quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

FESTA NO 11 DE AGOSTO

 


Agora não, antes, era a festa do ano da elite de Pedro II. Me lembro como hoje. Comecei foi cedo a engraxar os sapatos, engomar a camisa branca, passar o terno cinza e a gravata listrada. Tinha até um broche. À tarde coloquei sobre o encosto de uma cadeira para descansar, inclusive, as meias combinando. Não tinha cabide apropriado em casa. Tinha que ter cuidado, porque só não era alugado os sapatos, as meias e a camisa. Até a carteira com uns trocados, ficou sobre a calça.

Estava tudo impecável para o “de menor” ir à grande festa, não fosse por um pequeno deslize. Por volta das 17:00 horas chegaram amigos e me convidaram para ir à casa de outro, que estaria aniversariando. Eu nem lembrava. Fomos. Não era acostumado a beber, mas, fui induzido a experimentar um vinho. Ora, vinho não faz mal a ninguém, pensei. Faz até bem para o coração e os rins, se for tomado moderadamente. Provei e achei docinho, parecia q-suco de uva. Uma beleza! Empurrei o pé na jaca...

O certo é que fui convencido de que a banda principal, só chegaria ao clube após a meia noite, então, entrei no “vinho” foi com vontade, tomei gosto. Aliás, dava tempo tirar uma soneca antes da festa. Ora bolas!

Quando foi por volta das 20:00 Horas, foram me deixar em casa de Jeep, pois minhas pernas não obedeciam mais. Me excedi. Recomendaram que eu dormisse um pouco e, às “onze meia,” me pegariam pra irmos à festa.

Dormi como uma pedra. Acordei umas cinco horas da manhã, nem os galos cantavam mais. Meio zonzo, o mundo girando, com um gosto de zinco na boca, e sede, muita sede. Bebi água do filtro de barro; caminhava dentro de casa, ouvia vozes lá fora, gargalhadas intercaladas pelo tropel de cavalos e buzina de uns poucos carros que circulavam indo, ou vindo da feira.

Me espantei, quando me deparei com o terno mais dormido do que eu, debruçado sobre a cadeira, do jeitinho que deixei no dia anterior. Não tinha a quem culpar, a não ser eu mesmo. Meus amigos haviam passado no horário combinado; todos na casa, me chamaram, mas, eu não acordei.

Pela primeira vez, perdi a grande e tradicional festa do ano. Passei vinte anos sem tomar vinho, que por sinal, é uma excelente bebida. E até hoje, só tomo se não tiver outra bebida.

Tirando proveito do desastre, foi bom. Descobri que não seria Sommelier ou Enólogo.

Carlos Holanda  

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

A televisão na praça

 


Àquela época, notícia era boato, rede social era a calçada onde o povo sentava na porta para conversar. A maioria comprava um radinho a pilha para ouvir futebol e algum programa mais relevante. A energia chegou e logo os mais abastados compraram as TVs portáteis em preto e branco.

Anos se passaram e o prefeito anunciou uma “obra”, iria construir um pedestal na praça para colocar uma televisão de vinte polegadas. O povo ficou ansioso para assistir “Gerônimo, o herói do sertão”. Dito e feito. O prefeito era homem de palavra. O carro com aquelas amplificadoras enormes anunciava aos quatro ventos o evento. A televisão já amanheceu o dia dentro de uma grade de ferro, coberta com um pano branco e amarrada com uma fita vermelha para ser cortada e inaugurada pelo gestor. Foi uma festa com banda de música e tudo. Os discursos eram cansativos e de quebra cada um que falava rasgava seda puxando o saco do prefeito. E o povo? Aplaudia cada gesto, cada palavra. Estavam todos admirados com aquele monstrengo no meio da pracinha.

Pois pronto! Cortaram a bendita fita ao meio dia. Foi aplauso geral. Admiração. O que não previram foi que, uma TV em preto e branco, no meio do tempo a céu aberto, com sol a pino não mostraria os contrastes da imagem. Foi um deus nos acuda para explicar o funcionamento. E todos foram para casa desapontados, embora tenham sido avisados para virem assistir à boquinha da noite.

