terça-feira, 7 de janeiro de 2020

O Corvo Contra-ataca - II



O Corvo Contra-ataca – 2 – continuação

–– Prefeito! É uma honra recebê-lo! – cumprimenta Jônatas sorridente.
–– A honra é minha! Você com certeza ajudará nossa administração criando muitos empregos para essa população!
–– Claro! Claro! O Senhor é um homem de visão política que sabe calar seus adversários!
–– Diga-me, quantos empregos diretos seu grupo empresarial vai gerar em pouco tempo! – indaga curioso o prefeito.
–– Bom, pelo menos 500, com terraplanagem, pesquisas, construção e mão de obra especializada. Depois, na continuação, mais mil na construção civil. Mas vamos depender muito do Senhor.
–– E em que posso ajudar nesse empreendimento tão grandioso?
–– Comece desapropriando essa pobreza que está atrasada com IPTU e colaborando com nossos advogados quando forem procurar a prefeitura para resolver os casos provenientes dessas ações. Ou seja, basta colaborar com tudo e fechar os olhos para o que vamos fazer! Construa um conjunto habitacional para esse povo. Coloco minha construtora a sua disposição, ganho a licitação e fica tudo bem. É assim que uma mão lava a outra. Entendeu?
–– Mas Jônatas, esse povo são meus eleitores! Esse é o povo que vota em mim!
–– Prefeito, preste atenção, nós somos o futuro dessa cidade, desse estado, dessa nação e sem os ricos você não se elege a nada. Nem a fiscal de quarteirão!
–– O povo é quem decide! O povo é soberano!
–– Porra nenhuma, prefeito! Quem decide o poder são os poderosos!
–– Jônatas, você desrespeita a soberania, a democracia!
–– Prefeito, não há nada que o dinheiro não compre! Há?
–– Bem, eu quero ser deputado e depois governador, ou senador. Isso está em seus planos?
–– Vamos começar com um apartamento na cobertura! Escolha em qual torre você quer, por favor! Não precisa me dar um nome agora para passar a escritura. Depois, você facilita tudo, e eu banco sua campanha num caixa 2. Concorda?
–– Preciso abrir uma conta fora do país urgente!
–– Pois faça isso e diga-me quanto custa cada vereador para que eu possa depositar o dinheiro!
–– Você não entende de política! Preciso primeiro do apoio de deputados! De uma base sólida! Fazer conchavos e isso não é sua especialidade!
–– Não! Não é! Sou capitalista! Pois diga seu preço!
–– Preciso de uma semana ou pouco mais de quinze dias para formar uma bancada de cima para baixo e não o contrário.
–– Você tem dez dias! E será um excelente governador!
–– Começou a falar minha língua!
–– Não sou poliglota, mas falo alguns idiomas! Dez dias prefeito! Dez dias! Faça acontecer!
–– Quero lojas no shopping e participação no Cassino Riviera. Passo a lista depois! Fechado?
–– Fechado! Mas sem participação no Cassino!
–– Por quê?
–– Por que primeiro quero ver sua boa vontade no investimento!
–– Ok! No que depender de mim, liberarei o que for necessário! Alvarás e documentos pertinentes!
–– Excelente! Fique à vontade para um drink!
–– Claro! Obrigado!
–– Prefeito, se o senhor não se importar, irei atender ao governador que está ali com a comitiva de deputados!
–– Fique à vontade Jônatas! Eu já estou de saída!
–– Não! Não! Fique mais um pouco! Você é importante e tenho muita estima pelo senhor!
–– Está bem! – o prefeito vira-se para um assessor e diz – esse é o homem mais maquiavélico que eu conheço, te abraça como uma serpente, te beija e diz que te ama. Mas te suga até a última gota.
(...)

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