–– Aqui está o homem Capitão. Não deu um pingo
de trabalho. Só é valentão no grupo deles.
–– Então tu és o Lucas! Cabra sem vergonha!
Minha mão tá coçando para fazer uma besteira contigo. Esse punhal já cortou
muitas gargantas, mas hoje, hoje vou me conter em cortar tua orelha. Qual tu
preferes a direita ou a esquerda?
–– Não faça isso senhor, pelo amor de Deus.
–– O filho do Manoel Espicha Couro era meu
afilhado e o que tu fizeste? Matou o rapaz e queria esconder o corpo. Covarde.
Depois sequestrou o presidente da Câmara para extorquir. Tu és um encosto ruim.
–– Eu fui obrigado a fazer isso.
–– Quem te obrigou?
–– O Coronel Messias dos Reis.
–– O teu patrão?
–– Sim Senhor.
–– Ô cabra frouxo. Vocês estão vendo o que é um
homem frouxo? Eu ainda nem encostei a mão nele. Todo homem que faz o que não
presta quando anda só e é acuado é covarde. Quando se sente protegido é
valentão, não é Lucas?
–– Desamarrem-no. Não gosto de bater num homem
amarrado. E ninguém vai interferir.
Assim que o cangaceiro o
desamarra, Gerônimo desfere um soco na boca do estômago de Lucas e quando este
se curva com o golpe outro murro de punho rígido o atinge no rosto deixando o
sangue no canto da boca e no nariz. Os homens vibram.
–– Tem uma coisa que eu não gosto Lucas, é de
traição. Tu ias enganar teu patrão por dinheiro. Ele não te pagava tão bem? Tu
não eras o braço direito dele? Canalha! Não gosto também de chutar cachorro
morto não. Mas isso é só o começo.
Gerônimo
chuta as costelas de Lucas e se escancha sobre seu corpo, põe a mão com força
no pescoço de Lucas e com o punhal na mão direita aparta a orelha esquerda dele.
–– Essa orelha vai para o rosário dos meus
desafetos e não são poucos. Agora, tirem as roupas dele, passem mel, joguem-no no buraco e joguem as formigas para se
alimentarem enquanto o Manoel Chega.
–– Esperem. Quem mais está envolvido nessa trama
política? – indaga o vereador.
–– Se eu falar eles me matam.
–– E se não falar quem te mata sou eu – diz
Gerônimo.
–– Está bem. Se eu falar vocês me deixam ir?
–– Essa decisão é do Manoel Espicha Couro –
responde Gerônimo.
–– É melhor falar logo cabra. A coisa tá ruim
para teu lado – diz outro cangaceiro.
–– O que vocês querem saber?
–– Tu és surdo? Quem são os que estão envolvidos
nessa conspiração – indaga mais uma vez o vereador.
–– O vice-prefeito sabia do plano e foi se
oferecer para nosso partido em troca de proteção e apoio como candidato a
deputado no próximo pleito. Era ele quem passava todas as informações.
–– O vice? Eu desconfiava, mas não tinha certeza
– afirma o vereador – quem mais?
–– O Delegado não está do lado de vocês. Ele só
recebe o dinheiro no final do mês, mas age de acordo com as ordens do Coronel
Messias.
–– O bicho é roto! – afirma Gerônimo - quantos
homens esse coronel tem?
–– No total da fazenda e canavial na casa
grande, são mais de duzentos. Fora os escravos que são prisioneiros e podem
lutar ao lado dele, pois o coronel mantém as famílias como reféns.
–– Tu vais dormir no buraco. E como sou um homem
bom, não vou colocar as formigas.
–– Eu agradeço. Obrigado Senhor.
–– Eu não, mas eles vão. Levem-no.
–– Não, não! Por favor!
–– Tragam a chave do carro. Será um presente
para a Paróquia do Padre Lauro e o Presidente irá fazer a entrega no momento
certo.
–– Gerônimo eu estava
aqui pensando com meus botões e quero sugerir que tu assumas um cargo
importante na cidade – diz o vereador.
–– Que cargo? E eu lá sou homem de assumir
cargo.
–– Veja bem, tu és um homem corajoso, só temente
aos poderes de Deus, não é?
–– Lá isso é verdade.
–– Então homem. Tenho certeza que tu e teu bando
só querem o melhor para o povo e tua família e, depois dessas revelações do
Lucas, creio que tu darias um bom delegado, além do mais, podemos empregar pelo
menos seis homens seus. Todos com salários bons e o teu será o maior.
–– Rapaz tu estás prometendo muita coisa e
quando a esmola é grande o santo desconfia.
–– Diga-me, quanto vale tua vida? Eu estou
juntando o útil ao agradável. Eu falo com o prefeito assim que sair daqui e
tudo será resolvido por decreto.
–– O que é isso?
–– É uma forma provisória enquanto não se
transforma em lei para sanar a situação.
–– Eu até aceito, mas se for com armas novas. As
nossas são antigas.
–– Mas tem uma condição.
–– Qual?
–– Eu faço o pronunciamento na Câmara, o
prefeito sanciona e tu vai ter que lutar ao nosso lado, prender o Jaime,
coloca-lo atrás das grades até tomarmos uma nova decisão.
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