domingo, 29 de janeiro de 2017
segunda-feira, 23 de janeiro de 2017
domingo, 22 de janeiro de 2017
GINA, A Caçadora VII - Pedófilos
Gina passeia
pela cidade, pelas praças, e resolve ir à igreja fazer uma oração. Na verdade
ela só foi à igreja duas vezes: uma quando foi batizada e a outra na missa de
sétimo dia da sua mãe. Demora pouco mais que os outros e ao sair, percebe que
um menino está muito triste sentado na calçada. Senta ao seu lado e puxa
conversa. O garoto que tem pouco mais de doze anos não dá a mínima atenção. Não
compartilha com o que ela fala. Seu pensamento está distante. Ela não é de
desistir facilmente e parte para outra tática.
- Lá vem o
carrinho do picolé. Nesse calor é bom! Quer um? Eu pago.
O menino
meio desconfiado, aceita, mas não fala nada. Apenas acena com a cabeça.
Gina insiste
mais um pouco, mesmo sabendo que tem de cuidar de seus afazeres lá no povoado.
- Vamos lá,
garoto, gostou do picolé?
- Gostei!
- Cadê seu
pai e sua mãe?
- Moro com
meu padrasto. Ele bebe muita cachaça, se embriaga e me bate. Não posso voltar
agora pra casa, a essa hora ele já bebeu.
- Quer ir lá
para casa comigo?
- Não posso.
- Por quê?
- Sabe o que
é um coroinha?
-Sei. Você
ajuda o Padre na missa?
- Sim.
- Por que
você não conta para ele sobre seu pai?
- É pior.
- Por que é
pior?
- O Padre é
quem dá dinheiro para meu pai.
- E por que
ele faz isso? Seu pai não é quem poderia ajudar a igreja.
- Acho que
sim.
- Então!
Qual é o motivo dele dar dinheiro para seu pai?
- Moça, preciso ir...
- Para onde
você vai?
- Não sei.
- Como é seu
nome?
- Gabriel
Sousa.
- Gabriel,
onde você mora?
- Na última
casa, daquela rua. Bem em frente a um curral de bois. Uma casa amarela da
calçada alta.
- Tudo bem!
Se eu vier à missa de domingo, você fala comigo? Seremos amigos?
- Sim, falo.
- Então,
fica com Deus!
Quando Gina
vira as costas, Gabriel corre e lhe dá um abraço bem apertado. Ele sentiu que
poderia confiar nela.
Despedem-se
e cada um segue seu rumo.
Já em casa,
no almoço, Gina comenta com a família o ocorrido.
- Júlio, aconteceu
uma coisa hoje.
- O que foi?
- Vi um
menino triste e meu coração pediu que falasse com ele.
- E daí,
Gina? Tem um monte de crianças sem pai, sem mãe ou abandonadas nessa cidade.
- Sim, tem,
eu sei, mas esse garoto é um caso à parte.
- Como você
sabe disso?
Seu João
Lobo entra na conversa.
- É melhor
vocês comerem. Tem muita coisa para fazer. Já não basta os problemas daqui?
- Pai, eu vi
nos olhos dele, que tem algo errado. Ele disse que o Padre dá dinheiro para o
pai dele.
- Oxe! Ele
só está ajudando mais um cristão. Isso é normal. Mas, porque o Santo homem iria
dar dinheiro assim?
- Não sei
Júlio. É isso que me deixa intrigada.
- Gente,
vamos cuidar da labuta daqui, que o Padre cuida da Igreja e dos fiéis dele.
- Pai, vamos
ouvir a Gina.
- Não tenho
mais nada para falar. Domingo irei para a missa novamente e depois me
encontrarei com ele!
- Vai virar
beata agora, irmã?
- Júlio
deixe sua irmã em paz.
-
Terminaram? Vou lavar os pratos só pra dar uma mãozinha pra vocês!
- Eu vou te
ajudar aqui limpando a casa.
- Júlio,
ajude-a, que vou campear umas vacas que estão perdidas, desgarradas por aí.
- Tá bom,
pai.
- Júlio,
nesse angu tem caroço...
- Te mete
com religião não, Regina. Deixa esse povo para lá.
- Júlio, eu
desconfio que há algo errado com aquele menino. Não engulo essa de Padre dar
dinheiro para homem, quanto mais quando a família não tem a mãe e ele é um
cachaceiro.
