domingo, 22 de novembro de 2020

O bigodinho

 


Quando eu era criança, criava pássaros em gaiolas, o que era um erro, mas eu não tinha essa consciência. Comprava gaiolas bonitas feitas com talos de buriti e outras de madeira trançadas com arame. Os galos- campinas, eu os pegava em alçapões de talos, assim como os canários e sabiás entre outros.

A historinha de hoje, muitos anos depois e eu já adulto, é sobre o bigodinho, também conhecido como papa-capim, estrelinha, gola-careta e caretinha. Mede 11 centímetros de comprimento. Tem um gorjear rápido e metálico. O macho é inconfundível, pelas áreas brancas na cabeça. É o contraste do negro do restante da plumagem. As partes inferiores são levemente cinza claro e, sob o sol forte, podem parecer brancas. Seu habitat são campos abertos e campos cultivados.

Devido ao seu canto, é um pássaro apreciado talvez tanto quanto o curió; junto com as alterações ambientais, acabaram por reduzir seu número em boa parte do país. O certo é que fui à feira dos pássaros, ali próximo do mercado central de Teresina para comprar um. Comprei-o com gaiola e tudo. Em casa, o bichinho cantava até de noite. Eu achava lindo, mas depois de algum tempo, provavelmente um mês, num final de semana, tomei umas geladas e me bateu aquele remorso. Eu não queria estar preso e ele também não. Pressenti que o bigodinho não cantava, ele chorava, implorava por liberdade. Então, fui lá, no pé da parede, retirei a gaiola, abri a portinhola e o soltei.

No dia seguinte, ele veio cantar às cinco da manhã no meu quintal. Acho que para agradecer e se despedir.

Hoje crio pássaros com tintas e pincéis. 

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