sábado, 31 de dezembro de 2016

A ORIGEM DA FAMÍLIA HOLANDA NO BRASIL

Os Holandas provêm do holandês Arnau Florentz, ou Arnau de Holanda, nobre que teve completa adaptação ao Brasil. Era filho de Margaretha Florentz e Hendrick Van Holland, Barão de Rhijnsburg. Consta que Margaretha(*) seja irmã de Adriano Florentz, Papa Adriano VI, o último Pontífice não-italiano até à eleição de João Paulo II. Arnau, natural de Utrecht, Holanda, possuía o título de Barão de Theorobonet. Atendeu ao convite de Duarte Coelho em 1535, trazendo para o Brasil a sua vontade de concorrer para a fundação de uma nova nacionalidade e de transplantar para os trópicos os progressos dos conhecimentos do seu tempo.
Casou-se em Pernambuco com D. Brites Mendes de Vasconcelos, tendo criado uma família que desde os primeiros tempos coloniais mostrou grande interesse em engrandecer a nova pátria, colaborando com os demais que tinham os mesmos interesses e atendendo a todos os reclamos que esta magna empresa exigia dos que a ela se afeiçoavam. Brites, quando jovem, orfã, ainda em Portugal, contava com valioso apoio familia Real. Conforme ANTONIO JOSÉ VICTORIANO BORGES DA FONSECA em seu livro Nobiliarchia Pernambucana, de 1748, numa referência a Brites Mendes de Vasconcelos, diz que a Rainha D. Catarina, mulher de El-Rei D. João III, “a entregara a D. Brites de Albuquerque quando passou à Pernambuco em companhia de seu marido o Donatário Duarte Coelho, recomendando-lhe a sua acomodação, ao que generosamente satisfizera D. Brites de Albuquerque, casando-a com Arnau de Holanda e dando-lhe em dote muitas terras, nas quais fundou Brites Mendes muitos engenhos, que possuem hoje seus descendentes.”
Do matrimônio de Arnau de Holanda com Brites Mendes de Vasconcelos nasceram: Christóvão, Augustinho, Isabel, Ignez, Anna, Maria e Adrianna. O Ceará recebeu muitos membros ativos deste clã, representados pelos bisnetos e trinetos de Arnau, que chegaram às praias de Aracati e Cascavel no decênio inicial do século XVIII. À exemplo de outros parentes e contraparentes, vinham com a idéia de instalar no Ceará engenhos de açúcar, o que não foi possível; mas dirigindo as suas potencialidades para os outros ramos da indústria pastoril e agrícola, firmaram-se nas zonas sertanejas de Quixadá e Quixeramobim, no criatório de gado vacum, e pouco mais tarde na serra de Baturité, introduzindo ali as excelências da cultura eletrizante do café. Participaram menos que os antecedentes nas lutas políticas, preferindo a atividade do campo para demonstrar esta adesão ao progresso do Ceará.
HOLANDA DE SEVERIANO MELO
Verificamos claramente que este grupo familiar com base nos municípios de Severiano Melo e Apodi está mais para melo do que mesmo Holanda Cavalcante, confirmando o que disse certo dia a pessoa de Ranulfo Holanda – nenhum forasteiro pode chegar em Severiano melo e falar mal de um único severianense, já que nesta comunidade quase toda a população é formada por uma única família, devido o entrelaçamento entre esses dois grupos familiares, daí-se à razão de afirmar que Holanda Cavalcante na atualidade é apenas um facção dentro da família Regis de Melo. Porém, vamos destacar neste trabalho os verdadeiros Holanda Cavalcante, que, em minha opinião tem como tronco inicial a pessoa de Laurindo Holanda Cavalcante ( 23/9/1839), homem esse com grande influência nos meios sociais e políticos no município de Apodi, o qual em 5 de julho de 1876 foi um dos 16 eleitores da paróquia de Apodi, entre os 584 eleitores potiguares aptos a votarem em nossa província.
O patriarca desse grupo - LAURINDO DE HOLANDA CAVALCANTE, filho de Josefa Holanda Cavalcante, construtor do casarão da Fazenda Passagem Limpa, erguida em 1855, quando o mesmo tinha 16 anos de idade. Nascido em 23 de setembro de 1839, casado com Maria Holanda Vieira, nascida em 5 de novembro de 1847 e falecida em 16 de abril de 1936, esta sendo filha de Umbelino Tomaz de Aquino e de Maria Holanda Cavalcante. Sabemos que desse casal houve uma grande descendência, mas infelizmente, somente sabemos apenas de três deles, tratam-se de Josefa Holanda Cavalcante, Antonio Holanda Cavalcante, casado com Amélia Holanda Cavalcante e de Bevenuto de Holanda. Porém, apenas dissecamos algumas coisas a respeito de Bevenuto, assim vejamos:
