sábado, 16 de setembro de 2017
domingo, 10 de setembro de 2017
sexta-feira, 1 de setembro de 2017
Gina - A simbologia do anel VI
Gina é
levada para uma tenda.
- Seu
corpo será fechado, cuidarei de suas feridas, e elas, com essas ervas
cicatrizarão mais rápidas. Inclusive, outras que aparecerão também, pois vou
colocar esse remédio em seu sangue. –
Diz o curandeiro.
- Obrigada!
- Descanse e mais tarde poderá levantar-se.
Enquanto isso...
- O
que você pretende fazer Senhora?
- Vou
restituir suas plantações em uma semana. E começarei agora.
- Ajudem-na
no que for preciso. Cuidem para que se prepare uma festa na aldeia em uma
semana. Ordena o líder.
Gina
que ainda estava atordoada, mas ouvia tudo também, tem um pedido a fazer: -
Libertem a sereia, deixem que ela vá.
E assim
foi atendida.
- Vão!
Libertem a sereia. Ordenou o chefe da tribo.
A
noite choveu muito. Choveu tanto que, os pequenos lagos encheram-se
e transbordaram. Os rios começaram a correr pelas planícies.
Ao
amanhecer, já havia campos verdejantes cobertos pela grama e flores começavam a
surgir. Os animais pastavam enquanto pássaros e borboletas beijavam as flores e
sobrevoavam. A força da natureza em harmonia responde aos melhores impulsos do
homem. Milagres acontecem quando cultivados pela fé. A Senhora Árvore deu vida àquele
vale outrora amaldiçoado e agora abençoado.
Uma
semana se passou e já há frutos verdes em árvores menores e nas hortas
trabalhadas pela aldeia.
É hora
de agradecer essa aliança entre o homem e a natureza e partir. Gina já está
curada e não tem cicatriz nem rancor.
O
Grande líder inicia a cerimônia de agradecimento em festa com o início da
fartura, e exatamente nessa hora que se ouve o choro do primeiro bebê que nasce
naquele dia histórico, gerado há nove luas, é o filho do chefe que é pego nos
braços pelo Bem e que o deseja toda sorte do mundo.
-
Estamos agradecidos pela bonança que nos trouxeram e por nos fazer ver a vida
com outros olhos. Seremos amigos e seguiremos seus passos neste território.
-
Também agradecemos por essa amizade Grande Chefe. - Diz a caçadora.
Gina
por sua vez recebe um presente em nome da tribo. É um anel de prata com algumas
inscrições que a olho nu não dá para ler, mas o Grande Líder sussurra em seu
ouvido, ela sorri, entende e vão embora.
Simbologia do anel
Três
guerreiros, os mais fortes da tribo, por decisão do Chefe acompanham os três
que seguirão até as duas colunas para decifrar os símbolos do anel.
Nessa
viagem, são precisos mantimentos e os guerreiros ficarão encarregados de caçar
para alimentar o grupo. Após uma manhã de caminhada, o sol já pende para mais
de meio dia, é hora de parar para um descanso. Neste momento a floresta é
acolhedora, e a copa das árvores faz sombra. Isso não significa
que não haja perigo iminente. Já agrupado em pequeno acampamento, um dos homens
da tribo avisa que em pouco tempo trará comida. Os outros dois montam vigília
enquanto Gina faz uma fogueira, O Bem e a Senhora sentam-se a esperar.
O
caçador por sua vez, distante dali, já tem um alvo em sua mira. É um porco do
mato. O tiro com arco é certeiro. Então ele volta para preparar, assar e saborear
a carne junto do grupo. Alimentados que estão não há mais porque ficar naquele
local e partem para o seu destino.
É uma
longa caminhada. A noite está chegando. Já não se vê a linha do horizonte.
Novamente, uma parada para passar a noite. Outra fogueira é feita, dessa vez
por um homem da tribo. Distante dali, os sapos, os grilos, uma cigarra talvez,
tentam a sincronia, mas a coruja pia mais próximo. Na selva, quando os animais
e insetos estão à vontade em seu habitat natural, pode ter certeza de que não
ronda o perigo. A tranquilidade naquele momento expõe a beleza de estrelas
cadentes, e dormem.
