Em Pedro II, antes de construírem prédios públicos no bairro Cruzeiro, a gente brincava à beça. Eram brincadeiras não muito convencionais, perigosas e a noite. Os postes de madeira tinha luminosidade fraca.
As caçambas da prefeitura começaram a botar carradas de areia e barro para aterrar o local e depois nivelar. Ficavam aquelas montanhas enfileiradas que iam de uma ponta a outra da rua, uns cem metros. Deixavam lá por dias e até meses. Menino inventa coisas. Não sei de quem foi a ideia da brincadeira, mas fazíamos dois grupos de seis ou sete garotos para entrincheirados, atirar bolão de barro uns nos outros, e só tinha duas regras: 1. Era quando apagassem as luzes da cidade às 22 horas terminaria tudo; e 2, se alguém de qualquer dos grupos se machucasse.
Era sabido e notório que os irmãos Gonçalo e Duste eram bons de briga, então só começava a batalha quando um ficava de um lado e o outro do outro. Beleza. Eu tinha uns 14 anos e todos eles eram bem mais velhos. O certo é que o bolão de barro zunia “naszureia” da gente. De vez em quando se ouvia um “ai porra!” E do outro lado, a comemoração com a frase: - Acertamos um!
Levei muito tiro de barro nas costelas e também acertei alguns.
Um dia atirei um bolão de barro com uma pedra dento – mas não foi intencional, porque não valia isso. Adivinha em quem pegou bem no eixo da costela? No Gonçalo. Ouvi foi o “pei bufo” e o grito de – Ai fela da puta. Vou te matar, seja lá quem for. Juro que tremi na base. Todos se negaram, e eu levantei e disse que foi sem querer, - ora sem querer meus amigos, se não fosse o Duste e o Francílio irmão do Gilson, que sempre andavam armado com uma faquinha amolada na cintura, eu tinha era apanhado feio, porém, os dois sabiam que eu nunca apanhei de ninguém em Pedro II e nunca fugi de uma briga.
A brincadeira acabou ali e no outro dia começávamos de novo. Nunca fizemos inimigos por conta disso.
Carlos Holanda