- Ave Maria!
Aqui em casa a nossa mãe não está presente, faz tempo.
- É. Você
tem razão até certo ponto, mas o pai é um homem digno, trabalhador e nunca
levantou a mão para nenhum de nós. A nossa mãe, até onde eu sei, também foi
muito honesta e exemplar.
- Vamos
falar nisso mais não. Você sabe que quando lembro, dá vontade de chorar.
- Tá bom
então, homem sensível. Vamos terminar essa labuta aqui.
Enquanto
isso, na Casa Paroquial o Padre Ângelo chama todos os coroinhas para uma
reunião.
- Já que
estão todos aqui, vamos fazer a escalação dessa semana, certo? O Gabriel dorme hoje na Casa Paroquial, os
outros estão dispensados para irem para casa. O Padre Francisco já está com a
relação de quem terá folga esse mês. Temos muitos pães aí, e cada um de vocês
pode levar uns para casa.
Os garotos
levantam-se da mesa e correm para os cestos de pães, pegam o que convém, e vão
embora.
- Gabriel,
vá se lavar, faça sua refeição e vá para o quarto, enquanto tenho uma conversa
com Padre Francisco.
- Sim,
Senhor!
- Francisco,
tu chegou aqui primeiro, ninguém desconfia dessa falcatrua. Já faz um ano que
celebra missa. Você é um homem "preparado". Já temos um bom dinheiro guardado. No
final do ano vamos repassar essa Igreja para outros padres.
- Concordo
com você! De anjo você não tem nada, além de pedófilo, você assassinou um padre
e tomou o lugar dele. Vamos continuar com o plano.
- Meu
caríssimo Ângelo, não sei qual a necessidade que teve de você fazer essas
observações a meu respeito. Melhor ter cuidado com o que fala.
- É só para
lembrar, que eu planejo e você executa. Pensei ter dito antes que passaríamos
três anos em cada lugar. Então você vem com essa proposta. Assim, passa por
cima das minhas regras.
- Não vou
discutir com você. Irei fazer o que você disser. Desconsidere tudo que falei.
- Já até esqueci.
Vai dormir com teu garoto, e olha, esse menino tá esquisito. Eu não aprovo
isso. Em outras circunstâncias eu te mataria.
- Bom saber
disso. Nós não estamos nos entendendo muito bem. Boa noite, Padre! Vou me
divertir um pouco.
- Deus tenha
misericórdia da tua alma, e duvido muito que ele tenha.
- Tu cuida
da tua vida, que cuido da minha. Ah, e mais uma vez, cuidado com o que você
fala.
- Isso é uma
ameaça, Padre?
- Não. Vai,
vai...
Os dias
passam e chega o final de semana. Um lindo domingo ensolarado. Logo os
coroinhas começam os preparativos para missa.
- Hoje vamos
falar da parábola do bom filho que retorna à casa do pai...
Após a
celebração, Gina é a primeira que sai e vai para um ponto do adro da igreja
esperar por Gabriel que logo se apresenta como prometeu.
- E aí
Gabriel Souza, tudo bem?
- Não. Não
está tudo bem.
- O que
houve agora?
- Quero te
contar uma coisa. Um segredo. Posso confiar mesmo em você?
- Claro! Vim
aqui pra te ajudar.
- Então
vamos para a praça. Lá é melhor.
- Vamos sim!
À sombra de
uma mangueira, o menino conta tudo o que se passa naquela casa paroquial. Diz
também ter ouvido sobre o outro Padre que, na verdade, não foi transferido para
outra cidade e sim assassinado pelos atuais e setá enterrado no quintal..
- Isso que
você me disse é muito grave. Quem mais sabe dessa história?
- Só eu ouvi
o que eles tramaram, mas já contei para os outros garotos.
- Quero
conversar com vocês todos juntos. Pode ser?
- Pode. Vou
falar com eles e marcar uma horinha dessas.
- Amanhã,
então, certo?
- Certo! Mas
o que você vai fazer?
- Não se
preocupe. Vamos tomar providências. Isso vai acabar logo.
- Tomara
mesmo. Eu não aguento mais.
- Seu pai
também será preso por conivência com esses falsos padres.
- Não me
importo. Já não sinto mais nada por ele também.
- Certo.
Tenho um plano. Amanhã depois da reunião, vocês todos terão que se esconder e
não retornarão à igreja. Deixem comigo que farei o resto.