E à noite, a multidão de famílias e matutos das redondezas aglomerou-se na frente da TV, trouxeram até uns banquinhos com tampos de couro de bode para sentar. O funcionário público ligou a bicha, passou quase meia hora mexendo nos botões e a tela só mostrava aquele exame e uma chiadeira sem fim. Demorou, mas conseguiu sintonizar a novela da época. Clareou, escureceu e deixou no tom. Foi uma algazarra, gargalhadas e com olhos esbugalhados novamente uma chuva de aplausos. O prefeito enchia o peito orgulhoso, dava tapinhas nas costas dos eleitores, pegava nas mãos de uns e abraçava outros.

Um mês depois, o vigia da praça adoeceu e na calada da noite, de madrugadinha, surrupiaram o aparelho. De manhã cedo perceberam que a grade estava arrebentada e o lugar estava mais limpo do que os pratos da música.

Até hoje, nunca descobriam quem roubou. Acho até que o cabra que levou deve estar usando a caixa como depósito de farinha ou feijão.

Carlos Holanda

Pipas e papagaios

 


Uma reca de rapazotes e "urn minino" correndo aos berros atrás de pipas que caem igual o Neymar, numa folia total essa época do ano.

Um deles correndo e olhando pra riba se abraçou com um poste e ficou estatelado. Foi gozação e gritaria dos mais de quinze. Eu também quase morro de rir. Já fiz muito isso quando criança.

Esse é o verdadeiro senso de liberdade na infância, correr, brincar, sorrir e gritar como se não houvesse amanhã . "Ô marré" bom.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Com emoção é parafuso

 


O litoral do Piauí apesar de contar com apenas sessenta e seis quilômetros de praia é maravilhoso. As areias branquinhas são bem convidativas. O mar de águas claras e calmas, diferente da praia da Pedra do sal, que é mais agressiva, onde as ondas quebram nas pedras e arrastam um turbilhão de areia sob nossos pés, também é uma delícia.

Manhã de sol, belo domingo em atalaia. Chegamos cedo, primeiro pra pegar vento nos peitos e apreciar a paisagem desenhada por Deus, segundo pra escolher um lugar mais tranquilo e degustar um peixe e outros frutos do mar. Tomar uma água de coco e mais tarde ir de encontro ao mar, banhar com aquele sal grosso pra tirar a “inhaca”... essa é a vida que todo mundo pede ao Criador: sol, sombra e água fresca.

Bom, mas inventei de sobrevoar (tinha um cara lá com uma aeronave leve, monomotor, de aluguel pra turista) e perguntei ao piloto quanto custava fazer isso. Ele respondeu e perguntou pra mim: – Você quer com emoção ou sem emoção? Desse jeito mesmo. Disse-lhe: – pois me explique melhor como é isso. Ele tranquilamente, disse-me que sem emoção faria sobrevoos, daria alguns rasantes e voaria em círculo. Até aí tudo bem, mas, e com emoção?
– É a mesma coisa, com a diferença de que por duas vezes a gente sobe em linha reta, faz uma manobra radical para baixo, desliga o motor e desce em parafuso, em seguida liga o motor, dá um rasante e pousa. É tudo uma fração de segundos. Perguntei-lhe se estava seguro disso e ele sem pestanejar confirmou o seu profissionalismo há muitos anos de fazer manobras radicais assim todo dia. Arrisquei e fui.

Confesso que a adrenalina foi ficar no pé do gogó, do pescoço! Engoli em seco. Senti aquela sensação na boca do estômago... confiei nele, afinal, pensei: se morrer, somos nós dois e morrer na praia, voando, não é pra todo mundo. Então vamos lá.

A vida é feita de escolhas, e a gente tem que tentar sempre fazer alguma coisa diferente.

Eu achei o máximo! Fui uma segunda vez, mas, jamais faria a terceira naquele dia.
Tem coisa que, se não é você quem controla, e não sabe o risco que está correndo, então não é bom brincar com a sorte.

