sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Gina - O livro dos símbolos I


É um dia radiante. O sol dourado banha as montanhas clareando a bela paisagem. Mistura-se o perfume que exala das flores dos jardins com o aroma do café fervido num fogão a lenha. Passam-se poucos minutos das seis horas desta manhã e hoje é um dia especial. É o aniversário de Gina.
João Lobo fez questão de preparar um café da manhã para a filha, bem típico da região e ao seu modo, com fartura. O leite mugido na hora, espumando; ovos diretos da fonte, tapioca de goma, suco de laranja, queijo, mel, carne seca desfiada, cuscuz, bolos e frutas,
Uma surpresa a aguardava para festejar esses vinte e um anos e, esse será o momento ideal para entregá-la, por se tratar de uma relíquia guardada a sete chaves por tanto tempo.
Dizem os sábios que, um presente dado de coração, enaltece a alma e trás momentos de felicidades a quem o recebe. Bem, hoje é um dia de alegrias e comemorações que já começa cedo.
- Bom dia pai! Uau! Isso tudo é para mim?
- Bom dia, filha querida! - Abraçando-a fortemente, João Lobo beija a filha – Meus parabéns! Que essa data seja motivo de alegria, saúde, paz e bem em sua vida.
- Obrigado, meu pai! Muitíssimo obrigado. Também amo o Senhor. E beija-o também. – Cadê o Júlio?
- Deve estar vindo, ele foi só banhar.
- Oi, bom dia aniversariante! Vem cá, me dá um abraço e um beijo!
Os irmãos cumprimentam-se, e sentam-se à mesa para degustar as guloseimas matinais.
- Gina, tenho um presente bem diferente esse ano para lhe dar.
- Oba! Adoro surpresa boa.
- Bem, na verdade é um livro antigo que guardei durante esses vinte e um anos. E só poderia lhe entregar nessa data, ou seja, hoje.
- Estou curiosa. O senhor guardou segredo durante todo esse tempo? Deve ser importante!
- E é. Eu ganhei quando você nasceu, mas essa história, contar-lhe-ei depois.
- E se eu não mais estivesse aqui?
- Mas você está aqui e agora, Gina. Disse Júlio.
- Sim. Vamos tomar o café, senão esfria.
O livro está dentro de um pequeno baú de madeira, com revestimento em couro marrom envelhecido. Nota-se alguns desenhos feitos à mão, utilizando-se da técnica de pirografia.
- Posso abrir o baú, pai?
- Claro que pode, é seu. Mas vamos terminar aqui o café e depois, com calma, você começa a ler. Isso só diz respeito a você e a mais ninguém. Combinado?
- Está certo meu pai.
Júlio apressa-se em entregar outro presente numa caixinha menor.
- É pra você irmã.
- Olha! Hoje o dia promete. Vejo que não é um livro.
- Não. Não é. Abre, o meu não tem segredos.
- Certo. Obrigado Júlio. É uma joia linda!
É só um colarzinho.
- Todo presente tem o seu valor inestimável, quando é dado de coração e, principalmente quando vem da família. É para sempre.
- Você me deixa sem jeito.
Lobo, o cachorro de Gina, um pastor alemão, negro como a noite sem luar, late na varanda. É o aviso de que chegou alguém. João é o primeiro a se levantar para atender.
- Bom dia, compadre João.
- Bom dia, compadre! Bom dia comadre! Bom dia Rita! Vamos entrar. Sejam bem vindos.
- Bom dia, sua bênção, tio.
- Deus abençoe Rita!
Gina caminha rapidamente para receber as visitas, enquanto Júlio se levanta e espera para saudá-los.
As amigas Gina e Rita abraçam-se, beijam-se respeitosamente e logo recebe os parabéns dos amigos da família.
- Minha amiga, eu trouxe um presente pra você. E dessa vez é vivo.
- Vivo?
- Sim, espera aí, vou pegar. Vai até onde está o cavalo, pega a cesta que havia pendurado à cela e entrega à Gina.
- Meu Deus! Que coisa mais linda!
- Você gostou?
- Adorei! Que fofura!
- Ele já tem dois meses. Pode comer ração para filhotes. Ah, e será igual ao seu quando crescer.
- Rita, que maravilha! O “lobo” já está com a idade avançada. Esse será chamado de Lobinho.
- Ele também é pastor alemão.
- Eu amei. Obrigado.
Todos estão à mesa e conversa gira em torno de vários assuntos, mas principalmente sobre a aniversariante. Júlio avisa que vai se retirar para ir cuidar dos afazeres, da labuta com os animais. Os compadres permanecem no bate papo.
- Bem, quero agradecer a todos pela presença, pelos presentes, e agora vou conversar com a Rita. Vem Rita, vamos ali para a varanda.
- Ei, você não está esquecendo nada? Pergunta o pai.
- Ah, sim, o baú de surpresas.
- Deixe para ler mais tarde, entendeu?
João Lobo sabia do conteúdo do livro e preferia que sua filha visse com calma, e a sós. Afinal, ele guardou segredo por tantos anos, não queria que ela fosse ler acompanhada.
- Sim, pai. Claro!
- É sobre o que esse livro, Gina?
- Não sei ainda. Só vou ler hoje de tarde. Nesse momento, vamos botar o papo em dia. Faz um tempinho que a gente não se fala.
- É. Vou te contar as novidades.
- Espera só um instante. Deixe-me guardar isso aqui. Já volto.
- Ok. Espero.
- Pronto! Conte-me as novas.
- Chegou um circo na cidade e eu gostaria de ir contigo no final de semana.
- Não sei. Tenho umas coisas para resolver.
- Eles ainda estão montando, mas a estreia será domingo.
- Vamos ver o que posso fazer. Se der, nós iremos, ou melhor, eu passarei na sua casa a tarde e a gente vai, senão, mando avisar.
- Está ótimo, assim.
- Pois agora vamos cavalgar. Não estamos fazendo nada mesmo.

- É. Vamos.

Carlos Holanda

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