O grupo
acorda com uma chuva fina; o céu está nublado, mas nem por isso impede que
sigam seu rumo. Agora o desafio é descer por uma ladeira de pedras pontiagudas
e qualquer deslize poderá ser fatal. Superado esse caminho depois de horas de
caminhada o sol aparece tímido entre as nuvens indicando que provavelmente já passa
das 14 horas. Não há uma palavra, apenas o barulho das passadas pisando aqui,
escorregando ali, em fila indiana, mas em frente.
Continua...
Carlos Holanda
A tribo da montanha V
Depois
de caminhar um pouco sobre lajedos, encontra o melhor ponto para dar um bom
mergulho e emergir mais próximo da queda da água. Passa as mãos no rosto e no
cabelo, sentindo-se abençoada naquele momento, torna a mergulhar e volta à
superfície da água; ouve um pedido sonoro de socorro. Olha em volta, não vê
ninguém e percebe que o grito abafado vem detrás da cortina de água. Sobe nas
pedras escorregadias e se depara com uma sereia acorrentada numa espécie de
cacimba formada por pedras como que para impedi-la de sair. Enfim, uma pequena
cela aquática.
- Me
ajude! Me ajude!
- Por que
você está amarrada?
- Se
não me libertar, serei a próxima do ritual da tribo.
- Que
tribo? Que ritual? Não há ninguém aqui.
-
Depressa. Faça alguma coisa. Eles irão voltar.
- Está
bem, vou buscar ajuda. Não tenho forças para romper essas correntes.
- Mas
vem logo. Eles devem estar a caminho.
- Não
se preocupe, volto já.
Gina
sai detrás da cachoeira, mergulha novamente e tenta sair para avisar seus
amigos do acontecido, mas quando emerge, vê que está cercada por uma tribo
indígena da região e antes que tenha qualquer reação é nocauteada com um
tacape. O Bem observa o ataque covarde e agressivo. Vê Gina ser levada por
quatro guerreiros. Os mais de trinta ou quarenta índios que cercavam o local
acompanham o sequestro até a aldeia que fica a pouco mais de setecentos metros
dali. O grande Chefe decidirá o que fazer.
Gina é
jogada aos pés do líder, que imediatamente ordena que seja preparado o local do
ritual, uma pedra grande e plana onde a moça será esquartejada e jogada no poço
do sacrifício à noite.
Os
índios estão alvoroçados, se pintam e fazem os preparativos. Começam uma dança
macabra ao redor da pedra grande e cada um que passa bate com a lança ou tacape
no corpo de Gina. Não são pancadas fortes, mas machucam.
O Bem,
vendo aquilo acontecer, deduz que, se não tomar uma providência rápida, ela
morrerá antes do tempo, e decide falar com o chefe. Ele sabe que é inatingível
ali e não será atacado. Abre caminho entre os guerreiros e chega ao líder.
- O
que está acontecendo aqui Grande chefe? Essa menina não tem nada a ver com essa
situação.
- Você
não deveria estar aqui depois de ter nos abandonado. O Mal, seu irmão, nos
condenou e desapareceu também. Vá embora, agora. Temos que alimentar o monstro
para que a situação volte ao normal.
-Espere!
Conte-me mais e poderei ajudar.
- Como
vai nos ajudar? Fazemos um ritual desses de sete em sete meses, usando nosso
povo e os estranhos seres que aparecem, agora já não restam mais quase ninguém em
nossa tribo. Temos que caçar outros para realizar a vontade dos deuses e fazer
chover em nossas plantações.
- Isso
está errado, grande Chefe. É uma manobra maligna. O Mal foi enviado para o
inferno pelo anjo. Ele não mais lhe atormentará. Se me esperar, trarei aqui e
agora a solução.
- Está
certo. Vamos confiar mais uma vez. O ritual está suspenso até que você volte.
- O
Bem em pouco tempo trás a Árvore da Vida e diz:
-
Pronto! Esta Senhora resolverá seus problemas, mas antes quero que seu Pajé
cuide das feridas da moça.
- Está bem.