BEVENUTO HOLANDA CAVALCANTE, natural de Apodi-RN, nascido no ano de 1864 e falecido em 6 de fevereiro de 1932, filho de Laurindo de Holanda Cavalcante (23/9/1839), e de Maria Holanda Vieira, esta filha de Umbelino Tomaz de Aquino e de Maria Holanda Cavalcante. Casou-se no ano de 1914, com Laurinda Holanda Cavalcante, natural de Apodi, nascido a 16 de junho de 1880 e falecida em 5 de maio de 1940, filha de Vitalino de Holanda Cavalcante e de Salustiana de Holanda Cavalcante.
Bevenuto Holanda foi o segundo proprietário do Casarão da Fazenda Passagem Limpa, herdada de seu genitor, à época encravada no município de Apodi, hoje na zona Rural de Severiano Melo.
Do consórcio com dona Laurinda houve três filhos, sendo eles:
01 – RIVARDÁVIA DE HOLANDA CAVALCANTE, vulgo ‘TOTA DE HOLANDA’, nascido no Casarão da Fazenda Passagem Limpa, em 20 de junho de 1915 e falecido em 01 de setembro de 1994, casado com Jovina Holanda Cavalcante, natural de Apodi, nascida a 12 de outubro de 1913 e falecida em 11 de outubro de 2005, filha de Teófilo de Holanda Sobrinho (05/05/1885 – 11/05/1967) e de Maria Jovina Campêlo de Holanda (09/03/1891 – 16/11/1990), pai dos seguintes filhos:
a) RANULFO HOLANDA CAVALCANTE, natural de Severiano Melo, nascido a 27 de maio de 1955, casou-se em 22 de dezembro de 1978, com Maria Ciramar Diógenes, natural de Iracema-CE, nascida a 22 de junho de 1959, filha de Ademar Diógenes Dantas e de Severina Medeiros Dias, pai dos seguintes filhos: HOLANGENES DIÓGENES HOLANDA, nascido em 28 de julho de1981; Ranulfo Holanda Cavalcante Filho, nascido a 13 de março de 1984; Ciramar Ruth Diógenes Holanda, nascida a 13 de novembro de 1979; Samara Ruth Diógenes Holanda, nascida a 18 de fevereiro de 1988; e Maria do Perpétuo do Socorro Holanda Diógenes, nascida a 17 de dezembro de 1991 e falecida em 13 de janeiro de 1994. Ranulfo Holanda foi prefeito de sua terra natal, no período de 1983 a 1989.
b) DONATO DE HOLANDA CAVALCANTE, nascido a 23 de agosto de 1950, casou-se em 8 de setembro de 1986, com Maria Marli Régis, natural de de Severiano Melo, filha de Geraldo Régis de Paiva e de Maria Paula Bessa Régis.
c) ARISTEU HOLANDA CAVALCANTE, nascido a 5 de setembro de 1942.
d) EFIGÊNIO DE HOLANDA CAVALCANTE, natural de Severiano Melo.
e) FRANCISCO NILO DE HOLANDA, nascido em 21 de agosto de 1936
f) BEVENUTO HOLANDA NETO, natural de Severiano Melo, nascido a 23 de setembro de 1939 e falecido em 14 de abril de 1965. É patrono do Hospital/Maternidade desta cidade.
2 – FRANCISCO HOLANDA CAVALCANTE, conhecido popularmente pela alcunha de “NENEM HOLANDA”, natural de Apodi-RN, nascido a 8 de novembro de 1918 em 31 de outubro de 1954, com Maria do Carmo Holanda, natural de Apodi, nascida a 21 de julho de 1929, filha de Inácio Gabriel Maia e de Alzira Magna Maia, com os seguintes filhos:
a) MARIA APARECIDA MAIA HOLANDA TERZIS, natural de Apodi, nascida a 14 de agosto de 1956, formada em medicina e residente em São Paulo, casada com Antonio Terzis.
b) MARISE MARIA HOLANDA DE MELO,nascida a 2 de agosto de 1960, formada em medicina, casada com o empresário Pedro Terceiro de Melo, natural de Apodi, nascido a 25 de julho de 1956, filho de Luiz Gonzaga de Melo e de Anailde Freitas Melo.
c) IOLANDA MARIA MAIA, nascida a 6 de setembro de 1963, formada em medicina, solteira.
3 – MARIA HOLANDA CAVALCANTE, natural de Apodi, nascida a 11 de fevereiro de 1920 e falecida em 5 de maio de 1991, casada com Sebastião da Costa Melo, natural de Apodi, nascido a 13 de abril de 1918 e falecido em 23 de dezembro de 1999, filho de José da Costa Melo e de Maria Régis de Melo, pai dos seguintes filhos:
a) BEVENUTO MELO HOLANDA NETO, natural de Severiano Melo, nascido a 20 de março de 1948, casou-se em 26 de fevereiro de 1970, com Antonia da Salete de Freitas, natural de Severiano Melo, nascida a 23 de setembro de 1948, filha de Antonio Lucas de Freitas e Guiomar de Freitas, pai dos seguintes filhos; MARCOS AURÉLIO FREITAS E HOLANDA, nascido a 19 de dezembro de 1971; e MÁRCIA AURÉLIA FREITAS E HOLANDA, nascida a 19 de dezembro de 1982.
b) JOÃO HOLANDA DE MELO, natural de Severiano Melo, nascido a 9 de julho de 1964, casado com MARIA SÔNIA GOMES HOLANDA, natural de Apodi, nascida a 11 de setembro de 1955, filha de José Gomes Pinto e de Francisca de 0liveira Pinto, com os seguintes filhos.
BEVENUTO HOLANDA faleceu em Apodi no dia 6 de fevereiro de 1932.
OUTROS HOLANDA:
SEVERIO HOLANDA CAVALCANTE, Nascido em 01 de abril de 1941, filho de João Holanda Cavalcante e de Ernestina Holanda Cavalcante;

