quarta-feira, 27 de abril de 2016

COMO ACREDITAR?

Vivemos perplexos com tantas atrocidades. A gente nem chora mais o leite derramado. As vacas magras em consequência da seca já não tem leite pra derramar. Mas essas vacas, são dos fazendeiros e dos pequenos agricultores que ninguém liga. Eles sofrem com o descaso. Quem no poder público, ocupando cargos de alto escalão vai ligar para o homem do campo nesse momento? O que importa isso? O que importa o leite das crianças, se o que mais querem é o poder pelo poder?
Este ano foi embora agora, deixando marcas, cicatrizes, grandes feridas, que não saram jamais.
Pobres coitados perambulam pelo campo, tentando o acalanto com uma vontade imensa de acreditar nesses hipócritas que serão reeleitos fazendo promessas, criando expectativas, e votam. Votam pela cisterna prometida, pelo dinheiro aceito pra votar no dia da eleição distribuído pelo cabo eleitoral que faz boca de urna. Votam acreditando que dias melhores virão. Ilusão.
As mentiras se repetem com impostação de voz nos palanques, na TV e na internet; a retórica, as imagens políticas e os conteúdos são a missão das agências, que tem um objetivo: eleger o candidato, independente de quem seja prejudicado, massacrado.
O planejamento pra eleger o corrupto existe. Só o povo que não tem onde mamar, porque não planeja nada, aceita todo tipo de resultado.
Como acreditar nos planos maquiavélicos e descarados de políticos sem crédito?
Carlos Holanda

O comício

Júlia candidatou-se a vereadora. Todos sabem que campanhas políticas nas cidades do interior são acirradas, e ela estava disposta a ganhar essa eleição. Claro que a mulher preparou-se para ir ao grande comício. Foi ao cabeleireiro, planejou um belo discurso e até comprou um vestido.
O evento já havia começado. O palco, ou melhor, o palanque, era um caminhão, com uma escada de madeira na lateral.
A praça estava lotada. Todos os candidatos, assessores, seguranças, apresentador e puxa-sacos, inclusive o majoritário, estavam lá em cima.
Comício no interior tem cachaça de graça, consequentemente muitos bêbados.
Júlia, por mais que tenha feito, chegou atrasada e tentou subir a bendita escada. Quase no quarto degrau, o sobe e desce, empurra-empurra e a multidão a impedia de chegar lá. Ela se vira, olha para baixo e percebe o homem que lhe dizia:
- Vereadora, vereadora, mas que belo discurso a senhora fez! Gostei de ver! Aplaudi de pé. Eu e meus amigos... ic!
Júlia era marinheira de primeira viagem. Desceu, agradeceu ao homem bêbado e foi embora. Deixou sua retórica para outro dia.