- Mas o que
você vai fazer, mesmo?
- Gabriel,
meu anjo, confie em mim. Vai dar tudo certo. E não faltem ao nosso encontro.
- Tá bom.
Acredito em você! Agora tenho que ir.
- Vai com
Deus!
No dia seguinte,
após a reunião, só Gina saberá onde encontrará os garotos. Sua primeira visita
é à igreja...
- Bom dia,
Padre!
- Bom dia,
minha filha. Seja bem vinda à casa de Deus! Em que posso lhe ajudar?
- Padre, sei
que não é um momento apropriado, mas preciso me confessar.
- Bem, a
casa do Senhor está aberta a todos independente de horário. Vamos ao
confessionário.
- Vamos.
Obrigado pela sua atenção.
- Conte-me
seus pecados, minha filha.
- Padre, eu
tenho muitos. Daria um livro. São tantos que até eu tenho medo.
- Comece a
contar e lhe darei uma penitência..
- Todos os
meus pecados foram cometidos por justiça. Agora vem a parte interessante. Conte-me os seus.
- Minha
filha, eu não entendi.
- Molestar
crianças, seduzir e praticar ato sexual com menor é crime.
- Do que você
está falando?
- Sei também
que vocês assassinaram o Pároco dessa igreja e tomaram o lugar dele.
Estão
enganando uma cidade inteira. Acaba aqui e agora essa farsa.
- Quem é
você? Quem te mandou aqui?
Antes que o
falso Padre possa tomar qualquer decisão, uma corda laça seu pescoço e o
enforca. Gina sempre age com planejamento.
- Você nunca
irá descobrir.
Gina vai à
delegacia contar que viu o Padre enforcado no confessionário e como testemunhas,
outros fiéis e os garotos, que confirmam as desavenças entre os dois e os
crimes de pedofilia. O comparsa vai preso como cúmplice dos crimes e leva a
culpa por ter assassinado o Padre. O pai de Gabriel também é indiciado e preso.
Gina leva o
garoto para morar em sua casa por um bom tempo e conta à sua família que está tudo bem. Era só
um mal entendido, mas explica que o pai do garoto é um beberrão e por isso ele passará
uns dias em sua casa.
- Se cada um
fizer um pouco pelo outro, teremos um mundo melhor. Gina.
Outra
jornada nos aguarda...
Carlos Holanda
sexta-feira, 20 de janeiro de 2017
História e Curiosidades de Teresina - O livro
O livro História e Curiosidades de Teresina de Carlos Holanda, tem capa cartonada em policromia com aplicação de verniz localizado e vem com 190 páginas em P&B, ilustradas com fotos e desenhos do autor e do artista visual Herbert Veras Viana.
No conteúdo, além da história da capital do Piauí, vamos encontrar também um resumo de quase todos os bairros com detalhes de como surgiram alguns.
O valor do livro é R$ 30,00. Vale a pena conferir. Pedidos por e-mail.
diholanda44@gmail.com
No conteúdo, além da história da capital do Piauí, vamos encontrar também um resumo de quase todos os bairros com detalhes de como surgiram alguns.
O valor do livro é R$ 30,00. Vale a pena conferir. Pedidos por e-mail.
diholanda44@gmail.com
terça-feira, 17 de janeiro de 2017
domingo, 15 de janeiro de 2017
O Músico
Um menino pobre, sem estudos, de família humilde, decide aventurar-se na cidade grande. Ainda menor, porém, com o consentimento dos pais, viaja em busca de uma vida melhor. Sonha todas as noites com o sucesso e espera encontrar uma chance para mostrar seu talento.
Chegando à metrópole, se instala numa pousada simples, bem próxima ao terminal rodoviário. Passa os dias procurando emprego. Recebe muitos nãos como resposta, mas não desiste. Passa a ser flanelinha, para se sustentar, vigia carros e tira o suficiente para se manter, mesmo assim, ainda passa fome. Não tem regalias e nem lazer. Sempre aos finais de semana, senta numa calçada movimentada, tira sua viola do saco e começa a tocar. Intercala sua arte com realejo. Também brinca com o triângulo.
É então, que lhe ocorre a ideia de colocar o boné no chão com a boca para cima. Os transeuntes se aglomeram ao seu redor para admirar sua arte musical. Até consegue juntar algum dinheiro. Na segunda feira começa novamente a lavar e vigiar carros.