GINA V, A Caçadora - Lobisomem

O que temos de melhor na terra é o ar que respiramos, principalmente depois que chove. Fica muito mais limpo. Naturalmente que isso não acontece esses dias. O homem faz promessas para o Padre Cícero; faz romaria para São Francisco e se apega com todos os santos, mas parece que sua boa fé está fraquejando. Suas preces não são atendidas, e cada dia que passa o gado morre de sede. Sabe-se que a esperança é a última que morre, mas, a fraqueza toma conta de muitas famílias e com isso vem o desespero.

O céu hoje parecia uma pintura feita por um artista renascentista. Era uma promessa de chuva ao entardecer. O sol brincava de se esconder por trás das nuvens carregadas. Logo o vento veio e dissipou o sonho do homem do campo. Eram nuvens passageiras, efeito colateral de um clima louco. A noite logo chegou e pendurou como ornamento uma lua prateada. O manto de estrelas embeleza o firmamento, aqui e ali, via-se uma estrela cadente.

Lá nas brenhas, nesta sexta-feira, uma noite bela, tudo pode acontecer, até porque mais tarde seria uma lua de sangue, lua cheia, e quanto a isso, existem muitas histórias, principalmente do homem que se transforma em um grande lobo. Melhor dizendo, é a metamorfose do homem em lobisomem. Pode até ser que muitos considerem isso uma lenda, mas, na verdade não é nem de perto o que acontece nesse pacato povoado nessa época do ano. Aqui o povo relata com criatividade e convicção que o bicho come bode, ovelhas, mata gente e se encontrar dando sopa, até crianças ele devora. Tido e conhecido como animal feroz, essa criatura aterroriza o lugar.


É o horror criado no meio do mato, e, nessa noite ninguém sai de casa. Fecham as janelas e colocam travas nas portas. Alguns por precaução varam a noite em claro, na vigília, com a espingarda bate-bucha entre as pernas e de frente pra porta. É uma longa noite. Os bichos também ficam alvoroçados. Os cachorros ao longe, latem como se tivessem acuando uma caça grande e grunhem como se apanhassem de cipó.

Nas casas, pouca conversa e muito silêncio, uma expectativa sem fim.
O relógio até parece que parou no tempo. Os cochichos de pé de orelha e o piado da coruja se confundem.

Certamente que a região do Nordeste brasileiro não tem lobos, mas, o vento que corta as montanhas envia sons uivantes, pelo menos é o que o cérebro do povo registra. Pode até ser ilusão por conta do medo e do nervosismo.

Há momentos em que o silêncio toma conta do ambiente e é exatamente essa calmaria que gela a espinha quando ouvem o som de um graveto seco sendo quebrado, como se houvesse ali um animal a espreita, pronto para atacar. Poderia até ser um dos cães procurando abrigo, mas não se vê muita coisa lá fora. Ninguém é louco pra ficar olhando pelas frestas das janelas. Quanto mais distante delas, melhor.

Na casa estão João lobo, Júlio, Gina, Rita e um caçador amigo que veio pedir abrigo nesta noite. É normal que ninguém se exponha nesse caso. Na mesa uma garrafa de cachaça pra aplacar o frio de madrugada e um bule de café, também tem umas tapiocas de goma e bolo frito feito no azeite dendê. O fogão a lenha, construído com barro vermelho mantém a chama acesa e continua a faiscar, pra manter quente o ambiente ou para fazer outro café ou um chá de erva cidreira mais tarde.

De repente um barulho de cascos no barro seco, tropel de cavalos ou bois que não se sabe ao certo, rompe o silêncio, deixa todos com o coração na mão. Rita se abraça com Gina e treme mais que vara verde. A cavalgada por assim dizer, aos poucos vai se distanciando até sumir completamente e novamente reina o mais absoluto silêncio.

O caçador avisa que vai tomar uma lapada de pinga. Nem ao menos respondem.
João Lobo havia montado uma grande fogueira com madeira seca e verde para durar mais tempo acesa, porém, deixou para acender o fogo na última hora que fecharam tudo. Nesse momento faz-se necessário que alguém vá lá fora e faça isso. A noite vira um breu depois da meia noite e ainda é muito cedo. O problema é que todos temem o pior, e em se tratando dessa criatura, existe a certeza de que ela é dotada de inteligência e poderia estar em qualquer lugar e, sabe se lá se ela já não estaria por ali nos arredores, na espreita, só aguardando o momento certo de atacar.

Júlio corajosamente diz que vai lá, mas seu pai diz que não, que prefere ir. O caçador agradecido pela acolhida fala que ele é quem vai, uma vez que se sente protegido e terá os dois na retaguarda. Então, decidem que tome cuidado, que fique atento. Abrem a porta com muita cautela, mostram-lhe uma lamparina feita de lata e um caneco de querosene para molhar os gravetos e tocar fogo.

Sebastião caçador se prepara, coloca a espingarda atravessada nas costas, ajeita seu facão na cintura, dá uma pegada no chapéu de couro, tira uma peia de fumo, põe na boca, masca um pouquinho, cospe, pega a lamparina acesa, com a outra mão leva o caneco de querosene, abrem a porta bem devagar e ele sai nas pontas dos pés. Fecham a porta bem ligeiro como quem diz – pronto, está entregue as cobras, ou melhor, ao bicho, mas ficam atentos.

Existe uma linha de pensamento que diz que quando é pra dar errado, basta começar errado. Pois não é que uma corrente de vento soprou forte naquela direção e apagou a lamparina um pouquinho antes de molhar os gravetos com o combustível. Aí o cabra se aperreou e gritou feito menino novo com medo de apanhar; pedindo pra trazerem um fósforo, ligeiro. João lobo viu que não tinha alternativa e disse que quem está no inferno é melhor se abraçar logo com o diabo e foi lá com a caixa de fósforos e uma vela. Sabia tanto que o querosene já havia secado que resolveu levar um punhado de pólvora pra acender o fogo com mais facilidade. Assim foi feito tranquilamente. Voltam para a casa mais rápido que o vento nas colinas. A fogueira agora vai clarear até de manhã.

Tudo volta aparentemente ao normal, após deixar todos com os nervos à flor da pele. A adrenalina continua, pois nem meia noite chegou ainda. Melhor agora seria fazer um lanche enquanto um mantinha a vigilância.

De repente uma pancada grande na porta e o grunhido de dor do cachorro faz com que todos fiquem em alerta e de armas em punhos. O cão não morreu e fica arquejando no pé da porta.

João Lobo sabe por experiência própria que foi um ataque de um bicho grande pra conseguir sacudir o cachorro daquele tamanho com tanta força contra a porta. Não podia fazer nada e não ia arriscar salvá-lo deixando os seus desprotegidos. Era melhor ficar trancado ali por mais tempo. Saiu verificando as portas e janelas. Checou tudo e voltou ao seu posto.