Chamem o curandeiro. Agora! Logo ordena
que a moça seja tratada.
Continua...
Carlos Holanda
A Árvore da vida IV
-
Vamos fazer uma pausa, preciso comer alguma coisa e dar uma olhada no mapa.
- Ali
na frente tem uma clareira, onde poderemos ficar um tempo, mas vamos tomar
cuidado, aqui, e em todo lugar é perigoso e traiçoeiro.
Enquanto
Gina e o Bem se acomodam, uma mulher aproxima-se lentamente.
- Quem
vem lá? Indaga Gina, já apontando seu arco e sua flecha.
- Não
tema! Sou passageira. Diz.
É uma
bela mulher aparentemente nova.
- O
que você quer? Mais uma vez pergunta Gina.
-
Abaixe sua arma. Só quero te dar uma informação valiosa.
- Eu a
conheço, Gina. Afirma o Bem.
-
Então quem é?
- Ela
te dirá já.
E após
se juntar, ela diz:
- Eu
sou a Árvore da vida. Lembra? lá no início de sua jornada?
- Como
assim?
- Eu
estava amaldiçoada pelo Mal, mas o Anjo, ao voltar, quebrou a maldição e me
libertou daquele tronco. As sementes que você carrega e o fruto são venenos que
você poderá utilizar em suas flechas contra possíveis inimigos, mas ao voltar
para casa e passando pela mesma árvore do caminho poderá matar sua fome. Os
frutos agora serão doces como o mel e não mais farão mal a ninguém.
- Como
poderemos ter certeza de que fala a verdade?
- O
Bem sabe que é verdade e bons frutos germinarão daqui pra frente naquela região
e em todo o vale.
-
Acredite Gina, a Árvore da Vida havia sido aprisionada àquele tronco, assim
como eu estava preso no Oráculo através das esferas.
- E
qual o rumo que você irá tomar agora? - Pergunta Gina.
- O
Anjo nos aconselhou a te seguir até o Portal.
- Isso
significa que tenho dois aliados?
- Sim!
- Respondem os dois simultaneamente.
- Que
bom!
- A
solução de todo o bem da humanidade está na mãe natureza. É uma pena que o
homem não veja o planeta com esses olhos.
- Sim,
é verdade. - Diz o Bem.
- Já
está escurecendo, vamos passar a noite aqui e amanhã cedo partiremos. Vocês são
imortais, mas eu não. Preciso repousar um pouco, recarregar as energias para ir
em frente.
- Eu
não durmo. Só preciso que o Vento me deixe quieta. - Disse a Árvore da Vida.
-
Fique à vontade Gina. Farei uma corrente de proteção à nossa volta, um círculo
fechado. - Confirma o Bem.
-
Sendo assim, sentir-me-ei mais segura.
Os
lobos saem à noite. Outros animais noturnos também caçam suas presas, afinal, a
cadeia alimentar não para. E os
predadores, assim como os humanos precisam comer. A diferença é que os animais
silvestres só matam por extrema necessidade de sobrevivência.
Ao
amanhecer, uma cesta de frutas frescas está ao lado de Gina.
- Bom
dia! Obrigado por cuidarem de mim.
- Foi
uma noite tranquila! Disse o Bem.
- O
vento transformou-se em brisa. - Disse a Árvore.
-
Estou pronta! Vamos? Convida Gina.
- Lá
na frente, próximo da montanha, há uma cachoeira, onde você poderá se lavar. –
Avisa o Bem.
- Que
maravilha! Vamos apressar o passo. Há cinco dias que não banho.
- Não
podemos demorar muito. Existe algo sombrio por lá. Ficarei a cinquenta metros
de distância, minhas raízes não suportam água demais. Ah, e tenham cuidado com
areia movediça. – Fala a Árvore da vida.
É uma longa
caminhada, entre pedregulhos, lamaçal e trilhas bem íngremes. Mas finalmente a
cachoeira está mais perto do que o esperado. Ouve-se o barulho da queda d’água.
