quinta-feira, 12 de julho de 2018

Herança Maldita - Parte VIII


Herança Maldita - Parte VIII
Por Carlos Holanda


– Boa tarde amigos! – cumprimenta o delegado. Vejo que a festança aqui irá entrar pela noite.
– Porra Mauro! Você precisava ligar essa porcaria de sirene? Você sabe que a Júlia anda com os nervos a flor da pele.
– Calma Gerônimo. Você está me vendo fardado? Isso não é missão oficial. Só o carro que é da polícia. Estou queimando a gasolina da prefeitura. Nesse momento é o seu amigo quem está aqui.
– Assim é melhor – diz Júlia mais aliviada.
– Então pega uma cadeira e sente-se conosco – convida Gerônimo.
– Não irei me demorar. Vim parabenizar a Júlia por estar livre de tudo. Vocês souberam escolher uma boa advogada. A papelada e o vídeo são bem contundentes. Os federais tomarão conta do caso daqui para frente.
– Está bem. Vamos comer e beber. Deixar esse assunto para outra ocasião – diz Gerônimo.
– Claro! Falei para minha mulher da sua inocência Júlia. Ela ficou muito feliz.
– Obrigada, delegado. Mas como disse o Gerônimo, vamos encerrar por hoje esse assunto. Deixar para outra oportunidade.
– Está bem.
        Gerônimo entra na casa, pega duas cervejas e entrega uma para o delegado - amigo de longas datas - e outra para o cunhado. O churrasqueiro improvisado trás carnes para a mesa.
Um sedan prata estaciona ao lado da viatura policial. É Karina que vem dar o ar da sua graça e abrilhantar a festa. Gerônimo não se contém, apressa o passo para abrir a porta do carro e mostrar seu lado cavalheiro.
– Olá doutora. Demorou, hem?
– Tive que passar em casa para deixar a ração da minha gata.
– Ah, você tem uma gatinha?
– Tenho. E ela é muito fofa. Vejo que o negócio aqui está animado, não é mesmo?
– Pois é. Graças a você, a Júlia está muito contente.
– Imagina! Só fiz meu trabalho.
– Vamos entrar para beber alguma coisa.
– Vamos. Você convidou o delegado?
– Não. Ele é meu amigo de infância e resolveu aparecer.
– Entendi.
– Essa é a doutora Karina, Xavier. Nossa advogada de defesa.
– Bonita, ela.
– Bonita e competente. Espere só um instante.
– Fica à vontade, amor.
– Oi doutora. Pensei que você nem viesse mais. Já está quase de noite.
– Tive que passar lá em casa. Mas está tudo bem, não é?
– Claro. Só tenho a agradecer. Você foi muito ágil.
– Não gosto de perder tempo. Naquela mesma noite falei com o juiz e no dia seguinte, quando o Gerônimo me ligou eu já estava com a documentação pronta. Só levei alguns minutos para redigir o habeas corpus.
– Doutora Karina, a advogada de grandes causas.
– Como vai você delegado? Prepare-se para receber os federais.
– Tranquilo. Pode deixar. Certamente que eles me deixarão acompanhar o desenrolar dos fatos, mesmo que não seja oficial.
– É. Pode ser. Com licença. Preciso conversar em particular com Gerônimo e Júlia.
– Tudo bem, doutora.
– Vou ver aqui se tenho condições de pagar os honorários dela, Mauro – diz Gerônimo e sorri.
– Oh, rapaz! O que é isso? Assim você me deixa encabulada.
Júlia é mais discreta, suportou todo tipo de pressão e não perdeu a postura enquanto Gerônimo está mais entusiasmado e demonstra sentimentos.
– Atenção! Todas as viaturas. Acidente grave com vítimas fatais na rodovia 346. Dirijam-se para lá, por favor. Na escuta? – diz o rádio do carro da polícia.
– Na escuta. Aqui é o delegado Mauro. Estou a caminho. Câmbio!
       Nesse exato momento Xavier recebe uma ligação telefônica de sua mãe informando-o que seu pai está passando mal. Ele avisa à sua noiva, tranquiliza a todos que mais tarde dará notícias e sai da festa.
– Gerônimo, Júlia, doutora Karina, vou ter que me ausentar da festa. Está tudo muito bom, mas, houve um acidente lá no entroncamento com vítimas fatais. Tenho que ir lá.
– Que pena! Acidentes acontecem delegado. Boa sorte!
– Gente, até mais – diz o delegado que sai às pressas.
       Um dos homens entra na sala e diz:
– Patrão, sabe quem veio aqui? O Gamelão.
– Quem diabos é Gamelão, Chico?
– O Bafo de Bode.
– Piorou. Não conheço ninguém com esses nomes estranhos.
– Ah, é o Zé da onça, não é Senhor Chico?
– É esse mesmo. Olha aí viu? A Dona Júlia o conhece.
– Quem é esse, Júlia? Eu não me lembro dessa figura.
– É um caçador beberrão. Passa a maior parte do tempo encharcado na cachaça. Quando não está bebendo, está no meio do mato com uma espingarda. Já dei alguma ajuda para ele nas poucas vezes que veio aqui.
– Chico, e o que ele queria, era ajuda?
– Não Senhor. Ele disse que queria mesmo era lhe contar uma história, um segredo. Sei lá, parece que já tinha bebido umas. Disse ele que vem amanhã. Passou mais de uma hora sentado lhe esperando.
– Está bem. Estarei aqui amanhã.
– Olhe, tem muita carne assada. Acho que só vocês não vão dar conta não.
– Beleza Chico. É já nós iremos lá para fora.
– Tem um abacaxi e umas cebolas que já devem estar no ponto. Vamos experimentar Doutora Karina.
– Vamos sim.
– Antes de saírem da sala, Gerônimo entra no quarto e quando volta, trás consigo um envelope amarelo e entrega para Karina.
– Olha aqui Doutora, os outros cinquenta por cento dos seus honorários como combinamos.
– Obrigada. Você nem precisava ter pressa. Eu ia lhe dar o número da conta para depositar.
– Eu sei que faria isso. Mas passei no banco e já saquei o dinheiro.
– Então vou acompanhar a Júlia e tomar uma taça desse vinho.
– É uma delícia! Vou encher a cara.
– Não se afobe maninha. Sabe Karina? Ela nem é de beber. Essa é a primeira vez em toda sua vida que prova bebida alcóolica.
– Tudo tem uma primeira vez. Hoje é um dia especial.
– Doutora, vamos sentar ali fora. Quero lhe pedir opiniões sobre um assunto. E dessa vez, se for o caso, sou eu quem vai lhe contratar.
– Opa! Agora foi que me interessei pelas histórias. Não é coisa complicada não, é?

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