Durante uns dois meses, de segunda a sexta era flanelinha. Sábado e domingo, músico em praça pública. A quantidade de fãs crescia a cada final de semana.
Um senhor de meia idade o observava desde o início e decidiu então, propor-lhe uma parceria, pois tinha uma rede de restaurantes e procurava talentos assim para animar as noitadas. Felipe, o garoto, aceitou fazer um teste. Comprou uma muda de roupas e foi ao encontro do empresário em um dos estabelecimentos. Tocou bonito os três instrumentos: violão, realejo e triângulo. Para surpreender e impressionar ainda mais apresentou sua arte com flauta doce. Foi aplaudido de pé.
O empresário passa a apresentá-lo em outros seis estabelecimentos de sua propriedade e, em cada um Felipe é mais aplaudido. Ambos estão satisfeitos. O garoto passa a ganhar dinheiro, inclusive para enviar à sua família.
Dois anos depois, Felipe é convidado para uma banda renomada com o apoio do seu amigo empresário. E ganham dinheiro juntos.
Sabe, a felicidade às vezes não está onde você esperava que estivesse. Procure-a, e acharás.
Por Carlos Holanda
terça-feira, 10 de janeiro de 2017
Lendas do Piauí e do Brasil
Em breve será lançado em Teresina o livro: Lendas do Piauí e do Brasil. As lendas são narrativas do poeta, escritor e artista visual Carlos Holanda e as ilustrações são do artista Herbert Veras Viana.
sábado, 7 de janeiro de 2017
A NAVE
Foto divulgação
Um caboclo do interior, depois de tomar umas e outras e se embriagar em um forró pé-de-serra numa casa de taipa, coberta de palha, ao som de zabumba, triângulo e sanfona, decide ir embora. Já passa da meia noite, a lua de vez em quando se esconde.
Monta seu burro bem arreado e segue. É um longo caminho pela frente na estradinha de chão, de areia solta e poeira. Entra por veredas de mato fechado, onde o escuro é de meter o dedo no olho e nada ver. O animal parece conhecer o caminho de casa, mas, assusta-se com um clarão inesperado de luzes multicoloridas, derrubando seu dono e o abandonando. O animal embrenha-se no mato e some.
João, o caboclo do interior, nunca mais foi visto. Foi abduzido.
Carlos Holanda
segunda-feira, 2 de janeiro de 2017
GINA, A caçadora VI - Vingança
A
vingança é um prato que se serve frio, diz o ditado popular. Os sistemas legais
modernos ocidentais geralmente afirmam que sua intenção é a reabilitação ou a
reinserção na sociedade. Porém, mesmo nestes sistemas a noção de justiça como
vingança persiste em setores da sociedade.
Sobre as bases morais,
psicológicas e culturais da vingança a filósofa Martha
Nussbaum escreveu: "O senso primitivo do justo —
notadamente constante de diversas culturas antigas a instituições modernas começa
com a noção de que a vida humana é uma coisa vulnerável, uma coisa que pode ser
invadida, ferida, violada de diversas maneiras pelas ações de outros. Para esta
penetração, a única cura que parece apropriada é a contra invasão, igualmente
deliberada, igualmente grave. E para equilibrar a balança verdadeiramente, a
retribuição deve ser exatamente, estritamente proporcional à violação original.
Ela difere da ação original apenas na sequência temporal e no fato de que é a
sua resposta em vez da ação original — um fato frequentemente obscurecido se há
uma longa sequência de ações e contra ações".
A ética da vingança é acaloradamente debatida na filosofia. Alguns
acreditam que ela é necessária para manter uma sociedade justa. Em algumas
sociedades se acredita que o mal infligido deve ser maior do que o mal que
originou a vingança, como forma de punição. A filosofia de "olho por
olho" citada no Velho Testamento da Bíblia ( Exôdo 21:24 ) tentou
limitar o dano causado, igualando ao original, para evitar uma série de ações violentas que escalassem rapidamente e saíssem do controle. Outros
argumentam contra a vingança alegando que se assemelha à falácia de que "Dois erros fazem um acerto". Alguns cristãos interpretam a passagem de Paulo "A mim
a vingança; a mim exercer a justiça, diz o Senhor" ( Epístola aos
Romanos 12:19, na versão da Bíblia Sagrada) significando que apenas Deus tem o direito de praticar a vingança.