Carlos Holanda

sábado, 12 de dezembro de 2020

Tiro ao alvo

 


Festa junina na Potycabana com apresentação de quadrilhas, forró, muita comida típica, caipirinhas, bingo, tiro na lata com bola de meia, laça dinheiro e tiro ao alvo. Foi nesse último que eu e a turminha paramos.
– Quanto é o tiro – perguntei.
– Três por dois reais – disse a moça.
– Pois me dê três pra começar. Não eram chumbinhos. As balas eram de cortiços, colocadas na ponta do cano da espingarda de ar comprimido para derrubar latas vazias de cerveja. Pois bem, peguei uma do cano meio folgado da coronha. Dei os três tiros e errei todos. A espingarda escangotava. Não desanimei. Olhei para o lado, o garoto acabara de sair e deixou uma espingarda mais nova, durinha, “oleada”. Senti o peso, mirei, armei, desarmei e disse – me dê aí dez reais de tiros. Foram quinze balas. Me ajeitei e fiz dos cotovelos o tripé sobre o balcão e “pei”. Lá vem a primeira Skol bem geladinha. Degustei a bichinha, coloquei a lata do lado e “pei”. Mais outra latinha. Cinco tiros foram cinco latas. Nós éramos seis. Aí eu “fresquei” com a dona – Falta derrubar mais uma. Ela sorriu e perguntou-me – o senhor é da polícia?
– Não senhora – respondi.
– Não errou um tiro com essa espingarda.
– Errei três com a outra.
– Aquela é velha. Essa aí é novinha em folha.
– Tudo novo é bom, nem importa a marca, não é?
– É – respondeu ela assim com cara de quem comeu e não gostou.
Do lado direito da barraca tinha um senhor vendendo espetinhos, assados sobre a brasa numa calha de caminhão. Olhei para ele, ele olhou para mim, e eu perguntei:
– O senhor já vendeu muitos espetos hoje?
– Já. Bastante!
– Beleza! O senhor bebe uma “Skolzinha”?
– Bebo.
– Vamos fazer um negócio?
– De que tipo?
– Eu derrubo uma lata e troco por um espeto com o senhor. Tá valendo?
– Na hora – disse. Para ele era até mais negócio. A latinha de cerveja gelada era em torno de R$ 2,50 e o espeto R$ 1,50. Olha aí quando é pra dar certo. Pois bem. Mirei e “pei”.
– Viu? Deu foi bom.
Dos quinze tiros, acertei doze. Ou seja, uma caixinha. Comemos e bebemos com dez reais.
No outro dia fui na mesma barraca, ciente que seria mão na roda. A mulher me reconheceu e disse:
– Você é aquele atirador de ontem, não é?
– Sou eu mesmo.
– Devia ter aproveitado mais.
– Por que?
– Por nada. Quer quantos tiros?
E eu com a garganta sequinha, salivando para tomar umas “desse preço”.
– Me dê dez reais de tiros para começar.
Dei quinze tiros e não acertei nenhum com a mesma espingarda do dia anterior. Quer saber o segredo? Eles trocaram os cortiços por uns mais leves que variavam. Parei ali. O cara do espeto ainda perguntou – como é, hoje não vamos fazer negócio? Me deu vontade de mandar ele se lascar, mas só saiu um sonoro “não”. Fui beber com a turma, pagando é claro.
Essa foi uma das vezes que a vaca não deu duas cuias de leite.


Carlos Holanda

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Meus livros. Uns publicados, outros inéditos.

 


Sinais, a vida prega peças

 


Um acidente entre um automóvel e uma carreta deixa vítimas graves na BR. O carro corre o risco de explodir, enquanto a trucada como um gigante permanece quase intacta; sim, porquê tem um chassi de ferro e aço muito mais resistente de que os veículos fabricados atualmente e para minimizar custos parecem caixas de papelão de tão frágeis que são.

