona das minhas ventas. Até mais ver.
Quando Gerônimo volta, já anoitecendo, Júlia
conta-lhe tudo, tim, tim por tim tim. Ele concorda que é hora de contratar um
advogado e afirma que de manhã fará
isso.
No dia seguinte, manhã de sol, um carro de
luxo para na porta e um casal de estrangeiros sai e bate na porta dos irmãos. O
casal soube das histórias que aconteceram ali através da imprensa enquanto
estavam no hotel. Ele é escritor. Ela
arquiteta e está grávida de sete meses. Ele além de escrever, é um investidor e
quer construir uma pousada naquela região, por se tratar de um entroncamento
com estradas que ligam outros estados.
Ele escreve exatamente sobre terror e quer
transformar seu livro em um roteiro de filme e numa revista em quadrinhos e
acha tudo isso fantástico, uma história baseada em fatos. Quer propor comprar a
propriedade.
– Bom dia!
– Bom dia – Gerônimo é quem recebe.
– Meu nome é Manoel e o dela, da minha esposa
é Dalva. Sou português e ela é brasileira.
– É um prazer! Em que posso ajuda-los? Estão
perdidos?
– Não. Não Senhor...
– Gerônimo é meu nome. Senhor Manoel, por
favor, vamos entrar.
– Obrigado – gesticula para que a esposa
entre primeiro.
– Aquela é Julia, minha irmã – aponta para a
moça que está sentada no sofá.
– Olá, tudo bem?
– Tudo - Júlia levanta-se e vem ao encontro
do casal – Que barriga linda! Está de quantos meses?
– Sete. Sete meses.
– Ah, é? Eu também estou grávida de quatro
meses.
– Que maravilha! – diz Dalva admirada pela
coincidência.
– Bem, Senhor Manoel, o que os trás a essas
bandas?
– Vou lhe dizer. Eu sou escritor, mas também
faço investimentos imobiliários.
– Entendo.
– Eu vi reportagens na TV sobre os
acontecimentos aqui.
– Olha Senhor Manoel, desculpe-me a
franqueza, mas não queremos falar sobre isso. Estamos exausto desse assunto.
Meus pais também foram assassinados.
– Como eu disse, antes de ser escritor eu já
fazia negócios no ramo imobiliário.
– Não estou entendendo aonde o Senhor quer
chegar.
– Ele quer dizer que está interessado em sua
propriedade – completa a mulher.
– Isso. Estou impressionado com esse lugar. É
ideal para o que me proponho nesse momento. Gostaria de saber se vocês tem
interesse em vender.
– Não havíamos pensado nisso. Até estamos
fazendo algumas reformas, cercando o que está em aberto. E não. Não está a
venda.
– Pense bem. Sem ofensas, mas não há nada que
o dinheiro não compre. Posso lhe fazer uma bela proposta. Diga-me quanto vale.
Farei uma oferta irrecusável.
– Sinceramente? Vocês nos pegaram de surpresa.
Eu jamais iria imaginar que alguém se interessasse por este lugar. Até porque meus
pais foram enterrados aqui e no momento o local está mal falado.
– Não para mim. Eu acho ótimo como está sendo
falado. Desculpe-me o mau jeito. Quero dizer que seria prazeroso escrever sobre
fatos. De qualquer forma aceite nossas condolência, nossos pêsames.