Gina, meticulosa como sempre, não se empolga tanto, quer apenas tomar um bom
banho. Põe sua bolsa, a mochila, as facas, o arco e as flechas do lado de uma
enorme rocha, fica só de calcinha e sutiã. Antes de entrar na água, observa e
aprecia a exuberância exótica daquela paisagem singular, um paraíso no meio do
nada.
Continua...
Carlos Holanda
Gina - Os Gêmeos III
Em sua
jornada, Gina segue seus instintos, sua intuição, por caminhos tortuosos, trilhas
quase inexploradas, serpentes e outros rastejadores são vistos e ignorados. A
floresta densa guarda muitos mistérios. Um dia de caminhada é vencido e logo
mais uma noite de escuridão, uma noite sem luar. Próximo aos rochedos parece um
bom lugar para acender uma fogueira e passar a noite. Ela come alguma coisa
enlatada e uma barra de cereal. Sobre sua mochila põe a cabeça e deita-se de
lado, com as pernas juntas. A jaqueta de couro que mais parece um gibão aquece
o corpo. Ela não tem sono. Seus pensamentos vagueiam. A saudade aperta e ela
tem as lembranças do pai, do irmão, de seu cachorro e de seus amigos vem à sua
mente. Gina se pergunta como conseguiria reagir àquela criatura em campo aberto
e acredita que teve sorte ou, foi protegida por Deus.
Quatro
olhos a observam e espreitam em silêncio entre as folhagens, e assim, passam a
noite. Quando amanhece o dia, as criaturas entram em conflito e a seguem.
O Bem
e o Mal são gêmeos quase idênticos, diferem nas cores, o Mal tem quase dois
metros e é alaranjado puxando mais para o ruivo ou vermelho, em partes do
corpo; O Bem é totalmente branco, com nuances de azul claro e tem estatura
parecida. Ambos seguem uma linhagem genética de lobos, embora não sejam dessa
família, mas são formas mitológicas que assumiram na terra, tendo ambos o poder
de se transformar em quaisquer animais, pássaros, aves ou seres de outras
naturezas que desejarem.
-
Vamos mata-la. Diz o Mal.
- Não!
Vamos deixa-la viva para ver o que acontece. Responde o Bem.
- Você
viu o que aconteceu ao Guardião da entrada, ela o matou sem usar uma arma. Deve
morrer também. Vamos mata-la.
- Eu
disse não. Vamos esperar.
-
Esperar o que? Que ela nos destrua também?
- Você
como sempre, é a maldade em pessoa. Quero dizer, é um animal.
- Não me
insulte. Não gosto que intrusos invadam meus domínios.
- Seus
domínios? Ha! Ha! Ha! Você não é o dono da verdade. Vamos segui-la para
sabermos quais seus objetivos.
- Está
bem. Vou concordar só essa vez. Vai em frente, preciso fazer uma coisa.
- O
que você vai fazer?
- Vou
ao Oráculo, me certificar do que fazer com ela.
- Não
precisa...
- Fui.
O
gêmeo do mal some rapidamente, para em seguida apresentarem-se, os dois, à Gina,
lá na frente. Ambos, um em cada lado do caminho, sobre rochas, estão sentados.
A arqueira avista-os e aponta sua flecha, ora mira em um, ora mira no outro.
Gina
até o momento não desconfiava de que estava
Sob vigilância
e sendo seguida.
- Quem
são vocês? - Pergunta Gina.
-
Somos os gêmeos. Eu sou o Bem.
- E eu
sou o Mal. Você invadiu nosso território e daqui não passará.
- Por
que não? Eu tenho um propósito...
- Não
passará. É melhor voltar ou morrerá.
-
Calma! Senhor maldade, vamos deixa-la passar e ver o que acontece.
- Ah,
isso não permitirei.
- Tem
um jeito de sabermos. Vou invocar Amenadiel.
- Não
faça isso. Vai estragar tudo por uma humana.
- Quem
é esse Amenadiel? – Pergunta Gina.
- É a
solução para sua vida. Responde o Bem, que em seguida levanta as mãos para o
céu, fecha os olhos, concentra-se e bate palmas por três vezes.
- Bem,
você cometeu um erro gravíssimo. – Diz o Mal.