Um garoto com ferimentos graves de aproximadamente nove anos é resgatado e levado para um hospital da cidade mais próxima. O homem, porém, está numa situação mais complicada, desmaiado, preso às ferragens que precisam ser cortadas para retirá-lo.

O corpo de bombeiros chega e a situação é contornada.

Gravemente ferido e correndo o risco de morrer, o homem é conduzido a um pronto socorro de emergência. Pouco tempo depois, uma explosão afasta os transeuntes do lugar. O fogo consumiu praticamente todo o veículo.

A vida prega peças. Pai e filho são internados em hospitais diferentes e distantes um do outro. As sequelas causadas pelo acidente são muitas. Um pai em estado de coma. Um filho agora aleijado numa cadeiras de rodas. Psicologicamente, as vítimas antes saudáveis já não são as mesmas.
***
- Filho, acorda. Acorda.
- Pai, tive um sonho ruim.
- Eu também. A gente não vai mais viajar.
- O que vamos fazer?
- Pescar. Está um lindo dia. Vamos?


Por Carlos Holanda

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Para que servem os cupins?

 


Os cupins, assim como outros invertebrados serviam como fonte de alimento para os ameríndios e para os nativos das Américas.

Todo artista tem apreço e amor por sua obra e eu não sou diferente. O fato de ter uma variedade grande de telas de todos os tamanhos deixa-me sem espaço em casa. As paredes estão lotadas. Outras estão embaladas, mas algumas estão amontoadas, e entre elas, encontrei duas com cupins. Os bichinhos malditos comeram por dentro a madeira e chegaram à lona das telas. Fiquei triste. Como há males que vem para o bem, talvez seja um sinal para dedetizar a casa, o teto. Melhor prevenir.

Esse tipo de inseto é uma praga altamente perigosa, e pode ser encontrada num único hectare de floresta tropical ou de savana, mais do que em toda a América do Norte e Europa juntas.

Cupins podem chegar facilmente ao nono andar de um prédio em pouquíssimo tempo.

Aqui em Teresina, por exemplo, o teto da Igreja São Benedito despencou em função da infestação de cupins.

Indígenas do noroeste amazônico incluíam em suas dietas os cupins que desempenhavam o papel de sal, uma vez que apresentavam sabor salgado. Os índios Desâna e outras etnias, das margens do rio Uaupés e seus afluentes, coletavam os insetos enfiando um funil feito de folha de bananeira-brava no orifício do cupinzeiro.

Muito apreciados eram os cupins amarelos que eram comidos vivos ou assados após saírem dos buracos em dias de chuva. Outro tipo, sem asas, era ingerido de maneira semelhante. Os índios Enawenê-nawê, do Mato Grosso, consumiam o cupins subterrâneos após colocá-lo em recipiente com água e depois, removia-os e os aqueciam levemente sobre um prato de cerâmica levado ao fogo.

De duas uma, ou eles comem as telas ou viro índio e como eles.


Carlos Holanda

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Miopia

 


Governo federal zera tarifas de revólveres e pistolas - para importação - em meio a uma pandemia. Isso por si só já constitui um crime, quando a preocupação maior seria o plano de aprovação e distribuição da vacina para que o comércio volte a funcionar normalmente e para dar estabilidade à economia. Essa é mais uma cortina de fumaça que 'ele' coloca em discussão pedindo também a deliberação de publicidade de armas em TV's e na Internet.
É uma medida que, de forma alguma beneficia o povo. Os pobres em sua grande maioria não tem dinheiro sequer para comer. É a inflação que dita as regras nesse momento. As pessoas de baixa renda estão lutando a qualquer custo para alimentar suas famílias. Não estão preocupadas com armas.
Quais são as classes beneficiadas? Os ricos, facções criminosas e milicianos. Porquê? Por que tem dinheiro em espécie para comprar. Os milhões de brasileiros que recebem bolsa família, ou, receberam auxílio emergencial não tem condições de aprovar um cadastro para comprar armas parceladas em uma loja especializada.
O Brasil tem outras prioridades urgentes que a miopia do governo não consegue enxergar, ou finge não ver.
Carlos Holanda

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Disciplina

 


A disciplina é um dos pilares mais importantes na formação do caráter em qualquer sociedade desse planeta, tanto é que, “A Arte da Guerra” de Sun Tzu, um dos livros mais editados no mundo, só se comparando em tiragem com a Bíblia, logo no início, nos dá uma grande lição nesse sentido...