Do alto da montanha um
cavaleiro solitário observa a cidade. Após estudar bem como entrar e como sair,
pois de lá, daquela altura, daria pra ver bem os pontos de fuga no horizonte. Ele
resolve então, procurar um lugar para se hospedar.
Imagem divulgação Web
Sun Tzu disse: “Se você conhece o inimigo e, conhece a si
mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas
não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se
você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas”.
Um homem armado como
esse, tem sede de vingança e tem seus motivos, embora as leis prometam fazer
justiça prendendo, julgando e condenando, mas ele não acredita nisso, até
porque já se passaram meses e não houve nenhuma prisão e muito menos
julgamento. Decidido, ele quer fazer justiça com as próprias mãos. Essa não é
uma prática salutar e tampouco convencional, mas o homem está convicto de que a
lei não funciona ali. Eram três irmãos e a última notícia que teve foi de que
os dois que vieram se aventurar naquele município foram assassinados.
Miguel também é, assim
como seus irmãos, um indivíduo de alta periculosidade e não tem nenhuma pista
de quem os matou, mas tem certeza que o encontrará e tentará punir à sua
maneira...
Sem saber ao menos por
onde começar, encontra a pousada mais barata; ele não quer luxo mesmo, só um
lugar para dormir. Depois de se informar, termina por se arranchar na pousada
simples de Dona Luzia.
Gina acordou muito
cedo e passa a manhã treinando com arco e flecha.
Rita pede ao pai que a
leve na casa da amiga, afinal é um final de semana e não tem muito o que fazer,
a não ser trocar umas ideias. Seu Manoel diz ter outros afazeres e autoriza que
ela vá a cavalo e que pode até passar o dia por lá.
Miguel, por sua vez começa
uma série de indagações sobre seus irmãos na pousada de Dona Luzia.
- Dona Luzia, nessa
cidade a lei não funciona muito bem, não é?
- Olha! Isso aqui é o
fim do mundo. A gente vive assustada. A polícia só tem um delegado e três
policiais. A única viatura que tem, está no prego faz dias. Não tem como fazer
uma diligência. A cidade está entregue às moscas e ao deus-dará.
- Me desculpe
perguntar, mas tem alguém preso?
- Rum! Tem nada! Quando
alguém vai pra cadeia, se tiver dinheiro, num instante sai. O juiz também nem
para por aqui. Passa maior parte do tempo na capital.
- E o prefeito, que é
a autoridade máxima, o que ele faz quanto a isso?
- Não faz! É outro par
de calças que anda com uma reca de jagunços pra se proteger. Só pensa nele e na
família dele. E o povo que se lasque.
- É complicado, Dona
Luzia. Eu mesmo não acredito nesses políticos.
- Nem eu. A gente só
vota porque é obrigado. Eles só se lembram do povo no tempo das eleições.
- Vou ter que dar umas
voltas por aí pra conhecer a cidade.
- Vá amigo e não se
meta em encrencas!
- Obrigado por se preocupar,
Dona Luzia, só mais uma última pergunta, pode ser?
- Pergunte, não dói e
nem pesa responder.
- Eu soube que mataram
dois homens de bem violentamente, há alguns meses, já solucionaram esse caso?
Prenderam quem cometeu tamanha crueldade?
- Meu amigo, esse e
outros casos me parecem que ainda não foram descobertos. Um foi lá pras bandas
do cabaré de Maria Preta. O outro foi num cassino que tem no centro. De mais
nada eu não sei. Por que o senhor está tão interessado nessas coisas?
- Nada não. Como a Senhora
mesmo disse: responder não dói e nem pesa, creio que perguntar também não. É só
curiosidade mesmo de um estranho nas terras alheias.
- Tá bom!
- Vou lá, Dona Luzia...
- Vai com Deus!
Rita chega à casa de
Gina bem empolgada com o que tem a dizer para sua amiga.
- Bom dia, Seu João
Lobo!
- Bom dia filha!
- Quero falar com a
Regina, ela está aí?
- Está! Entre.
- Oi amiga! Tenho uma
coisa para te falar.
- Oi Rita! Então vamos
lá para fora. Meu pai não pode ouvir essas histórias.
- Está bem. Vamos.
- Fala!
