sábado, 12 de dezembro de 2020

Tiro ao alvo

 


Festa junina na Potycabana com apresentação de quadrilhas, forró, muita comida típica, caipirinhas, bingo, tiro na lata com bola de meia, laça dinheiro e tiro ao alvo. Foi nesse último que eu e a turminha paramos.
– Quanto é o tiro – perguntei.
– Três por dois reais – disse a moça.
– Pois me dê três pra começar. Não eram chumbinhos. As balas eram de cortiços, colocadas na ponta do cano da espingarda de ar comprimido para derrubar latas vazias de cerveja. Pois bem, peguei uma do cano meio folgado da coronha. Dei os três tiros e errei todos. A espingarda escangotava. Não desanimei. Olhei para o lado, o garoto acabara de sair e deixou uma espingarda mais nova, durinha, “oleada”. Senti o peso, mirei, armei, desarmei e disse – me dê aí dez reais de tiros. Foram quinze balas. Me ajeitei e fiz dos cotovelos o tripé sobre o balcão e “pei”. Lá vem a primeira Skol bem geladinha. Degustei a bichinha, coloquei a lata do lado e “pei”. Mais outra latinha. Cinco tiros foram cinco latas. Nós éramos seis. Aí eu “fresquei” com a dona – Falta derrubar mais uma. Ela sorriu e perguntou-me – o senhor é da polícia?
– Não senhora – respondi.
– Não errou um tiro com essa espingarda.
– Errei três com a outra.
– Aquela é velha. Essa aí é novinha em folha.
– Tudo novo é bom, nem importa a marca, não é?
– É – respondeu ela assim com cara de quem comeu e não gostou.
Do lado direito da barraca tinha um senhor vendendo espetinhos, assados sobre a brasa numa calha de caminhão. Olhei para ele, ele olhou para mim, e eu perguntei:
– O senhor já vendeu muitos espetos hoje?
– Já. Bastante!
– Beleza! O senhor bebe uma “Skolzinha”?
– Bebo.
– Vamos fazer um negócio?
– De que tipo?
– Eu derrubo uma lata e troco por um espeto com o senhor. Tá valendo?
– Na hora – disse. Para ele era até mais negócio. A latinha de cerveja gelada era em torno de R$ 2,50 e o espeto R$ 1,50. Olha aí quando é pra dar certo. Pois bem. Mirei e “pei”.
– Viu? Deu foi bom.
Dos quinze tiros, acertei doze. Ou seja, uma caixinha. Comemos e bebemos com dez reais.
No outro dia fui na mesma barraca, ciente que seria mão na roda. A mulher me reconheceu e disse:
– Você é aquele atirador de ontem, não é?
– Sou eu mesmo.
– Devia ter aproveitado mais.
– Por que?
– Por nada. Quer quantos tiros?
E eu com a garganta sequinha, salivando para tomar umas “desse preço”.
– Me dê dez reais de tiros para começar.
Dei quinze tiros e não acertei nenhum com a mesma espingarda do dia anterior. Quer saber o segredo? Eles trocaram os cortiços por uns mais leves que variavam. Parei ali. O cara do espeto ainda perguntou – como é, hoje não vamos fazer negócio? Me deu vontade de mandar ele se lascar, mas só saiu um sonoro “não”. Fui beber com a turma, pagando é claro.
Essa foi uma das vezes que a vaca não deu duas cuias de leite.


Carlos Holanda

Nenhum comentário:

Postar um comentário