O escotismo, movimento criado por Robert Baden Powell, também é um grande exemplo para crianças e jovens, assim como as artes marciais.

Vivemos desprotegidos pelo sistema em várias partes desse país e sempre colocamos a culpa no governo. Sei que esse é um tema complexo, mas estou expondo aqui minha opinião por que acho que nossos netos e outras crianças estão correndo risco de ficarem alienadas, uma vez que estamos todos conectados em tempos digitais, não estamos muito preocupados em ensiná-los a ter contato com a natureza, ensiná-los a acampar e ter contato com a fauna e a flora para melhor compreender as formas de vida na terra e brincar fora do computador ou do tablete.

Cedo ou tarde as crianças do futuro irão conhecer o planeta terra somente através de fotos e vídeos.

Não são só os pobres que fazem parte da base da pirâmide, os alienados também, pois logo serão controlados por só conhecerem dados e informações disponibilizadas em bancos e arquivos de grandes empresas.

Estamos numa época de transformações por bits, bytes, nanotecnologias e quem sabe até, mais tarde, possamos nos teletransportarmos; mas o contato com bichos, plantas e principalmente com seres humanos os tornará mais vivos e sensíveis desde que haja disciplina.

Nada nunca será mais importante que o contato pessoal, aliás, quando foi a última vez que você fez um piquenique com a família?


Carlos Holanda

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

O Beijo

 


Há mais de 40.000 anos em São Raimundo Nonato, num sítio arqueológico, uma inscrição rupestre - talvez a única do mundo - ficou registrada e denominada “o beijo”. Prova de que os trogloditas não eram tão brutos assim, amavam e eram românticos à sua maneira.

Na história da humanidade, especificamente no cristianismo, também há um beijo famoso, dado quando Judas traiu Jesus por 30 moedas.

O beijo é uma das maiores expressões de amor que o ser humano conhece.

Em artes visuais, um casal, coberto pelo manto dourado do amor, define assim o sentimento no quadro O BEIJO que Gustavo Klimt pintou entre 1907 e 1908.

Paixão, movimento e entrega total emanam de uma das mais famosas esculturas de Auguste Rodin, O beijo.

O beijo é uma demonstração de afeto entre as pessoas e existem diversos tipos de beijos. O beijo na orelha, por exemplo, é mais dado entre casais, mas também existe o beijo no nariz, no olho, no queixo, na testa e muitos outros.

O beijo é o termômetro de uma relação. Fiz até um poema para finalizar:
“Beijar-te
e fazer filosofia
Com tua língua;
Doce idioma
sem palavras.”

Carlos Holanda

Pintura rupestre do "Beijo" no Boqueirão da Pedra Furada; Parque Nacional da Serra da Capivara, PI; Foto: Palê Zuppani

domingo, 6 de dezembro de 2020

Opinião: Assunto de estado.

 


Não sei como dorme um político que se aproveita do erário, da merenda escolar, da verba da educação, da saúde e de tantos outros benefícios que o povo poderia ter. Talvez inebriado pelo poder e por saber que existe uma lei que o impede de ser preso chamada imunidade parlamentar.

Alguns desses senhores, enriquecem ilicitamente usufruindo dos recursos públicos indevidamente e, tendo participação direta ou indireta, cometem crimes que, por assim dizer, são crimes de morte. E, sobre outras circunstâncias, podem ser considerados genocidas, psicopatas, seriais killers, uma vez que fecham os olhos para tantos problemas por falta de estruturas sociais, não por falta de verbas. Por conta disso, dessas malversadas atitudes, há até casos de morte no país.

Posar de diplomata num estado pobre (ou rico), utilizando-se do poder público em causa própria também é crime.