Gina
observa a linha de discussão sem dar uma palavra. E em questão de segundos, o
céu se abre em um clarão e de dentro surge um anjo que pousa entre eles e fala:
- Eu
já os observava e tenho uma decisão rápida. O mal voltará para o inferno. Não
será aniquilado, pois não tenho esse poder, só meu Pai, mas desfaço agora todas
as maldades cometidas por ele nesta dimensão. E com um gesto de mão aberta,
apontada para o Mal, surge um facho de luz branca que faz com que ele volte
para as profundezas de seu espaço sinistro.
- Não!
Grita o Mal.
- E
você Bem, irá acompanhá-la nessa jornada até o Portal.
-
Amenadiel, posso pedir um favor?
- Não
sou o gênio da lâmpada, mas Fale.
-
Preciso das oito esferas que o Mal guardou no Oráculo.
-
Esperem aqui, só um instante.
E como
num passe de mágica, o anjo voa e some no ar.
- O
que são as oito esferas, Bem?
- São
as sete virtudes que lhe darei e a oitava é o controle da minha vida, que
estava aprisionada pelo Mal. Com o tempo você irá entender.
- E
porque preciso ter as sete virtudes? Um ser humano normal jamais conseguirá tal
perfeição.
- Você
só irá entender na prática. Quando voltar ao seu mundo.
-
Duvido! Nem canonizada eu chegaria esse ponto.
- Você
não precisa ser todas as virtudes simultaneamente, viva uma de cada vez um
pouco e transfira esse conhecimento.
-
Melhorou!
Amenadiel
volta e entrega as esferas.
-
Pronto! Guarde-as bem e as proteja dos sete pecados capitais. Eles são
terríveis.
-
Obrigado Amenadiel.
- Estarei
onde precisar. E lembre-se, até o Portal, não mais.
-
Lembrar-me-ei.
- Bom,
você já tem as esferas, vamos em frente.
- Tome
as suas, são pequenas, mas de grande poder. Elas estarão com você aqui durante
sua jornada, depois ficarão em sua personalidade. Vamos!
- Na
formação de caráter, você quer dizer?
- Entenda
como quiser.
Continua...
Carlos Holanda
Gina - O Rinoceronte II
De
manhã muito cedo, Gina despede-se da sua família para começar uma jornada com
tempo indefinido para voltar. Segue orientada pelo mapa do livro. São caminhos
a seguir em busca de respostas para sua vida. Atravessa a caatinga da região
com o sol a pino. Depois de muito caminhar, e bem distante de casa, atravessa
um cemitério de ossos, um lugar sombrio, são caveiras e esqueletos espalhados
de animais pré-históricos, em dado momento vai descansar à sombra de uma
árvore frondosa, bem próxima aos
rochedos, outras árvores menores, compõem o cenário nebuloso e desconhecido.
Está tranquila, acomodando-se ao cair da tarde. Nenhuma folha se mexe. Silêncio
absoluto. Encosta a cabeça no tronco, fecha os olhos e... a terra treme, um
barulho, estalar de galhos quebrando na densa floresta. Avista ainda longe uma
figura enfurecida que galopa em sua direção. Forma-se, pouco a pouco um
rinoceronte gigante que solta fumaça pelas narinas. E ela pensa que, a única
maneira de se proteger é subir na árvore, camuflar-se e tentar sobreviver. Os
cipós que descem até o chão servem como cordas para subir. Não há como uma
pessoa normal enfrentar em terra firme um animal daquele porte, até porque suas
armas, a faca e o arco não o atingiriam. Melhor seria ponderar, ter paciência e
esperar. Usar da astúcia e vencer pelo cansaço.
Gina
pensa: Tenho que vencer meus medos. Definitivamente, isso não existe. Preciso
distinguir o que é real.
Por um
instante, enquanto ela subia, o animal some de sua vista. Aliviada ela diz para
si mesma: Eu sabia! Era só minha imaginação. Nós dois estamos cansados. Vou
usar sua força contra você mesmo. Mas, o animal apenas mudou de posição,
arrodeando o tronco que tem um diâmetro de quase cinco metros. Agora ele
investe contra a árvore, chifrando-a com muita força, várias vezes. Enfurecido,
parecendo um touro bravo em uma arena, cisca o chão com os cascos, dá alguns
passos atrás, para e movimenta-se novamente com toda força para atingir seu
alvo. Depois de muitas tentativas, olha para um lado e outro e volta a atacar.