Carlos Holanda

terça-feira, 12 de abril de 2016

Viajantes I O príncipe

Por Carlos de Holanda
Pedro é um viajante contumaz, uma mistura de aventureiro com fotógrafo naturista. Trabalha para uma grande revista. Certa vez, ajeitou seus instrumentos, barraca, mochila e outros apetrechos de acampamento, colocou em seu jeep e pegou a estrada. Parou no posto de combustível, abasteceu o veículo e foi embora. Andou muitos quilômetros, até encontrar uma estrada vicinal a esmo. Parou, pensou e descobriu que não conhecia aquela floresta. Resolveu encarar, pois dali poderia sair boas fotos. Um local de paisagens belíssimas, de natureza bem diversificada com fauna e flora exuberante.
Acelerou e arrancou. Um jeep com tração 4x4 é bem potente e anda por cima de paus e pedras, embora os biscoitos dos pneus estejam gastos. O veículo deixa um rastro de poeira. As lanternas traseiras vão diminuindo com a distância.
A estrada é cheia de pedregulhos e traiçoeira, mas Pedro se acostumara com isso. As surpresas são muitas em lugares desconhecidos. Ouve-se um estrondo, o carro começa a dançar e a puxar só para um lado. Ele pára, desce, verifica e percebe que o pneu rasgou em algum bico de pedra. Se irrita, chuta areia, mas se controla e resolve trocar. Quando vai tirar o estepe logo vê que também está murcho, até se espanta, pois essa não é uma prática comum, seu veiculo sempre está revisado. Bom, sem alternativas, numa manhã ensolarada como essa o que mais poderia acontecer? Deve passar alguém motorizado pra lhe ajudar. Pensou. Toma uma decisão: fotografar ladeando a estrada, enquanto espera por alguém, que talvez nem venha. Tira então o equipamento, tripé, uma mochila menor, cantil com água, pendura sua máquina no pescoço e sai por trilhas bem próximas do veículo. Faz uma sequência de fotos e se arrisca um pouco, penetrando mais no matagal. Tenta encontrar ângulos que possa enquadrar pássaros e flores. É tão comovente e apaixonante seu trabalho, que ele esquece totalmente do ocorrido, afinal, ainda é manhã.
Embrenha-se no mato, procurando motivos mais interessantes pra registrar, até chegar bem perto de uma formação rochosa, um aglomerado de pedras esculturais belíssimas, pra completar o cenário exótico, ao fundo, uma cachoeira desliza do alto, uma queda d”água belíssima. Isso é tudo que um fotógrafo quer. Um cenário cinematográfico de encher os olhos.
A natureza despida lhe convida para desvirginar seus mistérios; a sonoridade dos pássaros, folhas verdes, flores de rara beleza e um céu de azul anil, com raios de sol para iluminar. Perfeito! O que mais um fotógrafo poderia querer em um paraíso desses?
Empolgado com tantas imagens produzidas, senta numa pedra, come uma barra de cereal, verifica as fotos e aproveita para dar um mergulho. É um momento ímpar e convidativo. Desvencilha-se das vestimentas e pula nas águas da cachoeira. Quando vem à tona, tem o pressentimento de que alguém o observa. Enxuga-se, veste a calça de brim, coloca a camisa e o colete cheio de bolsos, que é quase uma farda de quem exerce essa profissão. Se ajeita para fazer mais fotos e voltar. Ouve então um barulho de galho seco quebrado levemente, como passadas... deve ser algum animal silvestre. Pensa. Mas, aquele vento frio percorre sua espinha dorsal por um instante. Vira-se bruscamente e vê uma mulher de cabelos longos e curvas estonteantes, molhada, com um vestido branco colado ao corpo. Uma deusa perfeita! Perdida ali. Ela acena sorrindo, chamando-o sedutoramente. Pedro, estático, sem voz, estranhara a beleza do lugar há pouco tempo, mas, encontrar uma criatura tão bela, era demais para seu coração.
Uma figura tão delicada e singela, mal nenhum poderia fazer. Segue-a por algum tempo, até perder-se, porém, sem perdê-la de vista. Entra numa fronteira estranha. Ela deixa que ele se aproxime o máximo, porém, mantendo uma certa distância, impressionando-o a cada segundo com seu sorriso conquistador. Às vezes chegava tão perto, que confundia o perfume das flores com o dela.
A mulher, lhes dá uma colher de chá e surpreendentemente, deixa que ele a abrace e a beije, e sem quaisquer palavras, ela se entrega, fazem um jogo de sedução e amor ao ar livre. É extasiante. Não há proibição, pelo menos agora. E ali, é consumado um ato sexual que jamais haveria feito em toda sua vida. Os corpos fisam em estado de relaxamento após o ato. Por um momento ele fecha os olhos e cochila. Quando se recupera, percebe que não há ninguém ao seu lado. Sente um calafrio, mas, acha que pode ser uma brincadeira e que agora vem a parte do diálogo. Corre para a queda d”água na esperança de encontrá-la, para tirar suas dúvidas. Tudo em vão. Recolhe seu equipamento e ruma na trilha de volta. Mesmo assim, permanece aquela sensação de estar sendo seguido. Desconfiado e amedrontado apressa o passo. Tudo está confuso em sua mente, apesar da experiência de andar só.
Entende que caminhou bastante, pois as sombras das árvores declinam. Não sentiu nem fome, de tão intensa que foi essa aventura. Depois desse longo percurso, chega ao seu jeep, que por incrível que pareça, está intacto, com os quatro pneus cheios. Verifica o estepe e vê que está cheio, como deixara, quando saiu de casa. Aumenta a confusão em sua cabeça. Como pode?
Passam então dois homens montados a cavalo no sentido contrário ao carro e um deles pergunta:
- O senhor banhou na cachoeira, moço?
- Sim, banhei. Por quê?
- Por nada, não Sr.
- Ei, ei, espera. Vocês podem me ajudar?
Os homens se entreolham e um diz ao outro:
- É mais um que a rainha pegou.
- É. Hoje vai ter ritual dos mortos.
Pedro liga o carro, faz uma manobra rápida e se dirige para casa, cheio de indagações.
7 MESES DEPOIS...
Às margens da cachoeira, nasce um bebê, que rapidamente é entregue à rainha-mãe, vestida de branco com cachecol vermelho, rodeada por figuras sinistras e misteriosas em torno de uma fogueira. Um trono vazio o aguarda...