Novamente o silêncio é quebrado com o berro dos bodes e carneiros. Pensam eles que o monstro está atacando os outros animais e irá causar muitos estragos e prejuízos na propriedade.

A porta da cozinha é forçada, com batidas fortes. Já chega a ser uma tortura psicológica. Por algum tempo prevalece um barulho rosnado que mais parece um cão enfurecido sem latir. Ele ronda a casa de todos os lados e dá sopapos em cada janela e porta como quem procura um ponto fraco para entrar. Não há fragilidade, tudo foi reforçado.

Apesar de todas as travas, o bicho é astuto e de forma animal consegue a façanha de pular para o telhado, caminha sobre ele, quebrando telhas e ripas com seu peso. E como uma galinha cisca a terra em busca de pequenos grãos, ele também espalha telhas para todo lado. E de repente some. Deixa um vazio novamente como quem desiste e dá um alívio.

As nuvens passam em câmera lenta diante da lua gigante. Lua vermelha que só ela mesma é testemunha ao longo da história de tantas tragédias nesse contexto. E essa noite macabra parece não acabar mais.

Na casa, as frestas de luz mostram os estragos deixados pelo animal. Rita se apega a um crucifixo e começa a rezar um Pai Nosso que estais nos céus com muitas Aves Marias.

O homem é um ser temente a Deus. É temente também às criaturas malignas imaginárias da terra, e essa é sem sombra de dúvidas bem real para não se ter medo. Não se sabe ao certo o que ela quer, mas coisa boa não é. Ás vezes, nesses casos especificamente, o silêncio é uma armadilha que pode estar no contra-ataque.

O monstro agora atormenta o rebanho de ovelhas, procura um cabrito que possa carregar nas presas, e consegue. Grunhindo feio, corre e salta em cima da casa, somou peso para poder cair dentro, antes como que para deixar a situação mais apavorante, derruba o cabrito sem vida no meio da sala e provoca uma distração na família para logo em seguida arrebentar as ripas e pular pra dentro. O reboliço é total. O primeiro a ser atingido é Sebastião, o caçador, com um golpe mortal na garganta e já cai morto. Gina vendo o pai e o irmão correndo perigo de vida manda Rita se esconder em baixo da cama. Põe suas facas na cintura e empunha seu arco esperando uma oportunidade para atirar. Júlio também é atingido nas costelas ficando imóvel no chão. Não há como lutar com um animal daquele porte além de estar na penumbra, João lobo abre a porta rapidamente, pois sabe que lá fora, perto da fogueira há mais luz e fica mais fácil de atirar e não errar o alvo. Mas o lobisomem pareceu entender a jogada e não quis acompanha-lo, preferiu encarar Gina que agora estava a menos de três metros de frente pra ele e dessa distância não conseguia errar. Gina estava bem concentrada e sabia que se algo desse errado não haveria tempo para lançar outra flecha, então presumiu o ataque e soltou a flecha que o atingiu no peito esquerdo, bem no coração. O animal dessa vez soltou um grito doloroso e tentou escapar, sendo alvejado nas costas com mais de trinta caroços de chumbo grosso. Caiu ali mesmo, ao lado da fogueira. João Lobo pergunta à filha:
- Será que morreu?
- Claro! Para essa luta envenenei as flechas! Pois sabia que poderia não haver uma segunda chance.


E assim se cumpre a frase do animal, de não entrar na briga errada.

GINA IV, A Caçadora - A Festa!

No interior contam muitos casos, muitas histórias, alguns viram lendas e fazem parte do folclore brasileiro. É um costume das pessoas de se entreter um pouco nas portas das casas a boquinha da noite.

João Lobo matou 12 bodes e deixou o mais gordo para assar nos espetos em frente a sua casa, os outros animais, vendeu no mercado, também matou umas leitoas e umas galinhas pra completar o cardápio. Desde que sua mulher faleceu que ele vive assim, meio desolado, e para compensar, junta os amigos vez ou outra em torno de um churrasco para aliviar sua dor. Convidou compadres e comadres para uma noite animada, afinal Deus lhes deu muitos recursos com o suor de seu rosto. Tem até uns amigos violeiros que são repentistas. A festa vara a noite e só termina quando o galo anuncia um novo dia.

- Já que estão todos aqui, não falta mais ninguém, sejam bem vindos! Comam e bebam à vontade meus amigos, compadres e comadres, meninos e meninas. Tem leitoa assada, tem bode assando e tem galinha ao molho! Ah! E tem uma cachacinha também, para os mais afoitos. Falou em alto e bom som o dono da casa. Nesse momento os repentistas dedilham suas violas e começam a cantar e versejar as agonias do sertão, as pegas de bois, os namoros escondidos, as paixões da vida. Tudo rimado em uma linguagem cordelista e arrastada do interior.


Seu Manoel, como é mais íntimo de João Lobo, puxa conversa.
- Compadre a festa tá animada. Vou até tomar uma talargada dessa branquinha de cana e tirar o gosto com a leitoa.
- Faça isso compadre! Essa é da boa e sai rasgando de goela abaixo. Tem um limão galego ali também. Espere aí, deixe-me pedir para o Júlio cuidar mais dos espetos de bode. Já volto.
- Vá. Quando voltar quero lhe contar uns boatos que andam falando na cidade.
Por incrível que pareça, tendo pinga e tira-gosto desse preço, repentista canta a noite toda.

Uma grande fogueira é mantida acesa com madeira verde. Dois lampiões a querosene também iluminam o local.

Gina e Rita confabulam do mesmo assunto. São como carne e unha, pra onde uma vai, a outra está do lado.