- Ouvi meu pai falar
para minha mãe que, enquanto jogava baralho com seus amigos e o cabo de
polícia, ele falou que chegou um forasteiro na cidade, procurando informações
sobre aqueles que você...
- Sei. Que eu matei.
- É. E agora o que
você vai fazer?
- Não sei ainda. E o
que ele quer mesmo, seu pai falou?
- Só disse que parece
que ele é irmão deles.
- Vixe! Pois o caldo
vai engrossar Rita. É melhor você deixar de vir por aqui, enquanto ele não vai
embora. Pode ser perigoso demais estar aqui em casa. Cedo ou tarde ele vai
aparecer. O povo tem a boca grande.
- Vou ficar de olhos e
ouvidos abertos perto do pai. Quando tiver novidades lhe direi.
- Tá ótimo, assim!
Miguel cavalga
devagar, quase trotando em seu cavalo preto, um belo manga-larga! É então que
lhe vem um estalo, visitar o cabaré de Maria Preta.
- Bom dia, Senhora!
Gostaria de falar com a proprietária.
- Pois pode falar, sou
eu mesma.
- Eu vou ser bem
direto para não tomar seu tempo.
- As meninas não ficam
aqui pela manhã, mas se quiser mando chamar.
- Não! Não é sobre
isso que quero falar. Gostaria de lhes perguntar sobre um acontecido criminoso
há alguns meses.
- Vixe! Olha, moço, eu
não sei de nada, não, visse?
- Como não sabe? Os
dois homens foram mortos aqui no seu estabelecimento.
- Meu Senhor, é
verdade que esses homens vieram para cá, mas só no dia seguinte é que foram
encontrados mortos. Foram esfaqueados...
- E quem fez isso?
Você não sabe quem entra ou sai daqui?
- À noite é bem
movimentada aqui.
- Dona Maria, me
desculpe pela franqueza, mas tenho quase certeza de que a Senhora sabe quem foi
para o quarto com eles.
Passa um filminho na
cabeça de Luzia, um flash.
- Vou lhes dizer uma
coisa, mas você sabe, informação exige duas coisas.
- Diga.
- Recompensa e sigilo.
Pode fazer isso, se é que me entende?
Miguel puxa um valor
que acha adequado e lhe entrega.
- Muito bem, falamos a
mesma língua. Não sei muito, mas recordo que naquele dia, uma moça morena,
muito bonita, veio aqui, fez umas perguntas e os levou para o quarto. Nem
demorou muito. Saiu e disse que eles estavam no céu.
- Quantos anos tem
essa mulher?
- Senhor...
- Miguel. Meu nome é
Miguel.
- Acho que não passava
de dezoito anos, por aí, viu?
- Eles eram bem fortes
para serem mortos, os dois, tão rápido e perversamente por uma garota tão
jovem.
- É. Eu também
duvidei. A polícia arquiva quase tudo aqui, mas mandaram esse processo para a
capital.
- Nem vou procurar na
Delegacia. Você sabe me dizer onde ela mora?
- Não sei ao certo, mas
ouvi falar que é num povoado que fica para as bandas da saída da cidade,
entrando numa estrada de chão, depois da ponte, à direita. De mais nada não
sei. Ela nunca tinha vindo aqui.
- Fica com Deus! Vou
dar uma olhada por aí...
Miguel volta para a
pousada, vai almoçar e arquitetar seu plano de vingança.
Enquanto isso, Regina
pede a Júlio que lhe ajude a cavar um buraco bem fundo, tipo uma cova em uma
das veredas mais distantes uns cem metros da sua casa. O irmão sequer pergunta
para o que é e no final da tarde já está feito o serviço. Gina diz que fará o
resto do que planeja.
No dia seguinte, de
manhã, Miguel bate à porta de João Lobo.
- Ô de casa! Ô de
casa!
Ninguém atende. Regina
como já esperava a visita indesejada, grita a uns cinquenta metros:
- Quem é você e o que
quer?
- Quero conversar e
pedir para me arranchar por um dia.
- Conversa furada!
Você não é dessas bandas e não tem nada para fazer aqui.
- Ah! Tenho sim! Vim
saber da história real, do crime que envolve meus irmãos. E tenho certeza que
você é a culpada!
- Eu não. Eles. Você
não sabe a metade da missa.
- É de fato, posso não
saber, mas vou te dizer uma coisa, você não vai contar essa história para
ninguém, sua vagabunda, criminosa.