Blindados em seus gabinetes, onde o povo não tem vez, usam uma máscara de dia e outra à noite, e isso não é de forma alguma discriminação, é a realidade.

Tem uns que fazem a “coisa” tão bem feita que nem a justiça percebe ou finge que não vê, pois tem o artifício de criar “laranjas” com CNPJ para lavar o dinheiro. Isso também não é novidade, visto que é noticiado constantemente em redes sociais e cotidianamente na imprensa.

O dinheiro não fala, ele insulta. Com esse vil metal, o "homem" despe-se de sua consciência, de seu caráter e consegue dormir satisfazendo seu ego e suas fantasias, porque a fome de poder sem se importar em quem irá doer, protegido pela lei é mais forte.

A Justiça está cega e talvez seja por isso que todos os cafajestes durmam bem, até o nosso hino conspira a favor:
“...Deitado eternamente em berço esplêndido
Ao som do mar e à luz do céu profundo
Fulguras, ó Brasil, florão da América
Iluminado ao sol do Novo Mundo!...”


Carlos Holanda

Felicidade

 


Um homem muito rico e sério vivia num corre-corre sem fim. Reuniões importantes, viagens de negócios, visitas às empresas do grupo e papelada para assinar todos os dias.

Sua secretária, que pouco sabia de sua vida particular, acompanhava todas as negociações e agendava tudo.

Certa vez, entrou sem bater na sala e, para sua surpresa, encontrou o empresário a soluçar, chorando muito, então, tentando entender o que se passava indagou sobre o acontecido e o que poderia fazer.

A resposta não era tão simples assim. Para quem com tanto dinheiro, não podia comprar a felicidade. Seu filho, o primogênito, era cego, surdo e mudo.

Dinheiro proporciona momentos felizes mas não compra felicidade.


Por Carlos Holanda

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

A tela

 


Um retângulo preto com um pequeno círculo vermelho um pouco acima do meio do lado e mais à esquerda é o que todos vemos obviamente. Mas o que é isso? Não tem sequer um vulto, uma silhueta, nada. Apenas duas cores nessa composição sem profundidade ou perspectiva. Também não tem textura e nem marcas de pincel.

É uma tela pintada à óleo, um abstrato, que desafia a sua curiosidade em decifrar o que o artista quer transmitir, e é por isso que muitas vezes as pessoas ficam horas a fio com a mente aguçada imaginando coisas sobre determinadas obras.

De beleza plástica singular, com esse fundo preto e apenas um pingo de tinta vermelha a obra está pronta, concluída, esperando por uma resposta sua como quem diz: leia-me. Decifre-me. Eu sou um enigma. Mas você como a maioria dos mortais pensaria: Eu, sinceramente, não colocaria essa coisa na minha parede. Isso é obra para museu.

Pois é, quem iria imaginar que o artista quer mostrar um personagem do folclore brasileiro, que também ninguém vê mas faz parte do imaginário? – Leitura: É um Saci Pererê que sai altas horas na escuridão da noite dando umas pitadas em seu cachimbo? Vendo de longe, poderia também ser um Preto Velho fumando charuto no meio da escuridão.
Mas alguém disse – Não vejo nada nessa obra, a não ser esse fundo preto e um minúsculo círculo vermelho, que não significa nada.

Nem todos os olhos estão treinados para observar a arte que os desafia a desvendá-la.


Carlos Holanda

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

O tesouro de Cristina

 


Os pais de Cristina eram arqueólogos e se conheceram em um sítio arqueológico. Numa dessas pesquisas em busca de relíquias encontraram um baú que mais parecia uma tumba e deram um jeito de leva-lo para casa. Algum tempo depois, levaram-no para uma cabana de sua propriedade afastada da cidade.

O destino é cruel em certos casos. O casal morreu em um acidente de carro quando iam voltar para casa e foram sepultados no terreiro da cabana. Provavelmente uma maldição os engoliu. Não tiveram tempo de abrir a grande caixa de madeira envelhecida pelo tempo.