Júlio, apesar de ser o churrasqueiro, é um olho no bode e outro na moça; não tira os olhos de Rosa, uma galega bonita, torneada, afilhada de seu pai. E o mais importante, ela retribui e fica toda derretida quando ele leva um espeto de carne pra ela.
Dona Joana, esposa de seu Manoel, troca uns dedos de prosa com a mãe de Rosa. Jogam conversa fora - coisas do cotidiano.

Está as mil maravilhas a festa! Comes e bebes a vontade. A música troando e os homens bebericando a caninha da roça. Pedro do Bidoca, pai de Rosa é sanfoneiro arretado. Se duvidar toca igual ao Luiz Gonzaga, e está só esperando os violeiros fazerem uma pausa pra puxar o fole. Chico Pitomba é o zabumbeiro e Manoel Grilo, o triangueiro. Um trio de forró pé de serra pra ninguém botar defeito. A festa promete amanhecer o dia.

João Lobo, como bom anfitrião, aperta a mão de todo mundo, dá tapinha nas costas, fala com um e com outro e volta a conversar com Seu Manoel.

- Qual é o boato que comentam por aí na cidade, Compadre?
- Meu amigo, você sabe que o povo tem a língua maior que o corpo. Dizem que a polícia está investigando a morte de dois homens que foram mortos no Cassino do Chico Preá há alguns dias.
- Essa polícia daqui e bosta é a mesma coisa. Quantos crimes continuam impunes?
- Pois é compadre. E tem mais, por último, o mais recente, encontraram dois corpos boiando no riacho, lá perto do cabaré da Maria Preta.
- Vixe! E quem são esses desafortunados, que Deus os tenha?
- Compadre, ninguém sabe, ninguém viu de fato quem matou. E os bichos são tudo de fora, uma raça ruim, não sabe? Nenhum tem família por essas bandas. Tudo bandido.
- Deve ser tudo ladrão mesmo. Gente que presta não anda caçando confusão.
- É, compadre. O negócio é sério. Desculpe-me por estar falando disso num momento tão importante de festa na sua casa.
- Esquente a moringa não, compadre. Amigos são pra essas coisas. Pra alertar os acontecidos, quanto mais quando é bem próximo da gente. O que mais andam dizendo por lá?
- Tem uns comentários aí na boca do povo, que encontraram uma ossada dum homem na metade do caminho pra cidade. Na verdade, o corpo foi descoberto pelos cachorros, aí, a polícia veio no local e recolheu os restos mortais.
- Compadre eu vou lhe dizer, você está muito bem informado.
Pois é, eu de vez em quando, vou jogar baralho, tomar umas no bar e mercearia de Expedito e lá a gente fica sabendo das coisas. Tem um tal de Cabo Messias, que dá com a língua nos dentes. O homem sabe de tudo que acontece por aqui.
- O que mais ele contou?
- Que eu saiba, é que estão investigando. Mas, como ele mesmo diz, a delegacia tá falida, não tem dinheiro nem pra botar gasolina no fusca que é a única viatura que tem. O delegado mesmo tem uma preguiça danada, e além do mais só tem esse cabo e dois soldados lá. Assim fica difícil solucionar as coisas.
- É. Quer saber? Vamos aproveitar a festa. Chega dessa conversa. Até eu vou tomar uma lapada dessa branquinha. Vamos lá compadre, se anime!
- Vamos! Vamos sim!
Pedro Bidoca já está nos acordes e grita de lá:
- O tocador quer beber, minha gente! Mas antes de tudo, o tocador quer tocar! Vamos começar de “Asa Branca” em homenagem ao saudoso mestre Luiz Gonzaga.
- Arrocha sanfoneiro! Grita um.
- Arregaça zabumbeiro! Grita outro.

Enquanto isso, os repentistas se esbaldam enchendo o bucho de cachaça e carne assada. Uns mais afoitos, até tiram as mulheres pra dançar no terreiro de chão batido. A poeira e a fumaça, formam uma nuvem, o vento da meia noite dissipa em parte, mas alguns já estão animados demais para parar agora.

Chega um cavaleiro, desse da montaria e corre ligeiro para dar uma notícia a João Lobo.
- Seu João quero falar uma coisa séria com o Senhor.
- Pois fale meu filho! Deixe de agonia.
- Bom, é o seguinte...
- Cabra, tu está pra botar os bofes pra fora. Vai ali primeiro e bebe água.
- Não Seu João. Eu estou bem. O Senhor conheceu a Dona Maria Setembrina? Aquela velhinha que morava só, naquela choupana de palha?
- Sim, filho. Quem nessa região não conhecia Setembrina, a rezadeira e cartomante?
- Pois é. Ela só fez o bem a todos. Eu vinha duma festa e quando desci a ladeira avistei aquele clarão, quando vi, era a casa dela em chamas. E ela morreu queimada. Não teve como se salvar. Como aqui é a casa mais perto, corri pra cá.
- Ela pode ter deixado alguma vela acesa ou uma lamparina, sei lá. Não dá pra imaginar como isso aconteceu. Vamos lá só amanhã. A essa altura o fogo com esse vento já devorou tudo. Hoje é festa aqui. Vá se juntar ao povo e beba alguma coisa. Aí tem bastante comida, se tiver com fome.
- Beber não quero, mas vou comer.
- Vai! Vai, fique a vontade!

Os cachorros nesse momento brigam ferozmente, rasgando um braço humano. Júlio grita para parar a festa.

- Pai, o que está acontecendo hoje? Parem de tocar. Tomem aquilo dos cachorros, é um pedaço de gente.
- O que diabo é isso, meu Deus? Só pode ser coisa do demônio. Fala uma senhorinha pra outra.
- Mulher, tá aí que nunca vi uma coisa dessas acontecer aqui, e olha que faz anos que Seu João faz festa.
- Chega! Por hoje chega. Já passa da meia noite umas duas horas. Isso nunca aconteceu. Vamos parar por aqui. Sei que vocês todos irão entender. Amanhã vamos tentar encontrar respostas.
- Isso é um horror! Nunca em minha vida tinha visto tal coisa. Fala a galega Rosa.