Cozinheiro de Lampião

O “Candinho”, com mais de 70 anos, duro na queda, bebia muito, bebia tanto que, encenava e chorava, pra provar a verdade, mostrando sentimento, era um ator sem palco no palco da vida. Morava no bairro Cabral, era impressionado com as histórias do cangaceiro “Lampião”. Cada dia contava uma lorota diferente. Dizia ele, aos quatro ventos, no bar e mercearia do Marcelino, que era cozinheiro do bando. E, quando Candinho bebia, ficava valente. Era preciso amarrá-lo num poste. Aí, ele soltava o verbo, xingando deus e mundo. 
Certa vez, soubemos da notícia, de que ele dormiu em pé, amarrado. Foi saindo do bar e mercearia, de um por um, os bebedores de cachaça,e, esqueceram o coitado. O Marcelino, fechava o bar por dentro. A partir dali, o homem ficou manso. Ficou uma seda.
A vida ensina, por bem ou por mal, ensina.

Carlos Holanda

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Assassino de aluguel

O Catanâ, era uma “figura” temida, valente; um cara frio e calculista, que virou parte do folclore teresinense. Assassino caipira de aluguel.
Certa vez, foi contratado por um fazendeiro para matar um indivíduo rico, por 2 contos de réis. Quando chegou frente a frente com a vítima, puxou a garrucha velha, bem zelada, da cintura, apontou e, antes que apertasse o dedo no gatilho, foi interrompido no ato...
- Pago - te o dobro, não importa o valor. Para me deixar vivo e, matar o mandante. O dito cujo já sabia da fama de Catanã.
O pistoleiro, pensou, fechou a cara, indagou e disse:
- O dobro é? Pois me dê esse dinheiro agora mesmo, moço, que eu já tô é com raiva dele, viu? E considere feito o serviço.
Tudo na vida tem um preço, por mais alto que seja, tem preço.
Carlos Holanda

domingo, 10 de abril de 2016

O PAGAMENTO

Fui procurar duas coisas: um documento, numa pilha de papéis na minha mesa, e, um DVD de 3 minutos, que estava em outro monte (23). Todos sem nome/título nas mídias. Encontrei o documento. Foi a penúltima folha de papel do calhamaço. Quanto ao DVD, tive que abrir de um por um no PC. Adivinha onde tava o bichim? Bem em baixo. Era o último. Só aconteceu porque eu tava com pressa. Coloquei na pasta e saí. O trânsito daquele jeito. Acreditem, não peguei um só sinal aberto. Como sou paciente, em cada sinal eu contava até 10. Em outros eu pulava: - 1, 2, 3, 5, 7, 35... “por num” é que deu tudo certo. Apesar da lei de Gerson, quando eu pegava uma fila menor, a maior é que andava. O semáforo parecia só abrir pra fila que eu não estava.
Pois é. Cheguei rente, em cima da hora, e, ainda sorrindo, como se nada tivesse acontecido. Voltei sem pressa e com o pagamento no bolso. Na volta, até ensaiei cantarolar, batendo no volante e no painel; o rádio do carro também não tinha “diacho” que o fizesse falar. Talvez eu tivesse pisado em rastro de corno. De tarde nem saí...
É. A vida é assim. Tem que levar na esportiva e ser otimista. No stress.

sábado, 9 de abril de 2016

SE LASCOU

Um visitante a procura de diversão no centro de Teresina, mais precisamente no bar do Clube dos Diários, aproveitou que a pauta era o projeto “Boca da noite” e entrou. Boa música ao vivo, petiscos, bebidas e mulheres. Perfeito.
Puxou uma cadeira, sentou-se à mesa, pediu um drink, correu o olhar pelo ambiente e percebeu que uma garota linda, novinha, estava só. Calculou que ela tivesse no máximo uns 18 anos. Ao seu lado uma cadeira vazia, como que a lhe convidar. Flertou um pouco e pensou: - vou me dar bem. Não titubeou, levantou-se e foi dar um boa noite à beldade. Perguntou se podia sentar e ela educadamente confirmou. Quis puxar conversa, mas, nesse exato momento, chega outra garota charmosinha que os cumprimenta sorridente e, sem nenhum acanhamento tasca um beijo demorado na boca da namorada.
O visitante encabulado pede licença e sai.