Nesse momento, Miguel
arrasta seu rifle da sela do animal e atira.
- Você é o mais
covarde dos três. Para falar com uma
mulher, vem armado até os dentes.
- Só vim te matar e
vou embora.
- Vem me pegar! Atiça
Gina.
Gina corre na vereda e
some no mato. Miguel corre em sua direção, pensando ser uma presa fácil, viu-a
desarmada.
- Vem cá negra,
safada! Vou te mostrar quem é covarde!
Cautelosamente, como
quem caça um animal, põe um pé atrás do outro.
Vou te encontrar e te
sangrar como quem sangra um porco. É isso que você merece.
Desapercebidamente
Miguel cai no buraco que Júlio havia feito. Era uma gangorra, tamanho família,
com uma boca de dois metros por um, coberta com terra fina e folhagens. Dentro,
estacas pontiagudas que o atravessaram em quatro ou cinco pontos no tórax e
estômago, além das pernas. Os pontos vitais foram atingidos. Não haveria como
escapar e ali mesmo seria enterrado.
- Quem é negra safada
agora? Não saia da sua sepultura, esse é seu lugar.
Antes de tudo
acontecer, essa manhã, muito cedo, João Lobo e o filho foram à cidade vender
suas peles.
Gina esperou Júlio
chegar para lhe ajudar a enterrar o “assunto”, que em outra linguagem chamariam
o cadáver de presunto.
- Júlio, está feito!
Na vida, nem tudo é como a gente quer ou planeja. A vida tem muitas escolhas,
mas essa não foi a minha.
- Eu entendo
Gina. Pelo menos é mais um bandido fora
de circulação. Esse não fará mal a ninguém daqui pra frente. Mas essa com
certeza não é a coisa certa. Vamos terminar caindo em maus lençóis.
- Depois quero
conversar com você sobre nós. Nesse momento vou refletir sobre o que já foi
feito. Certo ou errado, não somos nós que vamos julgar. Há coisas que fazemos
por questões de sobrevivência, mesmo contra nossa vontade.
#NossasLendas PORCA DO DENTE DE OURO
Conta a lenda que há muito tempo, vivia em Teresina, uma moça namoradeira, danada, desobediente e por causa de um rapaz por quem nutria admiração, travara uma terrível briga com a mãe que não o aceitava, entre tapas e empurrões deu uma dentada na velha que arrancou um tampo do rosto. Depois disso, a jovem trancou-se no quarto e não queria conversar com ninguém, como que arrependida e traumatizada. Só abria a porta para receber comida e água.
À meia noite, transformava-se em uma porca grande, feia e com um dente grande de ouro. Costumava vagar pelas ruas escuras, pelos subúrbios como os bairros Por Enquanto, Mafuá e Cajueiros. Também andava pela Vermelha, Barrocão, Piçarra, Catarina, Ilhotas, Matinha, Dirceu e Matadouro. Percorria tudo. Dizem que ainda hoje, vive trancada no seu quarto saindo apenas à meia-noite na forma bizarra de uma porca.
domingo, 1 de janeiro de 2017
Mapa do Piauí em grande formato (Plotter)
MAPA DO PIAUÍ TURÍSTICO, POLÍTICO E RODOVIÁRIO 2017
Atualizado, impressão digital em lona (tipo banner) policromia, no formato 120 X 80 cm.
DETALHES SOBRE O MAPA DO PIAUÍ
• Mapa ilustrado com fotos atuais.
• Distâncias aproximadas de Teresina às sedes dos municípios.
• Limites dos Estados.
• Rodovias Federais, Estaduais e transitórias.
• Ferrovias, Aeroportos e pistas de pouso.
• Núcleos urbanos.
• Rios, lagos, lagoas, reservatórios e barragens.
• Escala de 1:1.000.000
• Projeção policônica: Meridiano central 54º w r.
• Metodologia: Base cartográfica digital elaborada a partir de rastreamento de satélite LANDSAT (GPS)
• Dados do IBGE/DER
• Projeto Gráfico e pesquisas: Di Holanda.
COMO SOLICITAR
•E-mail: diholanda44@gmail.com
• Telefones: 86 3305.3692 / 9906.3331
VALOR À VISTA = R$ 120,00
Entrega em Teresina: Imediata
Outras localidades via Correios • FRETE GRÁTIS PARA TODO O BRASIL.
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