Depois de muita conversa e contornada a situação, alguns ainda ficam, dormirão no alpendre, outros se despedem e vão para suas casas.
Rita havia tido o consentimento dos pais para dormir na casa da amiga e por isso podiam conversar o resto da noite.

- Gina, desde que cheguei que você foge da conversa. Já passei tempo demais lá fora. Comi tanto que estou empanturrada. Você não deu o ar de sua graça lá fora. Agora que está só a gente aqui, me conta o que aprontou mais cedo.
- Nada. Não fiz nada.
- Olha! Eu te conheço não é de hoje. Você tem que pelo menos saber disfarçar. E conta logo que já tá é pra amanhecer o dia.
- Você não tem jeito mesmo. Vou te contar. Matei outro homem hoje. Um bandido mesquinho. Eu nem fui atrás. Só fiquei indignada com a covardia daquele monstro.
- Vixe! Como foi isso? Desembucha aí, amiga.
- Rita, cada dia que passa, sinto que minha alma não terá salvação. Estou ficando louca, eu acho. Não consigo ter pena desses malfeitores, além do mais, se eles forem presos, amanhã estarão soltos cometendo os mesmos crimes. Por isso, é melhor eliminá-los.
- Deixa de me enrolar e conta o que aconteceu.
- Tá bom. Seguinte: O sol nem tinha se posto ainda quando saí procurando umas madeirinhas linheiras pra fazer minhas flechas. Eu queria fazer uma demonstração na festa.
- Eita! O povo iria gostar demais.
- Pois é. Mas aconteceu o pior.
- O que foi que aconteceu? Conta!
- Se você deixar, eu conto. Eu já tinha andado por aí tudo. Passei bem perto da casa de Setembrina e vi que tinha um homem indo no rumo de lá, então, resolvi me esconder e fiquei observando de longe.
- Setembrina é uma bruxa?
- Não é não. Ela bota cartas, lê a mão, faz benzeduras nas pessoas com a arca caída, essas coisas, assim como os ciganos fazem.
- Ah! Entendi. Pois continua.
- Sim, aí o homem entrou na casa dela e...
- Minha “irmã” estou ansiosa!
- Pois bem, demorou pouco, ouvi os gritos dela e nas pontas dos pés olhei de perto, pela janela. O caboclo já estava enforcando a velhinha.
- E o que você fez?
- Bom, eu ouvi ele dizer: - Velha maldita! Mando você ler minha mão e você me diz que vou morrer hoje. Você é quem vai morrer, e ainda vou tocar fogo nessa joça. Fiquei indignada com aquilo, mas o que me deixou revoltada foi ouvir da boca dele dizer que já tinha estuprado meninas novas, brancas, negras e já carregava nas costas sete crimes, um a mais, um a menos não ia fazer diferença. Sufocou a coitada até morrer, e depois ateou fogo na casa.
- Ave Maria! Que monstro!
- Pois é. Então corri pra frente da casa, me posicionei em frente, e esperei ele sair. Atirei nos peitos dele por duas vezes.  Até hoje ele deve tá queimando no fogo do inferno.
- Mulher tua consciência tá tranquila?
- Sei lá, às vezes tenho pesadelos. Mas é o tipo da coisa, posso me arrepender mais tarde e pedir perdão.
- Minha boca é um túmulo.
- Espero que seja, Rita!

A verdade é que ninguém faz nada escondido, e, não existe crime perfeito.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

GINA, A Caçadora III - Roubo de peles.

No interior do sertão de meu Deus vivem poucas famílias com recursos, algumas criam bodes, animais resistente às secas e que sobrevivem às intempéries do tempo.

São tantos dissabores esperando que o céu se abra em chuva para aguar a terra seca e faça brotar a esperança da fartura que perdura por anos castigando um povo já tão sofrido e que faz milagres com o pouco que tem.

Não é culpa de ninguém as portas do céu não se abrirem em mormaços para regar o grande amor à vida que o nordestino tem. Eles, esses guerreiros da caatinga nem imaginam que a situação climatológica se deve principalmente às ações dos seres de sua espécie. Mas a vida segue, e a morte os fracos abate. Os fortes sobrevivem, com dificuldade, mas vencem esse cansaço cotidiano, esperando alcançar dias melhores.

Enquanto o galo cantar anunciando um novo dia, há vida lá fora e é hora de levantar para tirar água do poço para dar aos outros bichos, regar a pequena horta e dar de comer a quem não sabe falar. É assim que vive o homem do campo, da roça.
João Lobo, pai de Gina, cria uma centena de ovelhas, cabras e bodes. Vez ou outra mata umas para levar aos açougues da cidade, para garantir seu sustento e de sua família, além de comprar outros bens e mantimentos. Apesar de não ser uma família rica, tem lá suas posses e um bom coração, até ajuda seus vizinhos mais próximos, como é o caso de seu Manoel, pai de Rita, amiga de sua filha.


Certa vez João Lobo matou doze bodes, tirou o couro, espichou com varas finas e pontiagudas e as colocou ao sol para secar. Em seguida, separou aquele mais gordo e guardou para si, para mais tarde fazer seu banquete com três ou quatro famílias de seus afilhados, o restante colocou em sua carroça, pediu para Júlio botar sentido nas coisas e nos bichos, que ele iria à cidade com sua filha Gina. Não demoraria e tão logo vendesse tudo voltaria. E partiu. 

Gina o acompanha montada a cavalo. 

O caminho já era praticamente conhecido pelo burro de carga da carroça e pelo outro animal. Nem precisava bater com chibata e tampouco esporar.