Um ano depois, Cristina manda celebrar uma missa para seus pais e logo após, decide ir até a cabana para acender umas velas em sua intenção. A moça não sabia da existência do baú. Era um segredo absoluto mantido pelos pais, mas, curiosa, ela resolve dar uma olhada em tudo quanto é objeto mantido ali.

No canto empoeirado, coberto com lona e cercado por teias de aranhas está o enorme baú. Cristina consegue abri-lo, e dentro encontra uma maleta folheada a ouro.

– Meu Deus! É um tesouro! – exclama a moça. E com muito trabalho, usando alicate, martelo e uma pequena alavanca consegue abrir. Para sua surpresa, uma cortina de fumaça esverdeada toma conta do ambiente e logo uma voz rouca sussurra – Venha! Estava esperando por você para me libertar em seu corpo.

Cristina foi sugada para dentro da caixa de ouro, e assim, esperará alguns anos para ser libertada também.


Carlos Holanda

Barril de pólvora

 


Como disse o presidente: “temos pólvora”. Temos sim. Temos barris de pólvora em cada capital da nação. Estamos sentados bem em cima. E pelo visto, as fagulhas estão explodindo um atrás do outro; como pavios de dinamite, uns com estopim maior e outros com estopim menor.

 

O governo completa mais de 700 dias no poder, comemora e sem trabalhar, faz campanha visando o pleito de 2022.

 

Diante de uma pandemia, o ministério da saúde vem a público em vídeo dizer que a população tem que se precaver, consultar os médicos nos postos de saúde e tomar o medicamento – cloroquina – para se prevenir contra a Covid 19 nas festas de final de ano e Réveillon. Não faz menção ao uso de máscaras e nem ao distanciamento social. A fala por si só já configura crime, uma vez que não há comprovação científica do medicamento.

 

O Brasil nesse momento é um grande barril de pólvora. Haja vista que houve um apagão em um dos menores estados do país e ainda está sem solução. E o que o governo diz? ‘Que poderá sim, haver mais apagão em todo país’, quando na verdade poderia instituir o horário de verão para evitar o caos de energia.

 

O estopim está aceso e a bandidagem ocupa espaços onde o sistema não prevalece com a força policial. Basta ver que recentemente foram realizados dois grandes assaltos a bancos por quadrilhas fortemente armadas com armas de grosso calibre, capaz de derrubar helicópteros. Um assalto aconteceu em Criciúma e no dia seguinte em Cametá. Nos dois atos violentos com mais de 20 bandidos, houve tiroteio intenso e foram feitos reféns. Isso é ou não é um barril de pólvora, que por sinal, motiva outras facções a continuar?

 

São 700 dias de queimadas sem as devidas providências. São dias infernais de pandemia com mais de 170 mil mortos e nenhuma providência,  lamentação ou palavras de conforto às famílias enlutadas.

 

Barril de pólvora é não fechar as praias e não proibir aglomerações nas festas de fim de ano para evitar a segunda onda do vírus. Mas, não culpo só o governo. A culpa de contaminação também é do povo inconsequente e sem consciência do que está acontecendo no país, seja na área política, ou de ciência e educação.

 

E finalmente, estamos sim, sentados em um barril de pólvora tentando apagar com gasolina o estopim aceso. Mesmo sem querer ser o ‘pai Diná’, a previsão é de que vai explodir em 2021. Deus queira que eu minta.

 

Carlos Holanda


terça-feira, 1 de dezembro de 2020

EVA VS AVA

 


Escrevi uma história que se inicia no primeiro episódio com o título "CRIATURAS", onde dois cientistas fazem experiências genéticas com animais e seres humanos. O segundo episódio é intitulado "EVA", uma heroína criada nesse laboratório. E por incrível que pareça, hoje vi na grade de streaming da Netflix o lançamento do filme "AVA". Embora Ava não tenha sido criada em laboratório tem qualidades e habilidades semelhantes às que atribuí à EVA. Parece que leram meus pensamentos.