Herança Maldita - Parte VIII
Por Carlos Holanda
Por Carlos Holanda
– Boa tarde amigos! – cumprimenta o delegado.
Vejo que a festança aqui irá entrar pela noite.
– Porra Mauro! Você precisava ligar essa
porcaria de sirene? Você sabe que a Júlia anda com os nervos a flor da pele.
– Calma Gerônimo. Você está me vendo fardado?
Isso não é missão oficial. Só o carro que é da polícia. Estou queimando a
gasolina da prefeitura. Nesse momento é o seu amigo quem está aqui.
– Assim é melhor – diz Júlia mais aliviada.
– Então pega uma cadeira e sente-se conosco –
convida Gerônimo.
– Não irei me demorar. Vim parabenizar a
Júlia por estar livre de tudo. Vocês souberam escolher uma boa advogada. A
papelada e o vídeo são bem contundentes. Os federais tomarão conta do caso
daqui para frente.
– Está bem. Vamos comer e beber. Deixar esse
assunto para outra ocasião – diz Gerônimo.
– Claro! Falei para minha mulher da sua inocência
Júlia. Ela ficou muito feliz.
– Obrigada, delegado. Mas como disse o
Gerônimo, vamos encerrar por hoje esse assunto. Deixar para outra oportunidade.
– Está bem.
Gerônimo entra na casa, pega duas cervejas e
entrega uma para o delegado - amigo de longas datas - e outra para o cunhado. O
churrasqueiro improvisado trás carnes para a mesa.
Um sedan prata estaciona ao lado da viatura
policial. É Karina que vem dar o ar da sua graça e abrilhantar a festa.
Gerônimo não se contém, apressa o passo para abrir a porta do carro e mostrar
seu lado cavalheiro.
– Olá doutora. Demorou, hem?
– Tive que passar em casa para deixar a ração
da minha gata.
– Ah, você tem uma gatinha?
– Tenho. E ela é muito fofa. Vejo que o
negócio aqui está animado, não é mesmo?
– Pois é. Graças a você, a Júlia está muito
contente.
– Imagina! Só fiz meu trabalho.
– Vamos entrar para beber alguma coisa.
– Vamos. Você convidou o delegado?
– Não. Ele é meu amigo de infância e resolveu
aparecer.
– Entendi.
– Essa é a doutora Karina, Xavier. Nossa
advogada de defesa.
– Bonita, ela.
– Bonita e competente. Espere só um instante.
– Fica à vontade, amor.
– Oi doutora. Pensei que você nem viesse
mais. Já está quase de noite.
– Tive que passar lá em casa. Mas está tudo
bem, não é?
– Claro. Só tenho a agradecer. Você foi muito
ágil.
– Não gosto de perder tempo. Naquela mesma
noite falei com o juiz e no dia seguinte, quando o Gerônimo me ligou eu já
estava com a documentação pronta. Só levei alguns minutos para redigir o habeas
corpus.
– Doutora Karina, a advogada de grandes
causas.
– Como vai você delegado? Prepare-se para
receber os federais.
– Tranquilo. Pode deixar. Certamente que eles
me deixarão acompanhar o desenrolar dos fatos, mesmo que não seja oficial.
– É. Pode ser. Com licença. Preciso conversar
em particular com Gerônimo e Júlia.
– Tudo bem, doutora.
– Vou ver aqui se tenho condições de pagar os
honorários dela, Mauro – diz Gerônimo e sorri.
– Oh, rapaz! O que é isso? Assim você me
deixa encabulada.
Júlia é mais discreta, suportou todo tipo de
pressão e não perdeu a postura enquanto Gerônimo está mais entusiasmado e
demonstra sentimentos.
– Atenção! Todas as viaturas. Acidente grave
com vítimas fatais na rodovia 346. Dirijam-se para lá, por favor. Na escuta? –
diz o rádio do carro da polícia.
– Na escuta.
Aqui é o delegado Mauro. Estou a caminho. Câmbio!
Nesse exato momento Xavier recebe uma ligação
telefônica de sua mãe informando-o que seu pai está passando mal. Ele avisa à
sua noiva, tranquiliza a todos que mais tarde dará notícias e sai da festa.
– Gerônimo, Júlia, doutora Karina, vou ter
que me ausentar da festa. Está tudo muito bom, mas, houve um acidente lá no
entroncamento com vítimas fatais. Tenho que ir lá.
– Que pena! Acidentes acontecem delegado. Boa
sorte!
– Gente, até mais – diz o delegado que sai às
pressas.
Um dos homens entra na sala e diz:
– Patrão, sabe quem veio aqui? O Gamelão.
– Quem diabos é Gamelão, Chico?
– O Bafo de Bode.
– Piorou. Não conheço ninguém com esses nomes
estranhos.
– Ah, é o Zé da onça, não é Senhor Chico?
– É esse mesmo. Olha aí viu? A Dona Júlia o
conhece.
– Quem é esse, Júlia? Eu não me lembro dessa
figura.
– É um caçador beberrão. Passa a maior parte
do tempo encharcado na cachaça. Quando não está bebendo, está no meio do mato
com uma espingarda. Já dei alguma ajuda para ele nas poucas vezes que veio
aqui.
– Chico, e o que ele queria, era ajuda?
– Não Senhor. Ele disse que queria mesmo era
lhe contar uma história, um segredo. Sei lá, parece que já tinha bebido umas.
Disse ele que vem amanhã. Passou mais de uma hora sentado lhe esperando.
– Está bem. Estarei aqui amanhã.
– Olhe, tem muita carne assada. Acho que só
vocês não vão dar conta não.
– Beleza Chico. É já nós iremos lá para fora.
– Tem um abacaxi e umas cebolas que já devem
estar no ponto. Vamos experimentar Doutora Karina.
– Vamos sim.
– Antes de saírem da sala, Gerônimo entra no
quarto e quando volta, trás consigo um envelope amarelo e entrega para Karina.
– Olha aqui Doutora, os outros cinquenta por
cento dos seus honorários como combinamos.
– Obrigada. Você nem precisava ter pressa. Eu
ia lhe dar o número da conta para depositar.
– Eu sei que faria isso. Mas passei no banco
e já saquei o dinheiro.
– Então vou acompanhar a Júlia e tomar uma
taça desse vinho.
– É uma delícia! Vou encher a cara.
– Não se afobe maninha. Sabe Karina? Ela nem
é de beber. Essa é a primeira vez em toda sua vida que prova bebida alcóolica.
– Tudo tem uma primeira vez. Hoje é um dia
especial.
– Doutora, vamos sentar ali fora. Quero lhe
pedir opiniões sobre um assunto. E dessa vez, se for o caso, sou eu quem vai
lhe contratar.
– Opa! Agora foi que me interessei pelas
histórias. Não é coisa complicada não, é?
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