De longe avistaram dois cavaleiros que vinham em sua direção. Não eram tão altos e fortes, mas eram bem mal encarados e jamais vistos por aquelas bandas. João Lobo faz um gesto com as pontas dos dedos no chapéu de couro e os cumprimenta, pois não há malícia em seu coração.
- Bom dia! Disse João Lobo.

Os homens apenas o cumprimentaram da mesma forma com a mão no chapéu, e se as pedras do caminho falaram, eles também falaram. Olharam mais para a Gina que não deixou de encará-los. Aliás, A mocinha pensa assim: Se meu pai tem quase um palmo de um olho pro outro e eu não tenho medo, imagina quem eu nem conheço. Gina tem a qualidade de ser boa fisionomista, e isso basta.

Tocaram em frente.
- Pai, o Senhor deu bom dia pra eles e os infelizes nem retribuíram.
- Filha, nem tudo que é de graça dão valor. O sol nasce todo dia, mas muita gente continua dormindo.

Assim a viagem continua, sem muito diálogo.

A primeira casa que os sujeitos chegam é a de João Lobo, embora eles não saibam de quem se trata, veem que ali tem fartura e acham que o que tem por lá poderá ser compartilhado de outra forma, ou seja, o assalto. Desapeiam de suas montarias e cumprimentam Júlio; pede água pra matar a sede, afinal, o calor tá de rachar e não teriam outra desculpa melhor para abordar o rapaz.  Júlio os recebe e os manda entrar e vai ao pote pegar água com um “coco” de alumínio que estava pendurado na bilheira.
Os homens observam tudo e se entreolham como quem confirma que ali “vai dar pé”.

Sem muita conversa, agridem Júlio que foi pego desprevenido. Dão-lhe uma coronhada de espingarda bate-bucha, e o deixam desacordado. Começam o roubo pelas peles que já estão enxutas e valem muito no mercado da cidade. É moleza vender couro com um desconto especial. Em dois cavalos dá pra levar pelo menos trinta peles em cada um, enroladas e amarradas na garupa. Eles combinam que é melhor não matar o rapaz e apenas deixa-lo amarrado. Assim o fazem e vão embora com o objeto do furto. Vão pelo mesmo caminho sem nenhum constrangimento, comentando a facilidade que tiveram e debochando da fragilidade do local, até prometem um para o outro que poderiam voltar, uma vez que poderiam levar muito mais de uma vez só.

Dizem que a ocasião faz o ladrão. Há controvérsia. O ladrão já nasce ladrão, assim como certos artistas. Todo roubo premeditado, não é senão uma ação planejada. Já há a maldade ali, o que no caso é o inverso de quem tem talentos para executar o bem.

Com uma carga leve como é esse o caso, as montarias que suportam quase o dobro de seu peso, vão de encontro ao seu destino sem muito esforço nem cansaço. Já dá pra avistar as primeiras casas da cidade sem forçar o galope.

João lobo e sua filha também já venderam tudo e estão voltando, passam uns pelos outros na entrada da cidade, sem cumprimentos e um pouco mais rápido dessa vez. 

Gina como sempre, parece realmente ter um sexto sentido e fica com a pulga atrás da orelha. Olha para os forasteiros como que tentando entender o motivo de tanta pressa. Nada comenta com seu pai, apenas avisa que vai chegar primeiro em casa e atiça as esporas para que o animal chegue mais rápido. Vem mil pensamentos em sua cabeça.
Já na casa, amarra o cavalo rapidamente, pois estranha que seu irmão não esteja lhes esperando. Procura-o por toda a casa, em todos os cômodos e vai encontra-lo amarrado no pequeno celeiro, todo roxo de pancadas. Tira-lhes a mordaça e leva-o para o quarto. Cuida rapidamente de suas feridas, ouve sua história e avisa que seu pai está chegando.

Monta seu cavalo e volta para a cidade. Ainda encontra seu pai no caminho e fala que esqueceu uma coisa e voltará logo.

A distância é medida pelo tamanho que diminui e à proporção que ela corre e a poeira cobre.

