Herança Maldita - Parte VII
Por Carlos Holanda
– Sim, claro. Já estive com o juiz. Eu o peguei numa veia boa. Em no
máximo quarenta e cinco minutos levarei um habeas corpus e outros documentos
para a delegacia. Vá para lá também.
– Certo. Estou saindo agora mesmo.
Pouco tempo
depois Karina chega à delegacia.
– Bom dia
delegado! Por favor, solte minha cliente agora. Ela é inocente. Aqui está o
habeas corpus.
– Calma doutora. Que pressa é essa? Ela irá responder por seus crimes.
– Ela não cometeu nenhum crime. Venho agora do tribunal. Veja você mesmo,
essa é a cópia do filme que a inocenta e outra coisa, aí estão os documentos
assinados pelo juiz que retira o caso da sua jurisdição, manda o perito Diego
para casa e encerra aqui toda essa parafernália. O caso agora está em outra
esfera e amanhã mesmo chegarão agentes federais.
Depois de
ver o filme, examinar os documentos e com
cluir que
Karina tem razão, o delegado fecha a cara e manda liberar a moça.
– Pronto, Júlia, você está livre de uma vez por todas. Seja feliz – diz o
delegado
– Eu já estava cansada desse negócio de esteja presa, esteja solta.
Parabéns doutora Karina, pela sua eficiência.
– Obrigada.
Gerônimo
chega atrasado e pergunta
– O que eu perdi aqui? Foi tudo muito rápido. Tudo bem delegado?
– Tudo. Depois falo contigo.
– Vamos embora irmão. Estou livre.
– Que beleza! Vamos. Doutora Karina, você vem com a gente?
– Ainda não. Vou só oficializar as coisas aqui. Mais tarde irei a sua
casa. E já podem comemorar, viu?
– Não. Vamos esperar por você – responde Gerônimo.
– Está bem. Passo por lá a tarde.
Já do lado
de fora da delegacia, Júlia muito satisfeita com os resultados do processo,
elogia Karina.
– Eu não disse Gerônimo, que a mulher tem
bagagem?
– Eu observo isso o tempo todo.
– Safado! Só leva para o lado da maldade.
– Estou falando sério.
– Eu vou lhe dizer uma coisa, passe em
qualquer lugar desses aí e compre um bom vinho. Hoje vou beber uma garrafa
sozinha.
– Mas você nem bebe.
– Tenho vinte e cinco anos e nunca bebi
álcool em minha vida, mas hoje é especial.
– Você é quem manda. Eu vou tomar cerveja.
– E para Karina, vai levar o que?
– Nem sei o que ela bebe ou se bebe alguma
coisa.
– Então leve champanhe e dá uma de romântico
– Está certa.
Darei umas flores também com a desculpa de que é por conta dessa
vitória.
– Bem pensado. Mas ela não tem namorado?
– Tem nada. Foi algo que perguntei assim que
a conheci.
– Então irmão, investe que tem futuro.
Em casa, Gerônimo propõe fazer um churrasco e
chama os dois homens que trabalham para ele para participarem. Um acende o
fogo, o outro prepara os espetos.
– Vamos assar uma carninha, eu trouxe uma
picanha, calabresas e frango.
– Sim. Até que enfim irei dormir com a
consciência mais tranquila.
– A Karina deve estar chegando por aqui.
– Não fique tão ansioso. Tudo acontece no
tempo certo, até o amor. Posso ligar para o Xavier?
– Claro. Eu fui rude com ele. Deixei seu
namorado assustado. Vamos celebrar sua vitória e falar nos preparativos do seu
casamento.
Júlia entra na casa, pega o celular e faz a
ligação convidando o namorado para lhes dar a boa noticia e comemorar.
– Vem logo, amor, a carne já está chiando no
fogo e a cerveja está bem geladinha. Júlia volta para o lado de fora da casa.
– Falei com ele. Está vindo. Sim, Gerônimo, por falar nisso, o que você
pretende fazer, além da cerimônia?
– Bem, eu pensei em trazer o Padre para cá.
Ficará lindo um casamento nesse cenário. A gente monta um altar rústico, aluga
mesas, cadeiras e providencia os serviços de buffet. Não queremos que nada dê
errado.
– Que maravilha Gerônimo. Você é um irmão
maravilhoso.
– A gente aproveita e manda celebrar uma
missa para nossos pais.
– Claro que o Padre já iria citar os nomes
deles.
– Não basta. Quero a missa antes do evento.
Preparar as almas de nossos convidados.
– Bem pensado. Será lindo. Já estou
imaginando tudo.
– Quero ver minha irmã feliz. Ver meu
sobrinho nascer saudável. O alicerce da família é o amor, a compreensão e o
respeito.
– É verdade. Como você sabe que será um
menino?
– Não sei. Torço para que seja homem.
– Torça para que seja o que Deus quiser.
Vindo com saúde já fico feliz.
– Sabe Gerônimo, eu pensei em pedir
indenização por danos morais. O que você acha?
– A Karina está vindo para cá. Ela deve te
dar um parecer jurídico melhor que eu.
– Sim, mas eu quero ouvir a sua opinião.
– Eu acho que, como a situação foi revertida,
a polícia e até o prefeito lhe devem satisfação. Não seria nada mal eles se
retratarem em público. Aliás, você deveria convocar a imprensa, rádio, jornal e
TV e cobrar satisfação. Além de levantar ainda mais sua autoestima, alcançaria
o povo que ainda tem dúvidas e acredita que você é uma assassina.
– Pois é isso que irei fazer. Pensarei amanhã
sobre esses argumentos. Ah, mas não irei deixar isso passar em branco de jeito
nenhum.
– Faça isso e não se arrependerá – afirma
Gerônimo sentado numa cadeira no alpendre da casa.
– Patrão, a picanha já está no ponto – diz o
homem mostrando o espeto de carne.
– Vou já comer um pedaço.
– Olha! É bom colocar um abacaxi e essas
cebolas pra assar – diz Júlia com uma bandeja na mão.
– Sim, claro. É uma delícia. Eu mesmo farei
isso.
Uma hora depois Xavier chega, desacelera a
moto e estaciona. Agora já está mais tranquilo por saber de sua aceitação por
parte do irmão da noiva. Gerônimo amistoso, dá as boas vindas ao cunhado que o
cumprimenta e retribui como se já fosse há muito tempo da família. Em seguida,
dirige-se à noiva e a beija carinhosamente.
O que não era de se esperar é que, lá
distante uma viatura da polícia seja avistada e com a sirene ligada. O carro
vem e estaciona bem próximo da churrasqueira.
– Eu não acredito que esse cretino venha aqui
novamente com essa porra de sirene ligada – diz Júlia constrangida.