A árvore gigante parecia ignorar os ataques ao seu tronco, mas o rinoceronte a
chifra novamente de tal forma que estremece tudo, são golpes com desfechos
mortais. E eis que numa dessas tentativas, o incrível acontece, uma chuva de
frutos mais parecidos com melões desabam sobre a cabeça do monstro e escorrem
sobre seus olhos, deixando-o cego. Outros frutos que lhe atingem a cabeça,
esbagaçam-se e escorrem até a boca, e envenenam-no. O corpo do gigante cambaleia,
as pernas encouraçadas e fortes fraquejam, zonzo pelo efeito venenoso do fruto,
tomba e algum tempo depois ouve os últimos suspiros e um gemido assustador de
morte.
Gina
cautelosamente entende tudo e desce da árvore. Ela como ninguém, sabe que a
natureza é sábia e tem suas defesas.
Há
males que vem para o bem – pensa – eu iria experimentar desses frutos. Bem, não custa nada levar um punhado dessas
sementes e um fruto de vez para quem sabe, utilizar mais tarde, quando
amadurecer. Gina sabe que ali estará segura aquela noite. Decide ficar e partir
ao amanhecer.
A
noite passa rápida. Talvez pelo cansaço, tenha dormido bem, apesar do susto. Ela
nunca tinha visto um animal daquele tamanho e tampouco teria noção do que seria
aquele monstro peculiar da Ásia e da África e mesmo em seu habitat natural, sejam de grandes proporções, seriam bem
menores comparados a esse mamífero pré-histórico.
Os pássaros
anunciam um novo dia. É hora de ir. Olha o mapa e segue em frente, sabendo que
haverá outros perigos para enfrentar. Esse é um território inóspito, desconhecido,
mas a partir do momento que Gina decidiu desvendar seus mistérios, continuará
sua busca, afinal trata-se de sua vida, de seu destino.
Gina - O livro dos símbolos I
É um dia radiante. O sol dourado banha as montanhas clareando
a bela paisagem. Mistura-se o perfume que exala das flores dos jardins com o
aroma do café fervido num fogão a lenha. Passam-se poucos minutos das seis
horas desta manhã e hoje é um dia especial. É o aniversário de Gina.
João Lobo fez questão de preparar um café da manhã para a
filha, bem típico da região e ao seu modo, com fartura. O leite mugido na hora,
espumando; ovos diretos da fonte, tapioca de goma, suco de laranja, queijo,
mel, carne seca desfiada, cuscuz, bolos e frutas,
Uma surpresa a aguardava para festejar esses vinte e um anos
e, esse será o momento ideal para entregá-la, por se tratar de uma relíquia
guardada a sete chaves por tanto tempo.
Dizem os sábios que, um presente dado de coração, enaltece a
alma e trás momentos de felicidades a quem o recebe. Bem, hoje é um dia de
alegrias e comemorações que já começa cedo.
- Bom dia pai! Uau! Isso tudo é para mim?
- Bom dia, filha querida! - Abraçando-a fortemente, João Lobo
beija a filha – Meus parabéns! Que essa data seja motivo de alegria, saúde, paz
e bem em sua vida.
- Obrigado, meu pai! Muitíssimo obrigado. Também amo o
Senhor. E beija-o também. – Cadê o Júlio?
- Deve estar vindo, ele foi só banhar.
- Oi, bom dia aniversariante! Vem cá, me dá um abraço e um
beijo!
Os irmãos cumprimentam-se, e sentam-se à mesa para degustar
as guloseimas matinais.
- Gina, tenho um presente bem diferente esse ano para lhe
dar.
- Oba! Adoro surpresa boa.
- Bem, na verdade é um livro antigo que guardei durante esses
vinte e um anos. E só poderia lhe entregar nessa data, ou seja, hoje.
- Estou curiosa. O senhor guardou segredo durante todo esse
tempo? Deve ser importante!
