segunda-feira, 9 de julho de 2018

Herança Maldita - Parte VII

Herança Maldita - Parte VII
Por Carlos Holanda



– Sim, claro. Já estive com o juiz. Eu o peguei numa veia boa. Em no máximo quarenta e cinco minutos levarei um habeas corpus e outros documentos para a delegacia. Vá para lá também.
– Certo. Estou saindo agora mesmo.
Pouco tempo depois Karina chega à delegacia.
– Bom dia delegado! Por favor, solte minha cliente agora. Ela é inocente. Aqui está o habeas corpus.
– Calma doutora. Que pressa é essa? Ela irá responder por seus crimes.
– Ela não cometeu nenhum crime. Venho agora do tribunal. Veja você mesmo, essa é a cópia do filme que a inocenta e outra coisa, aí estão os documentos assinados pelo juiz que retira o caso da sua jurisdição, manda o perito Diego para casa e encerra aqui toda essa parafernália. O caso agora está em outra esfera e amanhã mesmo chegarão agentes federais.
       Depois de ver o filme, examinar os documentos e com
cluir que Karina tem razão, o delegado fecha a cara e manda liberar a moça.
– Pronto, Júlia, você está livre de uma vez por todas. Seja feliz – diz o delegado
– Eu já estava cansada desse negócio de esteja presa, esteja solta. Parabéns doutora Karina, pela sua eficiência.
– Obrigada.
Gerônimo chega atrasado e pergunta
– O que eu perdi aqui? Foi tudo muito rápido. Tudo bem delegado?
– Tudo. Depois falo contigo.
– Vamos embora irmão. Estou livre.
– Que beleza! Vamos. Doutora Karina, você vem com a gente?
– Ainda não. Vou só oficializar as coisas aqui. Mais tarde irei a sua casa. E já podem comemorar, viu?
– Não. Vamos esperar por você – responde Gerônimo.
– Está bem. Passo por lá a tarde.
Já do lado de fora da delegacia, Júlia muito satisfeita com os resultados do processo, elogia Karina.
– Eu não disse Gerônimo, que a mulher tem bagagem?
– Eu observo isso o tempo todo.
– Safado! Só leva para o lado da maldade.
– Estou falando sério.
– Eu vou lhe dizer uma coisa, passe em qualquer lugar desses aí e compre um bom vinho. Hoje vou beber uma garrafa sozinha.
– Mas você nem bebe.
– Tenho vinte e cinco anos e nunca bebi álcool em minha vida, mas hoje é especial.
– Você é quem manda. Eu vou tomar cerveja.
– E para Karina, vai levar o que?
– Nem sei o que ela bebe ou se bebe alguma coisa.
– Então leve champanhe e dá uma de romântico
– Está certa.  Darei umas flores também com a desculpa de que é por conta dessa vitória.
– Bem pensado. Mas ela não tem namorado?
– Tem nada. Foi algo que perguntei assim que a conheci.
– Então irmão, investe que tem futuro.
       Em casa, Gerônimo propõe fazer um churrasco e chama os dois homens que trabalham para ele para participarem. Um acende o fogo, o outro prepara os espetos.
– Vamos assar uma carninha, eu trouxe uma picanha, calabresas e frango.
– Sim. Até que enfim irei dormir com a consciência mais tranquila.
– A Karina deve estar chegando por aqui.
– Não fique tão ansioso. Tudo acontece no tempo certo, até o amor. Posso ligar para o Xavier?
– Claro. Eu fui rude com ele. Deixei seu namorado assustado. Vamos celebrar sua vitória e falar nos preparativos do seu casamento.
Júlia entra na casa, pega o celular e faz a ligação convidando o namorado para lhes dar a boa noticia e comemorar.
– Vem logo, amor, a carne já está chiando no fogo e a cerveja está bem geladinha. Júlia volta para o lado de fora da casa.
– Falei com ele. Está vindo.  Sim, Gerônimo, por falar nisso, o que você pretende fazer, além da cerimônia?
– Bem, eu pensei em trazer o Padre para cá. Ficará lindo um casamento nesse cenário. A gente monta um altar rústico, aluga mesas, cadeiras e providencia os serviços de buffet. Não queremos que nada dê errado.
– Que maravilha Gerônimo. Você é um irmão maravilhoso.
– A gente aproveita e manda celebrar uma missa para nossos pais.
– Claro que o Padre já iria citar os nomes deles.
– Não basta. Quero a missa antes do evento. Preparar as almas de nossos convidados.
– Bem pensado. Será lindo. Já estou imaginando tudo.
– Quero ver minha irmã feliz. Ver meu sobrinho nascer saudável. O alicerce da família é o amor, a compreensão e o respeito.
– É verdade. Como você sabe que será um menino?
– Não sei. Torço para que seja homem.
– Torça para que seja o que Deus quiser. Vindo com saúde já fico feliz.
– Sabe Gerônimo, eu pensei em pedir indenização por danos morais. O que você acha?
– A Karina está vindo para cá. Ela deve te dar um parecer jurídico melhor que eu.
– Sim, mas eu quero ouvir a sua opinião.
– Eu acho que, como a situação foi revertida, a polícia e até o prefeito lhe devem satisfação. Não seria nada mal eles se retratarem em público. Aliás, você deveria convocar a imprensa, rádio, jornal e TV e cobrar satisfação. Além de levantar ainda mais sua autoestima, alcançaria o povo que ainda tem dúvidas e acredita que você é uma assassina.
– Pois é isso que irei fazer. Pensarei amanhã sobre esses argumentos. Ah, mas não irei deixar isso passar em branco de jeito nenhum.
– Faça isso e não se arrependerá – afirma Gerônimo sentado numa cadeira no alpendre da casa.
– Patrão, a picanha já está no ponto – diz o homem mostrando o espeto de carne.
– Vou já comer um pedaço.
– Olha! É bom colocar um abacaxi e essas cebolas pra assar – diz Júlia com uma bandeja na mão.
– Sim, claro. É uma delícia. Eu mesmo farei isso.
       Uma hora depois Xavier chega, desacelera a moto e estaciona. Agora já está mais tranquilo por saber de sua aceitação por parte do irmão da noiva. Gerônimo amistoso, dá as boas vindas ao cunhado que o cumprimenta e retribui como se já fosse há muito tempo da família. Em seguida, dirige-se à noiva e a beija carinhosamente.
       O que não era de se esperar é que, lá distante uma viatura da polícia seja avistada e com a sirene ligada. O carro vem e estaciona bem próximo da churrasqueira. 
– Eu não acredito que esse cretino venha aqui novamente com essa porra de sirene ligada – diz Júlia constrangida.

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