Por Carlos Holanda
– Tem muita coisa acontecendo nesse momento.
Eu precisaria de tempo para conversar em particular com minha irmã.
– Sem problemas. Ficaremos aqui durante uma
semana. Quero ver outros lugares estratégicos.
Júlia gentilmente oferece um suco de laranjas
para refrescar.
– Bom, tenho um monte de coisas para fazer.
Me desculpe.
– Claro. Nós já estamos de saída. Tome meu
cartão. Escrevi no verso o telefone do hotel, caso vocês decidam conversar mais
tarde. Ok?
– Certo. Entraremos em contato.
– Obrigado pela atenção – agradece o
português.
– Foi um prazer Senhor Manoel. Foi um prazer
Senhora Dalva.
– O prazer foi nosso.
– Júlia, irei à cidade agora mesmo contratar
seu advogado de defesa antes que seja tarde.
– Ótimo. Temos que resolver essa situação.
Estou ficando psicologicamente perturbada com tanta pressão.
– Eu acredito. Já estou é com pena de você.
Por outro lado, te acho uma mulher de fibra para tolerar tanta coisa.
– Até eu me acho forte, mas é só aparência.
Já houve noites que passeei em claro, chorando. Só não quis te dizer.
– Vamos resolver isso de uma vez por todas.
Se você é realmente inocente, temos que provar.
– Ah, e você também não acredita em mim?
– Claro que acredito irmãzinha linda, senão
eu mesmo já teria pedido para te prenderem. Tenho que ir. Estamos perdendo
tempo. Tchau!
– Tchau!
Três horas depois Gerônimo volta para casa
com uma moça loira, de olhos verdes e corpo escultural.
– Doutora Karina essa é a Júlia, minha irmã.
– Prazer Júlia. Seu irmão é mesmo insistente.
No escritório há outros profissionais, mas ele cismou que mulher é que entende
mulher.
– Vamos entrar. Aceita um café, um suco? -
Pergunta Gerônimo.
– Água. Esse clima quente nos dá sede.
– Júlia, essa é a melhor advogada
criminalista da cidade. Deixo vocês à vontade. Vou ver o trabalho dos homens
ali e volto já.
Karina sorri com o elogio.
– Está bem – diz Júlia.
– Então, quero lhe ouvir desde o início. Desde
antes de seu irmão chegar. Como aconteceu e até onde você sabe das coisas.
Certo?
– Ele deve ter antecipado alguma coisa para
você.
– É. Ele falou da viagem dele. Quando chegou
aqui e já encontrou o barco andando. Mas, o que eu quero mesmo é uma
retrospectiva dos fatos.
– Tudo bem. É o seguinte...
Júlia conta tudo que sabe para Karina e se
diz inocente. Gerônimo volta para a sala, senta-se e observa atentamente a
conversa.
– Doutora Karina, tem uma coisa que ainda não
mostrei para ninguém e quero que veja.
– E o que é?
– Espere só um instante – Gerônimo vai ao
quarto dele, trás o notebook, põe sobre a mesa de centro, abre e mostra o vídeo
que copiou do celular.
– Meu Deus! Isso é fantástico! E é favorável
à Júlia.
– Exatamente. Foi isso que pensei.
– Como você conseguiu registrar isso?
– Não fui eu. Foi uma das vítimas. Eu
encontrei o aparelho no local do crime e fiz essa cópia.
– Faça outra cópia para mim e me dê o
aparelho com o original. Mostrarei para o juiz e ele dirá o que fazer. Mas
acredito que muito provavelmente esses crimes já não serão mais de
responsabilidade do município ou do estado. É um caso para ser investigado
pelos federais.
– E você não me mostrou antes Gerônimo. Por
quê?
– Calma. Eu estava esperando o momento certo
para mostrar à pessoa certa.
– Fez bem. Acho que esse filme inocenta você,
Júlia. Mas vamos trabalhar com mais embasamento. Preciso ter argumentos fortes,
afinal, esse é um caso sobrenatural. Eu estou surpresa.
– Doutora, você acha que isso é suficiente
para me inocentar?
– Por hora, é o que temos de concreto. As
imagens falam por si e isso é muito forte, mas o vídeo tem que ser periciado
para vermos a veracidade. Ninguém mais deve saber. Vamos manter sigilo por enquanto.
Tecnicamente o vídeo te livra de tudo. Juridicamente irá depender do
entendimento do juiz.
– Ok. Então vou servir o almoço. Já passa das
14:00 horas.
– Bem, pelo visto essa é a primeira vez que
almoço com uma advogada tão bonita - diz Gerônimo.
– Obrigada.
– Você é Bonita, inteligente e sensata.
– Epa! Parou, parou. Não me envolvo com clientes.
– Não sou seu cliente. É a minha irmã quem está te contratando.
– Vamos mudar o rumo dessa conversa, por
favor. Você também agora está envolvido, pois violou a cena do crime sem
autorização policial.
– Ah, espera aí. Não me coloque nesse meio.
– E como irei justificar o filme para o juiz? Ou você quer que eu diga que
eu fui lá e encontrei?
– Não, não. Está bem. Diga que eu fui lá então. Afinal, tudo aconteceu em
minha propriedade e já faz algum tempo.
Júlia serve
o almoço e logo depois Gerônimo dirige-se para a cidade com Karina. Em dois
dias ela promete uma nova visita com o resultado do Juiz.
E em casa o
papo rola mais descontraído
– Pega leve Gerônimo. Não vai atrapalhar as coisas. Pensa que não vi como
você olhava para ela.
– Júlia, a mulher é uma deusa.
– Sim, ela é muito bonita e tem bagagem.
– E como tem bagagem.
– Gerônimo, eu estou falando de inteligência.
– E você acha que estou falando de que?
– Te conheço irmão. Deixe terminar o processo e você investe na sua
brincadeira.
– Não é brincadeira, minha querida. Nossos olhares se cruzaram lá no
escritório. Ela me encarou por alguns segundos.
– Está bem. Vai cuidar da vida lá fora.
– Estou indo.
O tempo não
espera por ninguém. A noite chega e vai embora. De manhã, antes que Júlia e
Gerônimo comecem suas atividades, a sirene de uma viatura soa na porta. O
delegado e dois policiais trazem um mandado de prisão e levam Júlia para a
cadeia. Gerônimo ainda tenta conversar e impedir, mas os laudos do perito
apontam Júlia como a única culpada dos assassinatos em série.
Gerônimo
liga para a doutora Karina e conta o ocorrido.
– Doutora, o delegado e os policiais acabaram de prender minha irmã. Dá
para você agilizar a sua parte, por favor?
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