Há pressa de encontrar seus desafetos. Logo chegará ao mercado, à feira, e claro que ela sabe quem paga bem pelas peles, sempre foi lá com seu pai. Conhece todos naquele lugar.
- Bom dia, Seu Joaquim! O Senhor por acaso, comprou couros hoje de dois sujeitos assim mal encarados?
- Bom dia, minha filha! Não! Até porque hoje não apurei quase nada.
- Mas o Senhor Chegou a ver essas criaturas por aqui?
- Vi! Eles me ofereceram! Mas o menino me disse, que quem comprou foi o Zé Pezão, ele compra tudo pela metade do preço por aqui.
Gina não perde tempo.
- Bom dia Seu Zé!
- Bom dia, Regina!
- Seu Zé, me diga uma coisa, o Senhor comprou umas peles de dois homens da cara feia?
- Olhe minha filha, se eu fosse escolher comprar pela cara feia ou bonita, eu estava era morto!
Gina já sabendo da má índole de Zé Pezão, pipoca a mão na mesa e torna a perguntar:
- O Senhor comprou ou não?
- Calma! Comprei. Comprei.
- E para onde eles foram?
- Olha! Eles falaram que estão arranchados na pousada da Dona Luzia, aquela perto do riacho. É a mais barata mesmo.
- Eu ainda voltarei por aqui.
Gina é ligeira igual piaba.
- Bom dia, Dona Luzia! Estou procurando por dois homens...
- Dois homens, é filha?
- Sim. Dois caboclos, assim mal encarados!
- Veja bem, os dois novatos que chegaram ontem, já pagaram e saíram, nem esquentaram lugar.
- Foram em que rumo Dona Luzia?
- Foram para o cabaré de Maria Preta, do outro lado da ponte. Estavam  muito alegres! Mostrando os dentes mais que jumento quando relincha.
- Festa boa demais, dura pouco! Muito obrigada, Dona Luzia!
- Eita bando de cão ligeiro da porra! Mas eu encontro eles nem que tenha que ir buscar no inferno.
Dá logo de cara com Maria Preta na entrada.
- Bom dia! A Senhora deve ser Dona Maria, certo?
- Bom dia! Maria Preta, a seu dispor!
- Quero saber se tem dois homens assim da cara feia, por aqui?
- Tem homem do jeito que minha flor quiser...
- Não estou procurando homem...  quero dizer estou,  estou procurando esses, por outro motivo.
- Filha, chegaram aqui agorinha dois sujeitos, pediram a chave de um quarto lá atrás, um que dá acesso para o riacho. Pediram duas meninas novas. Até pensei que você poderia servir, enquanto arranjo a outra.
- Vou lhe poupar dessa vez. Mas lhe digo, das cobras não corto a língua, arranco a cabeça! Vou lá falar com eles.
Gina bate na porta, por duas vezes e espera. O forasteiro vem.
- Bom dia meu anjo negro! Rapaz, nessa espelunca as coisas funcionam rápido, viu? Entre logo, meu bem!
- Opa! Tenho a impressão que lhe conheço! Disse o outro.
- Conhece não, moço! Aliás, era preferível que vocês nunca tivessem me visto.
- Anja negra, só porque você desceu do paraíso, não significa que tenha tratamento diferenciado.
- Vamos deixar de papo furado. Onde está o dinheiro das peles que vocês roubaram?
- O quê? Ah! Agora me lembrei de você pirralha!
Gina não está muito confortável. Talvez tenha feito abordagem num local não muito estratégico. Mas está de frente para os dois e isso basta.
- Onde está o dinheiro? Vocês me entregam e vou embora. Bem simples assim.
- Mata ela! Vamos, mata ela!
Antes que pudesse dizer ou repetir a frase, uma faca certeira atravessa sua perna direita. O outro já indignado atraca-se com Gina, tentando enforcá-la!
- Vai morrer desgraçada!

Gina havia treinado com Júlio e aprendeu a se defender desse golpe. Retirou rapidamente uma faca da cintura e acertou uma artéria da virilha. Deu uma torcida na lâmina para garantir e logo se desvencilha do homem. O primeiro homem ainda sangrando é nocauteado com uma cadeira de madeira.

Recupera o dinheiro e ao sair...
- Não demorou, quase nada, moça! Já terminou? Indaga Maria Preta.
- Já!
- Os homens ficaram satisfeitos?
- Não reclamaram. Estão satisfeitos! É como sempre digo: melhor não entrar na briga errada...

Gina passa na venda de Zé Pezão, devolve o valor, recupera as peles e volta para casa.
- Zé, toma muito cuidado com os negócios que tu anda fazendo. Observa as notícias. Espero que daqui pra frente, tu honres teus compromissos de forma honesta.
- Está bem dona Regina. Pode deixar. Tenha um bom dia.


Dizem que quem mente rouba. Gina sabe disso.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Por que a pomba branca simboliza a paz?


São duas histórias com raízes religiosas. Quando João Batista estava batizando Jesus, o Espírito Santo teria aparecido na forma de uma pomba. A outra história diz que, após o dilúvio, Noé soltou um corvo e depois uma pomba. Do corvo não se ouviu mais falar e a pomba voltou porque não encontrou lugar para pousar. Uma semana depois, a ave foi solta novamente e voltou com uma folha verde de oliveira no bico. Isso era sinal de que já havia terra firma em algum lugar. Como o branco simboliza virgindade, paz, harmonia, uniu-se a pomba à cor branca e assim surgiu o símbolo da paz..

Como surgiu a caipirinha?

Essa consagrada bebida genuinamente nacional está criando cada vez mais adeptos em todo o mundo, talvez por ser mais doce do que a “margarita” e mais potente do que a maioria dos drinques tropicais. Sua origem data da época da escravidão no país, no século XVIII.


É que muitas vezes, após um dia extremamente quente gasto na colheita de cana, os escravos matavam a sede com cachaça, que rapidamente se tornou a bebida preferida dos trabalhadores. Eles acabaram por incrementá-la com açúcar e limão, para torná-la mais saborosa, surgindo assim a famosa caipirinha.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A CARTOMANTE

Vamos botar as cartas na mesa. Aqui não tem bola de cristal e nem magia, só a verdade que direi sobre sua vida. Quero antes de tudo ler as curvas da sua mão para traçar seu destino, e acredite as cartas não mentem com a minha interpretação. Disse a cartomante ao cliente.


Pois bem, eram duas amigas que moravam em casas diferentes, uma de frente pra outra e certa vez, Mariana convidou Juliana para lhe acompanhar em uma visita a uma cartomante. Queria saber do que poderia dar certo no amor, nos negócios e na vida. Claro que para obter essas respostas havia um preço a pagar a cada sessão; uma taxa.
Juliana gostou tanto de ter participado que bastava Mariana sair na porta que já perguntava se hoje era dia de ir.
Depois de muitas sessões durante meses Juliana foi se afastando da amiga, quase nem saía à rua, vivia enfurnada dentro de casa. Mariana estranhou esse comportamento e continuou fazendo suas visitas, porém, observou que toda vez que ia sair havia carros diferentes na porta da residência da amiga. Um dia resolveu abordar a amiga e perguntar:
- Bom dia, Juliana! Vamos à casa da cartomante hoje? Estou querendo saber umas coisinhas, entende?
- Bom dia! Mulher entra! Vamos colocar as cartas na mesa. Aqui não tem bola de cristal e nem magia, só a verdade que direi sobre sua vida...
As oportunidades existem. É preciso abrir os olhos pra enxergar. Às vezes nem precisa de muita “leitura”...
Carlos Holanda