- E é. Eu ganhei quando você nasceu, mas essa história, contar-lhe-ei
depois.
- E se eu não mais estivesse aqui?
- Mas você está aqui e agora, Gina. Disse Júlio.
- Sim. Vamos tomar o café, senão esfria.
O livro está dentro de um pequeno baú de madeira, com
revestimento em couro marrom envelhecido. Nota-se alguns desenhos feitos à mão,
utilizando-se da técnica de pirografia.
- Posso abrir o baú, pai?
- Claro que pode, é seu. Mas vamos terminar aqui o café e
depois, com calma, você começa a ler. Isso só diz respeito a você e a mais
ninguém. Combinado?
- Está certo meu pai.
Júlio apressa-se em entregar outro presente numa caixinha
menor.
- É pra você irmã.
- Olha! Hoje o dia promete. Vejo que não é um livro.
- Não. Não é. Abre, o meu não tem segredos.
- Certo. Obrigado Júlio. É uma joia linda!
É só um colarzinho.
- Todo presente tem o seu valor inestimável, quando é dado de
coração e, principalmente quando vem da família. É para sempre.
- Você me deixa sem jeito.
Lobo, o cachorro de Gina, um pastor alemão, negro como a
noite sem luar, late na varanda. É o aviso de que chegou alguém. João é o
primeiro a se levantar para atender.
- Bom dia, compadre João.
- Bom dia, compadre! Bom dia comadre! Bom dia Rita! Vamos
entrar. Sejam bem vindos.
- Bom dia, sua bênção, tio.
- Deus abençoe Rita!
Gina caminha rapidamente para receber as visitas, enquanto
Júlio se levanta e espera para saudá-los.
As amigas Gina e Rita abraçam-se, beijam-se respeitosamente e
logo recebe os parabéns dos amigos da família.
- Minha amiga, eu trouxe um presente pra você. E dessa vez é
vivo.
- Vivo?
- Sim, espera aí, vou pegar. Vai até onde está o cavalo, pega
a cesta que havia pendurado à cela e entrega à Gina.
- Meu Deus! Que coisa mais linda!
- Você gostou?
- Adorei! Que fofura!
- Ele já tem dois meses. Pode comer ração para filhotes. Ah,
e será igual ao seu quando crescer.
- Rita, que maravilha! O “lobo” já está com a idade avançada.
Esse será chamado de Lobinho.
- Ele também é pastor alemão.
- Eu amei. Obrigado.
Todos estão à mesa e conversa gira em torno de vários assuntos,
mas principalmente sobre a aniversariante. Júlio avisa que vai se retirar para
ir cuidar dos afazeres, da labuta com os animais. Os compadres permanecem no
bate papo.
- Bem, quero agradecer a todos pela presença, pelos
presentes, e agora vou conversar com a Rita. Vem Rita, vamos ali para a
varanda.
- Ei, você não está esquecendo nada? Pergunta o pai.
- Ah, sim, o baú de surpresas.
- Deixe para ler mais tarde, entendeu?
João Lobo sabia do conteúdo do livro e preferia que sua filha
visse com calma, e a sós. Afinal, ele guardou segredo por tantos anos, não
queria que ela fosse ler acompanhada.
- Sim, pai. Claro!
- É sobre o que esse livro, Gina?
- Não sei ainda. Só vou ler hoje de tarde. Nesse momento,
vamos botar o papo em dia. Faz um tempinho que a gente não se fala.
- É. Vou te contar as novidades.
- Espera só um instante. Deixe-me guardar isso aqui. Já
volto.
- Ok. Espero.
- Pronto! Conte-me as novas.
- Chegou um circo na cidade e eu gostaria de ir contigo no
final de semana.
- Não sei. Tenho umas coisas para resolver.
- Eles ainda estão montando, mas a estreia será domingo.
- Vamos ver o que posso fazer. Se der, nós iremos, ou melhor,
eu passarei na sua casa a tarde e a gente vai, senão, mando avisar.
- Está ótimo, assim.
- Pois agora vamos cavalgar. Não estamos fazendo nada mesmo.
- É. Vamos.
Carlos Holanda
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